Cronômetro escrita por KarenAC


Capítulo 9
Capítulo 9 - Preocupações


Notas iniciais do capítulo

Queria esperar um pouco mais pra postar o capítulo novo, mas sei que vocês estão morrendo de ansiedade, então deixar eu acabar com essa tortura ;D



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"Ele foi o último Chat Noir antes de você, Adrien." Plagg começou. Sabia que, a partir daquele momento, informações que faltassem apenas criariam mal-entendidos. "Nós lutamos lado a lado e ele sempre foi uma pessoa de bom coração. Ele era muito diferente de você. Era sério, centrado e tinha um péssimo senso de humor, mas tinha um coração de ouro." o kwami fez uma pausa para que o garoto absorvesse as informações. Não queria ir rápido demais. Viu Adrien olhá-lo em expectativa, esperando o resto da história.

"Como você, ele amava também a Ladybug de todo o coração." Plagg viu Adrien franzir a testa em sua direção "Sim, ele também tinha uma Ladybug. Eu falei, lembra? Juntos, sempre."

"Então também existia uma Ladybug antes..." Adrien encostou-se no sofá, olhando para o teto, imaginando se ela seria parecida com a atual.

"Tinha sim, e todos gostavam muito dela! Ela era um pouco diferente da sua Ladybug." Adrien corou quando Plagg usou o termo 'sua Ladybug', mas sacudiu a cabeça para não perder a concentração na conversa "Quando ela descobriu que eu gostava de queijos sempre levava coisas novas e gostosas pra me dar, ela cozinhava muito bem." Plagg baixou a cabeça, e seu tom de voz se tornou mais sério "Mas a vida segue em frente, e um dia ela decidiu que não seria mais a Ladybug."

Adrien baixou a cabeça para fitar Plagg, mas seguiu encostado no sofá. Nunca sequer tinha passado pela sua cabeça em desistir de ser o Chat Noir. Era o que o tornava livre de verdade, o que permitia que ele deixasse todos os pensamentos e ações fluírem normalmente. Ser o Chat Noir o fazia feliz.

"Porque ela renunciou?" Adrien perguntou, tentando entender os motivos.

"Ela se apaixonou, e quis formar uma família. Mas para o Chat Noir da época, o nosso Hawkmoth agora, aquilo foi o fim do mundo dele. A sua Ladybug amava outro e o estava abandonando. Ele não conseguiu lidar muito bem com aquilo." Plagg relembrava o passado, mas tudo era tão marcante em sua memória que parecia que os eventos tinham acontecido no dia anterior.

"Foi isso que o transformou no Hawkmoth? A decepção corrompeu o seu coração?"

"Não, a história é bem mais complicada do que isso" Plagg respirou fundo. "Ele entrou em depressão profunda, isso é verdade, tanto por perder a Ladybug quando por ser obrigado a deixar de ser o Chat Noir."

"Ele foi obrigado a desistir também?"

"Lembra o que a Ladybug te falou no beco? Que sem o balanço o poder da destruição pode perder o controle?"

"Sim, faz sentido." Adrien coçou o queixo "Se ele continuasse sendo o Chat Noir, ele não seria mais um herói, e sim um risco para as pessoas e para ele mesmo."

"Exatamente" Plagg continuou "O problema foi que ele não queria desistir. Ele acreditava que se continuasse insistindo em ser o Chat, a Ladybug perceberia que estava cometendo um erro e voltaria a ação." Plagg suspirou várias vezes antes de prosseguir "Nós discutimos muitas vezes por causa daquilo. Ele ficava cada vez mais teimoso e insubordinado, e já não existia mais diálogo entre nós. Foi uma situação muito, muito complicada." Plagg ouviu o estômago roncar "Essa história toda tá me dando fome!" antes que Adrien pudesse reclamar, Plagg já estava com um pedaço enorme de camembert na boca. e o cheiro forte do queijo invadia o quarto.

Adrien torceu o nariz e levantou do sofá. Sentia aquele cheiro tantas vezes por dia que sentia enjôo só em ficar perto dele. Plagg olhou o garoto se afastar e parou de mastigar por um segundo, respirando fundo. Muitas informações, muita história de uma vez só. Adrien saberia de tudo rápido demais, e as consequênias podiam ser desastrosas. 'Um passo de cada vez, uma peça de cada vez', Plagg pensou, e voltou a comer.

Enquanto conversava com Plagg, o garoto percebeu que o tempo havia passado e a tarde começava a cair. Era um dos poucos dias de folga que tinha, por isso decidira marcar a ronda noturna com a Ladybug naquela noite, mas ainda deveria esperar algumas horas até que a escuridão chegasse em Paris. Impulsionou o corpo para fora do sofá e foi até o criado-mudo ao lado direito da cama, pegando o celular para reler as mensagens dos últimos dias. Muita coisa tinha acontecido com ele, Ladybug e Marinette.

"Marinette." Adrien franziu a testa, relembrando da colega de aula que encontrara doente em casa. Não sabia se ela havia melhorado, e depois de tudo o que havia acontecido tinha vergonha em visitá-la novamente, porém queria muito saber como ela estava. Sorriu para si mesmo no meio de uma ideia.

"Plagg, termina logo de comer que nós vamos visitar a Marinette!" Adrien falou enquanto arrumava os materiais para a escola dentro da bolsa.

"Mas eu estou comendo!" Plagg reclamava, como de costume.

"Por isso que eu disse 'termina logo', seu esfomeado!" Adrien riu. O kwami era daquele jeito desde a primeira vez que o conhecera.

"Tá bom, tá bom, já acabei." Plagg fechava o pote agora vazio de camembert.

"Perfeito! Plagg, mostrar as garras!" Ele gritou apontando o punho fechado em direção ao kwami e em poucos segundos se transformava em Chat Noir "Desse jeito não vou precisar me preocupar!" o garoto sentia que Marinette ficava muito mais a vontade com Chat Noir do que com Adrien.

Chat Noir deslocou-se por cima dos prédios enquanto admirava o brilho alaranjado que banhava Paris. Aquela era a sua hora preferida do dia, tanto pela temperatura amena quanto pelas cores que pintavam o céu, e pensou na história que Plagg lhe contara. Perder a Ladybug já seria algo horrível de sentir, somado ao fato de ter que deixar de ser Chat Noir? Ele não conseguia nem imaginar a sensação esmagadora. Aquilo acabaria com ele. Por um segundo, ele sentiu compaixão por Hawkmoth.

Avistou a casa de Marinette ao longe, e sorriu ao ver a luz do quarto no sótão acesa. Então ela estava em casa. Pousou no parapeito do lado de fora da janela silenciosamente, e viu a garota sentada em frente ao computador, vasculhando o Ladyblog, um blog online sobre Ladybug que sua amiga Alya administrava.

"Então ela também gosta da Ladybug." Adrien sussurrou para si mesmo, sorrindo. Ele ficava feliz em saber que as pessoas admiravam sua parceira tanto quanto ele. Juntou coragem e deu dois toques no vidro da janela com a ponta de um dos dedos. Viu Marinette se virar na cadeira em direção a janela, olhá-lo nos olhos e assustar-se a ponto de cair de costas no chão. Com medo de que ela tivesse se machucado, ele empurrou a janela, abrindo-a e adentrando o quarto.

"Hey, você está bem?" Chat pousou ao lado dela em um salto, e viu os grandes olhos azuis mirando em sua direção, em uma mistura de curiosidade e medo. Ao ver a expressão, ele imediatamente deu um passo para trás e olhou para baixo "Desculpa, achei que você tivesse se machucado."

Chat se desculpando? Marinette franziu a testa, estranhando a reação e começou a rir. Chat Noir inclinou a cabeça para o lado, sem entender.

"É engraçado ouvir você se desculpando, Chat. Não combina com você." ela disse, se levantando e arrumando a cadeira em frente a escrivaninha.

"Ora, eu sou um perfeito cavaleiro, princesa!" ele disse ensaiando uma reverência, fazendo Marinette rir mais ainda, causando na garota uma crise de tosse a seguir e lembrando o garoto qual era o real motivo de estar ali.

"Marinette?" ele perguntou com a mão estendida na direção dela, enquanto via ela se recuperar da tosse. Queria tocá-la e fazer com que se sentisse melhor, mas não queria assustá-la. A mesma sensação quente que sentira quando estivera naquele quarto como Adrien voltou ao seu peito, fazendo-o retrair o braço estendido e segurá-lo, como se domando um animal selvagem que estava perdendo o controle.

"Eu estou bem, Chat" ela sorriu com a mão no peito, voltando a respirar normalmente "Eu estive doente nos últimos dias, mas agora estou me recuperando, não precisa se preocupar." Chat viu ela andar até a escrivaninha e tomar um dos comprimidos. Ela realmente parecia melhor, e aquilo o tranquilizou. Quando Marinette voltou o olhar para Chat Noir, ele tinha no rosto a mesma expressão que ela via quando era Ladybug. A preocupação. A devoção. O carinho. Franziu a testa levemente. "Você está bem? A que devo a honra da visita?"

Chat Noir ficou sério por um segundo e sorriu sem jeito. Havia deixado os impulsos tomarem conta de sua ação e não tinha pensado em uma razão boa o suficiente para visitar Marinette. Deixaria seus instintos o guiarem.

"Por quê? Um cavalheiro precisa de uma razão para visitar sua princesa?" colocou as mãos na cintura, erguendo o queixo e olhando-a pelo canto dos olhos. Marinette virou de costas e virou os olhos novamente. Uma vez Chat Noir, sempre Chat Noir. "Eu estava me aprontando para fazer uma ronda com a Ladybug e a sua casa estava na minha rota. Além do mais, agora sabendo que você estava doente, fico feliz em ter aparecido. Você está precisando de alguma coisa?"

Marinette ergueu a sobrancelha, estranhando a atitude de Chat. Será que toda a conversa que haviam tido no beco o deixara mais sensível do que o normal? Andou até a escrivaninha e sentou na cadeira giratória, indicando outra para que Chat se sentasse. Já que ele tinha feito a gentileza de visitar, teria que pelo menos ser gentil.

"Não estou precisando de nada, obrigada Chat. Um amigo já me ajudou bastante." ela sorriu com sinceridade, e ele desejou que ela sorrisse daquele jeito quando ele também não fosse o Chat Noir. O pensamento cruzou a sua mente, e ele sentiu o rosto aquecer, desviando o olhar. Marinette estava estranhando demais a atitude dele. Será que algo estava acontecendo?

"Certeza que você está bem, Chat?" ela perguntou, inclinando-se na direção dele e tocando seu antebraço com a ponta dos dedos. O toque teve um efeito instantâneo. Lembrou do corpo dela nos seus braços e a temperatura febril encostada no peito dele. E então relembrou o exato momento em que seu nome saiu dos lábios dela, próximo a seu ouvido, na forma de um sussurro. Chat sentiu um arrepio na nuca e arregalou os olhos, erguendo-se da cadeira em um pulo.

"Estou sim, estou ótimo!" ele riu para disfarçar o turbilhão de emoções, e tirou o bastão da cintura "É bom ver que você está bem, princesa! Agora vou indo que Paris me espera lá fora!" sorriu abertamente, saindo janela afora e deixando uma Marinette absurdamente confusa para trás.

"Acho que estou enlouquecendo" Chat Noir dizia para si mesmo, vendo do alto da Torre Eiffel o céu escurecer gradualmente. "Não tem outra explicação! Eu amo a Ladybug, por que essa sensação continua invadindo o meu coração?" ele dizia tocando o próprio peito, tão distraído que não viu Ladybug pousar na torre atrás dele e ouvir ele dizer "Como eu queria que as coisas fossem mais fáceis..."

"O que você queria que fosse mais fácil, chatón?" Ladybug perguntou, sentando ao lado dele.

"Ladybug!" Chat gritou em um susto, e a joaninha ergueu uma sobrancelha.

"Não me ouviu chegar? Achei que a sua audição era melhor do que isso, Chat!" ela o olhava de canto, com um sorriso provocador nos lábios.

"Minha audição é ótima, milady." ele ergueu o queixo em orgulho "Eu estava distraído, sentindo sua falta."

Ladybug revirou os olhos com a explicação e sorriu ao sentir uma brisa passar pelos seus cabelos. Estar ali, no topo da Torre Eiffel, era como estar no topo do mundo. Via lá embaixo as pessoas andando para suas casas, ao final de mais um dia. Muitas jantariam com suas famílias e teriam sonos tranquilos a noite, mas também lembrava das que viviam sozinhas ou enfrentavam problemas. Lutava por todas elas, por cada uma delas. E enquanto tivesse forças, enquanto o sangue corresse em suas veias, ela não pararia. Respirou fundo e fechou os olhos, erguendo o rosto em direção ao céu.

Chat olhava sua parceira e cada uma das reações que seu rosto demonstrava. Queria saber o que se passava na cabeça dela, queria conversar mais sobre o que eles havia discutido no beco, mas vê-la ali tranquila e segura, ao lado dele, fez com que não quisesse atrapalhar o momento com palavras.

Ladybug sentiu um calor pousar sobre sua mão direita que estava apoiada na estrutura de metal, e viu a mão de Chat sobre a dela. Quando ela voltou os olhos para o rosto dele, viu-o sorrindo, olhando para o céu. Sentiu uma segurança que nunca havia sentido antes, e sabia que aquela era a forma dele de dizer que estaria ao lado dela não importava o que acontecesse. Ela girou a mão para cima e entrelaçou os dedos nos dele. Os olhos dos dois se encontraram e um sorriso foi trocado. Havia algo ali muito mais forte do que apenas amor, muito acima de qualquer medo ou vergonha, de qualquer insegurança ou ansiedade.

Respeito. Confiança. Cumplicidade.

"Pronto para a ronda?" ela perguntou, erguendo-se sobre a torre.

"Eu nasci pronto, bugaboo!" pôs-se de pé ao lado dela, usando o apelido que sempre a fazia sorrir.

Os dois então sumiram juntos noite adentro. Sabiam que o cronômetro estava andando, mas também sabiam que juntos eles eram muito mais fortes do que qualquer força do tempo.


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Notas finais do capítulo

Um pouco de MariChat pra compensar todo o Adrinette de antes!
Mas não se preocupem que eles vão voltar