Inevitavelmente Sua escrita por Nah


Capítulo 12
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!!



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Chorei o caminho todo para casa. Não sei como consegui não bater o carro, já que as lagrimas embaçavam minha visão. Estacionei o carro na garagem e permaneci lá dentro, encarando o nada. O silencio ali era ensurdecedor. Chorei ainda mais ao constatar que se parecia com o vazio que eu estava sentindo.

Suas palavras tinham me machucado. Como se ele tivesse o poder de me machucar mais que qualquer pessoa, e agora eu estava descobrindo isso. Eu estava apavorada.

Me arrastei para o apartamento. Mamãe estava na cozinha, falando ao telefone. Assim que me notou, e provavelmente meu rosto de choro – na verdade ainda caíam algumas lagrimas solitárias –, desligou imediatamente.

— Querida, o que aconteceu com você? – neguei com a cabeça e tentei passar por ela, mas ela me impediu, seu rosto preocupado.

Respirei fundo, limpando o rosto.

— O que você fez quando descobriu que estava apaixonada por aquele... hã... cara?

— Quando descobri que amava seu pai eu... – a interrompi, erguendo uma mão.

— Não o chame assim. Eu não tenho pai.

Ela ficou pálida por alguns segundos, antes de respirar fundo.

— Bem, não fiz nada. Deixei acontecer. Às vezes, forçar as coisas a acontecer é um erro, pois elas não acontecem como deveriam ser.

— E se negar a uma coisa que está realmente acontecendo?

— Também é um erro.

E assim foi meu final de semana. Entocada em minha cama, me sentindo deprimida, tentando lembrar em que momento o Felipe me bagunçou. E tudo que vinha a minha mente era o momento em que ele entrou na minha sala pela primeira vez, com aquele sorriso presunçoso e convencido.

Passei tanto tempo ignorando sentimentos e emoções, realmente conseguira bloquear a entrada de caras no meu coração. Mas então, simplesmente aconteceu. Talvez as pessoas estejam certas quando dizem que acontece, sem a gente prever ou querer.

A Carol apareceu em algum momento no domingo, e me deixou chorar em seu ombro depois que admiti, com todas as palavras: eu estava de 4 por Felipe Bragança.

*

Meu nível de disposição na segunda estava abaixo de zero. Entrei em um vestido preto justo qualquer e me arrastei para o trabalho. Estava com o rosto inchado, mas não tive certeza. Passei antes na sala da produção, e quando estava a caminho da minha sala, passei por Fabricio, que me olhava de um jeito estranho. Parecia um misto de humor com surpresa. Se ele estiver pensando quem é essa mulher depois do que viu no bar, só posso dizer bem vindo ao time.

Não pude deixar de notar que a mesa do Bragança estava vazia. Passei o dia todo alerta, meus olhos volta e meia presos na porta da minha sala e no telefone, como se eu esperasse que ele aparecesse a qualquer momento. Mas ele não apareceu. Senti um aperto no peito ao constatar isso no final do expediente, enquanto fazia meu caminho até o estacionamento.

A noite estava agitada e bonita demais para uma segunda à noite. Mas, infelizmente, meu animo não se parecia nada com ela. Carol havia deixado uma mensagem ou duas me convidando para ir a um bar com ela e o tal Bruno. Recusei, dizendo que havia levado trabalho para casa. E eu não estava nem um pouco afim de ficar de vela. Carol às vezes é meio sem noção. Sorri com carinho.

Em casa, fiquei no banho até ter meus dedos enrugados. Me vesti com um pijama do Mickey, bem criançona, e me aconcheguei no pufe na varanda, com dois projetos que eu precisava analisar.

Acordei com um sobressalto, sentindo o sol esquentar meu rosto. Levei um segundo para notar que eu havia adormecido na varanda mesmo. Estava com o corpo dolorido pelo mau jeito, e com certeza eu havia pegado friagem na madrugada. Me atrasei para chegar no trabalho, graças ao transito e uma dor no pescoço compactuando com meu estresse total. Cheguei à empresa cuspindo ordens, bem no meu jeito grosseiro de ser. Parece que a friagem acordou a velha Mariana.

Assim que sentei à minha mesa, tive uma crise espirros. Em poucos minutos minha voz já estava anasalada e meu nariz vermelho. Resfriado era tudo que eu precisava agora. Mal conseguia me concentrar no trabalho que vinha um espirro e me estressava mais. Por volta das 9 da manhã, Joyce aparece na minha sala.

— O contrato do Felipe Bragança, senhora. Para você assinar. De novo.

Meu coração quase salta pela boca, meu corpo reagindo apenas por ouvir seu nome.

— Ele voltou? – tentei não soar tão fraca quanto me senti.

— Voltou. Já está trabalhando na verdade. – Joyce deu um leve sorriso, como se o admirasse. Por Deus, todas as mulheres dessa cidade reagem assim ao Felipe?

Em um segundo, assumi minha fachada de quem não estava dando tanta importância, e assinei de uma vez o contrato, dispensando Joyce. Assim que ela saiu, meus nervos tomaram conta da situação. Encarei a porta, tentando administrar a ideia de que ele estava lá fora. Administrar uma empresa parecia mais fácil. Como seria olhar para ele agora, estar no mesmo lugar que ele outra vez, depois de tudo? Depois que assumi para mim mesma e para Carol, que estava possivelmente apaixonada por ele. Bufei. Por que diabos eu fiz isso? Só piorou as coisas com a Carol, que agora me pergunta a todo o momento sobre novidades do romance Marilipe. Fala sério!

Era ridículo, mas eu estava com um sorrisinho idiota no rosto ao lembrar isso.

Infelizmente, tive que sair da minha sala no meio do expediente. Fiquei com aquela tremedeira idiota assim que pus meus olhos nele. Felipe estava em sua mesa, concentrado no computador. Assim que notou minha presença, dirigiu o seu olhar a mim, e dois segundos mais tarde voltou a sua atenção inicial, como se apenas tivesse olhado uma pessoa qualquer passar na rua. Não sei por que, mas aquilo me pegou de surpresa, e não foi de um jeito bom.

E isso se estendeu até o dia seguinte. Estávamos nos tratando com total frieza. Exatamente como eu queria que nos tratássemos no começo. Mas, agora, isso estava me incomodando tanto. Felipe estava sempre rindo e de bom humor na companhia dos outros, mas era só eu passar por perto que sua expressão caía para seriedade e desgosto. Eu me sentia como aquela garota novata e esquisitona dos filmes em um colégio novo. Na minha própria empresa.

Eu estava ainda mais resfriada que antes. Tive que pedir para adiar uma reunião, pois não conseguia focar em nada com tantos espirros a todo o momento, e com o olhar de Felipe sobre mim, me enervando enquanto eu falava e apresentava os slides da nossa próxima campanha.

Pouco antes do final do expediente, há uma batida na porta, Joyce aparece.

— A pasta que pediu, senhora.

— Obrigada.

Mais cedo, quando ia sair para almoçar, notei que aquela mesma garota estava debruçada sobre a mesa do Felipe, deliberadamente dando em cima dele. Aquilo me deixou furiosa. E para piorar, quando ele me notou seu sorriso sumiu. Ela percebeu isso e fez questão de mandar um sorriso de “você perdeu, eu ganhei”. Essa garota esquece que eu sou a chefa dela?

Por isso pedi a Joyce a pasta dela. Sorri como chefa má que sou ao ler seu nome: Daniele. Guardei sua pasta em minha gaveta, para que fique próxima a mim. Mais um passo para perto do meu homem e ela vai descobrir com quem está brincando. Para perto do Felipe, quer dizer. Af!

Alcancei minha bolsa e segui em direção ao elevador. Notei com desanimo que o Bragança não estava na mesa dele. No estacionamento, caminho devagar até meu carro, mas antes mesmo de conseguir alcança-lo, sinto uma mão me agarrar e me puxar para de trás de uma das pilastras do estacionamento e sou imprensada contra ela.

Solto um gritinho e Felipe coloca um dedo sobre meus lábios para me silenciar. Meu corpo reage instantaneamente a sua presença, e ao modo como ele me mantem presa entre ele e a pilastra. Em algum lugar no meu inconsciente penso que afasta-lo seria minha reação inicial, mas estou hipnotizada pelo modo como ele me olha e apenas permaneço imóvel, esperando. Seu dedo agora roça meus lábios numa caricia suave.

— Sinto sua falta. – ele sussurra, sua voz rouca. Todo meu corpo sente isso.

Ele segue me tocando, sua mão agora em meu rosto. Ele desliza o polegar pela lateral do mesmo, prendendo meu cabelo atrás da minha orelha. Seus olhos me estudam do mesmo modo que suas mãos, se não mais exigentes.

— Você fica linda mesmo com esse nariz vermelho. – ele continua, um sorriso de leve toca seus lábios. – Te tocar é tão incrivelmente bom. Não sei mais como controlar isso.

Eu sorrio um pouco. Sua mão escorrega agora até meu pescoço, seus dedos roçando suavemente a pele ali. Ele percebe que estou baixando a guarda, e arrisca um beijo em minha bochecha. Em seguida, seus lábios se demoram no canto da minha boca. Fecho meus olhos e inclino minha cabeça contra a pilastra, esperando. Quando abro os olhos novamente, sua boca está pairando sobre a minha. Prendo a respiração.

— Tô gripada.

— Que se dane.

E então sua boca está na minha, selvagem e faminta. Nem hesito, e solto minha bolsa ali mesmo no chão, minhas mãos indo de encontro a ele, o agarrando e trazendo para mais perto, como se possível. Meus dedos torcem em seu cabelo, e os seus cavam minha coxa, em busca do contato precioso de pele contra pele. Nos beijamos com sofreguidão, sinto cada parte do seu corpo contra o meu, e concluo, extasiada, que se ele arrancasse minhas roupas ali mesmo eu não me importaria.

Então há um barulho no estacionamento, e com nosso beijo agora apenas no passado, ele faz um gesto para que eu fique quieta. Estou ofegante e não consigo pensar em nada a não ser no homem a minha frente. Por que ele tem que ser assim tão... Tão... Desejável?

O barulho desaparece e Felipe volta seu olhar para mim. Nos olhamos, como se dividíssemos um segredo. Ergo uma sobrancelha para ele de um jeito irônico, e ele sorri abertamente para mim, parecendo satisfeito. Estou apoiada contra a pilastra, com as pernas tremulas, e não ouso me mexer, pois não sei se consigo fazer isso sem dar de cara no chão com o olhar que esse homem tá me dando. Oh, por favor, volte a fazer o que você estava fazendo tão bem.

Ele apenas deixa um selinho em meus lábios. – Até amanhã, querida.

E desaparece no elevador.


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