Uma Noite na Prisão escrita por Katsumi Liqueur


Capítulo 1
Uma Noite Na Prisão




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Passava as mãos pelos pulsos avermelhados e doloridos, não precisavam estar assim... Mas estavam e fora intencional. E pior que isso! A inveja movera essa ação contra ela! Deveria ter escutado quando a sua consciência gritou, “Obedeça!”. Mas se o fizesse, estaria traindo a si mesma.
Seu corpo tremia delicadamente, tudo nela era delicado... Até aquele gesto que demonstrava seu frio... Seus lábios esmaeciam, mas seu rosto ainda estava avermelhado, acompanhando sua respiração ofegante. A roupa não ajudava, sua existência era apenas para evitar uma implicância excessiva, um atentado ao pudor. Só que, naquele lugar, servir seu corpo a olhos alheios e indiscretos não era agradável.
Afastou-se das outras pessoas, jogando suas costas na parede e deixando seu corpo escorregar até o chão. Um gemido suave saiu de seus lábios, estava tão fraca a ponto de se machucar com essa falsa queda? Com seus olhos cansados e quase cerrados procurou marcas em seus braços... Sim, existiam. Hematomas, hematomas, já estava tão acostumada. Todavia, deveria ter notado antes, para poder cobri-los com alguma roupa, que seria também útil contra o frio...
Deixou a cabeça pender de encontro ao metal gelado. Sentia-se deslocada e, estranhamente, suja. Nunca tivera de lidar com esse tipo de incômodo, esse tipo de pensamento. Nunca na sua decadente vida, mesmo sob palavras ferinas. Nem o seu “trabalho” a fazia se sentir indigna. Porém o lugar e a maneira como chegara, feria seu terrível orgulho.
Bateu nos bolsos do short com as costas da mão, cigarros e só. Tirou o maço, alguém acendeu o seu, o resto foi distribuído e furtado. Segurou um sorriso de escárnio, quando havia mesmo decidido para de fumar? Hoje? Não passara nenhum dia? Seria o mundo conspirando para a continuação de mais um vício? Riu de seu pensamento ridículo. Ah, as divagações acompanhadas de nicotina, como adorava. Eles observavam, intrigados, a jovem seminua de olhos indiferentes e inquietos, estranha combinação. Tentavam julgar se ainda mantinha sua frágil sanidade.
Alguns a “conheciam”, já tinham lhe vendido algo, ou simplesmente negociado alguma troca. Não entendiam como podia estar ali, ao lado deles. E tão despreocupada, embora estivesse vulnerável física e mentalmente. Ela não pensava nisso, preferia divagar sobre o nada, desviando seu olhar para a janela. Notou a ausência da lua, uma pena. Apreciava observá-la e ser retribuída... A chegada da chuva impedia a contemplação mútua, trazendo mais nuvens acinzentadas do que gostava.
Entediava-se com a espera, aguardando mais esse desfecho... Como resolver sua situação? E impedir um novo problema? Impossível quando ele é uma pessoa, e não, um acontecimento. E quando foi essa pessoa que procurou e não nega gostar de ser o que é, como resolver...? Deixou um enorme sorriso surgir em seu rosto ao ouvir os gritos daquela voz tão conhecida. A culpa era daquela pessoa, não assumiria a responsabilidade real. Atribuía ao dono dos sons todos os motivos.
O cigarro foi solto no chão e pisoteado, enquanto ela erguia seu corpo, apoiando-se nas barras para não perder o equilíbrio. Logo, logo... Ah, sim... Pessoas chegando onde estava. Desculpas sussurradas, murmúrios inconvenientes. Livre novamente, alguém disse. Andava de rosto erguido, olhos bem abertos, braços largados.
Seu pai nem sequer a olhou, jogando em sua face algumas notas para ir embora dali. Recolheu do chão, ignorando alguns uivos masculinos frenéticos. Seu olhar percorreu o local, encontrando o culpado daquela noite. O responsável por essa experiência desagradável. Se a culpa disso era a inveja dele, adoraria vê-lo lidando com a sua discreta vingança. Vingança, pois o reduziria. Discreta, pois ele acabaria gostando, todos gostavam! Ela mesma não fora uma vítima que exigira mais? Sim, seria assim com ele e com quem mais desejasse.

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