Um Rei para Hawktall escrita por Loba Escritora


Capítulo 14
Capítulo XIII




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Cateline

O grito horrorizado de uma senhora que estava na plateia originou uma verdadeira balbúrdia. Cateline teve que subir em uma árvore para conseguir enxergar o que estava acontecendo, e podia jurar que pisoteou alguém ao fazer isso. Viu quando Kazimir e os homens de seu pai escoltaram uma maca para fora da arena, nela estava Giuseppe, e no chão um rastro de sangue ia sendo deixado.

Seu cavalo, o belo Guardião, o mesmo que pastava alegremente no primeiro encontro deles, ainda estava caído e ao redor dele havia uma enorme mancha de um vermelho profundo. As patas dianteiras do animal se moviam compulsivamente e sua cabeça batia de forma frenética na terra cada vez que tentava se levantar. Dois guardas trocaram algumas palavras que embora Cateline não tivesse podido ouvir, foi capaz de entender. Guardião estava agonizando. Foi quando um dos guardas se aproximou e findou seu sofrimento. Sentiu as lágrimas inundarem o rosto.

Sentiu duas mãos a segurarem pela cintura, a tirando da árvore e colocando no chão.

— Está tudo bem comigo, não precisa se preocupar — o sorriso insolente de Hudde estava em frente a ela.

— O que aconteceu com ele? — tentou parecer aliviada por vê-lo, mas não teve muita certeza de ter conseguido.

Hudde a observou atentamente por um instante. Os olhos semicerrados lhe davam a sensação de ser milimetricamente analisada.

— Se machucou durante nosso confronto — deu de ombros. — Parece que a lança que usei tinha algum gume.

O corpo do cavalo foi retirado e os preparativos para a próxima justa começavam.

— Está me dizendo que o acertou sem intenção, Hudde? — ela o conhecia o suficiente para saber que aquilo era mentira.

— Não, você saberia que essa não seria a verdade — voltou a sorrir. — Eu tencionava acertar a pata do animal, para derrubá-los e vencer. De fato, consegui — disse orgulhoso. — Mas parece que ele se machucou, pobre inexperiente...

— E você não sabia que sua lança estava afiada? — Cateline o fitou nos olhos.

— Talvez eu tenha comentado com meu escudeiro que desejava trocar as lanças, mas que culpa tenho se ele resolveu realizar tal desejo?

Cateline deu por si perdendo a paciência com tamanho cinismo.

— Pode ser desclassificado por isso, Hudde — disse zangada. Espero mesmo que seja!, quis gritar, mas é claro que era melhor ocultar isso.

— Não serei, meu escudeiro já confessou o engano — deu um olhar que confessava toda sua culpa.

É claro que ele sairia impune, o poder de ouro dos Arkalis sempre os livrava das punições terrestres. Se perguntava se seria possível que comprasse também Prussiya, pois esperava que ao menos dos mares alguma justiça um dia viria.

— Pagou a ele por isso, não é mesmo? — não conseguiu disfarçar o desapontamento no tom de voz.

— Um valor caro o suficiente para ele estar contente em assumir a responsabilidade. Agora basta desse assunto — parecia ter começado a se irritar. — Quero que vá para casa depois da abertura do banquete, e vista seu melhor vestido... gostaria de vê-la naquele que lhe dei. Mandarei uma carruagem buscar-te à hora da ceia.

— Por que não simplesmente usufruímos do banquete? — não sentia a mínima vontade de jantar com ele.

— Porque meus pais estarão no banquete, e pretendo dar-lhe total atenção hoje — aproximou-se e a beijou nos lábios. — Jantaremos à sós em minha casa. E lembre-se: não gosto de atrasos — deu uma piscadela e saiu.

A abertura do banquete tinha sido esplêndida, vários nobres vieram cumprimenta-la pelo excelente trabalho com a lira, ela fazia um enorme esforço para agradecer e sorrir, mas não conseguia parar de pensar em Giuseppe.

Caminhava em direção a Amuleto que a levaria para casa, ainda teria que se arrumar para o jantar com Hudde. Avistou o Barão Donoghan conversando com Sor Dyrk, ouviu quando disse “... pobre rapaz, meu filho gosta muito dele, por isso será cuidado em nossa casa...”, um fervor aqueceu-lhe o peito. Giuseppe estava no lar dos Donoghan, o casarão tão próximo de onde ela estaria ao anoitecer. Talvez pudesse vê-lo, se conseguisse escapar de Hudde.

Apertou o passo para ir de encontro à montaria, quase começando a correr. Montou e disparou a galope.

Mal anoitecera e a carruagem parou em frente ao casebre. Pensou durante todo o longo caminho até a morada dos Arkalis, mas não conseguiu arrumar em um jeito de escapar do cocheiro, afinal, todos os empregados de Hudde eram pagos bem o suficiente para serem os mais leais. Decidiu que tentaria visitar Giuseppe ao final da noite.

O jantar seguiu-se surpreendentemente agradável. Hudde estava particularmente feliz pelo sucesso de seu plano, isso o deixava falante e tudo o que Cateline precisava fazer era sorrir e concordar com ele.

Várias taças de vinho depois, Hudde ordenou que uma das criadas desse vida ao belíssimo piano de cauda no centro da sala de estar, e puxou Cateline para uma dança. Mesmo bêbado, era um exímio dançarino. Estava sorridente e ela se lembrou do quanto costumava gostar de valsar com ele, o sorriso não exigia mais muito esforço então.

— Deveria ficar aqui comigo — Hudde segurou o rosto dela com delicadeza.

— Hoje? — Cateline mostrou-se surpresa. — Oh, Hudde... não posso.

— Deveria ficar para sempre — a beijou com fervor. — Deveríamos nos casar ao raiar do dia.

Durante muito tempo aquilo era tudo que ela gostaria de ouvir. Pularia em seus braços e gritaria “sim” com um sorriso de orelha a orelha. Mas esse tempo passou, tudo que conseguiu foi acariciar os cabelos dele, fitando seu belo rosto.

— Homens casados não podem participar do torneio, lembra-se? — sorriu com carinho.

— Que se dane o torneio, Cat...

— Você precisa ganha-lo e se tornar o meu Rei — interrompeu-o. — E já começou a trilhar sua vitória hoje, estou tão orgulhosa — mentiu.

— Vou vencer. E vou matar a princesa. Você será minha rainha...

— Isso. Mas amanhã... hoje você precisa dormir — o puxou em direção à escada.

Ao chegarem ao quarto, Hudde deixou-se cair sobre a cama. Cateline tirou seus sapatos e o cobriu, quando foi dar-lhe um beijo suave, ele sussurrou novamente: — Fique aqui comigo... — e adormeceu.

Olhou por um instante. O que diabos está fazendo, Cateline?, pensou. Nunca antes se sentira tão perdida. Logo ela, que sempre soube o que fazer. Saiu do quarto, desceu as escadas e foi para o ar da noite.

Deu por si atirando pedras em uma das janelas do casarão, torcendo para acertar o quarto de Kazimir, quando uma janela se abriu e lá estava o rapazinho. Um instante depois ele corria até o portão.

— O que faz aqui, Cat? — Kazimir parecia horrorizado. — Está tarde. Hudde sabe que está aqui?

— É claro que não, ele está dormindo — fez sinal com as mãos para que ele se acalmasse. — Me deixe entrar, Kaz, preciso vê-lo.

— Como sabe que ele está aqui? Contou a Hudde? — Kazimir pronunciava o nome com pavor na voz, como se sua mera menção fosse atrair algo maligno.

— Não! Ouvi seu pai comentar com um dos cavaleiros — tentou suavizar a voz para acalmá-lo.

— Certo — respondeu, abrindo o portão. — Mas não deve demorar.

Passaram por uma porta aberta e Cateline pôde constatar que acertou as janelas da biblioteca. Sorte a dela que Kazimir parecia gostar muito de ler, não era exatamente o horário normal para as pessoas estarem na biblioteca. Quando entraram no quarto, um cheiro forte quase a impediu de respirar. Na cama, Giuseppe soava e tremia, em um sono agitado.

— O que houve? — ela teve que segurar as lágrimas.

— Hudde usou uma lança afiada...

— Eu sei — não queria ouvir novamente a história. — Quero saber qual o ferimento e a gravidade.

— A lança atravessou a perna — Kazimir apontou para uma bacia com unguentos muito vermelhos. — Sangrou muito, mas por sorte, não atingiu os ossos. O perigo agora é infeccionar, ele tem tido muita febre. O médico disse que será uma longa e difícil noite.

Cateline se aproximou e beijou-lhe os lábios, que pareciam que iriam derreter a qualquer momento de tão quentes. Ele abriu um pouco os olhos...

— Marey... — esboçou um sorriso. — É um sonho? Estou delirando, não estou?

— Não, meu amor, estou aqui.

— Marey? — Kazimir fez-se ouvir. Por um instante, esquecera de sua presença ali. Ele parecia confuso por um momento, até que se sobressaltou e pareceu entender tudo. — Pelas águas sagradas de Prussiya! Isso é loucura! — saiu do quarto parecendo transtornado.

Lidaria com ele depois. Era um bom rapaz, a entenderia... não planejou nada daquilo, as coisas só aconteceram, fora de seu controle.

— Fique aqui comigo... — Giuseppe indicou com o olhar o espaço ao lado dele na grande cama.

— Fico — Cateline se ajeitou ao seu lado, abrigando sua cabeça sobre os seios, acariciando seus cabelos e beijando seu rosto. — Claro que fico.


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