Além do Campo de Flores escrita por Lady Pompom


Capítulo 5
Encontrando um amigo




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Depois do incidente na festa, a cidade estava em polvorosa, o ataque na festa viraria notícia. Aiden ainda estava quieta, a ira dela tinha sido acalmada apenas com as palavras daquele homem, mas ela ainda se recusava a confiar nele.

Aquele sacerdote…

            Ela tocou a testa. Quando se lembrava dos eventos ocorridos na festa, as bochechas dela coraram, e os lábios de curvaram numa expressão de desgosto e vergonha.

Não acredito que eu me acalmei mesmo só palavras tão superficiais. O que deu em mim? Talvez minha armadura carregue mais significados do que eu imaginava. Se eu retirá-la, sinto como se não fosse mais uma cavaleira.

            Lionel conversava com algumas pessoas na igreja e Aiden esperava pacientemente que ele terminasse, depois daquilo ele iriam a outros compromissos e em dois dias, partiriam da cidade. Porque o assassino ainda poderia estar por perto, era perigoso ficar muito mais tempo naquela cidade.

            O fato de ela estar vestindo sua armadura a deixava mais tranquila, ela estava preparada caso algum oponente tentasse atacá-la.

            Naquele dia, enquanto caminhava pelas ruas solitárias da cidade, estudando a repercussões dos eventos da festa, os cidadãos ainda se mostravam inseguros, já que alguém conseguiu causar um tumulto facilmente.

—Você viu?

—Sim, alguma coisa veio voando e quebrou a janela.

—Colocou quase todo o salão em chamas.

—Foi uma tentativa de assassinar o prefeito?

Os rumores estão começando a tomar um rom péssimo… Talvez seja melhor se pensarem que o prefeito era o alvo.

            Distraída pelos próprios pensamentos, ela trombou em alguém. Um homem de cabelos negros, com olhos num tom azul claro, pele amorenada do sol, e um corpo com musculatura bem definida, apesar de ser magro. Ele era apenas alguns centímetros mais alto que a cavaleira e os olhos dele eram afiados quando lançou um olhar de relance para ela. As roupas dele eram de um atirador. Ele balbuciou algumas palavras quando passou por ela, provavelmente alguma desculpa, mas ele sumiu tão rápido quanto apareceu.

Quem…? Não importa. Lionel está falando com o cardeal agora… Odeio ficar parada sem ter nada para fazer…

—Ora, ora, se não é a senhorita da festa.

            O senhor que havia falado com Aiden durante a festa apareceu novamente para conversar.

—Senhor…!

—Oh, você fica bonita usando essa armadura também, mas estava melhor na festa!

—Me desculpe se causei algum mal entendido na festa, não sou uma madre, sou uma cavaleira a serviço.

—Eu já sabia disso, você não se parecia em nada com uma madre! Seu comportamento falou muito sobre sua profissão.

Ele está tentando me dizer que eu fui rude? Ou será que é porque eu não estava sorrindo o suficiente?

—Se você fosse uma madre, não ficaria perturbada com coisas pequenas, franzindo o cenho pra qualquer um, teria paz no coração e uma expressão menos preocupada.

—Isso significa que o trabalho de uma madre inclui sorrir? Se sim, eu acho que não combino mesmo.

—Não estou dizendo que é um trabalho, o sorriso vem naturalmente com a paz e felicidade concedidas, ou talvez pelas experiências complicadas em ser uma madre ou padre. Contudo, isso não significa necessariamente que um cavaleiro não possa sorrir. Um verdadeiro cavaleiro pode ter paz no coração e na alma, todas as profissões podem ter paz e felicidade, se for algo que você aprecie fazer… Ainda assim, parece perturbada com algo…

—...

Isso é porque minha determinação é fraca… Eu não entendi o significado por trás das ordens do Lorde Glenn, ele disse que eu era a mais indicada para isso, mas existem homens mais capazes que eu sob o comando dele… Força foi definitivamente um ponto de apoio que ele usou como referência para escolher o cavaleiro a receber esta missão…

Além disso… Por causa desse tipo de missão… Proteger não é uma tarefa fácil, e aquele cara fica tagarelando sobre proteger os outros, como é uma crença dele, ele não está aberto a mudanças.

—Uma armadura lhe cai bem. –o senhor sorria-

—E-essa foi nova. –ela corou-

Poucas pessoas me disseram isso antes…

—Hohoho… Deve ser porque as pessoas não entendem a essência de sua personalidade.

—Personalidade…?

Pensei que ele diria algo sobre minhas maneiras de novo… Eu tenho a mentalidade de uma cavaleira?

—Uma pessoa reclusa vestindo uma armadura, isso combina perfeitamente. Hohohoho…

            Ela abriu a boca, indignada com as palavras dele, mas o homem acenou e foi embora. Se misturando à multidão.

Aquele velhote… Dizendo palavras inoportunas… Ás vezes ele me dá mais nos nervos do que o Lionel.

            Ela voltou para a igreja, Lionel tinha acabado de conversar com o cardeal, e o homem não parecia nem um pouco feliz, os lábios dele estavam curvados para baixo, ao passo que Lionel manteve o sorriso suave no rosto.

O que houve agora? Até o cardeal está com raiva dele? O ar não deveria ser tão denso dentro de uma igreja… É bem desconfortável…

—Oh, Aiden, você voltou. – ele direcionou o olhar para a mulher–

—Sim…

—Devemos ir agora, tenho alguns assuntos para resolver na cidade e podemos partir depois…

—Certo.

            Ela não contestou as ordens dele, mas estava intimamente curiosa em saber o que havia acontecido. Fazer um cardeal ficar furioso não era simples, pior do que isso; ele fazer um cardeal ficar bravo era completamente fora de cogitação.

            Ela o seguiu, com certa curiosidade no olhar. No dia seguinte, o sol estava se pondo, e Lionel parou na porta dos dormitórios da igreja.

—Aiden, tem algo me incomodando… -ele a fitou-

—... O quê?

—Você parece ter algo a me perguntar, mas acho que está relutante em perguntar?

—Bem…

Ele presta mesmo atenção nos detalhes, hã… Que homem irritante…

—Eu só fiquei curiosa sobre seu diálogo com o cardeal, você geralmente faz um sorriso aparecer no rosto das pessoas, mas aquele cardeal não pareceu ter gostado de conversar com você.

—Hm… Isso eu não poso lhe contar. –ele deu um sorriso brincalhão- Mas, se tem um motivo para o desprazer dele é porque algumas pessoas não gostam do meu método de resolver as coisas.

Isso é verdade! Ele diz o que pensa na lata e essa atitude serena dele me incomoda bastante!

—Be-bem…

—Você, melhor do que qualquer outro, deve ter percebido isso também. –ele sorriu e entrou nos dormitórios da igreja-

            O resto dos dias que permaneceram foi pacífico e logo chegou a hora de partir, em direção ao próximo lugar. Aiden ficou quieta o tempo todo, tentando compreender o que aquele homem representava. Nos dias seguintes, eles passaram por alguns vilarejos e após uma viagem de duas semanas, chegaram ao próximo destino: Einbech.

A cidade das minas, hein? Eles extraem metais e matérias primas como joias, aço, ferro… Eu acredito que tenham bons ferreiros aqui… Talvez eles possam dar uma olhada na minha armadura, preciso de alguns ajustes e consertos nas partes arranhadas.

—Essa cidade captura seu interesse? –o sacerdote sorriu-

—H-hã? –ela se surpreendeu com a súbita fala dele-

            A cidade era completamente marrom, as pessoas carregavam materiais como carvão, pedras e ferro estavam todas sujas; o chão da cidade era todo de terra e as construções eram de pedra e ferro.

—N-não muito. –ela suspirou- Para falar a verdade, eu ouvi sobre esse lugar, porque quase toda a matéria prima de forja das armaduras em Prontera é coletada aqui…

—Isso faz dessa cidade um lugar incrível, não? Eles conseguem vender materiais para muitas cidades e tem influência no comércio dessas matérias primas. A economia aqui não é um problema, embora muitos reclamem da infraestrutura da cidade…

—Já visitou esse lugar antes?

—Não… É minha primeira vez vindo aqui, mas ouvi rumores… Além disso… O cardeal daqui é…

            No momento em que ele estava prestes a revelar, alguém se aproximou da mulher, e uma voz chamou-a de trás:

—Aiden!!

            Os dois se viraram para identificar de quem era aquela voz. Vinha de uma mulher de cabelos loiros batendo pouco abaixo dos ombros, com olhos azuis, o sorriso dela ia de um canto ao outro do rosto, ela carregava um carrinho de mão e usava as roupas de uma ferreira.

—Olá, ainda se lembra de mim? –perguntou num tom de ironia-

—Amy!

            Aiden estava surpresa com a presença da amiga. Um breve sorriso brotou nos lábios dela, algo que Lionel nunca tinha visto. A expressão dela estava iluminada quando a amiga a abraçou.

—Aiden, você continua a mesma… Usando essa armadura o tempo todo… -Amy suspirou- Não devia ser tão extrema sobre seu trabalho, ou vai acabar sozinha.

—Eu estou no meio de uma missão agora… Na verdade… -ela lançou um olhar para Lionel-

—Oh… -Amy fitou o homem por alguns segundos- Eu sou Amy, é um prazer te conhecer. –estendeu a mão com um sorriso no rosto–

—Me chamo Lionel, é um prazer te conhecer também. –ele sorriu de volta, cumprimentando-a-

—Esteve tomando conta dela? –Amy perguntou casualmente-

—Pelo contrário, creio que seja ela que está tomando conta de mim.

—Isso mesmo! –Aiden se intrometeu na conversa- Meu dever é proteger este homem.

—Sério? –ela arqueou o cenho- … Olhando de perto, talvez… Você é um sacerdote?!

—Um sumo-sacerdote, sim.

—Aiden, como foi que acabou numa missão de tomar conta de um sumo-sacerdote?! E como ele pode ser tão jovem?!

            Amy ignorou a presença do homem e se virou para fazer perguntas à amiga.

—Devia perguntar isso diretamente para ele, não para mim. –retrucou irritada- Mas, estou intrigada, por que está aqui?

—Está perguntando o que uma Ferreira veio fazer nesta cidade? Caro que eu vim pela grande variedade de materiais para forjar armas e armaduras!!

—Ah… -Aiden estapeou a própria testa- Me esqueci de que ela é uma maníaca…

—Não sou! Eu farei armas ponderosas e lindas para vender!!

—Bom pra você… Estou ocupada agora. Precisamos ir para a igreja…

—Ah, Aiden, depois de tanto tempo separadas, vai me deixar sozinha?! –ela se ajoelhou com olhos lacrimoso e agarrou-se na saia da cavaleira-

—Para com esse teatro… Está me envergonhando…

            Aiden olhou em volta, as pessoas começavam a olhar para elas, o rosto dela ruboresceu e os ombros encolheram balançando a perna para se livrar do aperto da amiga.

—Aideeen… -a garota choramingava como uma criança-

—Senhorita Amy, -Lionel se curvou para fitar a garota loira- Se quiser vir conosco, pode vir. Estarei ocupado com alguns afazeres, mas pode aproveitar seu tempo o quanto quiser com a Aiden quando ela não estiver trabalhando. Mas por hora, estamos ocupados. Então, o que posso fazer é convidá-la para almoçar conosco hoje. Ando terminarmos nossos afazeres aqui, pode levar Aiden para onde quiser antes de partirmos para a próxima cidade. Tudo bem para a senhorita? –ele estendeu a mão-

—Sim… -ela segurou na mão dele com as bochechas coradas-

            Na visão dela, o sacerdote parecia estar banhado com algum tipo de luz divina. Ela se levantou e encarou a amiga.

—Aiden, você tem sorte.

—Qual o seu problema?! –a cavaleira se irritou- Vai embora! E você! –ela olhou para o padre – Não incentiva o comportamento desregrado dela! Não temos tempo a perder para ficar perambulando por aí! Não me barganhe com minha própria amiga!

—Ora, foi apena suma sugestão, claro que tem toda a Liberdade para recusar. –ele sorriu- Mas não acredito que passar tempo com os amigos seja um ato ruim.

—É sim quando eu tenho uma missão a cumprir!

—Aiden, é por isso que estou dizendo que passar mais tempo aqui não fará nenhum mal. Deve-se cuidar dos amigos, não devia ser tão dura consigo mesma ou com ela.

—Eu decido o que eu quero fazer!

            Ela pisou forte no chão, encarando furiosa o sacerdote que apenas suspirou suavemente e manteve um sorriso não convencido na face.

—Ela é durona, não é mesmo, senhor padre? –Amy fez uma pergunta retórica-

—Só o tempo irá dizer. –ele respondeu positivamente-

—Vamos! –Aiden estava impaciente-

            Lionel acenou em despedida para a ferreira, mas Aiden parecia estar muito irritada com a outra sem nenhuma razão aparente.

            Quando chegaram na igreja, estava vazia. Aiden olhou em volta preocupada, mas não havia sinal de nenhum membro ali. Uma irmã veio da parte dos fundos da construção.

—Oh. Visitantes?

—Sou Lionel, vim de Prontera para falar com padre Isaack. E essa é minha guarda, Aiden.

—Ah, sim, estávamos esperando por você, mas, hum… Bem…

            A irmã parecia estar sem palavras, como se tentasse explicar algo complicado.

—Se importariam se eu os mostrassem suas acomodações primeiro? O padre Isaack não se encontra aqui no momento…

—Não está aqui…? –Aiden ficou surpresa-

—Não se incomode, não temos pressa.

            A freira os guiou, mas antes que chegassem aos fundos da igreja, alguém abriu as portas com força. Aiden se virou num instante, sacando a espada.

            Havia um homem de meia idade de pé na entrada iluminado por um feixe de luz que advinha do lado de fora, ele tinha um sorriso de orelha à orelha. Era alto, forte, as roupas dele eram as de um sacerdote, os olhos eram castanhos assim como o cabelo curto, e tinha uma barba aparada da mesma cor.

—Bom dia! –ele cumprimentou animado- Oh, temos visitantes? –Os olhos dele recaíram sobre os recém-chegados-

—Sim… Bem, esse é o padre Isaack, -a freira introduziu- Padre, esses são Lionel, o sacerdote pelo qual estivemos esperando e Aiden, a guarda-costas dele. Eles ficarão aqui por alguns dias.

—Oh!! –ele correu e abraçou Lionel e Aiden ao mesmo tempo- É um prazer conhecê-los!

            Ele os largou e pôs as mãos nos braços de Lionel, sorrindo alegremente.

—Ouvi muito sobre você, padre Lionel! Estava ansioso para encontrá-lo! Ela é sua guarda-costas?

—Sim, senhor. -Aiden respondeu educadamente-

—Um cara sortudo, hein?! –Isaack deu uma forte tapa no ombro de Lionel- Eles ate mandaram um guarda-costas para te acompanhar, é melhor do que viajar sozinho, tenho certeza. Mas agora, vamos para os alojamentos, podemos conversar melhor lá dentro…

            A cavaleira estava confusa com o comportamento de Isaack, ele conseguia ser mais relaxado do que a amiga dela, Amy. E ele não se parecia em nada com um padre a não ser pelas roupas. Um cardeal nada ortodoxo? Vendo o quanto ele era animado e diferente de Lionel, ela suspirou. Aquilo parecia um presságio do tamanho da dor de cabeça que ela teria.


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