Roda do Tempo escrita por Seto Scorpyos


Capítulo 11
Capítulo 11




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Mordred entrou na pequena cabana e deu de cara com Teddy, sentado à mesa. Antes que pudesse sacar sua varinha do bolso, virou a cabeça ao sentir uma mão em seu ombro e levou um potente soco. Harry o desarmou e jogou a varinha para o afilhado.

O jovem observou boquiaberto Harry erguer o homem e jogá-lo sobre uma cadeira, sentando-se de frente a ele.

— Mordred Williams... – o ex-auror respirou fundo e sorriu minimamente – Me conte tudo sobre sua missão secreta no norte.

O outro, tenso apesar de parecendo desafiador, cuspiu de lado.

— Potter... e seu bichinho. – a voz estava cheia de sarcasmo, mas os olhos traíram o medo – Veio me prender? – riu, jocoso – Ahn... não pode mais, não é? Foi demitido de forma humilhante do ministério...

O homem parou de falar e deu um berro violento quando Harry simplesmente enfiou uma adaga em sua coxa direita.

— Não tenho tempo para joguinhos de palavras, Mordred. – Harry voltou a falar, absolutamente calmo e então sorriu de maneira horrível enquanto limpava a lâmina na calça do homem.

Mordred empalideceu e olhou quase incrédulo o sangue que se espalhou pele tecido e começou a pingar.

— Sua missão, Mordred. – quando o outro ergueu a cabeça e o encarou, Harry elevou uma sobrancelha – Eu não vou perguntar de novo.

— Schacklebolt me mandou para o norte... – a voz de Mordred saiu entrecortada de dor – Eu devia investigar o avistamento de Rodolfo Lestrange e Antônio Dolohov... – Harry franziu a testa, mas não o interrompeu – Os dois fugiram quando... você-sabe-quem explodiu parte de Azkaban e libertou seus companheiros...

— Comensais? – Teddy soou incrédulo.

— Eles conseguiram fugir de Hogwarts... mas Rodolfo jurou vingança contra a Weasley... ela matou Bellatrix...

Mordred deixou a cabeça pender, trêmulo de dor e da perda de sangue. Harry pegou um frasco de poção do bolso e derramou um pouco no ferimento. O homem se mexeu e gemeu de dor.

— Isso é indigno... pervertido! – o homem protestou, encarando Harry – Aja como um feiticeiro!

— Não vou perder meu tempo usando maldições e poções contra um Inominável treinado. - Mordred arregalou os olhos e Harry o encarou, calmo – Aprendeu nos porões do ministério a resistir a isso, não foi? E olha que nem considerei usar uma imperdoável, não sou um de vocês. – o ex-auror se inclinou, fechando o frasco cuidadosamente - Agora, o que esses dois tem a ver comigo?

— Nunca disse que tinha. – a resposta veio pronta.

Harry sorriu de modo estranho, balançando a cabeça.

— Vamos... Posso ter tido problemas, mas lembro bem que sempre me provocou... me desafiou e fez isso abertamente. Não faria se não tivesse proteção do ministério. – o mago o encarou, os olhos verdes faiscando por trás das lentes - Mas vou ajudar... sei que Shacklebolt o mandou me vigiar. Vi os relatórios que enviou. Fiquei impressionado como foi detalhista nos meus encontros com Draco. Se divertiu?

O homem se lançou para frente, furioso, mas Harry simplesmente inclinou o corpo de lado e deixou o punho, que se chocou contra o nariz de Mordred, fazendo-o escorregar e cair. O sangue começou a escorrer por entre os dedos do auror, que grunhiu e se sentou de novo com dificuldade. Harry estalou os dedos e o sangue parou, mas o nariz continuou torto.

— A resposta... – Harry o encarou, sério.

— Chegou um relatório de Dundee falando sobre um homem que relatou ter ouvido uma conversa estranha sobre um atentado... Gina Weasley... – a voz de Mordred falhou de novo.

— Dundee na Escócia? – Harry perguntou, a voz levemente enrouquecida.

— Sim...

— Não encontrei esse relatório. Está com Shacklebolt? – o olhar do auror se tornou terrível.

— Sim... confidencial. Ele me mandou te seguir e te vigiar... e Dekell... – subitamente alerta, Mordred tentou se levantar e correr, mas Harry foi mais rápido e o imobilizou com magia.

Uma névoa avermelhada cercou o homem, que arregalou os olhos.

— Pai... – Teddy se afastou da mesa e se aproximou, preocupado.

— Não vou matá-lo, filho. Fique tranquilo. – Harry ficou de frente para o homem, que tremeu visivelmente – Estou começando a reconsiderar tortura, mas adianto que sou mais criativo do que imagina. Você pode ser um Inominável de valor, bem treinado, mas eu sou Harry Potter e devia saber que se não outra coisa, sou muito teimoso. Suas tentativas de fuga estão me cansando...

Ergueu o braço e fechou os dedos lentamente, sufocando o auror.

— Você dizia que Dekell...

O homem lutou para respirar e Harry o permitiu.

— Soubemos que... - Mordred estava ofegante – Dekell se encontrou com Rodolfo... e ele se aproximou da Weasley... quando você desapareceu....

Os olhos de Harry faiscaram. – E...

— Eles... bem... Dekell me disse que dormiu com ela. – mesmo ferido e arquejando, ele riu com desprezo – E Janus soube disso, mas não te contou, não é? O próprio Dekell espalhou a história... – o homem engasgou com sangue e tossiu e cuspiu, respirando em grandes golfadas.

— Rodolfo estava pagando Dekell? – Harry perguntou, depois de soltar o auror da névoa e assisti-lo desabar no chão.

— Eu... não sei... Shacklebolt me mandou parar quando descobrimos isso... disse que não era assunto do ministério... – Mordred tossiu mais e colocou a mão no pescoço – Está me matando!

Harry assistiu, impassível, o homem se desesperar em busca de ar. A cada vez cuspia mais e mais sangue, até que Teddy gritou de angústia.

— Pai!

O mago desfez o feitiço e largou Mordred no chão arfando, mas vivo. Aproximando-se, Harry mexeu os dedos e puxou um fio prata da cabeça do auror, enquanto sussurrava palavras estranhas.

— Me dê um frasco inquebrável, Teddy. – disse, sem se virar.

O jovem, ainda trêmulo e assustado, se aproximou e fez o que foi pedido, observando Harry encher o frasco com o fio prata.

— Memórias? – perguntou, engolindo o medo.

— Todas com relação a mim e a Gina. – a resposta veio seca – Temos que visitar Shacklebolt.

Teddy fez um feitiço rápido e constatou que apesar de ferido, Mordred não corria o risco de morrer.

— Vamos deixá-lo aqui? Não é perigoso?

— Não. Eu retirei suas memórias. – Harry encarou o homem desacordado – Ele não será mais uma ameaça.

Os dois deram uma busca na cabana e encontraram bilhetes trocados entre ele e Dekell, e outros com o próprio ministro. Teddy recolheu todo o material e então, aproveitou que Harry estava lendo alguns documentos sobre a mesa e fez um curativo no homem desmaiado. Depois o levitou e o deixou sobre a cama. Quando se virou, viu que Harry o estava observando.

— Não me sentiria bem deixando-o sem cuidado... – comentou, sem desviar os olhos.

O mago não respondeu nada e separou mais algumas folhas, que dobrou e guardou no bolso do sobretudo.

— Se já terminou, podemos ir. – orientou, afastando-se para a porta.

— Ver o ministro? – Teddy perguntou, aproximando-o a largos passos - Ou investigar Dundee, na Escócia? – já fora da cabana, o jovem parou – Acha que Gina está em perigo ou foi apenas... quero dizer...

Harry parou e se virou para o afilhado.

— Não sei dizer se ela está em perigo ou se foi apenas um caso, Teddy. Vamos investigar e descobrir.

*************

De volta ao celeiro, Teddy observou Harry se aproximar do mapa e encarar duas luzes longe de onde estavam. Já sabiam que Draco e Scorpius Malfoy estavam no mapa, mas nenhum deles encontrou algo a dizer. Teddy trouxe o sangue de Victorie e dos sogros, Luna e Rolf trouxeram dos pais, Arkyn de uma moça chamada Stella. Apenas Tek e Andreas não trouxeram de ninguém.

— E então? Ago para nós? – Tek perguntou, se aproximando.

— Não. – Harry se afastou do mapa e se sentou pesadamente, tirando o frasco do bolso – Tenho dois nomes para investigar, mas não parece ter ligação com Dionísius.

Andreas e Arkyn aparataram no meio do celeiro, um pouco arfantes e descabelados. Tek franziu a testa.

— Tudo bem?

Andreas passou a mão pelo cabelo e andou alguns passos até Tek, inclinou-se e deu-lhe um selinho rápido. Harry elevou uma sobrancelha e Teddy sorriu de leve. Arkyn abriu a boca, mas Harry o paralisou alguns minutos, impedindo-o de dizer ou fazer qualquer coisa. Apenas os dois souberam o que o ex-auror fez, mas Arkyn desistiu de reclamar ao receber um olhar fulminante pouco antes de ser solto.

— Tudo. O senhor Villy achou que podia renegociar o preço do transporte do sobrinho para baixo, e tentou nos ameaçar, mas no fim foi tudo bem. – Andreas tirou uma bolsa do casaco e colocou sobre a mesa, empurrando-a para Teddy – Ele disse que devia ser mais barato por que Harry não estava junto.

— Queria saber quem me nomeou tesoureiro... – apesar da reclamação, o jovem abriu a bolsa e, usando magia, dividiu o dinheiro, que flutuou até cinco cofres em formatos de animais em cima da estante - Ops... Tek, o seu já está cheio...

O jovem encarou o bruxo, que elevou uma sobrancelha. – Mesmo?

Arkyn sentou-se e riu, divertido.

— O homem sequer sabe o quanto está ganhando... – provocou.

Harry, sentado na ponta da mesa, estava mergulhado em pensamentos e sequer acompanhou a brincadeira e a divisão do dinheiro.

— Isso não faz sentido... – murmurou, os olhos verdes escurecidos.

As risadas pararam imediatamente. Harry encarou Arkyn.

— Tem alguma coisa errada. Pelos arquivos sabemos que Mordred estava infiltrado em nosso grupo a mando de Shacklebolt, e pelo que descobri, por causa de dois comensais que fugiram de Azkaban e também da batalha final com Voldemort. Estão vivos e escondidos e, se a informação for verdadeira, estavam planejando se vingar de Molly Weasley usando Gina. – o mago entrelaçou os dedos e apoiou o queixo – Mordred disse que Janus estava desconfiado disso, mas nunca me disse nada.

— Ele foi morto por causa disso? – Arkyn perguntou, sério.

— Eu não sei... mas bate com o fato de Janus ter chamado apenas a mim naquele ataque à vila. Se ele estava desconfiado de Dekell, isso faz sentido. – frisou a afirmação com o dedo, mas então suspirou, frustrado – Mas o que me intriga é que quando discutimos o ataque, ele não disse nada sobre a possibilidade de uma armadilha, não falou sobre suas desconfianças e pareceu tão perplexo quanto a gente.

— Talvez estivesse fingindo. – Andreas comentou, sentado ao lado de Tek.

— Pensei nisso, mas por quê faria isso? – Harry devolveu o olhar pesado – Janus esteve perto de mim tempo suficiente para mencionar qualquer coisa. Talvez não antes, enquanto eu estava bebendo e descontrolado, mas depois teve o motivo e inúmeras chances, porque não disse nada?

— Espera... porque esses caras queriam se vingar da mãe da Gina? – Tek perguntou, confuso.

— Molly matou Bellatrix na batalha final, que era a esposa de Rodolfo Lestrange. Pelo que ouvi, Antônio Dolohov foi o comensal que mandou Remus Lupin para o hospital por seis meses. Acho que pensou que o tivesse matado. – Harry explicou, calmo – À primeira vista, nada a ver diretamente comigo.

— Que Rodolfo quer vingança entendi, mas e Antônio, qual o papel dele nisso tudo? – Tek voltou a perguntar, inclinando a cabeça.

— Acha que ele pode estar atrás do Remus ainda? – Teddy perguntou, sério.

Harry o encarou e ficou em silêncio alguns minutos.

— Pode ser. – concordou lentamente.

— E Dionísius? – Arkyn perguntou – Será que os dois grupos estão juntos?

— Não acredito. O problema do Dionísius é o Malfoy. – Andreas rebateu, com um suspiro.

— Falando em Malfoy.... ele mandou uma coruja hoje cedo. Por causa do Dionísius, quer nos contratar para transportar ouro do escritório dele para Gringotes. Disse que paga cinquenta mil para cada um. – Tek disse, sem olhar para ninguém.

— Uau! Cinquenta mil? – Arkyn assoviou.

— O risco de enfrentar Dionísius vale mais que isso. – Andreas rebateu, seco – Ainda mais porque ele tem homens que parecem ser treinados. Não são simples ladrões.

 - O que acha, pai? – Teddy perguntou, notando o silêncio do mago.

— Eu não trabalho para o Malfoy por dinheiro nenhum do mundo. – afirmou, gelado – Mas fiquem à vontade e se precisarem de suporte, estarei aqui.

— Bom, Tek. Já tem a nossa resposta para o cara. – Andreas disse, com um meio sorriso - Um por todos e todos por um.

— Tem dois deles na nossa parede. – Arkyn comentou, encarando Harry – E nunca falamos a respeito. Não nos perguntou se...

Harry se ergueu e tirou as luvas. Concentrou sua magia e atraiu as duas luzes, que absorveu no antebraço direito. O mago fechou os olhos e fez uma expressão de dor, mas por alguns segundos apenas.

— Incômodo suprimido. – ele disse, os olhos verdes cintilando, perigosos.

— Pai... – Teddy se levantou num pulo.

— Deviam ter me dito que estava incomodando. – Harry rebateu, a magia ainda oscilando em volta de si, o que fez seu cabelo flutuar.

— Ei! Eu não disse nada, nem ia dizer. – Tek protestou, olhando feio para Arkyn.

— Eu também não. – Andreas completou, sério.

— Eu não... bem... eu não entendi por que eles vieram... quero dizer... – Arkyn balbuciou, sem jeito.

— Eles vieram porque ainda amo Draco Malfoy, e mesmo não sendo biologicamente seu filho, Scorpius é importante para ele. – o olhar de Harry fez Arkyn baixar a cabeça, envergonhado – Meu poder não significa nada se eu não puder proteger aqueles a quem amo e infelizmente, isso não significa que eles tem que merecer.

Sem esperar réplica, Harry aparatou.

— O que ele fez? – Tek perguntou, espantado.

— Mais feitiços das trevas... – Arkyn fechou a cara – Mas que droga!

— Não é um feitiço das trevas. – Andreas rebateu, levantando-se – Já vi minha tia utilizar, mas não rápido nem com tanto poder envolvido. Ele apenas transferiu as cópias para si mesmo, como uma tatuagem. Minha tia levou dois dias e precisou de cinco bruxos para ajudar a fazer o feitiço e sofreu de dores por mais de uma semana, até absorver. Ele fez isso em o quê? Dez segundos?

— Porque sempre diz essas coisas, Arkyn? – Tek perguntou, zangado – Sempre está julgando e dizendo coisas desagradáveis...

— Por que ele está apaixonado por Harry, e sabe que não tem chance nenhuma com ele. – Andreas segurou a cadeira de Tek e encarou o ex-auror, que pulara da cadeira, furioso – Não adianta gritar comigo ou ameaçar me azarar. O que está fazendo é afastar cada vez mais Harry de você e uma hora ou talvez daqui a cinco segundos, vai perceber que em vez de se mostrar como uma opção confiável e companheira para ele, só conseguiu fazê-lo te enxergar como um homem preconceituoso e intolerante.

Teddy encarou Arkyn antes de aparatar e o casal fez o mesmo minutos depois. Deixado sozinho, Arkyn jogou alguns copos na parede e gritou de raiva e frustração.

*******

Teddy entrou em casa e viu Harry no meio da sala, coisas flutuando a seu redor.

— Pai...

— Minha magia ainda está descontrolada... – o feiticeiro respirou fundo algumas vezes – Vou voar um pouco.

Convocou a vassoura e passou pelo afilhado, que o segurou pelo braço.

— Eu também estava com ciúmes e não entendi bem porque os trouxe depois de tudo. ... Malfoy... Draco não te merece e te fez sofrer muito, mas entendo quando diz que a segurança dele é importante para você. Me perdoe, pai.

Harry o encarou e viu o arrependimento sincero nos olhos escuros.

— Tudo bem, filho. Te juro que seu pudesse escolher, não teria entregue meu coração a ele.

Teddy o soltou e então, aproveitou a brecha.

— Não pode existir mais ninguém? – diante do olhar confuso, corou – Quero dizer, deve existir outros homens que gostam de você... não... bem... não tentou olhar para os lados?

— Fala de Arkyn?

O jovem corou absurdamente e arregalou os olhos, dando dois passos para trás. Harry sorriu, ainda com o cabelo flutuando.

— Eu já percebi, mas não posso fazer nada. Acho que ele sequer percebeu a si mesmo e não vou, não quero e ninguém pode me obrigar, a entrar numa situação assim. – o mago respondeu, calmo – Isso e o fato de julgar minha magia sempre.

— Ele falou de novo sobre magia das trevas, mas Andreas disse que não era. Ele conhece o feitiço e Arkyn ficou muito sem graça... na verdade, acho que agora está furioso.

— Ele devia respirar fundo e tirar alguns dias, mas não serei eu quem vai sugerir isso.  – Harry segurou a vassoura e balançou a cabeça – Minha vida já está confusa o bastante para eu ter que lidar com a confusão dele.

Harry deu um sorriso leve e saiu. Teddy o seguiu e o observou subir na vassoura e se afastar. Assim que entrou, notou os objetos ainda flutuando e franziu a testa. Levou ainda alguns minutos para que estes caíssem.

— A magia residual dele está ficando mais forte... – o jovem comentou, recolhendo os vidros e os castiçais.

*****

Draco deixou Scorpius no quarto e atravessou o corredor para a ala da esposa. Bateu de leve e entrou, observando-a empalidecer.

— Deixe-nos. – ordenou às duas elfas que a serviam.

Esperou enquanto elas saíram e então, aproximou-se de Astoria.

— Draco, meu amor... – ela começou, os lábios tremendo.

— Deixei Scorpius no quarto, ele está fazendo as malas e virá comigo. – o bruxo começou, recostando-se à parede.

— Para onde nós vamos? – ela perguntou, se levantando.

— Eu e Scorpius vamos para o meu apartamento perto do Beco Diagonal. Depois do divórcio, você pode ir para onde quiser. – a voz dele soou baixa e calma.

Astoria arregalou os olhos e empalideceu mais.

— Divórcio! Não vamos nos divorciar!

Draco a encarou com calma, os olhos azuis gelados e velados.

— Sim, nós vamos. – afirmou, a voz um tom mais baixa.

— Seu pai nunca aceitará! – ela afirmou, um pouco histérica.

— Meu pai, assim como todos nessa mansão, vai ter que aceitar que mudanças acontecerão. Isso é inevitável. – o bruxo encarou a esposa e balançou levemente a cabeça – Já instrui meu advogado, é melhor procurar o seu.

— Eu não aceito o divórcio! – Astoria ergueu a cabeça, apesar dos olhos vermelhos – Nunca houve um divórcio na minha família e eu não vou ser a primeira.

— Bem, escolha sua. Eu posso provar sua traição com um teste simples de magia no ministério e com o resultado, não preciso de sua aprovação. – ele respondeu, ainda calmo.

— Vai mesmo passar por essa humilhação pública? Todos vão saber e comentar que Draco Malfoy... – ela começou, o rosto vermelho.

— Uma a mais, uma a menos, não faz mais diferença, Astoria. O nome dos Malfoy já foi jogado na lama há meses com Dionísius e todo o resto. Acha que ir ao ministério e testar a magia de Scorpius é humilhação maior do que saber que meu pai se deitou com você porque temeu que eu não seria capaz de fazer um herdeiro? E a humilhação de saber que você aceitou isso, me traindo de uma forma que ... – ele parou e a encarou, engolindo seco – Não, Astoria. Eu posso enfrentar o teste de magia de Scorpius e ele também. Já falamos sobre essa possibilidade.

— Seu pai... – ela se sentou, subitamente fraca.

— Não culpe meu pai. Ele não te enfeitiçou ou amaldiçoou. Ele apenas usou de conversa com alguém fraco que cederia sob qualquer argumento. - Draco a observou se encolher – E eu achava que éramos amigos, Astoria. Contei a você meus segredos antes do casamento e você os aceitou... não havia motivo para não me contar o que Lucius queria.

— Draco... – ela disse, baixo.

— E além disso, já havíamos dormido juntos. – o bruxo ignorou a interrupção - Você sabia que eu podia fazer sexo mesmo apaixonado por Harry. Tentei o máximo ser um bom marido e um amante no mínimo mediano... mas avisei que não podia devolver nenhum tipo de sentimento que não o da amizade, uma amizade forte e satisfação sexual... e você aceitou. Disse que se realizou nos meus braços e que podia aceitar o que eu estava oferecendo.

Houve um momento de silêncio entre eles e então, lágrimas escorreram no rosto dela.

— Eu queria mais.... – ela disse, baixo.

— Avisei que não podia dar mais. – ele se aproximou e baixou o corpo ao nível dos olhos dela – Eu amo Harry e é assim a mais tempo do que posso me lembrar. Fiz e disse coisas horríveis para ele, mas mesmo assim, sei que ele ama. Depois de tudo, ele ainda me ama. – Astoria fechou os olhos, mas Draco segurou seu braço com um pouco de força, fazendo-a encará-lo – Eu o abandonei para ficar a seu lado quando você mesma nos expôs. Eu o deixei sozinho e ignorei tudo a respeito dele por sua causa e por nosso filho. Já fiz o que devia, Astoria.

Ele se levantou e a encarou de cima.

— Você diz na minha cara... eu, sua esposa... – ela começou, mas ele fez um gesto impaciente.

— Não comece com isso. – a voz dele se tornou dura – Você, minha esposa... que eu acreditava ser minha única amiga, foi capaz de dormir com meu pai e me entregar o filho dele dizendo ser meu. Você, minha esposa... matou meu filho... – ele se interrompeu e engoliu seco – Nunca vou entender como teve coragem de olhar nos meus olhos por todos esses anos e ainda tenta me cobrar qualquer coisa.

— Draco, eu te amo... – ela tentou segurar as mãos dele, mas o bruxo se afastou.

— Não serei injusto com você, Astoria, mas quero minha liberdade de volta. E Scorpius virá comigo.

Ele se virou para sair, mas antes que atravessasse a porta, ela o parou.

— Draco, posso simplesmente entregar a paternidade dele ao pai verdadeiro...

Quando ele se virou, Astoria se encolheu diante do olhar glacial.

— É claro que pode, mas deve estar se esquecendo de que Scorpius é maior de idade, livre para fazer e escolher o que quiser. Se acha que pode ter alguma chance, por favor tente. Eu não o impedirei se ele a escolher.

— Porque ele precisa escolher? – ela finalmente perdeu o controle e se levantou, o rosto congestionado – Somos uma família! Eu sou a mãe dele!

Draco respirou fundo e encarou.

— Sei perfeitamente que você é a mãe dele, mas não seremos mais uma família, Astoria. Eu vou me divorciar e falo de escolha porque não quero nunca mais olhar para o seu rosto, e não farei isso nem por ele.

Ele se virou para sair de novo, mas Astoria resolveu usar a verdade como tentativa, pelo menos pela última vez.

— Eu sabia das tratativas para nosso casamento, e ouvi muito falar de você e sua família. Quando o conheci naquele jantar, me apaixonei... – a voz dela falhou, mas estava decidida – Me senti sortuda por ser a escolhida para você e quando conversamos... e você foi totalmente sincero... eu achei, não sei de onde tirei a convicção, que o faria se apaixonar por mim também.

Draco se virou, mas deixou a porta aberta para sair. Os olhos azuis estavam fixos na esposa de cabeça baixa.

— Nossa primeira vez foi maravilhosa... você foi maravilhoso e eu não entendi... Achei que tinha conseguido fazer você se apaixonar por mim. Quero dizer, ninguém consegue ser tão carinhoso e tão... Pensei que tinha te conquistado. – Astoria suspirou e entrelaçou os dedos – Mas depois de algum tempo, percebi que você nunca me procurava, mas quando eu o fazia, não se negava a mim. E era sempre atencioso e cuidadoso... Eu podia viver bem só com isso. Um dia seu pai veio até mim e me contou sobre sua outra vida. Eu fiquei chocada, mas não surpresa. Você já tinha me contado.

Astoria se aproximou da janela, mas se manteve de costas para o marido.

— Ele começou a me visitar... ele falou de sua preocupação com nossos herdeiros, mas confesso que nunca disse a ele que não precisava se preocupar. Eu nunca disse que tínhamos uma vida sexual normal, ainda que só quando eu o requisitava. Lucius falou e falou e falou – ela suspirou de novo – e no fim, não sei se foi a insistência ou o fato de que havia um homem bonito e poderoso procurando por mim que me fez ceder.

Draco sentiu de novo aquela solidão e o desalento de antes, e apertou o punho até que os nós dos dedos embranquecessem. Astoria continuou de costas.

— Quando engravidei, ele comemorou muito. Quando estava acontecendo, eu não senti culpa, afinal, você não me amava. E Lucius conseguiu fingir interesse em mim muito bem. Mas depois, com o avanço da gravidez e quando Scorpius nasceu, eu vi você e Narcisa com o bebê e pela primeira vez, senti vergonha.

Houve uma pausa e então, ela finalmente ergueu a cabeça, mas ainda não se virou.

— Vi Lucius disputando com você a autoridade sobre Scorpius e percebi a extensão do meu erro. Você teve que lutar todo o dia pelo direito de ser pai e a culpa era minha. Lucius se afastou depois que engravidei e para minha vergonha, senti falta e saudade. Depois, engravidei de você e uma tarde Lucius veio até mim. - finalmente a bruxa se virou e encarou o marido – Eu não queria ter aceitado a poção nem a tomado, mas o fiz. Lucius começou a me pressionar para que eu não tivesse a criança. Ele disse várias vezes que você não merecia ter um filho comigo porque não me amava e eu acabei concordando.

Astoria deu alguns passos e parou no meio do quarto. O olhar de ambos estava triste e pesado.

— Depois que fiz, eu soube que estava condenada. Lucius nunca mais me procurou nem tentou se aproximar e em todo o tempo, tentava ser mais pai de Scorpius do que você. Cedo eu percebi que ele usou minha frustração para que te negar o direito de ter um filho e que tinha uma arma importante contra você. Passei a temer o dia em que ele a usasse.

Draco se aproximou de Astoria e o olhar da bruxa se acendeu.

— Eu te amo tanto... – ela murmurou, olhando-o – Eu sinto tanto...

— Você matou um bebê inocente para me punir por algo que você sabia desde o início e optou por aceitar. Você se deitou com meu pai porque aceitou os argumentos dele e queria me diminuir. – o olhar dele voltou a ficar glacial – Você não se importou no que aconteceria comigo e com Scorpius quando tudo isso viesse à tona e nem com a minha mãe. Narcisa sempre te apoiou e te protegeu, e mesmo assim, não teve escrúpulos em dormir com o marido dela debaixo do teto dela.

Astoria recuou, pálida.

— Você me ama? – a voz dele estava baixa e perigosa – Eu não acredito. Você sente muito? Nisso eu acredito, mas sente porque foi descoberta e vai perder tudo.

Draco ainda encarou a mulher intensamente, antes de se virar pela última vez e deixar o quarto. Astoria ficou paralisada, pálida e trêmula. Instantes depois dois elfos entraram no quarto e ela os observou separar e guardar as coisas do marido, sem lhe lançarem um olhar.

— Parem! – ordenou, a voz baixa.

Os elfos não pareceram ouvi-la e Astoria gritou de frustação. – PAREM! JÁ DISSE!

— Perdão, senhora Malfoy... – o mais velho se aproximou, a cabeça baixa – Mas mestre Malfoy ordenou que fizéssemos suas malas.

— Eu ordeno que parem! – ela repetiu, o rosto vermelho.

— Não pode mais dar ordens na minha casa. – a voz clara e gelada de Narcisa soou e Astoria empalideceu ao ver a sogra parada na porta – Não se preocupe, vim por meu filho.

A altiva mulher entrou no quarto e acompanhou o trabalho dos elfos sem olhar a nora por uma segunda vez. Astoria pensou em alguma coisa para dizer, mas a postura rígida e distante de Narcisa a desencorajaram.

Sem outra opção, ela deixou o quarto com o coração pesado.

******

— Não vou permitir que humilhe mais nossa família.

Draco olhou para Narcisa e respirou fundo. Lucius, de pé segurando a bengala com força, encarou o filho com os olhos faiscantes.

— Se é realmente assim, devia ter cuidado para não humilhar nossa família, como está fazendo há meses. – o bruxo rebateu, calmo – Você é pai de Dionísius, mas o deixou na miséria com a mãe e é a causa de todo o infortúnio que tem caído sobre nós. Agora, vem à tona as providências que tomou porque achou que eu não fosse homem o bastante para fazer um filho, além de matar o meu, para garantir que só a sua prole prosperasse na família.

Lucius atravessou o espaço e sacou a varinha da bengala, mas Narcisa foi mais rápida e o desarmou.

— Não se atreva a ameaçar meu filho! – a voz dela soou baixa, mas perigosa.

O homem olhou dela para o filho, parado na frente dele. A raiva dele era quase palpável.

— Isso é um complô? Eu preciso de mais problemas? – Lucius ergueu a voz, altivo – Vocês tem que me obedecer ou tudo estará perdido!

— Já está perdido. – Narcisa rebateu, se aproximando com a varinha erguida – Você desgraçou nossa família! Primeiro com seu caso sórdido com aquela mulher e depois, não satisfeito, com sua própria nora! Dentro da minha casa!

Draco observou a mãe enfrentar Lucius e disfarçadamente, puxou a varinha.

— Eu fiquei a seu lado quando Voldemort nos encheu de promessas que no fim, se provaram vazias – a mulher ignorou o brilho perigoso no olhar do marido, disposta a ir até o fim – Fiquei a seu lado mesmo sabendo de suas outras mulheres, da sua incapacidade de liderança e até mesmo obriguei Severus a fazer o voto perpétuo para salvar meu filho, porque sabia que de você não podia esperar nada. - a voz dela baixou de tom, mas a mão continuou firme em volta da varinha – E Harry... foi para ele que perguntei se meu filho estava vivo e bem... e ele, mesmo sentindo dores, me respondeu... No fim, Lucius, foi sempre Draco e eu. E quando realmente foi necessário, fui eu, Draco e Harry Potter.

— Narcisa... – ele tentou, sem se mover.

— Não, Lucius, não. Meu filho está dizendo que vai se divorciar da sua amante, e eu o apoio. Scorpius o escolheu como pai, e eu apoio isso também. Assim que meu filho e meu neto deixarem essa casa, sua amante também terá que ir e nós, querido marido, nos resolveremos de uma vez por todas.

Ela baixou a varinha e o encarou com intensidade. Draco a observou sair e ficou atento aos movimentos do pai, ele mesmo deixando a sala sem dar as costas ao bruxo congelado.

****

— Filho...

Scorpius franziu a testa, mas não parou de arrumar a mala. Naevia, parada a seu lado, olhou a mulher com curiosidade.

— Quem é você? Saia! – Astoria ordenou, altiva.

A pequena elfa olhou para Scorpius e não se mexeu.

— O que está esperando? Eu disse para sair! – descontrolada com a afronta, Astoria deu passos rápidos em direção à pequena quando foi parada pelo filho.

— Naevia não a obedecerá, mãe. – explicou, seco.

A bruxa encarou a elfa com desprezo no olhar.

— Impossível! Saia, já ordenei! – tentou novamente, erguendo a voz.

Scorpius deu dois passos e entrou na frente das duas, balançando a cabeça.

— Gritar não vai resolver. Naevia não é desta casa... - Astoria o encarou, confusa e ele encolheu os ombros – Ela é do Harry, mãe. E está aqui para cuidar de mim e do papai.

Apesar do olhar terrível que caiu sobre ela, a pequena continuou calma e parada.

— Como assim dele? Ele se aproximou do seu pai? – a voz da bruxa falhou – Você aceitou ou aprovou isso?

— Comecei reclamando quando ele quis meu sangue, mas depois, quando o papai desabou nos braços dele e só a presença e magia do Harry conseguiram acalmá-lo, vi que não podia fazer nada. – o jovem deu de ombros e voltou a atenção para a mala, sem esquecer de sentar a pequena na cama bem ao lado dele.

— O quê? – a voz de Astoria quase não saiu.

Scorpius ergueu o corpo e a encarou.

— Depois que saímos daqui viajamos dias... e ele não comeu, não bebeu nem dormiu. Meu pai estava no limite, a magia oscilando... e quando Harry apareceu, ele desabou. Pela primeira vez na minha vida vi meu pai chorando... – agora foi a voz do jovem que falhou – E eu nunca imaginei que meu pai pudesse ser tão vulnerável... acessível... – encarando a mulher pálida à sua frente, sorriu de leve – Harry o abraçou apertado e senti quando elevou sua magia... cuidou dele com poções e nos deixou Naevia... – a bruxa abriu a boca, mas Scorpius não a deixou falar – Sabe o que notei de pronto? Que Harry não disse nada para consolá-lo... nenhuma palavra. Só o abraçou e esperou a tempestade passar.

Astoria piscou e baixou a cabeça. Olhando em volta, ela se sentou em uma poltrona, observando o filho voltar a arrumar suas coisas.

— Seu pai quer o divórcio. – ela disse, sem inflexão na voz.

— Ele me contou. – o jovem respondeu, sem se virar.

— Scorpius, ele não pode fazer isso! – a bruxa se inclinou para frente e encarou o filho de forma esperançosa quando ele se virou.

— Porque não?

A bruxa piscou e baixou o olhar.

— Sei que é difícil de acreditar e eu não... bem... Não vou tentar explicar para você as relações complexas entre adultos e...

— Adultos? – ele a interrompeu, fazendo-a erguer a cabeça e cravar nele os olhos arregalados – Vai dizer que não pode me explicar porque aceitou Lucius na sua cama e mentiu para todo mundo porque não vou entender porque fez isso e que as razões são “adultas”? – Scorpius, riu, incrédulo – Mãe, acho que precisa colocar os pés no chão e encarar a realidade.

Envergonhada, Astoria desviou os olhos.

— Não quero que você me odeie, filho – murmurou, exausta – Muitas coisas aconteceram desde que vim para essa casa...

— Imagino. – ele rebateu, fechando as últimas duas malas com magia – Pode levar, Naevia.

Mãe e filho observaram a pequena diminuir a mala e aparatar.

— Nossa casa está aberta agora para qualquer um que quiser... – Astoria comentou, absorta – Espero que nossos inimigos não descubram isso.

Scorpius se sentou e encarou a mãe – Não precisamos nos preocupar com isso. Nossos inimigos estão aqui dentro.

— Filho...

— Eu pensei muito nos últimos dias. – ele não fez caso da interrupção dela – E não vou reconhecer Lucius como pai nem sob pressão. Meu pai disse que vai se divorciar e se mudar para o apartamento onde ele e Harry se encontravam, e vou com ele. – a voz do jovem se tornou fria – Não quero te ofender nem nada, mãe... mas a situação é crítica e acho que um pouco de espaço vai fazer bem para todo mundo.

Astoria ficou em silêncio alguns minutos e então, entrelaçou os dedos e suspirou.

— Recebi uma coruja hoje cedo. Meus pais avisaram que não permitirão que eu me divorcie e nem me aceitarão em casa de novo. Sequer para uma visita ou algo assim. – ela ergueu os olhos e encarou o filho – Como vê, estou sem suporte, filho.

— Meu pai não vai deixar que passe necessidades e pode ir para algum chalé da família, caso seja realmente necessário.

Ela piscou ao notar que ele não pareceu se importar com sua situação.

— Caso seja necessário? Narcisa nunca me aceitará depois do que houve e assim que saírem, tenho certeza que ela me colocará para fora. Eu não quero nem mereço passar por isso, filho! – contrariando ao que se decidira, ela começou a se descontrolar – Não vou ser crucificada como a única criminosa! Errei em não gritar aos quatro ventos o que Lucius queria, mas eu não tive escolha!

Scorpius elevou uma sobrancelha.

— Ele a forçou, mãe? Usou magia ou te ameaçou de algum jeito?

Por um segundo, Astoria viu uma saída de sua situação, mas Scorpius acabou com a esperança na declaração seguinte.

— É claro que se foi essa a situação, suas memórias podem resolver tudo e talvez até trazer punição a Lucius.

— Minha palavra não é o bastante? – ela perguntou, o brilho sumindo do olhar – Porque sou encarada como uma mentirosa?

— Mentiu ao dizer ao meu pai que sou filho dele, e mentiu para mim e para minha avó esse tempo todo. Não está em posição de afirmar sua palavra, mãe. – ele respondeu, inclinando a cabeça – E então, posso chamar o papai?

Astoria soube que havia perdido tudo e Scorpius percebeu também. Ele se levantou e respirou fundo, pegando a mochila.

— Bem, mãe... me escreve para dizer onde vai ficar. – ele colocou a mochila no ombro.

— Aquele... – ela se levantou, mas não sustentou o olhar do filho – Potter irá ficar com vocês?

— Não. Quero dizer, pelo menos nenhum dos dois disse nada do tipo, mas o apartamento tem dois quartos, então não tem problema para mim. – diante do olhar horrorizado da mãe, ele encolheu os ombros – Meu pai nunca mentiu sobre seus sentimentos, mãe. Nunca te prometeu dar o que não podia e foi sincero o quanto pôde... sei que te feriu com a traição, mas você mesma escolheu fazer disso um circo mesmo não tendo nenhum direito de reclamar, já que sua traição foi maior.

— Você é meu filho, não devia me julgar tão duramente. – ela murmurou, ferida.

— Estou magoado, mãe. Meu pai pode não ter sido o pai mais carinhoso do mundo, mas sempre esteve aqui... e agora... olho para ele e sinto vergonha. Sou filho do pai dele! Meio irmão do meu pai! Entende o que fez comigo? – os olhos claros estavam brilhantes de lágrimas não derramadas – E para piorar, você e Lucius mataram o filho dele, o filho verdadeiro e me deixaram no lugar, um usurpador! – Astoria arregalou os olhos e estendeu a mão, mas Scorpius recuou – Você me transformou numa fraude, mãe!

— Filho... – lágrimas escorreram no rosto dela.

— Mesmo depois de tudo ele voltou para me buscar. Me levou com ele e me deixou ver que é feito de carne e osso, que chora e se desespera como todos nós. Ele pode ser muita coisa e a maioria não muito recomendável, mas ele voltou por mim, mãe. – Socrpius respirou fundo e limpou o rosto – Ele não levou em consideração sangue e magia... – deu de ombros – E eu fico muito feliz e aliviado por isso.

Astoria baixou o braço e limpou o rosto, jogando o cabelo para trás.

— Então não há nada a se fazer. Eu não tenho lugar na sua nova vida... – ela se afastou e ajeitou o vestido – Preciso tomar algumas providências...

Scorpius a observou se encaminhar para a porta e então, Draco surgiu. Houve um momento de hesitação, mas ele galantemente deu passagem a ela, que inclinou a cabeça em agradecimento. Os olhos azuis varreram o jovem atentamente.

— Não vou perguntar se está tudo bem. – o bruxo mais velho disse, entrando no quarto.

— Não está. – Scorpius oscilou e teve que se sentar.

— Naevia?

— Levou as minhas coisas para o apartamento. – o jovem explicou, respirando pausadamente – Meus avôs não a deixaram voltar e não aceitam o divórcio.

— Eles tem pouco a dizer sobre isso, filho. – Draco olhou em volta e respirou fundo – Eu já despachei minhas coisas também.

— Lucius disse alguma coisa? – Scorpius se levantou e se aproximou do pai – Quero dizer... Acha que ele pode fazer alguma coisa com a minha mãe?

Draco encarou o filho.

— Bem, ela é de uma família respeitável e sócia em vários negócios em nossa família. Não acho que ele vai arriscar perder mais dinheiro. Sei que sua avó não a deixará ficar aqui, e não posso censurá-la por isso, mas há outros lugares, propriedades da família, para onde Astoria pode ir. E terá elfos e dinheiro para se manter.

— Não falo disso! – o jovem passou a mão pelo cabelo, nervoso – Sei que não vai deixá-la na miséria ou algo do tipo... falo de perigo. Acha que meu avô pode fazer algo de ruim com ela?

O mais velho ficou pensativo por alguns minutos.

— Vou avisá-la para sair antes de nós. – por fim ele afirmou, neutro – Não acho realmente que ele se arrisque atacando-a, mas não vai custar ser cauteloso.

Os dois deixaram o quarto e não trocaram palavras no corredor. Não havia mais nada pessoal de Draco ou Scorpius na mansão e a saída era questão de tempo. Os dois entraram na ala pessoal de Astoria e encontraram a bruxa sentada na poltrona perto da janela.

— Mãe...

Assim que ela virou a cabeça, a porta lateral se abriu e Lucius entrou. Por instinto, Draco e Scorpius procuraram suas varinhas e Astoria se levantou, mas não houve tempo.

Obliviate!

A bruxa caiu no chão e Lucius baixou sua varinha. Scorpius correu para o lado da mãe, largando sua varinha ao lado.

— O que você fez? – Draco perguntou, chocado.

— Apenas protegi nossa família. – o bruxo apontou a varinha para o filho.

Lucius lançou o feitiço em Draco, mas Naevia apareceu na frente do bruxo e desviou o feitiço. A pequena elfa lançou um pequeno raio de energia e desarmou Lucius, que a encarou furioso. Scorpius se levantou rapidamente e pegou a varinha do avô, voltando para perto da mãe.

Houve alguns momentos de silêncio pesado, quebrado pela voz fria do patriarca.

— Astoria não se lembrará desses fatos desnecessários. E se prosseguir com seus planos, ela será abandonada e não saberá por que. – o olhar gelado caiu no filho e depois no neto, ignorando a pequena no meio do quarto. – Não precisa ser um pesadelo de agora em diante, apenas apagaremos esse incidente infeliz e nossa família poderá...

— E como fará com o resto do mundo? – Draco perguntou, conjurando um escudo para si e para Scorpius – Como fará com os jornais e todo o resto? – aproximou-se e parou ao lado de Naevia, encarando Lucius de uma forma terrível – Planeja lançar um feitiço mundial?

— Scorpius, se abandonar sua mãe ela não entenderá e sofrerá. – Lucius tentou, olhando o neto pegar a mãe e a deitar sobre a cama com cuidado – Ela não vai se lembrar do que aconteceu e...

— O papai está certo. O senhor não calculou bem seu feitiço. – o jovem respondeu, virando-se e encarando o avô ainda segurando as duas varinhas – Ainda que conseguisse nos enfeitiçar e a todos nessa mansão, existe um mundo lá fora e lamento informar, o senhor não é Harry Potter.

Lucius empalideceu com a afronta.

— Como ousa... – murmurou, entredentes.

— Não estou ousando nada, avô – o jovem enfatizou a última palavra – Estou apenas anunciando os fatos.

— Tudo se resolverá se o feitiço for aplicado! – o homem deu um passo na direção do neto – Se ficarmos unidos contra essa ameaça...

— Chega!

Lucius olhou espantado para Draco, que o olhou de volta com os olhos faiscantes.

— Ainda que Astoria não se lembre do que fez, nós o faremos! E eu não aceito nenhum tipo de acordo nesse assunto! – o bruxo atravessou o quarto e se aproximou do pai, que comprimiu os lábios de raiva. - Não, Lucius. Não aceito sua sugestão de saída porque não há nenhuma.

O patriarca olhou de um para outro.

— Bem, agora vocês terão que lidar com Astoria, que ao acordar não se lembrará de nada do que aconteceu. – o bruxo guardou a varinha e se virou para a porta – Só existe uma maneira de resolver essa situação.

O homem saiu e Draco respirou fundo, furioso.

— E agora, pai? O que nós faremos?


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Notas finais do capítulo

Não vou pedir desculpas pelo tamanho. Não encontrei mesmo um ponto de ruptura antes.



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