Hana escrita por Nevaeh


Capítulo 1
Flores não resolveriam o seu problema.


Notas iniciais do capítulo

Oi!
Confesso que estou com medo de postar essa fic.
Não revisei nem nada, porque se começar a corrigir não posto...
Não é uma fic muito OMG, só foi uma ideia que eu não consegui abandonar... Ela está a tanto tempo no meu coração que ficou difícil deixar pra lá kk
E, sim, o Dai-chan pode estar um pouco OOC, mas não consigo evitar.
Espero que gostem. :)



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Dê flores. Confie em mim, ela vai ficar feliz.

Daiki embolou de qualquer jeito o avental dentro do armário, se despediu o mais educadamente que conseguia do chefe e saiu da pequena cafeteria onde trabalhava pela porta dos fundos. Revirou os olhos para a resposta de Taiga, se perguntando se ele realmente sabia o que estava falando... Kagami podia até ter boas intenções, mas Aomine sabia que flores não resolveriam o seu problema.

Ela me odeia. Começou sua lenta caminhada de volta para casa, procurando em sua mente o motivo de ter deixado Satsuki tão brava. Era apenas uma brincadeira, não queria ser agressivo, mas... Quando saiu de casa, Satsuki ainda estava de mal. São os hormônios, a sua mãe dizia, você não devia se importar com isso. Mas era complicado não se importar quando qualquer coisa acabava fazendo-a chorar. A culpa é minha.

Passou lentamente pela pequena quadra do bairro, que vinha evitando há algum tempo, e estava dentro antes mesmo que pudesse perceber. Olhou com saudade para a cesta, desejando ter apenas uma bola em mãos; correria com prazer pela quadra, jogaria sozinho, isso não importava. Mas simplesmente ficou parado ali, observando. As coisas estava tão complicadas que não jogava basquete há muito tempo... A última partida tinha sido ainda no Interhigh, na primavera. Os amigos ainda se reuniam para jogar às vezes, mas ele nunca dava sorte; infelizmente, não tinha mais tempo para essas coisas. Já era outono, o último ano do ensino médio, ele estava casado e logo seria pai.

Mas, parado no meio da quadra, Daiki se permitiu desfrutar daquele momento sozinho e simplesmente olhar para o céu. A mistura de rosa e azul lhe arrancou um sorriso cansado, que logo morreu com um suspiro.  O tédio que antes sentia agora era pura nostalgia; o passado surgia em flashes na sua mente, tornando o peso de suas responsabilidades ainda mais intenso. Agora, tudo aquilo que pensava sobre o basquete parecia incrivelmente estúpido... Agora, derrotas e vitórias pareciam insignificantes demais comparadas à bagunça da sua vida.

Porque ele estava uma bagunça. Estava cansado de tapinhas nos ombros e daquela ladainha de sempre, de que tudo vai ficar bem, Daiki, você vai ver. Cansado de um trabalho medíocre de meio período que mal pagava suas contas, de ouvir gente que não tinha nada a ver com a sua vida apontando dedos e dizendo coisas absurdas sobre os dois. Se divertindo com o sofrimento dos outros...

Enchiam as bocas para dizer que ele e Satsuki eram pirralhos inconsequentes, que desperdiçaram futuros brilhantes por causa de um bebê. Para dizer que poderiam ter evitado, poderiam ter tirado enquanto a lei ainda permitia... Para dizer que ela não tinha outra escolha. Que ela não poderia mais ir à própria formatura, estudar na Toudai, andar com as outras meninas. Por quê? O motivo não fazia sentido para Daiki, mas parecia fazer para todas as outras pessoas, que a olhavam torto sempre que a viam grávida com o uniforme do colégio.

A escolha foi nossa! Agora, seu pedido de casamento, feito apenas uma semana antes de descobrirem sobre o bebê, parecia apenas uma desculpa. Uma desculpa para abafar escândalos, para proteger a reputação de um jogador prodígio, que não deu certo. Mas não era obrigado a ouvir daquele estrangeiro que era uma pena, que ele estava desperdiçando seu dom maravilhoso por causa do filho daquela putinha. Rangeu os dentes, comprimindo os pulsos com tanta força que as juntas embranqueceram, e chutou a cerca de metal com força. O filho da puta é você! Que se fodesse o time estrangeiro... Não queria nada de alguém que falasse mal da sua mulher, mas Satsuki ainda chorava de vez em quando, dizendo que era culpa dela por ele ter perdido aquela chance. Não é sua culpa, Satsuki, acredite em mim.

Por um instante, sentiu falta de alguém. Sentiu saudades do tigre idiota, e de desafiá-lo para mais e mais uma revanche... Talvez uma partida por diversão aliviasse aquela queimação nos ombros que nunca passava. Talvez aquele barulho dos tênis na quadra conseguisse silenciar tudo e todos. Talvez um rival à altura conseguisse acalmar sua raiva, aplacar aquela vontade louca de socar algo até as mãos sangrarem. Talvez se sentir invencível de novo tirasse aquele sentimento estranho de que não fazia nada certo e, talvez... Taiga o entendesse sem que precisasse dizer nada.

Mas estava sozinho, com a escuridão do céu tentando engoli-lo. E, por um momento, Daiki desejou que engolisse. Estava cansado de tudo aquilo, e com medo de voltar pra casa. Não queria machucá-la ainda mais. Não queria encontrá-la de novo trancada no banheiro, chorando... Não queria ter a certeza de que que a sua única promessa não havia sido cumprida. Ela sempre dizia que o odiava... Estava com medo de que a repetição frequente tornasse aquelas palavras reais.

Desaparecer talvez fosse bom, pensou sozinho, embora sentisse aquela pontada de recriminação. Não podia pensar nisso. Esfregou no rosto as mangas do casaco, tentando espantar a vontade de chorar, e saiu dali sem olhar para trás. Amava Satsuki, amava com todas as forças... Ela está esperando por mim, tenho que ir pra casa.

Mesmo em meio à própria confusão, ainda sentia aquele calor gostoso ao pensar nela. Ainda queria fazê-la feliz, jamais diria isto a ela se não fosse verdade... Mas tinha agora sérias dúvidas de que conseguiria, porque, mesmo com as melhores intenções, acabava machucando-a. Suas mãos agarraram por dentro o tecido do bolso do casaco; era sua culpa.

Um pouco mais de cuidado e nada daquilo estaria acontecendo... Satsuki não estaria grávida, não estaria em casa chorando e com dores. Um pouco mais de cuidado e ela não pediria tantas desculpas ao bebê... E não choraria por uma bobagem que ele disse sem pensar.

Com certeza, seria um péssimo pai. Porque, às vezes, pensava se não seria melhor ela ter abortado. Às vezes, culpava o bebê pelas brigas, pelas lágrimas dela, por todas as vezes em que dormiu sem um boa noite. Tinha medo de que ele também o odiasse. De fazê-lo chorar por dizer qualquer bobagem... Mal conseguia entender o que tinha feito de errado quando Satsuki chorava, jamais conseguiria entender o que um bebê quer. Ainda era um estudante, só tinha dezoito anos; não conseguia nem elogiar direito a própria mulher.

Mesmo quando Daiki fazia todo um esforço para conseguir dizer isso sem que parecesse ofensivo, Satsuki não acreditava. Eu não mentiria pra ela, rosnou para si mesmo, sem entender por que ela não conseguia enxergar... Mas acabou sorrindo com a lembrança. Era incrível, ela só ficava mais e mais linda. Estava linda quando descobriu que não conseguia mais ver os próprios pés e veio mostrar sorrindo, só de sutiã e calcinha, como se fosse a coisa mais interessante do mundo. E era, mas ele simplesmente não sabia como responder àquilo; acabou ficando com a mesma cara de idiota, e ela ficou brava.

Estava maravilhosa quando tentava prender o cabelo, com aquele barrigão enorme aparecendo por debaixo da camisa do time. Fazendo caras e bocas na frente do espelho, sendo sexy mesmo sem querer. Até pensou em ir abraçá-la por trás e dizer o quanto ela estava gostosa, brigando com o cabelo que nunca ficava do jeito que ela queria, mas ela veio primeiro. Inflou as bochechas daquele jeito estranho e pediu mil vezes que ele enrolasse o coque, até que finalmente cedeu. Riu ao vê-la reclamando lindamente para o filho que o papai não amarrou o cabelo dela direito. Não sabia amarrar cabelo até aquele dia e a ingrata ainda ficava reclamando; disse isso de brincadeira, e ela acabou chorando. Era um idiota mesmo.

Mas, principalmente, estava linda ao recebê-lo com um abraço, e anunciar que o bebê estava mexendo só porque ele tinha chegado... Linda o suficiente para arrancar um sorriso do rosto cansado, e fazê-lo apressar o andar pra casa.

De repente, a ideia de Taiga para as flores não parecia tão ruim. Talvez ela fique feliz, pensou, tateando os bolsos. Não era um presente, mas talvez fosse um bom meio de pedir desculpas. Ela choraria, com certeza, e o bebê mexeria, e ele poderia pegar na barriga dela, talvez dizer que ela estava bonita de novo... Mas, antes que pudesse desistir de seu raríssimo romantismo, contou as moedas e encarou toda a bancada de flores na frente da estação. O celular tocava baixinho we are the champions enquanto ele passava os olhos pelas rosas e pelas sakuras, mas tudo o que conseguiu comprar foi um punhadinho de flores lilases sem nome. Tomou o pequeno buquê nas mãos e atendeu o celular...

E sentiu o coração parar por um momento.

— Dai-chan... – ela choramingou ao longe, enquanto a mãe dava ordens para que ela respirasse. Riko assumiu a ligação, tentando conter o desespero para tentar avisá-lo de onde estavam. Daiki obrigou-se a correr enquanto ela falava, mas suas pernas pareciam não obedecê-lo. Estava derretendo. Seu estômago se tornava menor a cada vez que ela gemia de dor ao fundo, e a respiração, cada vez mais difícil. Acalme-se, Aomine-kun, Riko dizia, mas era mais fácil falar do que fazer.

— Já estou chegando. – Foi tudo o que conseguiu responder, enquanto dobrava uma esquina. Sua voz parecia perfeitamente calma e confiante, mas suas mãos, suadas, temiam tanto que era difícil segurar o celular. Ficava feliz por Satsuki não precisar vê-lo naquele ridículo estado; tudo o que ela tinha que fazer era simplesmente confiar em suas palavras uma única vez... E a pequena resposta que ela deu, por trás da voz de Riko, o deixou um pouco mais calmo.

Mas não mais confiante.

O pequeno buquê de flores, espremido em uma das mãos, sacudia com o movimento intenso, mas Aomine estava vendo o mundo em câmera lenta. O bebê está vindo. Algo dentro dele dizia que devia ficar feliz, mas parecia impossível naquele instante. A voz fraca de Satsuki ainda ecoava em sua mente, misturada aos meses de gritos, lágrimas e silêncio, e o nó em sua garganta parecia querer sufocá-lo a cada novo passo... Não conseguia escolher se aquela era uma boa ou má surpresa, e temia descobrir que não era a primeira opção. Seria egoísta demais desejar que nada mais mudasse?

Chegou ao hospital cambaleante, tentando a todo custo esquecer, pensar positivo ou qualquer coisa melhor, sem sucesso. Se outras pessoas tivessem ao menos insinuado qualquer coisa daquelas, sua resposta seria um alto e claro foda-se... Porque, independente do que pensassem, ela era a sua família. Ela e aquele pirralho que ela carregava, o seu pirralhinho. É isso, preciso parar de pensar nessas coisas.

— Cadê ela, tio? – perguntou, exasperado, assim que encontrou o pai de Satsuki à porta. Segurou instintivamente o velho pelo colarinho, amassando ainda mais as flores e atraindo olhares por toda a portaria – Ela tá bem? E o meu filho?

Sentia-se estranho, como se todas as coisas que ele ignorara quanto a Satsuki fizessem uma enorme diferença agora, como se todas as inseguranças que deixou passar ao longo dos últimos meses se juntassem para finalmente mostrar os erros que vinha cometendo... Deixando uma inquieta pergunta em sua mente. Talvez ter um filho estivesse mexendo com os seus hormônios também. Talvez estivesse sendo dramático, sendo pessimista por pouca coisa, mas não conseguia parar.

— Ela já está há algum tempo lá dentro, então daqui a pouco eles devem dar alguma notícia... – o velho suspirou, retirando suas mãos do colarinho dele como quem fazia muito esforço. Parecia pálido e suas mãos estavam suadas, exatamente como as suas, mas ele simplesmente colocou a mão em seu ombro e, na tentativa de consolo mais estranha que um dia Daiki já tivera o prazer de presenciar, ele sorriu – Por isso, acalme-se, Dai-kun...

Vai ficar tudo bem.

Jamais conseguiria perguntar o porquê, mas aquelas palavras – vindas da pessoa mais improvável, que provavelmente nem dele gostava – o acertaram com a força de um soco. As flores, de talos já quebradiços e pétalas amassadas, não escaparam de suas mãos por pouco. Daiki sentia os olhos cinzentos do pai de Satsuki nos seus e, quando ele sorriu sem jeito, igualzinho a ela quando nervosa... Seus olhos arderam e a garganta desfez lentamente o nó que o sufocava, e quase conseguiu acreditar nele.

Quase. Estava nervoso demais para sentar e esperar pacificamente que as coisas se ajeitassem. 

Mas esperou.

Andava loucamente pela sala de espera, olhando as horas a cada dez segundos e suando frio a cada milimétrica eternidade que o separava dela. Aos poucos, sua mãe e alguns amigos chegaram, cheios de curiosidade, presentes e um irritante apoio moral, e Aomine não conseguiu ser educado. Sentia os nervos à flor da pele, como uma bomba prestes a explodir. A voz de Kise o irritava, os balões de Akashi eram fofos demais e a cara de Kuroko era tão calma que queria dar um soco só de olhar pra ele. Mas estava irritado consigo mesmo. Tinha muita coisa pendente com ela.

— Aomine-kun...  

A voz de Riko o despertou de um torpor que não sabia que estava. Foi tomado pela mão livre, ainda sem saber o que fazer, e guiado por uma série de corredores até o quarto dela. A mãe de Satsuki passou de relance em seus olhos, ganhou duas batidinhas nos ombros, um gracejo ou dois, e quase esqueceu as flores nas mãos da sogra ao lavar as mãos. Não ouviu nada do que diziam, nenhuma recomendação ou felicitação; gastava todos os neurônios que tinha e que não tinha para pensar em alguma coisa suficientemente boa para dizer a Satsuki.  Porque talvez fosse o momento errado de perceber isso, mas aquelas flores vagabundas não resolveriam o problema.

Pensou em jogar fora, mas era tarde demais. Foi empurrado para dentro do quarto de surpresa e lá estava ela: pálida, com um embrulho branco nos braços e um sorriso daqueles de tirar o fôlego. Satsuki tinha exatamente a mesma expressão da tarde em que se casaram, ansiosa, desconfortável e incrivelmente feliz. Fitava-o com tanta intensidade que chegou a ficar envergonhado; havia curiosidade, expectativa, medo nos olhos dela, mas, acima de tudo, felicidade.

Não sabia o que ela via em seu rosto. Mal sabia o que sentir; parte dele estava ainda cheia de ressalvas, parte insistia em acreditar que algo que a fazia sorrir daquele jeito não podia ser tão ruim... Mas, como se a sua simples presença pudesse assustá-los, acabou parado a uma distância segura.

— Dai-chan, ela não morde... – ela o repreendeu delicadamente, tentando esconder o sorriso pela expressão tensa do marido, e bateu com a mão esquerda no pequeno espaço livre ao seu lado, convidando-o – Não ainda, pelo menos.

— Ela? – Satsuki sorriu em resposta, achando divertida a sua aparente expressão de espanto. Preparava-se para oferecê-la a Daiki, mas ele arregalou os olhos e dissentiu desesperadamente com a cabeça. Não que não quisesse pegá-la, mas...

— Diga oi para o papai, amor...

Satsuki, então, inclinou os braços para que ele pudesse vê-la e, por dentro daquele monte de tecido, a pequena bocejou. O cabelo azulado caía rebelde pelos olhos pequenos e enrugados, mas o nariz arrebitado e os lábios finos crispados denunciavam que era uma menina, uma menina muito emburrada.

Ahn... Antes que Daiki percebesse, as flores já tinham sido largadas no colo de Satsuki e ele, completamente vencido pela curiosidade, cutucava levemente a gorda bochecha rosada com um dedo. A pequena o deixava estranho, de uma maneira que nunca tinha ficado antes.

É a menina mais feia que já vi na vida... Daiki percebeu que tinha falado alto demais quando Satsuki começou a rir e, nossa...

— Você realmente fica mais bonita sorrindo. – Seus dedos percorreram os lábios levemente rachados com delicadeza, delineando todo o sorriso de Satsuki até que este se desmanchasse e desse lugar a uma expressão envergonhada. Foi a vez dele sorrir; acariciou a bochecha dela com um dedo, sentindo a mente dissipar aos poucos os pensamentos que tivera. E, pela primeira vez desde que toda aquela confusão começou, Aomine Daiki permitiu-se dar um suspiro de alívio.  – Achei que nunca mais te veria assim...

— Dai-chan...? – Satsuki ergueu as sobrancelhas, confusa.

De início não sabia do que ele falava, mas a dor e o cansaço estampados nos olhos dele a recordaram rapidamente as brigas inúteis dos últimos dias. Daiki afagava os cabelos da filha adormecida com peculiar delicadeza, mas a ternura perdia-se em desalento assim que os olhos vez ou outra pousavam no pequeno buquê de flores, já espalhado na cama.

— Pensei que poderia usar isso como um pedido de desculpas, mas... – Daiki sorriu por puro nervosismo, exibindo de forma envergonhada as flores já amassadas e de pétalas escurecidas, e devolveu-as ao colo de Satsuki. Murcharam. Ele se encolheu em seu lugar, cruzando os braços, e suspirou pesadamente. E Satsuki novamente sorriu.

— Desculpas pelo quê? – ela questionou, inclinando-se até conseguir enxergar o rosto emburrado de Daiki.

Os olhos rosados fitaram-no com interesse, mas ele desviou o olhar, afundando-se no travesseiro fofo. Encostou a cabeça no ombro dela com delicadeza e murmurou o clássico você sabe, que era, ao mesmo tempo, resposta para tudo e para nada.

Ela sabia, sim, mas ouvir da boca dele era completamente diferente.

... mas, independente do que aconteça, eu vou te amar pro resto da minha vida, Satsuki — ele suspirou, pronunciando as palavras lenta e tristemente. A sensação da promessa descumprida parecia ainda pior ao confessar e, inconscientemente, isto o fez descruzar os braços e tocá-la na coxa de forma quase tímida enquanto falava –  e fazer o possível e o impossível pra te fazer feliz.

Ela conhecia bem aquelas palavras. O voto, feito nove meses antes, ainda estava suficientemente fresco na cabeça de Satsuki, acompanhado por uma lembrança que lhe arrancou um sorriso. Mas ele suspirou, apertando levemente sua coxa, e disse:

— Sinto muito por não cumprir minha promessa.

A mão de Daiki apertou levemente a coxa dela, e Satsuki comprimiu a manta que envolvia a filha assim que ouviu aquelas palavras. Lágrimas encheram dos olhos dos dois, mas nenhum deles chorou; ela torcia silenciosamente para que estivesse entendendo errado, ele se atormentava com as consequências das próprias palavras. A pequena se remexeu nos braços dela, assustada com a súbita mudança de ares, mas Satsuki não tinha forças para consolar ninguém.

— Você não parece feliz comigo, Satsuki... E flores não vão melhorar isso. – Daiki limpou a garganta, pegou uma flor qualquer do buquê e afundou ainda mais o rosto no braço dela. Se a olhasse, perderia novamente a coragem de dizer o que há tempos vinha guardando em sua garganta – Eu amo você, mas...

— Idiota.

Daiki estava pronto para responder, mas as palavras se perderam assim que Satsuki estendeu a mão e lhe deu um violento soco na perna. Gemeu, contrariado; estava abrindo o coração dela e era tratado daquela maneira... Mas Satsuki chorava, de lábios mordidos para conter os soluços. Revoltada, ajeitou a pequena nas mãos e passou-a ao colo dele sem dar qualquer chance de uma recusa. E, assim que ele conseguiu abrigá-la nos braços, deu-lhe outro soco.

— Idiota! Filho da mãe! Ahomine! – Agarrou-lhe o colarinho da camisa e sacudiu-o o mais delicadamente que conseguia; a menina choramingou e Daiki, com olhos arregalados e sobrancelhas erguidas, apenas seguiu fitando a mulher – Quer me matar do coração? Eu nem podia ter emoções fortes! – Ela secou as lágrimas com as costas das mãos e cruzou os braços embaixo dos seios, murmurando outras ofensas, e finalmente a pequena pronunciou-se, iniciando um choro alto. – Olha, você assustou ela também, tá vendo...

Daiki imediatamente sobressaltou-se, querendo devolver a menina ao colo de Satsuki, mas ela não aceitou. Continuou com os braços cruzados e um bico enorme, e tudo o que ele conseguiu fazer foi trazer a filha para mais perto do próprio rosto e repetir que estava tudo bem, mesmo que ele mesmo não acreditasse nisso. Estava tão desesperado e confuso quanto a bebê em seu colo, sem saber exatamente o que significava a reação de Satsuki...

Achei que ia terminar comigo, Dai-chan... Não me dê um susto desses.

— Não vou. Eu te amo, Satsuki... – ele sorriu minimamente, embora seus olhos ainda estivessem na menina, que finalmente começava a se acalmar. O tom calmo e seguro, que segundos antes alentava o choro da filha, desapareceu em meio às palavras seguintes  – Achei que me odiasse, que eu tinha feito algo de errado. Achei que...

E Satsuki o beijou, calando-o da mesma maneira que sempre fazia quando ela começava a conjecturar demais. Um beijo trôpego, temeroso como se fosse o primeiro, cheio de sentimentos que não conseguiam explicar e de saudades que nem sabiam sentir. Achou errado, ela murmurou assim que uma pequena brecha surgiu, e ele simplesmente respondeu com um aceno. A voz estava embargada demais para responder qualquer coisa útil e seus olhos, embaçados demais para olhar firme para ela.

Talvez ter uma filha estivesse deixando Daiki mole mesmo...

— Então... – ele pigarreou, tentando quebrar o clima triste com a primeira ideia que surgiu em sua cabeça, e mostrou um malicioso sorriso de canto que a fez sorrir de volta. Fez um pouco de força para alcançar o buquê e pegou algumas flores, meio sem jeito por estar com a filha no colo, e empostou a voz, estendendo uma flor a ela e dizendo – Uma flor para uma flor. Desculpa?

Satsuki imediatamente começou a rir, sem acreditar no que ele tinha acabado de falar. Uma cantada das mais bregas, uma tentativa barata de parecer sensual... Aquele realmente não era o Aomine Daiki que conhecia, algo havia mudado. Curiosa, observou Daiki segurar a filha desajeitadamente e oferecer a pequena flor lilás à menina, que bocejou lentamente e abriu os olhos, exibindo com um sorriso a mistura violeta.

Uma flor para uma flor. E, como se lessem a mente um do outro, perguntaram:

— Que tal Hana?


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram?
Podem fazer críticas, apontar erros ou simplesmente dizer o que acharam... Vou amar responder os comentários ♥
Ah, no Japão o aborto é permitido até o sexto mês de gestação. ^^
Bem, é isso. Beijo!



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