Alone escrita por NogWhore


Capítulo 1
Sobre janelas e lobos...


Notas iniciais do capítulo

Escrita e betada por mim mesmo, então se virem algum erro a culpa é minha mesmo, podem me processar.
Fic feita de coração. Obrigado a quem estiver lendo e boa leitura ♥.



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Stiles estava acostumado com coisas efêmeras, corriqueiras, dessas que vão e vem de modo tão natural que deixa apenas uma frívola saudade, como um por do sol ou uma chuva de verão. Ele viu a morte vezes o suficiente, de todos os modos possíveis, para saber que nada dura eternamente. Stiles também havia se acostumado com a rejeição. Ainda doía às vezes; era como uma velha ferida semi-cicatrizada em que alguém encosta, e então volta a sangrar. Aconteceu com a mãe e isso ainda o perseguia todas as noites antes de dormir.


     "Tire ele de perto de mim. Ele quer me matar."


     A rejeição de Claudia já no leito de morte doía, todavia não podia culpá-la. Podia culpar a doença somente, e talvez assim se sentisse um pouco menos sozinho. Um pouco menos inutil por não poder fazer nada, apenas recolher as suas pequenas pernas do garoto que era quando tinha dez anos e sair do leito dela com a cabeça abaixada, um sentimento amargo no peito grande demais para alguém tão jovem.
    Com Lydia não foi diferente. Ele estava guardando as coisas em seu armário quando sentiu algo no ar mudar. Acontece quando todas as pessoas a sua volta ficam tensas de repente, todas se viram para o mesmo lugar e parecem olhar a mesma coisa. Primeiro ouviu o barulho do salto alto reverberando pelo chão. Quando fechou o armário a viu. Era a garota mais incrível que já havia visto. Cabelos ruivos, olhos esmeraldas, um sorriso de lado quase convencido e aquela fragância abstrata que exalava dos seus poros em sua pele clara. Aquele bálsamo de arrogância. Entretanto não era a beleza (fantástica, diga-se de passagem) que o atraía. Era o mistério. Lydia Martin não era somente a patricinha da escola, não era uma Barbie líder de torcida que saía com o capitão do time de lacrosse e só sabia falar restritamente sobre unhas e sobre o desconto arrasador de verão na Versace. Ela também era a pessoa mais inteligente que havia conhecido, e ninguém nem ao menos sabia disso.


     "Hey Lydia, você está parecendo... Que vai me ignorar."


    Dessa vez não magoou tanto. Quando você lida com a rejeição, lidar com o fato de ser ignorado todos os dias pela garota que você ama parece algo realmente muito fácil. Ele nunca deixou de tentar, entretanto. Era como se não desse para piorar.
     Mas dava.
     E ele não sabia disso até conhecer Derek Hale.



     "Aquele é Derek Hale. A família dele morreu em um incêndio seis anos atrás."
    Foi o que Stiles disse a Scott, antes que Derek chegasse com a sua cara de poucos amigos e chutasse os dois para longe de sua propriedade privada. Derek poderia se escafeder com a sua maldita mansão caindo aos pedaços, era o que Stiles pensava. Na verdade, a vida ficava infinitamente mais fácil sem ele agindo como se fosse o lobisomem mais foda da história da licantropia ou sem ele brotar no seu quarto aparentemente do nada mesmo sendo procurado pelo xerife. Por que, convenhamos, quem diabos foge do xerife se escondendo no quarto do filho dele? E depois Stiles que era o idiota.
     Mas Stiles não podia reclamar porque a primeira vez que Derek fez isso, ele conseguiu convencer Danny a fazer coisas que o mesmo não teria feito se Stiles não tivesse um Derek Hale sem camisa para usar como chantagem. E a segunda vez, bem...



     O chão do quarto estava uma bagunça de folhas, pedaços de jornais, anotações, e a lixeira ao lado da escrivaninha esburrando de papéis descartados. Toda aquela história de kanima estava fritando os seus neurônios. Mal podiam esperar pela próxima evolução da criatura, quando ela ganhasse asas. Então seria ridiculamente impossível lidar com ela, por isso se não descobrissem logo quem era a maldita lagartixa, estariam todos ferrados. Enquanto Scott e Allison ficavam com a parte nem um pouco divertida de correrem por aí tentando não ser picotados pelas garras paralisantes da coisa, Stiles pesquisava sobre o assunto. Informação nunca era demais.
Stiles estava dormindo sobre um livro de mitologia, praticamente babando sobre a página quando um barulho na janela o despertou. Sentou rápido como se estivesse fazendo algo errado e por pouco não caía da cadeira. Ainda pegou o livro para tacar na cara de quem quer que fosse que havia entrado em seu quarto, como se um livro fosse ajudar em muita coisa se algum daqueles sobrenaturais estivessem tentando te matar, mas não havia nada ali. Olhou para o relógio. Eram 23:00h. Suas sobrancelhas se franziram levemente tentando descobrir como diabos havia dormido tão cedo. Foi então que o barulho na janela novamente voltou, recapturando a sua atenção. Deixou o livro sobre a mesa, bem na pontinha, caso tivesse que precisar usá-lo como arma novamente, e caminhou para ver o que era.
     Quando abriu a janela, não sentiu o vento vindo de fora. Estava quente. Deu uma olhadela na rua, lá embaixo. Nada. Devia ser coisa da sua cabeça, afinal. Estava para fechar a janela novamente quando um homem saltou do telhado para baixo e praticamente brotou na sua frente.
     - AH! - o susto foi o suficiente para fazê-lo cair de costas no chão como uma jaca.
     Derek, ignorando o princípio de ataque cardíaco que poderia ter dado em seu pobre coraçãozinho, pulou janela adentro e o olhou com aquela cara de "sério isso?".
     - Você já ouviu falar em uma coisa chamada porta? - Stiles retrucou, ao que Derek apenas revirou os olhos e ofereceu uma mão.
    Stiles aceitou a ajuda. Depois de ser praticamente arremessado para cima por causa da força de lobisomem que nada tem de delicado em tirar pessoas do chão, ele recolheu a mão e com ela coçou a cabeça, um pouco sem graça.
     - Obrigado... - murmurou quase inaudivelmente. Os segundos se arrastaram sem que nenhum dos dois falasse nada e aquele clima esquisito se instalou pelo quarto, até algo como auto-preservação cutucar o cérebro de Stiles para lembrá-lo que Derek e seu novo pack já tinham lhe dado uma coleção de hematomas naqueles últimos dias. Se afastou um passo. - Ok, são onze horas da noite e você está no meu quarto me olhando com essa cara de Sourwolf. Estou encrencado?
     - Está.
    Derek respondeu curto e grosso, mas de certa forma parecia não estar dando atenção a isso. Não andou do seu loft até ali para jogar Stiles na parede e quebrar alguma de suas costelas, por assim dizer.
     Stiles ergueu uma sobrancelha. Estava entendendo vários nadas, fato. Não conseguia se lembrar de ter feito nada errado. Exceto salvar a vida de Derek na piscina olímpica da escola, mas aquilo não era errado, certo? O maldito lobo nem teve a decência de agradecer. Ele deveria pegar o seu taco, enrolar em um arame com wolfsbane e enfiar no...
     - Eu vim te devolver isso. - Derek cortou o pensamento de Stiles no meio ao enfiar a mão no bolso do jeans e tirar um celular. Não era devolver, até porque aquele celular era novo e parecia ter sido caro. Era muito parecido com o antigo que tinha, aquele mesmo que havia ido parar no fundo da piscina quando Stiles mergulhou com tudo tentando impedir o Hale de se afogar.
     - Ahn... Hm... - ok, aquilo era estranho. Stiles não sabia o que fazer além de ficar abrindo e fechando a boca como um peixinho dourado. - Bem... Não precisava. Só um "obrigado" já estava bom.
     Opa! Um sinal vermelho apitou em sua cabeça quando a cara de Derek se fechou e tudo o que Stiles pôde pensar é que não faltava muito para que o lobo o jogasse na parede e quebrasse uma de suas costelas. Foi algo que havia dito? Pegou o celular da mão dele como se nada tivesse acontecido e ainda pôs a sua melhor cara de sonso. Não ia tentar corrigir, já sabia que com Derek quanto mais você tenta consertar, pior fica.
     - Eu teria conseguido sem a sua ajuda, não fale como se tivesse feito um favor. - Derek resmungou.
Stiles fez uma cara de "quê?".
     - Eu vi como você estava conseguindo quando você afundou na água que nem um saco de batatas. - ele falou. Ok, não dava para não alfinetar. E Derek estava o olhando com aquela cara contrariada de quem ia jogá-lo pela janela. Oh, Deus! Eu vou morrer. Sou tão jovem para morrer, pensou.
     - Eu não estaria paralisado com veneno de kanima em primeiro lugar se você não tivesse ficado parado que nem um idiota enquanto as garras dele iam direto na sua cara. - Derek rebateu, a voz baixa e grave, aquela mesmo de quem está se contendo para não fazer uma grande besteira. Uma do tipo, arremessar um adolescente pela janela.
     Stiles abriu a boca, mas logo percebeu que não tinha nada para falar. Ele não havia se esquecido do fato de que Derek praticamente se jogou na frente do kanima para tirá-lo do perigo. E não seria a primeira vez que aquilo havia acontecido. Às vezes quando ambos tinham aqueles momentos em que eles apenas se olhavam em silêncio, quando Stiles não estava alfinetando Derek e Derek não estava tentando quebrar o nariz de Stiles no volante do jeep, então alguns flashes vagamente pipocavam em sua cabeça, da vez em que Derek se pôs na frente de Peter e eles tiveram uma daquelas magníficas lutas de lobo em que Derek acabou detonado e jogado no chão, mas mesmo assim ele o protegeu. Ou então quando achou que Isaac ia rasgar a sua linda face naquela prisão, e Derek basicamente chegou do além e o pôs em seu lugar, afinal ele era um alfa agora.
     E foi naquele momento que Stiles se deu conta do mistério que rondava Derek Hale. Não que ele não houvesse notado antes, mas só naquele momento que ele finalmente percebeu que era como Lydia. Ele não era apenas o lobisomem badass e mal encarado que faz tudo para assegurar seu poder, seu território. No fundo ele se importava, ele se dava, e Stiles nunca teve ninguém assim. Ele não era ignorado, ou rejeitado, e isso era esquisito.
     - Ok, já entendi. Você salvou o meu traseiro. - disse mais no automático, só para não ficar parecendo que estava sem palavras. - E agora o quê? Vai rasgar o meu pescoço com os dentes só porque eu não deixei você lá na piscina que nem uma baleia encalhada?
     Não deu tempo de voltar atrás. Quando deu por si, Derek já o havia pegado pelo colarinho da blusa de dormir e o jogado na parede.
     - Você vai parar com essa droga agora. A próxima vez que eu tiver que te salvar de algum monstro por causa da sua estupidez, vou te deixar para ser comido vivo. - o lobo quase rosnou. Quase. Stiles pôde ver os seus dentes e como seus caninos cresceram.
     Hm... Dentes... Até que o pensamento era bem sexy.
    Mas no que diabos eu estou pensando mesmo? Não, não. Péssima hora para vir com essas questões de sexualidade agora. Principalmente porque ainda não havia descoberto se era atraente para os caras gays, então uma coisa de cada vez.
     Aliás, foi uma péssima coisa parar para analisar Derek no final. Não estava muito afim de ter uma queda por ele a essa altura do campeonato.
     Tarde demais, buddy. Ele meio que já tinha uma desde a droga do dia em que Derek foi preso pelo xerife e ele teve que inventar uma linda e estúpida história para convencer o pai de que Derek não tinha nada haver com as acusações. E ele estava divagando novamente, ainda mais com o lobo bem na sua frente. Uma péssima hora para pensar em dentes, e dentes de Derek em seu pescoço, e...
     - Eu deveria fazer isso mes... - Derek cortou a própria frase. Stiles ergueu as sobrancelhas, esperando ele terminar ainda com aquela cara de sonso. Ah sim, estava dando uma de João sem braço. O Hale franziu as sobrancelhas e se aproximou de Stiles, apenas o suficiente para sentir o cheiro dele sem que a coisa toda ficasse embaraçosa. Ao menos não para ele mesmo, porque para Stiles estava muito, extremamente embaraçoso.
Não havia nada mais que pânico e palidez na face de Stiles quando ele percebeu o que Derek estava fazendo. Ele havia cheirado alguma coisa. Não devia ser muito difícil sentir os hormônios de um adolescente aliás. Ah, eu estou tão ferrado.
     - Isso é...?
     - Não. - Stiles cortou e pôs as mãos na cintura, resoluto. O "não" era pra botar um ponto final no assunto. A expressão incrédula de Derek comprovava que ele não comprou a ideia.
     - Você está...? - Derek deu uma rápida olhada dos pés até a sua cabeça. Não bastava só sentir o cheiro, ele tinha que ver o que estava acontecendo também.
     - Sim, estou.
     - Eu não sabia que...
     - Não fala nada. - esse era aquele momento em que Stiles queria cavar um buraco no chão e entrar nele, mas ele estava fazendo um ótimo trabalho em olhar Derek nos olhos e falar como se aquilo fosse normal.
     - Eu acho que eu vou voltar para o loft.
     - Boa ideia.
     E foi assim que Derek deu as costas e saiu pela janela o mais naturalmente possível para alguém que na verdade estava dando o fora dali antes que a situação ficasse ainda mais constrangedora. Stiles fechou a janela e logo foi em direção da cama, enquanto ajeitava as calças para certas coisas não ficarem mais visíveis do que já estavam. Não chegou a olhar o momento em que Derek atravessou a rua. Estava mais ocupado em cavar o seu buraco imaginário e se enfiar nele no momento em que se jogou na cama.
     Se tivesse ficado um pouco mais na janela, nem que fosse por alguns segundos, teria visto Derek olhar para trás, assim como teria visto ele sorrir de lado antes de voltar a caminhar e sumir na escuridão.



     "Ah meu Deus, você é tão irmã do Derek, eu havia me esquecido."


     Cora Hale. Delicada, amável, gentil, para não dizer exatamente o oposto. A primeira vez que a viu, ela estava prestes a quebrar o braço da pobre Lydia ao meio se não tivesse intervido. Mas não é como se não estivesse vacinado contra o mau humor crônico da família Hale no geral, ainda mais porque aquele revirar de olhos da Cora o lembrava vagamente de seu irmão, e lembrar de Derek sempre lhe dava uma sensação morna de segurança. Sentia-se seguro com Cora por tabela.
     Stiles não visitava o loft constantemente. Ele nem sabia onde diabos ele ficava em primeiro lugar. Mas depois que ele conheceu Cora, suas visitas ficaram um pouco mais regulares. Ela não era exatamente um amor de pessoa, mas ao contrário de Derek ela não iria simplesmente chutar seu traseiro para fora de lá. Gostava da companhia dela.
Cora tinha aquela névoa, aquele mistério. Percebeu no dia em que ela peitou Aidan (e ele achou completamente fantástico, porque apesar de ela ter ficado uma droga no final, a garota simplesmente enfrentou um maldito alfa) que havia isso nela; era mais do que a garota durona que perdeu a família e ficou anos em qualquer lugar da América do Sul, mais do que a revolta, a impaciência e aquele forte, devastador, sentimento familiar. Ela se - importava. Se importava o suficiente para enfrentar um alfa para vingar um amigo morto.
     E então havia passado. Stiles estava com algumas olheiras rasas por causa de todos os sonhos ruins com o rosto rasgado da Darach e o peito aberto de Boyd sobre as garras de Derek, mas a bagunça toda havia terminado. Não havia mais o medo de ser pego em um sacrifício ou ser esquartejado por algum alfa furioso. Isaac mencionou vagamente que Cora havia despertado do coma e Stiles saiu de toda a porcaria traumática dentro de sua cabeça para poder visitar uma nem tão velha amiga, mas uma que ele havia se apegado.
     Quando chegou no loft, ela estava de costas, mãos no bolso da blusa de frio, olhando pela janela, exatamente como se lembrava dela.
     - Sabe, eu pensei bastante e cheguei a conclusão. - ele disse enquanto caminhava até a mesa no meio da sala, falando com um ar divertido - Hales são difíceis de matar.
     - Não tanto quanto Stilinskis. - ela se virou com aquele mesmo ar enfadonho de sempre, como se achasse tudo muito chato, tudo muito irritante. Stiles riu consigo mesmo enquanto a encarava, observando certos detalhes que ele não havia observado antes de ela entrar em coma. Achava seu jeito irritadinho engraçado.
     - O que é? - ela perguntou. Irritadinha.
     - O que é o quê?
     - Por que está me olhando com essa cara de idiota que me faz querer te socar? De novo.
     - Você continua adorável, Cora. - sorri sarcástico - O que você estava fazendo, afinal? Derek quase me chutou escada abaixo por eu ter vindo te visitar.
     - Eu estava dormindo. Ele continua com essa porcaria de que eu preciso me recuperar como se eu fosse um maldito bebê de seis meses. - ela respondeu enquanto caminhava para perto dele, e assim que alcançou o outro lado da mesa, espalmou as mãos na superfície de madeira, se apoiando nela. - Posso te fazer uma pergunta?
Franziu as sobrancelhas. Cora perguntando se podia fazer alguma coisa? Aquilo era estranho.
     - Claro.
     - Você costuma cumprir as suas promessas, Stiles?
     - Ahn... Sim. Acho que sim. - respondeu. Não sabia exatamente por onde estava indo, mas havia algo na expressão de Cora que o fazia pensar que ela estava querendo dizer alguma coisa, e isso o deixava um pouco inseguro.
     - Porque quando eu estava dormindo eu tive esse sonho estranho. Eu estava no hospital e alguém estava fazendo uma bagunça na minha boca. - ela continuou muito casualmente - E depois eu ouvi essa voz prometendo fazer algo quando eu estivesse acordada novamente.
     Oh não!
     Deus não!
     Stiles foi de branco para branco folha de papel A4 em um milésimo de segundo.
     - Eu acho que essa pessoa considerou me beijar enquanto eu estava inconsciente. Isso não é... - ela fechou os punhos e soltou um suspiro entre irritado e exasperado  - Eu poderia arrancar a língua dela da boca.
     Meu Deus, eu vou morrer. Socorro. Derek. Scott. Alguém...
     Stiles já estava prestes a cair de joelhos no chão e pedir piedade quando Cora sorriu de lado, um tanto quanto descontraída, e foi como se o chão tivesse se aberto e sugado ele para dentro.
     - Eu estou brincando com você, babaca. - ela debochou.
     Isso, debocha mesmo. Depois aproveita e paga meu cardiologista, palhaça.
     - Cora, eu não sabia que você estava ouvindo tudo, senão eu... Quer dizer... Eu não faria nada com você inconsciente. Não que eu faria com você consciente. Eu não faria nada nunca. Eu não quero te beijar, respeito total, não que você não seja totalmente beijável, eu te beijaria, mas... - passou a mão pelo rosto e respirou fundo. Estava falando tão rápido que faltou ar e na verdade não deu em nada. - Só estou piorando, não é?
     Ela já estava com os braços cruzados, aquela cara de desdém impagável. Cora descruzou os braços e deu a volta na mesa, e Stiles não pôde evitar recuar um pouco porque, bem, era a sua garganta que estava em jogo ali.
     - Stiles, cale a maldita boca. - ela demandou, e nesse momento Stiles percebeu que não tinha mais para onde recuar porque ela o havia encurralado e as suas costas estavam quase se curvando sobre a mesa, porque Cora estava realmente muito perto e o alarme de PERIGO na sua cabeça parecia que ia enlouquecer. - E aprenda a cumprir as suas promessas.
     Ok, isso foi inesperado.
     Sim, Cora pondo cada mão na mesa em cada lado de seu corpo e o beijando foi meio que inesperado. E wow man! Ela beijava bem. Sem toda aquela violência que ia parecer que queria quebrar os seus dentes, na verdade era bom e Stiles se sentiu bastante impelido a por as mãos em sua cintura sem ter medo de ter um braço quebrado no final das contas.
     Ele só esperava que Derek não aparecesse por ali, ou estaria encrencado.
     Fora Cora que quebrou o beijo. Ela se afastou mais devagar do que Stiles esperava e mais rápido do que ele queria, mas de certa forma ele sabia que ela não era uma daquelas garotas que te abraçava e ficava horas fazendo cafuné em seu cabelo e todas essas coisas melosas. E talvez ele até gostasse disso.
     - Então é isso? - ele perguntou. Era algo como "tenho permissão para fazer isso mais vezes?".
     - É. - ela meio que deu de ombros.
     Stiles sorriu. Era uma sensação diferente a sensação de ter alguém. Ele se sentia parte de algo; algo um pouco diferente do convencional, mas pensar que você tem uma namorada lobisomem badass meio que te deixa um pouco - muito - orgulhoso. Stiles estava feliz.
     Todavia, no dia seguinte, quando ele chegou na escola, ele não viu Cora pelos corredores. Ele não a viu em lugar algum. Foi só a noite que Scott deu a notícia. Ela havia ido embora de volta para a América do Sul.
     E isso doeu feito o inferno.



     "Nunca, eu disse nunca mais faça isso de novo!"


     Stiles quase berrou, gesticulando. Kira e Lydia se entreolharam.
     - Fazer o quê? - Malia perguntou.
     - Você tinha saído correndo.
     - Eu estava correndo.
     Stiles suspirou estarrecido. Ela não havia entendido. Meneou a cabeça, pronto para tentar novamente.
     As coisas haviam mudado. O Nogitsune havia tirado o melhor de Stiles. Ser possuído por um espírito maligno e fazer as coisas que ele fez tornava as coisas que antes o deixavam amargo algo muito supérfluo. Ele continuava sorrindo, continuava sendo sarcástico, mas estava vazio por dentro. E ele sentia isso toda vez que deitava em sua cama e a escuridão o consumia, e ele quase pedia pelo Nogitsune novamente, porque pelo menos assim ele se sentiria preenchido por algo que não fosse um vácuo enorme, uma sombra. Não doía, não incomodava. Era nada, vazio, frio, e só.
     Porém um dia ele estava mais uma vez envolto pelas cobertas, ouvindo os burburinhos noturnos ao longe, e o vento entrava como uma turba pela sua janela, sussurrando antigas memórias em seus ouvidos. Não fora apenas o vento que entrou pela janela, entretanto. Tomou um pequeno susto quando sentiu o outro lado da cama afundar e se virou pronto para dar de cara com qualquer coisa aterradora querendo devorá-lo. Por que era sempre assim, certo? Parecia que todo sobrenatural naquela droga de cidade queria arrancar um pedaço seu. Mas tudo o que encontrou foi Malia, a werecoiote que o ajudara na Eichen House, e ela tinha um sorriso aberto, idílico, como se tudo no mundo fosse uma maravilha. Era um sorriso contagiante.
     A partir daquele dia, Stiles se sentia um pouco mais preenchido, um pouco mais aquecido e muito menos solitário. Não havia nenhum mistério nela; era cru, livre, selvagem. Ele gostava assim.
     - Não é isso, eu achei que você estava partindo. - explicou-se melhor.
     - Eu não partiria sem você. - ela disse de um jeito sincero.
     - Jura? - ele a olhou incrédulo, perplexo, quase não acreditando no que ouvia. Mas que diabos?
     - Sim. - a werecoiote assentiu com toda aquela simplicidade e sinceridade que pertencia a ela - Eu nunca partiria sem você.
     Aquilo era esquisito.
     Muito esquisito.
    Mas por via das dúvidas, ele resolveu acreditar. Não porque ele queria, mas porque ele precisava.



     "Hey! Salva ele."


     Foi o que Derek disse quando Stiles congelou no lugar no momento em que viu o lobisomem caído sobre uma pedra, depois de Braeden ter botado o Berserker para correr com uma dezena de tiros. Derek estava ferido, sangrando, e isso fez algo amargo apertar a sua garganta, estagnar as suas pernas. Scott estava tendo uma luta acirrada lá dentro, poderia até mesmo estar morto, mas a ideia de deixar Derek para trás consumia o seu inconsciente. Era instintivo, tanto para um quanto para o outro. Quando um estava em perigo, o outro sempre aparecia para ajudar.
     Derek insistiu. Foi quando Stiles caiu em si. Ainda relutou um pouco mais antes de correr até a gruta. Parou, olhou para trás. Queria ter certeza de que quando voltasse ele ainda estaria respirando. Então finalmente deu as costas e continuou.
     No final das contas, eles venceram como sempre. Derek deu a cartada final junto aos Calaveras. Ele mais do que sobreviveu. Também evoluiu. E então estavam todos indo de volta ao México com aquele sentimento de dever cumprido.
     Meia hora depois de partirem, os veículos novamente pararam na beira da estrada. Kira e Lydia queriam usar o banheiro. O restante aproveitou para pegar um ar, comer alguma coisa ou o que quer que fosse. Stiles saiu do carro, mas não foi muito longe. Ficou encostado no jeep, olhando o movimento, vez ou outra perdendo o seu olhar na direnção de Malia, que havia subido em um amontoado de pedras para olhar o horizonte. Sorriu de leve. Achava bonito o modo como o vento fazia os cabelos dela esvoaçarem, o jeito como ela parecia dispersa.
     Quase não percebeu quando Derek se aproximou. Ele também olhou para Malia por alguns instantes e depois voltou a olhar para Stiles com uma expressão de quem tinha algo na mente. Stiles o olhou de volta.
     - Então quer dizer que você é um lobo de verdade agora? Tipo The Big Bad Wolf? - Stiles puxou o assunto com um ar brincalhão.
     - É o que parece. - Derek não bancou o Sourwolf da vez. Ele estava mais calmo, meramente em paz, desde a sua evolução.
     - O que vai ser daqui pra frente? Vai sair por aí assustando criancinhas?
     Derek riu. Não um sorriso muito aberto ou de quem está achando algo muito hilário, mas para ele já era um enorme avanço. Stiles se pegou pensando que ele deveria sorrir mais às vezes, porque era um sorriso bonito, e alguém certamente poderia se apaixonar por aquele sorriso. Alguém tipo o adolescente que estava olhando para ele com cara de idiota naquele momento, mas isso não vem ao caso.
     - Esse é o plano. - e então ele parou de sorrir, ficando sério de repente. Não era uma seriedade irritadiça, mas um pouco melancólica. - Stiles, eu queria dizer algo que eu sempre quis dizer. Que eu nunca disse.
     Não disse nada. Ficou o silêncio. Stiles ficou esperando. Não estava ansiando por nada demais. No fundo, no fundo, já havia entendido antes mesmo de ele começar a falar.
     - Eu acho que você deveria cortar o cabelo. - Derek disse por fim. Stiles riu. - É sério, você está parecendo um maluco.
     Stiles balançou a cabeça. Qual foi? O cabelo era bacana, ok? Riu mais um pouco, de leve, até acabar a graça, mas continuou o olhando com um sorriso sutil no rosto. Derek o estava olhando de volta com algo que era a sombra de um sorriso, entretanto estava ali. Conseguia ver. Ele não precisou falar nada mais para que Stiles entendesse.
     - Eu também te amo, man. - Derek assentiu. Ele havia entendido a mensagem afinal. - Se eu te abraçar agora, corro o risco de levar um soco?
     - Sim.
     - Ok.
    E dito isso, alguém gritou do outro lado que eles iam voltar a viajar. Lydia e Kira já haviam voltado do banheiro e Malia estava olhando para os dois com uma cara bastante alheia. Derek deu as costas e voltou para o carro. Stiles foi o último a entrar. Estava ali recostado, com um sorriso besta no rosto. A sensação morna havia voltado, e ele estava feliz. Por um momento havia se esquecido de suas antigas cicatrizes, e até mesmo do que ele usou para esquecê-las. Tudo ia se encaixar agora. Foi assim que ele entrou no carro e girou a chave na ignição. Scott poderia ser cego às vezes, Kira um pouco distraída, Lydia poderia ignorá-lo e Malia podia não fazer a mínima ideia do que estava acontecendo, mas nesse momento eles souberam. Todo mundo soube.
    E talvez foi por isso que todos olharam para Stiles quando Derek desceu do carro e Braeden estava o esperando na moto. Derek olhou para Stiles e sorriu, como se aquilo fosse uma despedida. Stiles havia entendido tudo, menos isso. Não havia entendido a parte de que aquilo era um adeus. Ele sentiu todas as suas feridas se abrindo de novo, rasgando, sangrando. Não sorriu de volta.
Havia esquecido do quanto aquilo doía.



     "Nós meio que terminamos, eu acho."


     Malia falou para Scott. É verdade que as coisas haviam desandado um pouco para ela e Stiles. Não é como se ela fosse ainda aquela garota livre e selvagem, despreocupada com a sua origem e com o seu final. Ela havia crescido como pessoa e tinha os seus próprios interesses. Havia saído do mundo de Stiles, parado de respirar o seu ar, para ir atrás de seu próprio mundo, resolver os seus próprios problemas. Derrotar a Loba do Deserto era uma necessidade pessoal, não podia envolver Stiles nisso.
     Stiles, por outro lado, estava distante. Ele sempre esteve. O conflito entre ele, Theo e Scott ajudou a piorar as coisas. O vazio em sua mente cresceu depois do que fez com Donovan. Foi um acidente, mas Stiles sabia que teria feito, então em sua mente ele fez. E pior, gostou do que fez. Agora ele não tinha Malia para preencher o lado direito da sua cama e o lado esquerdo de seu peito. Droga, ele não tinha nem mesmo Scott.
     Não podia culpá-la, afinal. Malia havia mudado muito desde que a conhecera. Antes ela tinha esse jeito alheio, ela entendia certas coisas. Entendia o modo como às vezes Stiles estava sentado na cama, como ele displicentemente olhava para a foto de Derek em seu quadro investigativo e sorria de lado de um jeito nostálgico; do jeito que ele ficava quando pensativo, riscando qualquer coisa no quadro e então parava no meio do quarto e olhava para a cama, e por mais que Malia não soubesse quem foi a pessoa que sentou ali um dia - atrás de John Stilinski, vestida numa jaqueta de couro e com aquela perfeita expressão de poucos amigos - ela sabia que havia alguém. Malia entendia quando Stiles passava pelas prateleiras da biblioteca e via as iniciais "D.H", e o modo como ele ficava com um sorriso estúpido no rosto. Porque ela era livre, e as coisas para ela corriam como o leito de um rio, como uma manada. Até que um dia ela pôs um T depois do M, ao invés do H. E com isso, foi como se ela se prendesse a coisas que antigamente não perambulavam em sua cabeça.
     Malia não entendia mais.
     Mas não é como se Stiles não soubesse o que iria acontecer de qualquer modo.
     E então ele se senta na cama numa daquelas noites frias. E ele pensa que talvez não haja algo de  muito errado com esses malditos Hales que deliberadamente abandonam as pessoas que amam.
     Talvez seja ele.
     Ele olha para a janela aberta como se esperasse alguma coisa, mas dessa vez ele sabe. Ninguém vai entrar por ela.


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Notas finais do capítulo

Sterek de levs, só pra treinar.
Queria agradecer para quem leu essa fic até o final. Eu achei meio melancólica e meio amontoada, mas quis escrever mesmo assim, porque esse é um sentimento que eu tenho pelo Stiles em geral. Como se ele estivesse sempre sozinho.
Enfim, quem gostou manda review. Quem não gostou, manda review também. Sempre é bom saber onde se deve melhorar.
Beijão amores :*.



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