Cornucópia de Bolso [EM HIATO] escrita por Leon Yorunaki


Capítulo 3
Astral


Notas iniciais do capítulo

Eu falei que mudaria o foco da fic no capítulo passado. Agora estou colocando isso em prática.
Quero opiniões. Os jogos apenas estão começando, e quero que se sintam parte dele (exceto as mortes, claro. Não quero ver ninguém morrendo por causa de uma fanfiction).



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Scarlet não sabia exatamente como havia conseguido escapar da carnificina que foi o início dos jogos. Era bem verdade que ter se deitado em sua cabine no início fez com que não lhe dessem tanta importância; talvez pensassem que ela estivesse morta ou algo do tipo.

Não importava muito na verdade. Assim que os outros tributos se concentraram na batalha que acontecia pelas mochilas na cornucópia ela teve uma abertura boa o bastante para fugir dali, o mais rápido que conseguiu. Não era boa nadadora, isso é bem verdade, mas o perigo que corria foi um ótimo estímulo para que se saísse relativamente bem. Pelo menos não se afogara.

Olhando pelo lado bom, era muita sorte que não houvessem Pokémon naquele lago. Se nele houvesse um cardume de Carvanha, por exemplo, Scarlet não estaria viva para contar a história.

O que seria mais provável, no entanto, era que os criadores dos jogos colocassem por lá alguma espécie mutante, como as que viu nas fitas das edições anteriores.

Sem ter nenhuma vantagem de qualquer tipo, sem nenhum Pokémon consigo, o instinto de sobrevivência da garota era a única coisa que lhe restava. Ela passou as duas semanas que tiveram de treinamento estudando os adversários, assistindo as edições anteriores, entendendo como os vencedores conseguiam ganhar os jogos.

Pois se a ela faltava um companheiro, sobrava vontade de viver.

O que não lhe ajudava muito nas condições atuais. Scarlet era apenas uma garota molhada no meio de uma floresta talvez repleta de armadilhas, sem nenhum Pokémon para se defender e sem condições de conseguir comida. Doações externas nunca iriam acontecer, sendo Oblivia um continente pobre e desacreditado pelos apostadores. Ainda mais depois de ter recebido uma mísera nota 4 na avaliação dos tributos.

Ela não confiaria em se alimentar dos frutos da floresta, por exemplo. As berries que ali cresciam podiam ou não ter sido manipuladas pelos criadores, um risco que não desejava correr. Um dos tributos, sete anos antes, encontrou uma Razz Berry e, em seu desespero por alimento, a comeu. Antes tivesse morrido de fome, visto a maneira com que o jovem simplesmente derreteu, urrando em dor enquanto não conseguia mover seus músculos. O pior: não foi o suficiente para matá-lo, o que só ocorreu quando um grupo de Scyther, ouvindo os gritos de desespero, terminou de dilacerá-lo.

Mesmo assim, ela tinha uma arma, a qual pretendia usar com toda a sua astúcia. Afinal, ela era a mais nova, frágil e inocente entre os tributos. Ela teria que manter isso a seu favor, possivelmente conquistando uma aliança com outros tributos. Os vitoriosos fizeram alianças em oito dos últimos dez jogos.

Talvez o talento que mais se destacasse em Scarlet fosse pouco útil na arena. Sua habilidade matemática, um dom de família, ainda não a deixara na mão. Podia não ser tão boa como seu irmão, William, mas não gostava de se comparar a ele. Era ela quem havia sido colhida para os jogos, afinal.

E seu desejo de revê-lo era o que a mantinha viva.

Um ruído de folhas trouxe Scarlet de volta para a arena, um sinal de que havia alguém por perto vindo da direção leste. Fosse humano ou Pokémon, seria perigoso demais para que ela pudesse ignorar sua presença. Tratou de sentar-se aos pés de uma árvore, silenciosamente fingindo um cansaço muito maior do que o real.

O barulho havia sido causado por um Pokémon quadrúpede de médio porte, de pelagem castanha clara. Longe de representar perigo imediato, o brilho de seus pelos, incluindo as orelhas em seu tom laranja-avermelhado, indicava ser um espécime muito bem tratado. Antes de se descuidar, porém, Scarlet se lembrou de que ele com certeza estaria acompanhado de um tributo. Não sabia exatamente se queria ou não ser vista; antes de se decidir, no entanto, o destino lhe reservou a primeira opção.

A garota de cabelos castanhos que apareceu em seguida não se mostrou uma ameaça imediata para Scarlet; a composição encorpada da jovem claramente denunciava a falta de prática e habilidade em combate, não muito diferente dela própria, o que descartava a possibilidade de ser uma carreirista. Para complementar, a grossa armação dos óculos a fez pensar que ela tinha um grau considerável de deficiência visual.

Era muito mais fácil supor que a garota também não teria muitas condições de sobrevivência por conta própria. O que fazia dela uma candidata ideal para uma aliança. Talvez na prática isso não lhes trouxesse tantos resultados, mas cada uma delas estaria em condições melhores do que se não o fizessem. Nem por isso Scarlet baixou sua guarda, segurando um galho quebrado que encontrou, uma das extremidades tinha uma ponta talvez insuficiente para perfurar a outra caso fosse necessário, mas ainda assim seria de serventia.

A outra se fez anunciar de maneira quase silenciosa, ordenando um golpe para seu Pokémon:

Foresight!

O Delcatty sondou o ambiente, com o olhar, procurando por algum Pokémon ou humano que pudesse ter se escondido por ali. Obviamente, não encontrou.

— Estou sozinha. — disse Scarlet. — Não tenho ninguém comigo.

— Oh, você é a garota de Oblivia… — murmurou a outra, mantendo distância. — Não vou lhe machucar.

A mais nova levantou-se, deixando o galho no chão:

— Sou Scarlet.

— Prazer. Petra. — A outra levantou os braços, mostrando estar desarmada.

— O que quer?

Petra olhou para os lados, como quem não confiava no julgamento do próprio Pokémon de que estava segura.

— Uma aliança, talvez? Olhe para gente, somos carne fresca para os carreiristas. Talvez em duas tenhamos mais chances do que sozinhas.

Ela é esperta, pensou Scarlet. Mas tem mais a ganhar do que eu.

— O que me garante que não vai me atacar pelas costas?

— Olhe para mim, me diz se eu tenho cara de quem conseguiria? A Lolitabot aqui nem sabe usar golpes ofensivos. Aqueles idiotas da capital me jogaram aqui, meu lugar devia ser lá com eles!

Scarlet lembrou-se do que estudara sobre os outros tributos. Petra era de Almia, se não lhe falhava a memória. A região era uma das mais próximas da capital, sendo responsável pela extração de combustíveis e mineração. E ao que tudo indicava, a jovem era filha de uma das famílias mais ricas do subcontinente, o que lhe permitia ter um mínimo de luxo. O Delcatty de coloração alterada era prova disso.

— Então precisamos de pokébolas. — Scarlet respondeu, mantendo o senso no lugar, um sinal para que a nova colega se controlasse. Precisamos achar Pokémon de verdade antes que os outros nos achem.

Um tiro de canhão se ouviu. Logo em seguida outro. E depois um terceiro.

O banho de sangue acabara com apenas três mortes. Era impossível dizer se era seguro retornar para a cornucópia, mas as pokébolas que poderiam ser encontradas por lá eram por demais valiosas para ambas.

Sem contar que, é claro, todo tipo de Pokémon selvagem poderia aparecer. E um Delcatty não daria conta de qualquer espécie modificada pela capital que pudesse aparecer. Da última vez conseguiram dar asas para um Pinsir; ele fora o responsável pelo maior número de mortes naquela arena, mais até do que o melhor dos tributos. Nem este sobreviveu, pois não conseguiram parar o monstro a tempo de resgatar o vencedor. Era a segunda vez nos últimos quinze anos que isso acontecia. Claro que a população ficara descontente, mas a capital conseguiu contornar isso. Eles sempre conseguem, pensou Scarlet enquanto relembrava as cenas de tortura; o rapaz das ilhas Ransei sem conseguir sequer comemorar a vitória, sendo destroçado pelos chifres que separaram sua cabeça do corpo como uma tesoura corta uma folha de papel.

— Você tem um plano? — perguntou Petra

— Ainda não. Mas estou tentando pensar em algo.

— Eu pensei em…

— Ssh. Acho que ouvi alguma coisa.

Scarlet não estava enganada. As folhas das árvores se moviam com força, um claro sinal de que algo sobrevoava a área. Possivelmente era apenas um Pokémon, porém não dava para descartar a chance de que ele fosse de um dos tributos. E se o fosse, era claro que o treinador estaria junto.

— Lolitabot, Protect! — sussurrou Petra. Se fosse um ataque, o Delcatty ao menos se salvaria. O que não significava muita coisa.

Por mais que Scarlet estivesse certa em sua suposição e realmente fosse um Pokémon se aproximando, ela jamais poderia prever o que aconteceria a seguir.

Primeiro de tudo, porque um Vibrava representava muito perigo para as duas, muito mais pelo fato de elas não terem pokébolas consigo do que pelo Delcatty não conhecer nenhum golpe do tipo gelo.

No momento em que ele pousou em frente as duas garotas a segunda surpresa se fez revelar. Ele estava em companhia de seu treinador, o que significava que no instante seguinte elas estariam mortas.

A voz que ordenou o ataque, porém, foi feminina.

Dragonbreath!

— Pare, Kyla! Sou eu!

— Petra?

Scarlet olhou mais uma vez para a pessoa que acompanhava o Vibrava, constatando seu engano. Era claro que os uniformes usados pelos tributos na arena não facilitavam, mas ela surpreendeu-se em pensar como poderia ter achado se tratar de um menino. As feições dela não eram exatamente suaves, e juntamente com seus cabelos loiros e curtos, talvez em um primeiro momento a confusão fosse plausível. Por outro lado, ela tinha os lábios finos e o queixo pontudo, para não falar no volume dos peitos, mesmo que comprimidos pela roupa justa que todos os tributos usavam, o que denunciava claramente seu gênero.

— Cancelar ataque, Banzai!

Petra correu para abraçar a recém-chegada, a qual parecia ter finalmente baixado a guarda. O que não impediu que elas conversassem por sussurros durante o contato. Scarlet supôs que falassem a respeito dela, de modo que assumiu mais uma vez uma postura defensiva.

Pois se por um lado Petra parecia ser inofensiva, o mesmo não podia ser dito de Kyla.

— Scarlet, essa aqui é Kyla, minha amiga. — Petra fez as apresentações, sem perceber que havia se formado um leve clima de desconfiança. — Kyla, essa é Scarlet. Acho que podemos nos unir nós três para nos defender dos carreiristas.

— Você fala como se fosse fácil, Petra. — Kyla tomou a palavra, mostrando possuir muito mais desenvoltura que a outra. — Não podemos apenas fugir, e mesmo nós três juntas não conseguiríamos deter alguém que sabe o que está fazendo.

— Precisamos caçar. — disse Scarlet, com toda a naturalidade do mundo. — E para isso temos que conseguir pokébolas. Será que sobrou alguma na cornucópia?

— Eu não iria lá se fosse você. — Kyla respondeu. — O carreirista de Sinnoh conseguiu espantar cinco tributos sozinho. E ele continua por lá com um Pokémon que eu nunca vi na minha vida.

— Que outra opção nós temos então?

— Ficar aqui é que não é. Tem um abrigo mais para dentro na floresta, se não tiver nenhuma armadilha dos criadores pode ser um bom lugar para ficarmos por enquanto.

Uma breve troca de olhares se deu entre as três jovens, sem que fosse apresentado algum tipo de contestação. Não era o melhor dos planos, mas era de se supor que estariam mais seguras se realmente fosse um abrigo, não uma armadilha.

— Vamos fazer assim então. — propôs Scarlet. — Você… Kyla, como tem uma noção de onde fica, você vai na frente como seu Vibrava, se precisarmos abrir caminho. Eu vou no meio e a Petra fica na retaguarda. Qualquer coisa, ele pode usar o Protect para ganharmos tempo.

A loira olhou de relance para a jovem, abrindo um breve sorriso.

— Você não é de toda ruim, Scar. Talvez ainda venha a ser útil de verdade.

Scarlet não respondeu à provocação de Kyla, ficando calada por ora. Não confiava na garota do Vibrava; provavelmente nunca o faria.

Mas entre a companhia dela ou a solidão, estava claro que a primeira opção era muito mais convidativa.


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Notas finais do capítulo

Convém lembrar que não tenho beta-reader; em outras palavras: se encontrar algum erro, me avise!

Espero que tenham gostado. E se não gostaram, a caixa de comentários aqui embaixo está aberta para suas sugestões.