48 Horas, ou não... escrita por Mariannatuts


Capítulo 4
Capítulo 4.


Notas iniciais do capítulo

Leiam com atenção. Muitas coisas neste capítulo, serão importantes nos próximos. Espero que gostem!



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As pessoas gritam meu nome, mas continuo correndo. Ah, como eu amo correr. Paro para descansar e esperar o resto das pessoas. Percebo um cachorro correndo em minha direção e me jogo no chão, esperando ser cheirada, mas o cão apenas se senta ao meu lado. E então compreendo que ele apenas deseja minha atenção. Me sento e o encaro, parece inofensivamente fofo. Afago sua cabeça, seu olhar agradecido é gratificante. Noto um ferimento em sua orelha esquerda e espero o restante da turma me alcançar.

— O que aconteceu com ele? – Pergunta Eric, se referindo a orelha do animal.

— Sei dele, tanto quanto você – o lembro.

Ele examina o cão, como se entendesse do assunto.

— Ah, ainda bem! É um machucado, deve ter se envolvido em brigas com cães, ou algo tipo. -  falou, aparentemente pensando no assunto.

— Por quê “ainda bem”? – Perguntei, confusa.

Ele me olhou, como se a resposta fosse óbvia.

— Porque podia ser pior, como leishmaniose...

— O que é isso?

— É uma doença que se manifesta... ah esquece. Não sei explicar, e você deve ser leiga no assunto, não acho que entenderia – falou, convicto.

— Realmente. Mas como você entende? – Perguntei.

— Meu pai é veterinário, algumas vezes o ajudo – falou, indiferente.

Até que o papo estava fluindo, considerando que comecei a socializar com ele desde hoje.

— Ah... então não é nada demais? – Pergunto e ele me olha sem entender. – Na orelha dele...

— Ah sim, por enquanto não. Só tem que limpar e aplicar algum anti-inflamatório.

— E...

— Para! Sou eu quem faço as perguntas por aqui! – Falou me interrompendo, dramaticamente.

— Hã?

— Nada. Sempre quis falar isso! – Exclamou, tentando conter um sorriso.

Me esforcei para continuar séria. Consegui.

— Por ele estar querendo atenção, creio que devia morar em alguma casa e foi abandonado – falou, encarando o ferimento.

— Caralho. Para. Quê. Ter. Cachorro. Se. Não. Vai. Cuidar? – Falei, dando pequenas pausas entre cada palavra.

— Uma puta de uma sacanagem...

Um silêncio percorreu o local, exceto é claro, pelo barulho das ondas do mar. Me sentei em uma rocha e afaguei o bichinho.

— Então... não vai mesmo me contar o que fiz? – Perguntei, curiosa.

— Não... você não precisa saber... quer dizer.... É melhor você não saber. – Falou hesitante.

— Por que? Caralho!

— Pelo seu bem, Lins.

— Desde quando se importa com meu bem-estar? – Perguntei, em um tom desafiador.

— Me importo com o bem de todos. – Falou, depois de um bom tempo.

— O que tem aí? – Gritou o professor, mais alto do que o necessário, de uma outra pedra, não muito distante.

Não nos preocupamos em gritar a resposta de volta, pois ele já estava quase do nosso lado.

— É um cachorro, está machucado. – Disse Eric, quando o professor já estava perto o suficiente.

Continuamos o restante do trajeto, guiando o cão por entre as pedras, ou ele nos guiava... não sei.

***

O pessoal não perdeu tempo, assim que chegamos já foram se trocar. Alguns inclusive, em lugares nada propícios.

— Não vai colocar biquíni? – Perguntou Lohana.

— Já coloquei, ué.

— Isso é um biquíni?

Realmente o que eu usava não era bem um biquíni, e sim um short curto e uma blusa justa. Mas, como não estava afim de novamente ter que dialogar sobre meus quase biquínis, mudei o assunto.

— Nem todo mundo tem uma mãe que é dona da metade das lojas de roupas da cidade – rebati.

— Nem todo mundo mora em uma cidade de pouco mais de 150 mil habitantes. E esse nem é da loja da minha mãe. Ela não vende moda praia... até que seria legal se vendesse.

Reparei em sua vestimenta. As partes centrais e as alças pretas da parte de cima, contrastavam com a parte creme de crochê, que estavam presentes em uma larga tira no sutiã e na calcinha. O biquíni foi praticamente feito para ela! Favoreceu seu corpo, que não é robusto, nem magro. Alguns poucos quilos a mais, que de forma alguma tira sua beleza! Inclusive, não consigo imaginar Lohanna mais magra... estragaria a forma fofinha, mas ao mesmo tempo com traços fortes, de seu rosto.

— Bonito biquíni – comentei.

— Eu trouxe alguns outros, posso te emprestar... são novos, ainda nem usei.

Conhecendo Lohanna, metade das malas que estão no trailer, são dela.

— Quero não, mas obrigada.

— Você que sabe... se mudar de ideia, é só falar comigo.

— Aham – falei, assentindo.

Olhei em volta procurando por Beatriz. Atrás do trailer pude ver duas pessoas conversando, uma delas com um pequeno coque de escuros cabelos e ombros largos. Eric. A outra pessoa, provavelmente Bia, está atenta, como se estivesse procurando algo.

Lohanna encarava o professor, que conversava distraído com alguns alunos.

— O amor está no ar – falei, com a voz da mulher do google tradutor.

— Certamente – falou, apontando para Eric e Bia.

Continuavam apenas conversando. Claro que Lohana iria tentar mudar de assunto.

— Para de tentar mudar o assunto. Mas afinal, o que aconteceu entre você e o professor? – Perguntei.

A única coisa que eu sabia é que tinham se beijado. E só sabia porque quase sem querer li a conversa do professor com ela, em seu celular.

— Ah não! Eu já sei que você beijou ele! Agora que sei o principal, conta o resto! – Ela hesitou. – Conta, ou conto para tudo mundo que vocês deram uns beijos, língua com língua, bitoca – ameacei.

— Você não faria isso!

— Arrisca – desafiei.

— Merda, Alana! Eu só beijei ele algumas vezes na festa e depois na escola. – Falou baixo e rápido.

— Na escola?

— É mais foi só uma vez, faz tipo... uma semana.

— Eu não ia contar – afirmei.

Ela riu.

— Eu sei. Bitoca? Sério? – Perguntou.

Eu ri.

— Pois é. A vida tem dessas, de nos colocar um vocabulário de avó uma vez ou outra – zombei.

— Com você é quase sempre – ela riu.

Parei para pensar.

— Espera, uma semana? Mas você já estava com Gerald!

— Acha mesmo que o Gerald vai para as festinhas dele e não fica com ninguém? – Perguntou.

— É... ele tem esse histórico – falei. – Mas isso não justifica, Lohanna. Conte para ele ou eu conto e dessa vez é sério.

— Conte.

Lohanna voltou a encarar o professor, ou alguma coisa por ali e eu continuei a observar minha amiga conversar com Eric.

Lohanna não conseguia disfarçar seus olhos perdidos em nosso professor, isto se ela tentasse. Quando Beatriz e Eric se afastaram um do outro, por um segundo, os olhos do garoto cruzaram com os meus, meio alarmado por perceber que eu observava os dois. Bia por outro lado, conseguiu disfarçar bem seu segredo com o garoto, já que se dirigiu até um grupo de garotas com tranquilidade, ignorando meus olhos que a seguiam durante o trajeto. Distraída, finalmente prestei atenção no que nos cercava. Uma grande costa de areia branca se espalhava por nossos pés, entrando entre os dedos dos que ficavam descalços. O mar era cristalino e imenso e se misturava com o céu azul sem nuvens, com o sol brilhante bem no topo. Era realmente um dia típico de verão, quente e iluminado. Eric surgiu ao meu lado, com o cachorro que nos acompanhou até ali. O garoto me olhou como se não estivesse de segredos com minha melhor amiga, então resolvi fazer o mesmo. Acariciei o cachorro ainda ferido e depois olhei para Eric com as sobrancelhas erguidas.

 - Vocês não encontraram nada para ele? - Perguntei.

 - Mais ou menos - falou - O professor pediu para que eu procurasse algas para pôr nas feridas dele, mas como foi a você quem ele seguiu, nada mais justo que...

— Você quer que eu procure - supus e ele sorriu, assentindo.

 - Acho que se formos em dois, encontraremos mais rápido. - Ele deu de ombros. - Ótimo, você vai para a esquerda e eu irei para direita - decidi, Eric revirou os olhos como se não fosse exatamente o que esperava, mas não discutiu.

 O cachorro se deitou na areia ao lado de Lohanna e lá ficou.

— Espera, por que você vai para a direita? - Perguntou por fim, ignorei sua pergunta e comecei a me dirigir ao mar. A esquerda nunca me dava sorte, mas eu não sentia vontade alguma de explicar isso para ele.

 - Acha mesmo certo andar sozinha por aí? - Gritou Eric, já perto de algumas rochas.

— Qual é, tem medo de se perder? - Gritei de volta, de maneira irônica. Ele ergueu os braços como que se rendendo e, pelo movimento de seus lábios, praguejou antes de desaparecer pelas grandes rochas nas quais estávamos um tempo atrás.

 Uma dúvida me surgiu, então corri atrás dele. Ele não me dissera o que nós estávamos procurando... dissera?

— Qualquer alga serve? - Perguntei quando finalmente voltei a ver as costas largas de Eric entre as rochas.

 - Nem pensar – falou. - Tem que ser alga vermelha, que é um anti-inflamatório natural.

— Acha que tem disso por aqui? - Franzi o cenho. Eu mal tinha visto algas, quem dirá algas vermelhas.

— Acho que estão dentro disso - ele colocou as mãos em meus ombros, fazendo-me girar sob meus calcanhares, direcionando meu olhar para o mar. - Está pronta para um mergulho? Molhar suas roupas não será um problema?

 Emiti um som de desdém e afastei as mãos dele de meus ombros, me virando para encará-lo.

 - Você iria me deixar quanto tempo andando pela areia de forma inútil, procurando por algo que certamente nunca iria achar? - Perguntei de forma áspera. Um grande sorriso preencheu seus lábios, o que me deu vontade de socar até seus dentes brancos caírem. Como ele podia ser tão irritante? Me contentei empurrando o ombro dele com força, o que fez o seu sorriso se alargar ainda mais.

— Às vezes elas se soltam e vem para a margem - explicou, mas era óbvio que não havia cogitado tal hipótese.

— Tenho certeza disso...

A medida que andamos Eric avaliava se a água teria a alga certa ou não; até agora só foram nãos.

— Eu tenho certeza que já passamos por milhares de algas da espécie certa, e você está desperdiçando meu tempo, indo para longe – falei, enquanto via a pedrinha que estava chutando desde o início do caminho, se distanciar.

— Você tem certeza de muitas coisas. – Afirmou.

— Olha só, se é para ficar jogando indireta do que eu fiz ontem, fala logo. Se não for falar, cala a porra da boca – ele me olhou surpreso. – Ah é, o cala a porra da boca é uma coisa minha e do Gerald, releva.

— Pelo menos não sou homofóbico.

— É o que você diz.

Continuamos andando e chutando pedrinhas.

Algo em mim começou a tremer. No meu short. No meu bolso.

— Ai sim! – Falou Eric.

Olhei para ele sem entender, então percebi que ele se referia a água.

— Aqui tem a tal alga? – Perguntei.

— Sim.

— Ótimo.

Coloquei meu celular na areia e fui entrando no mar.

— Espera!

— O que foi? – Perguntei.

— Vai molhar sua roupa mesmo? – Perguntou, olhei para ele sem entender. – Tipo... não trouxe biquíni?

— Ah claro, meu super-biquíni! Como eu pude me esquecer? Deixei ele no bolso e não coloquei! Mas vou colocar aqui e agora, ok? Está bom para você? No padrão Fisher? – Perguntei, ironicamente.

— Para mim parece ótimo!

Ignorei e continuei indo em direção ao mar. Ele correu na água, espirrando água em mim na medida que corria.

— Desgraçado! – Exclamei, esfregando meus olhos que agora ardiam.

Ele não ouviu, pois estava ocupado demais encarando a areia abaixo de seus pés, mergulhou e voltou com um bolo de algas na mão.

Eric me olhou com um sorriso orgulhoso no rosto.

— Vai ficar me admirando ou irá procurar? – Perguntou, semicerrando os olhos devido ao sol.

O garoto estava todo molhado, seu pequeno coque havia desmanchado no mergulho e agora seus cabelos caiam no pescoço. Seus cílios molhados acabaram por dar mais brilho aos seus olhos claros, tirando o foco da sua boca sempre machucada e intensamente vermelha.

Nesse ângulo, preciso admitir; ele é bonito.

— Isso aí já não é suficiente? – Perguntei, abaixando a cabeça para procurar mais e tentar dar um novo foco aos meus olhos, que estavam embaçados devido a claridade.

— Não, precisa do quíntuplo disso.

— Ele sabe contar, que amor! – Resmunguei impaciente.

— Ele sabe mais coisas do que você imagina - Argh! - Talvez essas sejam as melhores 48 horas das nossas vidas, antes da faculdade. Você está nervosinha demais.

— Talvez porque eu esteja desperdiçando aqui e com você.

Continuei procurando as algas até lembrar: meu celular vibrou. Aqui tem sinal.

— Glória a Deus! – Comemorei. – Já volto – falei, entregando as poucas algas que tinha achado, para ele.

Tentei correr para espirrar água nele, mas não adiantou nada porque a) ele já estava todo molhado e b) minhas pernas não tiveram força suficiente. Já na areia, peguei meu celular e fiz uma ligação.

Terminei a ligação às pressas pois Eric já estava saindo de lá, com as mãos cheias de algas, porém um sorriso brotava em meus lábios.

 


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Notas finais do capítulo

E esse Eric, hein!? Estão gostando? Não deixem de comentar!
XOXO.



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