Ele observa os filetes grossos de água caírem sobre o asfalto em sucessão, encostado contra a parede ao lado da entrada da escola. 

Adrien não pode nem dizer que fora má sorte ter sido pego desprevenido pela chuva - pois tinha certeza que qualquer pessoa perceberia o perigo mais cedo, com nuvens espalhadas por quase toda extensão do céu. Ele só saíra apressado demais, tendo perdido a hora depois de ter dormido tão tarde no dia anterior. 

Mas, bom, não há nada o que ele possa fazer agora. Instintivamente, ele começa a contar os pingos de chuva, dirigindo os olhos verdes para o chão.

Pit, pat, pit, pat, pit...

São dias assim que o deixam um pouco nostálgico.

Eram nesses dias, quando a chuva batia nas janelas grandes da mansão Agreste com força, que sua mãe e ele tinham essa pequena rotina de passar a tarde juntos. Ambos leriam histórias sobre príncipes e dragões enrolados em cobertores, invadiriam a cozinha para fazer biscoitos e tomar chocolate quente, se reuniriam no quarto para ver seriados na televisão.  

Ao fim da tarde, sua mãe sempre parava pelo piano, tocando uma melodia no som do bater dos pingos de chuva que caíam lá fora. Seu pai costumava descer, mais ou menos nessa hora, comentando sobre a falta de ritmo com um sorriso de canto no rosto. Mesmo assim, ambos sempre paravam para observar os dedos finos dela deslizarem pelas teclas, até que a chuva ou a melodia em si tivesse seu fim.

Agora, caso voltasse àquele mesmo quarto, ele só encontraria o silêncio.

O desaparecimento da pianista não tinha levado a melodia embora, porém. Ela só o ajudara a encontrar outra, que tocava no fundo de sua mente, nas batidas em seu peito, nos passos que vinham o alcançando por trás.

— Adrien?

O loiro vira o rosto para a direita, onde Marinette acaba de posicionar-se ao seu lado.  Ela tem um olhar confuso no rosto, e um sorriso de canto nos lábios.

— Esqueceu o guarda chuva?

— Ah, bom... Eu e minha má sorte, não é. - Ele dá de ombros, abrindo um sorriso meio torto em resposta. - E eu também nunca me atreveria a ir nessa chuva sozinho, seria uma catástrofe.

Ela revira os olhos, como parece fazer cada vez mais perto dele naqueles últimos meses, mas seu sorriso ainda está intacto quando a garota dá dois passos à frente e abre seu guarda-chuva vermelho de bolinhas pretas.

— Acho que minha sorte parece balancear a sua, então, - Os olhos azuis dela brilham em uma piada não feita, e suas mãos se estendem para cobri-lo com o guarda-chuva. - Por que eu trouxe um grande o suficiente para nós dois.

Ele encara brevemente a garota, tão vibrante em meio às cores frias que se espalham ao fundo, e sua mente volta brevemente para quase um ano atrás, naquele mesmo lugar. Naquele dia, o ar de inseguridade ainda os permeava, e tudo que Adrien queria fazer era ganhar o perdão de sua nova colega de classe... e talvez de uma de suas primeiras amigas.

 Amiga é uma palavra que não parece ser o suficiente para defini-la agora, porém. Não quando, ao olhar para a garota à sua frente, de coração de ouro, determinação inigualável e absolutamente incrível, a primeira palavra que vem à sua mente é lar.

Dessa vez, quando ela estende sua mão, ele a segura no cabo do guarda-chuva e não a deixa ir. O vermelho que pincela seu rosto só é incentivo para que ele se curve e plante um beijo em sua bochecha.

— Então... chocolate quente e biscoitos na minha casa? - Marinette oferece, o céu azul que está faltando naquela tarde presente em seus olhos azuis.  

— É uma ótima ideia, minha Lady. 

Ele sorri, e ambos começam a andar, uma melodia nova tocando nas batidas de seus passos juntos pelo asfalto.

Dias assim podiam lhe trazer memórias, mas nada nunca se igualaria ao presente.