Uma carruagem atravessa na noite quente do verão tropical, uma noite solitária e fugida. Seus cavalos trotam com pressa contida enquanto um único ser observa as estrelas sentada em cima da carruagem sentindo a brisa quente afagar seu rosto.

Lúthien tem uma expressão de tristeza que cortaria até mesmo o coração de Apófis. Em sua mente imagens dos últimos acontecimentos... Lilian Azzure entediada na janela, Mennie falando através dela, Airi esfaqueado-a e perdendo a consciência, Naalan hemorrágico sobre a mesa. Suspira sentindo um frio na barriga ao lembrar de Hadval em sua mente, que na verdade era Mennie, mas a imagem dele a fez voltar para uma época onde as coisas eram surpreendenente mais simples. Sente ódio ao lembrar do olhar de desdém de Violeta e o quando ainda está longe dela. Seu pai saindo do meio daquele caos de sangue, corpos e vísceras. Pensa em Redar perdendo um olho por sua culpa e Leir o abraçando aos prantos...

Leir... Lúthien sente uma fisgada de culpa em suas entranhas, o beijo que não deveria ter acontecido. Foi ele que a beijou em um momento conturbado, mas ela deveria tê-lo parado, deveria ter evitado. A carência nunca seria uma desculpa.

Então inevitavelmente pensou em Lenyan... Sente uma pontada no coração, paixão, saudades, ciúmes, preocupação, tudo de uma vez.

Ela senta sobre o teto da carruagem e uma lágrima rola pelo seu rosto. O homem por quem estava apaixonada, o homem que lhe tirou a razão e o bom senso de formas que ela nem imaginava ser possível... O homem que literalmente deu o sangue por uma causa dela e que não tinha nada a ver com ele. Ela se sentiu suja e ingrata por ter deixado outro homem que não fosse ele tocar seus lábios.

Por mais que o sentimento de culpa fosse grande, a saudade era maior, os olhos verdes risonhos lhe encarando na escuridão do submarino chamado Prisão, ele sendo ferido mortalmente por Hadval e ela implorando para que este salve a vida dele, antes de embarcarem no Vento do Oriente, ao lado de fora de Vals, ela o beija e eles afundam na água do mar... O primeiro beijo, nunca imaginaria que se envolveria tanto com alguém após aquele primeiro beijo tão descompromissado...

Ela se senta e desdobra o desenho que Lenyan fez dos dois juntos deitados e abraçados em uma rede, ela observa sob a luz do luar, sente mais lágrimas descendo. Ela guarda o desenho para que não molhasse.

Ela coloca as mãos sobre o rosto e começa a chorar copiosamente, entre soluços dizia o nome dele.

— Lenyan... Lenyan!

Lúthien sentia seu peito destroçado pela saudade e chorou até perder as forças ali mesmo sob o teto da carruagem.

Timothy ouviu os soluços de dentro da carruagem, mas não foi interromper, ele olha para as próprias mãos triste, mas determinado, ele tinha uma dívida e iria pagar, mas independente dela, sua filha seria feliz com quem escolhesse.

— Lenyan... Onde está você?
Ele murmura e logo em seguida também adormece.