O sol já estava brilhando no céu, os habitantes daquela vila já estavam acordados fazendo coisas de seu dia-a-dia. Porém a demônio de cabelos esverdeados ainda dormia calmamente não mostrando sinais que iria acordar. Assim continuaria se não ouvisse alguém lhe chamar.

— Yosa...fire... Yosafire...

Hum...? Alguém está me chamando...? Pensou a demônio ainda sonhando.

— YOSAFIRE! – Alguém gritou seu nome, sendo que a demônio acordou em um salto.

— PRESENTE! – Gritou em resposta levantando seu braço esquerdo. Olhou para o lado avistou sua amiga Froze com uma expressão não muito boa em seu rosto. – O que? Froze?

— Você só sabe dormi Yosafire?! Estou te chamando há muito tempo! – Exclamou a anjo com clara raiva em seu rosto.

— Mais por que isso tudo? – Perguntou ainda confusa.

— Você esqueceu? Temos escola hoje! – Disse Froze com impaciência.

— Ah... Que?! Estamos muito atrasadas! – Gritou Yosafire com desespero.

— Pare de se lamentar! Se arrume logo! – Falou Froze puxando a amiga para fora da cama.

Yosafire se arrumou o mais rápido que pode, colocou sua boina e seus óculos e foi arrastada para fora de casa pela anjo. Correram até sua escola chegando lá muito ofegantes, andaram rapidamente até sua sala e abriram a porta. Suas amigas Macarona, Ramberry, Dialo e Chelan já haviam chegado e ouviam aula assim como os outros anjos e demônios daquela sala de aula.

Quem dava aula era Sra. Greif para a infelicidade de Yosafire. Olhou para as alunas que haviam chegado e logo se pronunciou:

— Estão um pouco atrasadas, não acham? – Disse num tom repreendedor caminhando até as garotas.

— Nos desculpe. Não voltará a acontecer. – Se desculpou Froze pelas duas curvando-se.

— Vou fazer vista grossa por hoje. – Falou Greif cruzando os braços. – Porém, quero ver a tarefa das duas.

Yosafire gelou. Froze pegou sua tarefa feita e entregou para a professora, ela deu uma breve olhada e devolveu o caderno para a garota. Olhou para Yosafire que se manteve imóvel e estendeu a mão para ela.

— Sua tarefa, Yosafire. – Pediu Greif. Yosafire sorriu nervosa.

— S-sobre isso Sra. Greif... – Começou Yosafire suando frio. Greif não esperou a resposta, apenas disse:

— Te vejo depois da aula Yosafire. – Sorriu voltando a dar sua aula.

Yosafire abaixou sua cabeça derrotada enquanto Froze balançava a cabeça em repreensão. Parece que Yosafire sempre será do jeito que é. Pensou Froze por fim sentando-se em seu lugar de sempre sendo seguida pela amiga que fez o mesmo.

***

A aula passou normalmente e como sempre, Yosafire arrancava ervas daninhas do jardim. Arrancava uma por uma querendo logo terminar aquilo e ir pra casa, porém tinha um longo caminho de ervas daninhas para arrancar.

— Droga, por que esse tipo de coisa sempre acontece comigo? – Se lamentava enquanto tirava mais uma erva do chão.

— Por que você nunca faz a tarefa. – Respondeu Froze que a esperava sair do castigo.

— Como assim ‘nunca’? Eu faço às vezes! – Exclamou Yosafire tentando tirar mais uma.

—... Ano retrasado você diz? – Pergunta Froze retoricamente. Yosafire suspira chateada voltando a arrancar as ervas. – Você devia fazer suas tarefas.

— Mas elas são muito difíceis! Não fale como se eu não tentasse. – Choramingou a demônio. A anjo pensou um pouco e logo disse:

— Olha, quando terminar vá para a sua casa e faça suas tarefas. Estou cansada. – Declarou começando a sair daquele lugar.

— Ei, você não vai me esperar? – Perguntou meio triste.

— Termine sua responsabilidade sozinha. – Falou olhando para Yosafire séria, logo saindo dali.

Yosafire não escondeu um suspiro triste. Froze muitas vezes a esperou terminar o castigo, ela não tinha obrigação nenhuma de ficar ali. Yosafire não teria voz para reclamar com ela, porém se sentia triste de sua amiga ter meio que a abandonado. Yosafire depois de algum tempo terminou seu castigo e comunicou Greif de seu feito. Logo começou seu caminho de volta sem a amiga.

Chegando em sua casa, queria logo se deitar pois o trabalho havia lhe cansado. Porém lembrou-se do que Froze havia lhe dito: ‘vá para sua casa e faça suas tarefas’. Mais trabalho... Pensou Yosafire sentando-se na cadeira da mesa de seu quarto. Antes que começasse sua tarefa, viu um recado em cima da mesa pegando-o.

— ‘Vá para casa da Dialo e traga seu caderno’. – Leu em voz alta um tanto curiosa. – ‘De: Froze’. O que ela quer? – Perguntou para si mesma.

Sem mais perguntas, apanhou seu caderno e saiu em rumo à casa de Dialo. Chegando lá, bateu na porta três vezes e esperou ser atendida. Depois de pouco tempo, a porta foi aberta por Chelan que parecia feliz em vê-la.

— Oi, Chelan! Froze está aqui? – Perguntou para a pequena anjo.

Chelan balançou a cabeça positivamente e fez um gesto pedindo para Yosafire entrar. A demônio aceitou o pedido e ao entrar, todas estavam lá.  Macarona avistou a amiga e logo lhe saldou:

— Olá Yosafire! – Sorriu.

— Olá Macarona! – Logo percebeu que a mesa estava com alguns livros e cadernos, também sentiu cheiro de torta de maçã. – O que é isso?

— Vamos te ajudar a estudar. – Declarou Dialo. – Eu estava fazendo torta de maçã como um pequeno estímulo para você.

— Macarona disse que eu também preciso estudar. – Disse Ramberry de bruços em cima de alguns livros abertos.

— Eu sinceramente não sei se está dando certo... – Sussurrou Macarona, mas foi ouvido pela demônio de cabelos rosados, que apenas deu um sorriso despreocupado.

— Muito, muito obrigada! – Agradeceu Yosafire com um sorriso estampado em sua face. – Quem teve a ideia disso tudo?

— A Froze. – Ramberry apontou para trás de Yosafire.

Aos poucos, se virou deparando-se com Froze.

— Você voltou sem mim... Por que... – Yosafire começou a falar com uma voz chorosa.

— Você estava tendo problemas com a escola. Então achei que se você tivesse alguma ajuda, ficaria mais fácil. – Explicou Froze com as bochechas um pouco coradas.

— EU TE AMO FROZE! – Gritou Yosafire abraçando fortemente a amiga.

— E-ei! Yosafire, não precisa ser tão exagerada! – Tentava se soltar de sua amiga demônio sem muito sucesso.

Depois de algum tempo começaram a estudar. Tiveram alguns inconvenientes como Yosafire se distraindo facilmente com qualquer coisa, ou pedindo para repetir a mesma coisa quatro vezes seguidas, Ramberry as vezes acabava dormindo no meio de alguma explicação, coisas assim.

Teria sido cansativo para elas, porém estavam se divertindo bastante. As próximas horas se passaram dessa forma. Quando começará a ficar tarde, todas decidiram voltar para suas respectivas casas. Mas antes disso:

— Ei, vamos fazer uma promessa! – Pediu Yosafire.

— Uma promessa? – Perguntou Dialo sendo acompanhada por um semblante de duvida vindo de Chelan.

— Sim! Vamos prometer sempre ser amigas, não importa o que aconteça! – Disse Yosafire com um sorriso animado.

— Parece divertido. – Riu Macarona.

Colocaram as mãos em um centro, fecharam os olhos e disseram:

— Vamos sempre lembrar uma da outra. – Yosafire começou.

— Não importa se nós estivermos longe. – Falou Macarona.

— Ou os problemas que teremos que enfrentar. – Pronunciou Froze.

— Seremos fortes juntas. – Disse Dialo.

— E comeremos deliciosos morcegos. – Falou Ramberry. Todas olharam para ela com reprovação.

— Err, não mesmo. – Disse Yosafire.

— Hum, então... Estaremos unidas na felicidade ou na tristeza.

—... – Tudo foi completado pelo silêncio de Chelan.

Todas abriram um sorriso, até mesmo Froze. Tudo continuaria assim se Yosafire não tivesse virado bruscamente em direção à porta. Caminhou até a mesma e a abriu, não tinha nada de anormal lá fora.

— Tudo bem Yosafire? – Perguntou Froze.

—... Tive um mau pressentimento. Como se alguém estivesse nos observando.

— Talvez fosse um fantasma. – Sugeriu Ramberry.

— U-Um fantasma?! – Yosafire falou assustada.

— Você não tem medo de fantasmas. – Disse Froze.

— Uh, é mesmo! – Animou-se.

Depois disso, todas voltaram as suas casas. Yosafire realmente demorara a pegar no sono, pensando no o que aconteceu um pouco antes. Será que eu estava vendo coisas? Estudar tanto deve ter me dado alucinações. Um tanto convencida com esse pensamento, finalmente conseguiu ir para o mundo de seus sonhos.

***

Enquanto a vila inteira dormia, uma garota se escondia entre algumas casas. Era um ser com uma aparência não muito diferente dos habitantes dali. Estava séria, mas logo relaxou os ombros. Não fui descoberta pensava aliviada. Preciso relatar minhas observações para ele agora...

Apressava-se em sair daquele local. Quando se preparava para ir à floresta, olhou para trás observando a vila por uma última vez. Com um suspiro e olhos talvez cansados, talvez tristes, desapareceu na densa escuridão causada pelas altas árvores da floresta.