Voien desceu de seu Sieg  parecendo uma flecha. Estava atrasado para a aula. Justo na direção dele corria também um trio: um casal de jovens e uma adolescente no rastro, carregando uma lata aberta. No centro da pista de entrada da Estação Escolar MUNDUS, o rapaz e a última corredora deram uma cabeçada, projetando-se cada um para o lado ao que corriam.

Uma moeda caída da lata rolou diante de Voien e ele aproveitou o embalo para pegá-la. Porém, quando se voltou para gritar pela dona, ela já estava na porta de seu carro. Era Priet Águia, que olhou seriamente para o estudante e embarcou ... tão rápido que só se viu uma mecha de seus longos cabelos negros voar pela janela do Sieg (Sistema Independente de ejeção guiado) e o auto-flutuante saiu rumo às terras do leste.

Voien Braemak _em sua língua - Voien dos Padeiros _ tinha aula de bastão  luminoso naquela tarde e a ESCOLA DE ARTES DE DEFESA não permitia atrasos. Então colocou a moeda no bolso e esqueceu ali.

O padeiro, como era chamado entre seus colegas, alinhou-se entre Snock e Dimblien, com gotas de suor escorrendo pela testa. O bastão, de sua altura, acendia em amarelo como os de seus companheiros, mas os das moças alinhadas diante deles eram brilhantes como diamantes acesos. Em trinta minutos os rapazes atacavam e nos trinta seguintes, as moças.

Voien era o mais esguio dos rapazes da sua turma. Eram do estágio II, mas o término do ano 2410 já estava próximo e logo o último estágio viria. Não era seu esporte favorito o dos bastões luminosos, mas era o melhor nessa habilidade devido às técnicas que aprendia com seu pai no trabalho da padaria.

Naquela tarde estava lutando com Aniel, sua própria irmã; portanto teria que se superar para conseguir ganhar. Seu próprio pai preparava a garota e ela era também, das meninas, a melhor naquele esporte.

Distraído desde o incidente com Priet, ele perdeu facilmente, e foram embora, os quatro, em gargalhadas pela noite que se iniciava.

—_ Ninguém ganha dos padeiros no bastão, exceto eles mesmos __ disse Dimblien.

—_ Há muitos segredos na padaria que não conhecemos __ completou Snock.

Eles seguiram para a Estação Z, nos seus Siegs individuais, em alta velocidade.

A Estação Z era o maior bairro da Cidade-Independente de Behon, uma península da costa norte, no antigo continente da América, agora chamado Continente Novo Solis. Em Behon, havia pouco mais de 20 bairros, alguns particulares outros públicos, como a Estação Beta, o bairro escolar de onde vinham, naquela noite, os garotos da Z.

Entraram no elevador central às 8:00, uma cabine bastante espaçosa, onde cabiam de vinte a trinta passageiros, e foram descendo em seus respectivos andares. A padaria ficava no último andar da estação. Os irmãos padeiros logo se juntaram aos funcionários para despachar os últimos pedidos da noite.

Voien dividia o quarto com o primo Deckha, de 12 anos, que era o jovem matemático já especializado em Data, administrador financeiro da padaria. Mas naquela noite o menino falava sozinho, pois o padeiro não tirava os olhos da moeda de ouro que segurava nas mãos. De um lado se via impresso: 10 tips – Cidade-Independente de Endelow do Leste. Do outro lado, apenas a face do Príncipe Seew, o carismático governador daquela cidade. Seew, que ali na moeda ainda era um jovem de 17 anos. Agora já contava com mais 15, o tempo de governo em Endelow, onde cumpria seu terceiro e último mandato.

O padeiro passou o 10º mês do ano segurando aquela moeda todas as noites e algumas dessas noites se passaram também em sonhos com uma mecha de cabelos negros...