-Uniforme? –apontava para as peças de roupa penduradas e prontas na cadeira da escrivaninha. –hm... Acho que isso é tudo. –Terminava de fazer minhas anotações sobre o material no bloco de notas e me jogava de bruços na cama de solteiro. Por causa de minhas notas boas no Brasil, ganhei vários convites de bolsas... Mas esse seria o único fora do país, e meus pais acreditaram que seria melhor se eu tivesse alguma experiência internacional, quem sou eu pra questionar né? Finalmente estava no dormitório da escola, apenas os bolsistas moravam lá. Meus pais pagavam o aluguel, metade na verdade... parte da bolsa também cobria minha vida aqui.

Suspirei. “O que eu estou fazendo aqui?”, “Será que as matérias são como lá no Brasil?... Oh Serena não seja estúpida, é claro que não são...” Eu me questionava. Me ajeitei na cama e rolei na mesma até finalmente cair no sono. Não me lembro de ter sonhado com nada, na verdade a noite passou inacreditavelmente rápido e logo meu despertador estava a tocar. Rapidamente me levantei, lavei o rosto e me vesti. Pegando minha mochila saí de meu quarto andando em direção á lanchonete do dormitório onde estava sendo servido o café da manhã. Meu apetite não era dos melhores, comi pouco e fui logo para a cerimônia de apresentação. Tudo lá era diferente das escolas do Brasil, isso não é novidade, mas eu estava começando a ficar nervosa com tudo aquilo... Nunca tinha falado coreano antes, mesmo com as aulas  que tive algumas semanas antes de vir pra cá, era realmente difícil entender tudo que eles falavam... Eu definitivamente teria aulas particulares de Coreano no final do período.

Enfim a cerimônia acabou, todos saíram do ginásio e estavam liberados pelo resto do dia. Foi mais rápido do que eu pensei. Enquanto todos saíam calmamente pela porta principal, comecei a observar as pessoas à minha volta... Todos asiáticos... “Será que eles tem algum tipo de preconceito com ocidentais?” mais perguntas se formaram na minha cabeça. E então eu reparei... Um garoto em particular. Ele parecia tímido, estava quieto, parecia sozinho. “Aluno novo também?” Dei de ombros, não era de meu interesse saber da vida de quem quer que fosse.

O dia passou rápido, assim que eu notei já estava acordando no dia seguinte e começando a rotina novamente. Ao chegar na sala de aula, me surpreendi ao ver vários grupinhos já formados. Todos me olharam assim que entrei, mas logo ao sentar todos voltaram á conversar. “Definitivamente notaram que não sou daqui.” Me perdi em meus pensamentos pelo resto da aula. O sinal para o intervalo toca, já era hora... eu estava faminta. Me levanto e vou em direção á porta quando sem querer tropeço no pé da mesa, caindo de cara no peito de um garoto que também estava saindo da sala...

—O-oh... D-desculpe. –Disse sem levantar o rosto, apenas me afastando, mantendo meu corpo curvado. Meu coreano era horrível... “Será que ele me entendeu? Espero ter usado a formalidade certa...”

—Não foi nada. Você está bem? –Foi realmente difícil de entender, mas sua fala calma ajudava um pouco. Me ajeitei em pé lentamente, a cabeça seguia o corpo. Não consegui deixar de fazer uma expressão surpresa assim que o vi “É o mesmo garoto de ontem! ... Seja normal, Serena... normal. Fiz de tudo para não parecer estranha, forcei um sorriso.

—Sim, sim. D-desculpe de novo... –Mais uma vez me curvei, dei meu máximo para não olhar diretamente nos olhos do garoto. Me virei e saí, indo para a lanchonete. Eu estava ofegante? “Que vergonha!!” Logo no primeiro dia de aula, típico. Não consegui deixar de notar na beleza daquele rapaz... Ele tinha um olhar diferente dos outros, sem contar que pela sua expressão, ele estava com mais vergonha do que eu. Deixei escapar uma risadinha, “O que é isso Serena? Está gostando dele?” Ri novamente, “Claro que não... Não vamos exagerar...” Meu coração palpitou, fechei os olhos. “Isso é sério?” A imagem do rosto dele não saia do meu pensamento.

—M-mas.... Isso não é possível... –Acabei pensando alto (e o pior, em português!) no meio da lanchonete, todos que ouviram me olharam no mesmo instante com um ar de desaprovação. “Pronto... é agora que eu começo com minha fama de ‘isolada’.”. Respirei fundo e fui até a máquina de bebidas.