Destino escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 19
Capítulo 18




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/680583/chapter/19

Os gritos das araras acordam Ashley que precisa acender a luz do seu abajur para conseguir enxergar seu quarto diante da escuridão que ainda predomina. Ela esfrega seus olhos e então caminha em direção a janela para abrir e deixar que sol entre , trazendo um novo dia, o que não acontece.

Assim que abre , encontra o céu estrelado, com a lua já distante e ,no horizonte, uma leve faixa alaranjada, encantando a jovem que se debruça para admirar aquela cena que mais parece uma pintura. Porém a contemplação não dura muito, pois o barulho de passos que vinha do corredor chama atenção de Ashley. Não é possível que todos estejam acordados em plena madrugada, pensa enquanto anda até sua porta, abrindo para ver o que está acontecendo.

— Bom dia , My Lady – cumprimenta Murilo, sorridente parado em frente a porta da loira que se assusta. —  Espero que tenha conseguido descansar.

— Sim. E ainda tive a grata surpresa de ser acordada por pássaros – explica Ashley.

A jovem  encara Murilo que a analisa dos pés a cabeça assim como a Lady de Argyll o faz , curiosa para saber por que Murilo estava com traje semelhante ao que Fabiano usava na noite anterior. Além da sacola de plástico que o jovem Wilkinson segurava com uma das mãos, enquanto a outra segurava uma caneca de alumínio esmaltada deixando o cheiro de café impregnar as narinas da loira que aprecia.

— Você deve estar falando das araras azuis que estão lá fora – comenta Murilo. Ele oferece a caneca de alumínio — Beba isso, pois teremos um longo dia pela frente.

— Tudo bem – responde Ashley aceitando a caneca enquanto fecha sua porta, até que o Murilo coloca o pé impedindo — Precisa de mais alguma coisa, Your Grace?

—  Você trouxe algum traje de montaria? – pergunta Murilo observando a expressão de surpresa surgir na face de Ashley.

— Eu não contava com um traje tão... específico – responde Ashley enquanto tenta imaginar qual traje social seria sacrificado para a ocasião.

— Tome. Aqui estão algumas roupas e uma bota para que você possa usar até que vá à cidade. – responde Murilo entregando a sacola.

— E quando será isso? – questiona Ashley tentando disfarçar seu nervosismo.

— Qual  é o interesse?

— Pergunto por ser óbvia a minha necessidade de comprar roupas mais... Adequadas. – responde Ashley, de certa forma, sincera.

— Não demore – pede Murilo enquanto se afasta sem responder a pergunta.

Será que ele desconfiou de algo? se pergunta Ashley caminhando em direção a sua cama. Ela toma um gole do café, saboreando o gosto da bebida que considerou muito gostosa, apesar de forte. Leva sua caneca nos lábios mais uma vez enquanto sacode a sacola, deixando as roupas caírem em cima da cama. Segura uma peça jeans com a mão direita, cuspindo o café ao mesmo tempo:

— Oh Shit!

****

A mesa de madeira talhada de Fabiano está coberta por um enorme mapa que é vistoriado com cuidado pelo dono da fazenda, Sofia e agora Murilo que regressou a sala, retomando sua posição de frente para o mapa.

—  Você realmente fez um belo trabalho, Fabiano – elogia Sofia apontando para o mapa — Está tudo incrivelmente detalhado, com todos os 153 sítios arqueológicos.

— Sim, mas o nosso foco  estão nesses aqui. – explica Fabiano apontando apenas para uma parte em destaque do mapa — Como você pediu.

— Exatamente, pelo menos conseguiremos ter acesso em 10 deles. – comenta Sofia, suspirando. —  Que são os ideais para a minha  exposição... e para o seu projeto, Murilo.

— Nove – corrige Fabiano chamando atenção dos outros dois.

— Nove? Você está querendo dizer que... – começa Murilo sem querer acreditar que as palavras de Fabiano serão exatamente naquilo em que está pensando.

— Até o começo dessa semana, o sítio principal estava completamente submerso...

— Nós ficaremos cinco semanas aqui, Fabiano – explica Murilo sacudindo a cabeça, contrariado — Não é possível que ele fique submerso por tanto tempo.

— Bem vindo ao Pantanal, Murilo – ironiza Fabiano tocando no ombro de Murilo.

— Isso é um absurdo, Carvalho – alega Murilo, transtornado — Eu adiei esse processo por muito tempo e você me garantiu que dessa vez  conseguiria ter acesso aquele sítio, pois as condições estariam perfeitas.

— Eu sei , Gouvêa. – Fabiano. — Mas...

— Você entende que esse sítio é a minha carta na manga para fazer com que esse projeto seja um divisor de águas para a Decor,certo? Que se eu tiver sucesso com esse, outros projetos virão e finalmente traremos reconhecimento para a nossa verdadeira cultura.

— Eu sei, Murilo. Mas você precisa entender também que dependemos da boa vontade da Mãe Natureza. Ela é a senhora de todas as coisas e tempos. Se ela quiser que você descubra o que há naquele sítio, você descobrirá. Caso contrário...

— Bom dia a todos – cumprimenta Ashley entrando na sala, com cara de poucos amigos, chamando a atenção de todos.

Ela pára na frente dele mostrando a camisa xadrez feminina justa e o short jeans curto que foi obrigada a usar, além da bota de cano médio e uma bolsa a tira colo com algumas coisas para anotar o que ver no dia de hoje e o seu celular, apesar do aviso de Murilo. Seu rosto está vermelho e sua ira toma conta de seus olhos.

— Bom dia – responde Murilo sem entender a irritação da Lady de Argyll.

— Que bom que as minhas roupas serviram em você – comenta Sofia — Saiba que escolhi para você usar e se sentir mais... confortável. Olha como estamos vestidas iguais – finaliza Sofia mostrando estar com o mesmo tipo de traje, com a diferença de ter amarrado a camisa xadrez deixando sua barriga à mostra.

— Sim , mas... – começa Ashley sem graça — Eu não estou acostumada a me vestir assim quando estou a trabalho.

— Amiga, não sei se reparou, mas nós estamos no meio do nada – comenta Sofia — Pode ter certeza que os bichos não estão nem aí se você está usando Gucci, Dolce & Gabbana, Chanel... Relaxa.

— Tudo bem. De qualquer forma,  muito obrigada pela roupa – agradece Ashley. Ela caminha, curiosa, em direção a Murilo que está analisando o mapa com Fabiano — O que temos aqui?

— Esse é o mapa com os sítios arqueológicos que pretendemos visitar – responde Murilo observando o olhar surpreso de Ashley ao ver a quantidade de sítios que dominavam todo o mapa. Pelos seus cálculos,  nunca cinco semanas dariam para visitar todos aqueles pontos vermelhos — Mas não se preocupe, nós selecionamos apenas 10 sítios que foram considerados de suma importância para o pontapé inicial.

— Menos mal. É impressionante a proporção de material que ainda pode ser  analisado.

—Sim, o melhor é que você analisará cada um deles e espero que esteja preparada. Agora que tudo foi resolvido – comenta Murilo guardando o mapa — Podemos ir.

—Tudo resolvido? – pergunta Ashley, sem entender — Cadê a equipe? Não deveríamos ter um responsável da área para nos acompanhar?

—Nós somos a equipe – responde Murilo abrindo os braços — E temos o responsável pelo projeto.

— E onde ele está? – questiona Ashley cruzando os braços , incrédula. Tem plena certeza que Murilo está fazendo toda aquela expedição ilegalmente.

— Bem aqui – Fabiano se apresentando — Eu sou arqueólogo, representante do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, faço parte da diretoria do Museu da História do Pantanal e também sou professor na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul...

— Achei que você fosse apenas dono das terras... – alega Ashley,desconfiada.

— Sim, ainda tiro um tempo pra ser fazendeiro. Afinal de contas essas são as terras dos meus antepassados que me foi herdada – responde Fabiano.

— Seu Fabiano, os cavalos já estão prontos. – avisa Juvenal entrando na sala.

— Sanadas as dúvidas, já podemos ir? – pergunta Fabiano olhando para Ashley.

— Sim. – responde Ashley sem graça , enquanto observa todos saindo da sala, menos Murilo que ainda termina de guardar o mapa dentro da mochila. Ele a encara com um olhar confuso  —Você poderia ter me dito ontem quem ele era de verdade.

— Eu disse quem o Fabiano era. – afirma Murilo sem entender.

— Mas não contou toda a história – alega Ashley apertando os dedos.

— Por quê? Achou que eu estava fazendo algo ilegal? – pergunta Murilo, sério enquanto observa o rosto de Ashley ficando vermelho. Ele se aproxima parando na frente da jovem — Sabe, acho engraçado como é fácil para você desconfiar de tudo o que eu faço...

— Desculpe-me, mas você não me passou nenhuma segurança para que eu possa confiar em você. – justifica Ashley arrumando os cabelos.

— Essa é a parte engraçada: quem deveria me transmitir confiança é você – alega Murilo surpreendendo Ashley — Afinal de contas, quem está aqui pode se beneficiar, caso decida levar as informações importantes do projeto a terceiros? – questiona Murilo antes de passar pela loira que demora alguns instantes até sair.

Assim que chega do lado de fora da fazenda encontra três cavalos já preparados para partir, Fabiano sobe no preto, enquanto Juvenal ainda segura os outros dois cavalos de pelagem castanha pelas rédeas.

— Três cavalos para quatro pessoas, eu acho que a contagem está errado – alega Ashley parando ao lado de Sofia.

— Foi solicitado  que preparassem apenas três, pois alguém teria dificuldades com a montaria por não estar tão habituado com os animais e a região – responde Juvenal, sem jeito.

—Eu prefiro ter o meu próprio cavalo,obrigada. – retruca Ashley olhando para Juvenal.

De fato o animal bem diferente do qual Ashley está acostumada a montar na Inglaterra, típico da região e por isso sua raça é chamada de cavalo pantaneiro.

— Sou uma exímia amazona – explica Ashley encarando Murilo, pois tem certeza que foi ele quem solicitou apenas três cavalos — E como tal estou preparada para montar em todo e qualquer tipo de animal e situação que venha surgir... Mesmo assim obrigada pela preocupação, Murilo.

— De nada, só que  o pedido não foi meu porque tenho plena certeza da sua capacidade em montar em um cavalo e nos acompanhar.

— O pedido foi meu – confessa Sofia segurando na mão de Murilo que a ajuda a subir. Ela passa os braços envolta da cintura de Murilo , sendo observada com irritação por Ashley que não consegue disfarçar que a cena não lhe agradou — Quem não se lembra do meu desastre da última vez em que viemos aqui , não é mesmo?

— Impossível esquecer – admite Fabiano — Apesar de eu achar pouco provável que o Murilo seja o ideal para carregar você em segurança.

— Está duvidando? – questiona Murilo rindo.

— Sem dúvida, Your Grace – responde Fabiano, rindo.

— Ahaha, muito engraçado. – comenta Murilo.

— Obrigada – agradece  Ashley a Juvenal que ajuda a subir no outro cavalo.

— E lá vamos nós – fala Fabiano dando a largada em direção ao primeiro sítio arqueológico.

****

Porte médio, extraordinária dureza dos cascos ,o trote macio e confortável, com tração predominantemente dianteira... Era nisso que Ashley tentava se apegar durante a cavalgada pela planície, ora alagada e ora seca, mas volte e meia se traía observando Sofia e Murilo que iam a sua frente, tentando imaginar o que eles conversavam tanto, ainda mais quando Sofia olhava para trás com um sorriso de orelha a orelha.

— Mu... – chama Sofia contemplando a mata nativa — Eu estou tentando não perguntar , mas... Como foi que a Ashley veio parar aqui? Até semana passada , você não tinha qualquer notícias dela e agora ela está aqui, cavalgando com a gente, como isso aconteceu?

— Ela me procurou. Ou melhor, ela veio atrás do Duque de Wilkinson – responde Murilo com pouco caso — E acabou encontrando um qualquer a quem ela despreza.

—Não acho que ela o despreze – alega Sofia olhando para trás e encontrando os grandes olhos azuis mais uma vez. — Acho que ela só está meio fora do círculo dela, querendo se encontrar. E que nós devemos incentivá-la a se encontrar.

— Sofia, ela não veio aqui para se encontrar – rebate Murilo.

— Então por que ela está aqui? – questiona Sofia mais uma vez.

— Ela veio apenas para suprir seus próprios interesses e dos Beaufort. – responde Murilo contando toda a história.

— E você a trouxe para essa viagem para fazê-la mudar de ideia – deduz Sofia. — Você sabe que não está dando certo né?

— Sim , eu sei. Ela é cabeça dura.

— E a culpa é sua – afirma Sofia.

— Por que diz isso? – questiona Murilo ficando sério — Estou dando o meu melhor.

—Não está. Você está agindo igual uma criança mimada – acusa Sofia — Se realmente quer que ela fique do seu lado, você precisa mudar a forma como a trata.

— Ah tá, como eu poderia tratá-la,sabichona? – pergunta Murilo — Eu não sei agir igual aqueles nobres com os quais ela está acostumada a conviver.

— Não precisa agir iguais a eles  – alega Sofia, tranquilamente — Seja você mesmo, Murilo. Eu sei que você  quer manter seu foco no projeto e fazer com que dê certo...

—Exatamente, tem muita coisa em jogo para eu ter de me preocupar com a Ashley.

— Errado, é por ter muita coisa em jogo que você deve se preocupar com ela – alega a ruiva — Deixe essa picuinha de vocês para trás e foque no que está colocando em risco: a amizade de vocês.

— Então o que sugere?  – pergunta Murilo, curioso.

— Porque você não tenta apenas ser amigo dela – sugere Sofia — Aproxime-se dela, escute-a, tenho certeza de que ela está precisando de um ombro amigo. Do nosso ombro amigo, ou do seu ombro amigo.

— Se você diz – comenta Murilo sem dar muito crédito. —Porém, tenho certeza de que tudo o que ela quer é voltar logo para o país dela.

— Confie em mim  –  pede Sofia se aproximando da orelha do rapaz —  Tudo o que ela precisa é do melhor amigo de volta.

— Tudo bem. – concorda  Murilo sério. — Porém se não der certo...

— Vai dar certo – Sofia olhando para Ashley mais uma vez. Ela sorri e comenta — Acho até que já está funcionando.

— Chegamos – anuncia Fabiano mais a frente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Destino" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.