2° Desafio Sherlolly 2016 - Meu herói escrita por sayuri1468


Capítulo 1
Capítulo 1




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Existe uma sensação maravilhosa que vivenciamos quando acordamos. É uma sensação que fica conosco por apenas uma fração de segundo e pouco de nós reparam nela, apenas sentimos e a ignoramos logo em seguida, como se não fosse importante. Essa sensação de quando acabamos de sair de um sonho e não sabemos se fomos para a realidade ou para outro sonho. É uma sensação confusa, e ao mesmo tempo, uma sensação de iluminação. É como se soubéssemos, por apenas um segundo, que o mundo dos sonhos é um fragmento de outro mundo, tão real quanto no que despertamos. E quem, naquele momento, poderá dizer que não despertamos em outro sonho?

Molly Hooper sempre experimentava essa sensação, e costumava ficar um bom tempo na cama refletindo a respeito dela. Que maravilhoso seria se o sonho que acabara de ter fosse realidade. Tentava se lembrar dos detalhes, mas sabia que era um mundo onde ela já era adulta, formada e reconhecida profissionalmente. E, mais importante, tinha amigos. Amigos que eram tão excêntricos quanto ela.

No auge de seus 16 anos, Molly ainda mostrava relutância quanto a sua formação profissional. Passava a maior parte do seu tempo vendo séries e escrevendo histórias sobre seus personagens favoritos, e pouco ligava para a escola e para as pessoas que nela frequentavam.

Mas o despertador em sua cabeceira lembrou-a de que seu momento de reflexão havia acabado, e que ela precisava ir para esse lugar onde julgava perder preciosas horas de sua vida. Molly levantou-se de má vontade e com uma leve irritação, afinal, havia esquecido completamente seu sonho graças ao barulho do despertador.

— Molly! – chamou a mãe do outro lado, dando algumas batidas na porta do quarto da filha- Já está de pé?!

— Já! – respondeu a menina enquanto esticava seu edredom na cama.

— Tenho que sair agora pro trabalho, tudo bem se eu não te levar pra escola hoje?

— Tranquilo!

— Está bem, tenha um bom dia na escola!

— Tenha um bom dia no trabalho!

Molly ouviu os passos se afastando da porta e descendo a escadaria, que daria ao hall de saída. Se quisesse, pensou, poderia cabular aula, mas a menina aboliu esse pensamento imediatamente. Mesmo que não quisesse ir para a escola, hoje teria prova oral de literatura, e, lembrou-se com empolgação, a prova seria sobre seu livro favorito: Sherlock Holmes. Molly, subitamente animada pela lembrança, tomou banho e arrumou-se rapidamente. Não se importou em prender os longos cabelos castanhos dessa vez, apenas vestiu seu uniforme, colocou o livro com os Contos de Sherlock Holmes na mochila, pegou o celular e saiu para a escola.

Era um dia lindo, pensou. Mas óbvio, todos os dias são lindos quando se está feliz, e Molly estava feliz. Pela primeira vez, teria oportunidade de brilhar na sala, com algo que ela realmente gostava. Já podia imaginar os colegas, e o próprio professor, surpresos com seu conhecimento a respeito do tema. Sua nota seria a melhor da sala e todos, de certa forma, passariam a falar com ela. Procurariam respostas nela, e ela finalmente, seria notada.

Ela ria da própria imaginação, enquanto caminhava com passos confiantes para a escola. Hoje, seria o dia em que a Molly, a mudinha, falaria mais do que qualquer um, e todos a escutariam.

Sabe aquela sensação de confiança e prepotência, que ao menos, uma vez na vida, atinge todos nós? Aquela sensação de que podemos fazer qualquer coisa, que não há nada para nos barrar. Uma sensação de que poderemos enfrentar um batalhão sozinho e desarmado, e ainda assim, sairemos vitoriosos, porque sabemos que não vamos perder. Temos certeza de que a batalha é nossa. É essa sensação que Molly Hooper sentia quando entrou na escola. Pode sentir o olhar dos alunos sobre ela, e ela sabia o que eles estavam pensando: “Nossa, como ela está mudada!”, “Eu nunca tinha reparado no quanto ela é determinada”, “Essa Molly Hooper é incrível!”. Ela podia ouvir todas as exclamações de admiração e os olhares surpresos em direção a ela. Sentiu seu pequeno nariz arrebitar, e naqueles corredores, que antes ela andava cabisbaixa, agora passava por ele de cabeça erguida.

— Muito bem classe, espero que estejam todos preparados para a prova! – anunciou o professor quando entrou na sala.

Houve um murmúrio nervoso entre os alunos, apenas Molly continuava a exibir sua face cheia de confiança.

— Calma gente, prometo que as perguntas não estão difíceis... Bom, algumas estão! – falou o professor em tom de brincadeira. – Certo, vou fazer a primeira pergunta, quem foi Sherlock Holmes?

A mão de Molly imediatamente se prostrou no ar.

— Molly! – disse o professor, dando permissão para que a aluna respondesse a pergunta.

— Sherlock Holmes foi um detetive particular durante o período vitoriano!

— Correto! Quer me explicar a respeito da personalidade do personagem?

A garota sorriu. Aquele era o momento dela.

— Claro! Sherlock é uma espécie de herói! Ele é inteligente, sagaz, e usa esses dons para ajudar as pessoas!

O professor hesitou.

— Uma visão muito infantil de Sherlock Holmes, Srta. Hooper, infelizmente, não é o perfil do personagem! Agora a próxi...

— Claro que é! – rebateu Molly imediatamente.

— Não, não é! – falou o professor.

— É sim! Sherlock Holmes é um herói! – insistiu Molly, sem perceber que estava arrancando algumas risadinhas e cochichos de seus colegas.

O professor aproximou-se da garota.

— Srta. Hooper, se tivesse lido o livro com atenção, veria que o personagem de Sherlock Holmes é arrogante, egoísta e um usuário de drogas! Ele pode ser tudo, menos um herói!

Aquilo era como um tapa na cara de Molly. Como assim “lido o livro com atenção”? Ela lera Sherlock Holmes várias e várias vezes. Passava as noites em claro devorando suas histórias e imaginando como ele seria na vida real. Ela não podia aguentar aquilo.

— Sherlock Holmes é um herói, mesmo que só eu veja isso!

Disse enquanto recolhia seu material e saia correndo da sala.

— Srta. Hooper, você não pode sair da sala sem permissão! – gritou o professor na porta, enquanto os alunos riam e comentavam em voz alta a cena que acabara de acontecer.

Mas o aviso do professor foi em vão, pois a figura de Molly Hooper desapareceu pelo corredor.

 

—------

 

 

Ela sabia que estava com sérios problemas, mas, de alguma forma, isso não importava. Sentada na arquibancada enquanto observava de longe alguns alunos na aula de Educação Física, Molly tentou refletir do porque ficara tão zangada com seu professor. Sabia que ele não estava errado, Sherlock era realmente arrogante e tinha sérios problemas com drogas, mas ele também era um herói. Ele era inteligente e ajudava as pessoas com essa inteligência. Descobrindo quem as havia roubado, quem havia assassinado seus entes queridos e até mesmo protegendo-as. Molly cerrou os punhos em raiva e determinação. A interpretação superficial era de seu professor, não dela! Ela conhecia Sherlock Holmes como ninguém!

Você consegue me ver!

Uma voz em sua cabeça recordou-lhe dessa frase, assustando a menina. Aquele tom grave e profundo lhe era tão familiar, de onde ela conhecia? Onde já havia ouvido isso? Seu coração apertou e ela sentiu uma enorme vontade de chorar, sem saber de onde essa vontade vinha. Algo estava faltando, algo importante, ela sabia disso! Era como se de repente ela percebesse que estava com saudades de alguém muito importante para ela.

— Pessoas que choram são irritantes! – falou uma voz atrás dela.

Molly virou-se no susto. Havia um garoto parado lá, observando-a. Há quanto tempo ele estava lá?  

Molly planejava responder, mas prendeu-se na aparência daquele garoto por alguns instantes. Os cabelos negros cacheados, a pele pálida, os olhos azuis... Onde ela já vira aqueles olhos antes?

— Decidiu parar de chorar e ficar muda? Ótimo! Gosto mais de você agora! – disse enquanto sentava-se do lado dela na arquibancada e abria um livro que Molly só notou que ele segurava naquele momento.

— Quem é você? – perguntou Molly.

— Sherlock Holmes! – respondeu o menino, sem desviar a atenção do seu livro.

Molly hesitou. Estava em choque e preparada para responder alguma coisa, mas sua boca abria e fechava inutilmente, como se ela fosse um pequeno peixe.

— Se não vai falar nada, não devia tentar! Fica ridícula com essa expressão!

— Co...mo assim? Sherlock Holmes?! Quer dizer que eu mal saí da sala e as brincadeiras já começaram?! – despejou a garota.

Sherlock a encarou.

— Desculpe, não participo de brincadeiras! Ah não ser que eu me divirta com elas, o que é um pouco difícil!

Molly levantou-se furiosa.

— Olha, me deixa em paz, tá legal!

A garota recolheu sua mochila com raiva e saiu correndo. Passou pelas arquibancadas e desceu, até alcançar o campo de futebol. Passou correndo e foi em direção ao pátio, onde se sentou na fonte, cansada, retomando o fôlego após a corrida.

— Você não é muito boa corredora! – falou a voz conhecida atrás dela. – Não pode prender o ar enquanto corre, não sabia disso?! Fica mais difícil respirar depois!

Molly gritou.  O garoto que ele acabara de despistar na arquibancada estava sentado do lado dela, lendo calmamente o livro. Era como se ele tivesse se tele transportado da arquibancada para a fonte.

— Como você fez isso? – perguntou a garota incrédula.

— Fez o que? – rebateu calmamente.

—Isso! Isso ai! – insistiu Molly, ainda incrédula e certa de que estava se fazendo entender.

Sherlock fechou o livro e pôs-se de pé, na frente da garota.

— Bom, até onde eu sei você pode correr, mas não pode fugir da sua própria mente!

Molly ia rebater, mas analisou novamente. Aquele cabelos, aqueles olhos... O que diabos tinham aqueles olhos? Ela os conhecia! Não podia! Sua mente negou no mesmo momento em que pensou a respeito. Isso simplesmente não podia acontecer!

— Eu sou Sherlock Holmes! – falou o outro, como se soubesse o que se passava na cabeça da garota.

— Sherlock Holmes é adulto e da época vitoriana! Se você é mesmo Sherlock Holmes, porque não usa roupas vitorianas?

Sherlock sorriu.

— Muito sagaz! Mas a resposta pra essa pergunta é você mesma quem tem que me dar, afinal, você que me imaginou assim!

 Molly recuou. Era verdade. Ela sentia dentro dela que isso era verdade. Mas não podia ser!

— Tenho 16 anos! – começou a menina – Sou muito velha para criar amigos imaginários!

Sherlock deu de ombros.

— E apesar disso, eu ainda estou aqui, não estou?

— Srta. Hooper!

Molly virou-se surpresa e viu a figura do professor se aproximando dela. Seu semblante demonstrava a raiva que sentia.

— Srta. Hooper, por favor, acompanhe-me até a sala do diretor! – falou em tom autoritário.

Ela não pensava em resistir à ordem, mas antes ela tinha que ter certeza.

— Professor, por favor...- começou a menina hesitante.

— O que é?

— Por um acaso... eu estou sozinha?!

A pergunta podia parecer ridícula, e ela de fato se sentia assim após fazê-la em voz alta. Espiava de canto de olho para onde Sherlock estava, postado bem ao seu lado. Era impossível que seu professor não o visse, pensou, e esperava sinceramente uma confirmação dele para a presença daquele desconhecido.

— Que pergunta é essa? Só tem você aqui no pátio! Ou por algum acaso tem algum aluno cabulando aula?

— Não! Não! É...- a garota gaguejou – Eu achei ter visto alguém!

— Hum, não se preocupe, ele é um idiota! Vai cair nessa! – falou Sherlock cochichando, mesmo sabendo que ninguém, fora ela, poderia ouvi-lo.

Molly não respondeu, mas ficou se perguntando o que raios estava acontecendo. Será que era uma peça que seu professor e os demais alunos estavam pregando nela? Ela não imaginava seu professor se prestando a esse tipo de papel. Então, realmente, ela criara um Sherlock Holmes imaginário? Um rubor violento invadiu a face da garota. Vergonha e incredulidade se mesclavam dentro de seu estômago. Nem sequer se importava de que estava sendo levada para a sala do diretor, só queria respostas para o que estava acontecendo.

 

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— Então, ofendeu seu professor e saiu da sala sem permissão, durante uma prova!  Correto, Srta. Hooper? Srta. Hopper?

Molly acordou repentinamente de seus devaneios e viu-se sentada, frente a frente com o diretor. O senhor alto e de cabelos grisalhos a encarava. As sobrancelhas grossas davam a ele um ar mais severo do que realmente era, embora naquele momento, ele estivesse mesmo irritado.

— Srta. Hooper, estou falando com você! Serei obrigado a chamar a sua mãe?

— Não!  - respondeu a menina prontamente, enquanto observava a figura de Sherlock sentado ao lado dela – Estou bem, desculpa, apenas me distrai!

— Anda muito distraída ultimamente! – falou o diretor.

— Desculpa...é que...é meu pai!

A feição do diretor mudou drasticamente. Já não estava mais irritado, muito pelo contrário, sua feição agora mostrava certa relutância e um pouco de compaixão.

— Srta. Hooper, achei que você tivesse optado por não ver a psicóloga do colégio! Disse que estava lidando bem com a situação!

— Eu menti! – falou.

Claro que na verdade ela estava mentindo naquele momento. Nunca gostou de seu pai e quando ele decidiu ir embora, ficou contente por ele nunca mais poder bater em sua mãe. Mas todos insistiram que quando ele decidiu fugir, ela estava triste e solitária e insistiam para que ela passasse por consulta com a psicóloga da escola. Para Molly isso era uma bobagem. Ela sempre fora triste e solitária, mesmo sem ter um motivo para isso. Muito pelo contrário, encarava a saída de seu pai como uma benção. Em todo caso, pensou que a atitude dele seria uma ótima desculpa para a situação.

— Bem, neste caso, deveria ter falado antes! Vou conversar com seu professor pra ele repassar a prova pra você outro dia! Vá pra casa e descanse, está bem?!

— Obrigada!

Molly levantou-se, tentando fazer a expressão mais triste que conseguia.

 

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— Muito bem! Até me convenceu! – falou Sherlock em deboche, assim que saíram da sala.

— Quieto! – sussurrou a garota, com medo de que alguém a escutasse.

— Hum, acho que a situação vai se complicar pra você agora! – disse o garoto apontando para uma fila de pessoas, todas da classe de Molly, na frente da saída do colégio.

— Olha só! A louquinha! – falou uma das garotas.

— Então, como foi lá na direção, mudinha?! Te mandaram passar o resto da vida em casa pra evitar passar vergonha? – dessa vez foi à vez de um garoto.

— Não se preocupe, Sherlock Holmes virá te salvar! – disse outro, seguido de uma imitação mal feita do que seria Molly pedindo socorro por algo. Porém, apesar de mal feita, não impediu que arrancasse risos dos demais.

— Quer ajuda pra se vingar? – perguntou Sherlock.

Mas ele não esperou que Molly respondesse. Foi até o ouvido da garota e sussurrou algumas coisas. Mais do que imediatamente, a postura de Molly mudou.

— Muito boa a imitação, ainda mais vindo de alguém que dorme todo dia com um bicho de pelúcia! – falou a garota para o rapaz que ainda a imitava, mas que parou imediatamente mediante a acusação – Não adianta disfarçar, todos vimos a foto do seu facebook com o urso na cama, e o amassado no rosto do lado esquerdo, só prova isso! Dorme com ele em cima do rosto, é?! Que bebê! Ah sim, o arroxeado no dedão esquerdo mostra que você ainda chupa o dedo! Que gracinha!

O rapaz ficou sem reação, e isso provocou risos dos colegas. Mas Molly, e muito menos Sherlock haviam parado por ai.

— E você... – falou agora dirigindo-se a menina que havia chamado-a de louca -  Como tem capacidade de me chamar de louca, quando a pessoa com maior problema é você? A sala inteira sabe que você passa todo o horário do almoço vomitando, com medo de engordar!

A garota engoliu em seco, e dessa vez, ninguém riu. Todos passaram a olhá-la com certo receio.

— E não se preocupe se eu vou passar o resto da minha vida em casa, porque você vai passar o resto da sua na prisão, se continuar tirando fotos escondido no banheiro das meninas e vende-las pela internet! – disse para o último garoto.  – Agora, se me dão licença...

E sem fraquejar ou olhar para trás, Molly saiu da escola sob o silêncio dos seus colegas.

 

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— Incrível! Eu nem falei nada da garota do banheiro!

Por mais que Sherlock estivesse mesmo fazendo um elogio, Molly não estava a fim de ouvir. Estava com raiva, humilhada e confusa. Certamente, não era esse o dia que ela imaginou ter. Tudo o que havia dito aos seus colegas estava pesando, e muito, agora. Aquela não era ela! Não queria que a odiassem, queria que gostassem dela, queria ter amigos.

— Não está arrependida, está?! – perguntou Sherlock – Poxa, achei que você era melhor do que isso!

Molly não respondeu, apenas saiu correndo, desejando poder deixar Sherlock para trás. O que era tudo isso que estava acontecendo? Ela estava mesmo ficando louca? Tinha virado uma esquizofrênica por acaso? Será que sua paixão por Sherlock Holmes e os anos de solidão acabaram transformando-a em uma pessoa insana?

Abriu a porta e fechou-a com rapidez, tendo certeza que ninguém poderia ter entrado com ela. Subiu as escadas e entrou em seu quarto com violência, arremessando sua mala no canto. Foi até suas prateleiras e jogou no chão todos os livros que possuía com “Sherlock Holmes” na capa. Pegou todos os itens colecionáveis que tinha do famoso detetive, os bonecos, os pôsteres, os desenhos que havia feito e reuniu tudo em um grande saco de lixo. Decidida a retomar sua sanidade, Molly carregou o enorme saco, cheio com tudo o que possuía do detetive, para o lixo.

Quando voltou ao seu quarto, observou o resultado de sua súbita faxina. Parecia extremamente vazio e limpo. Ao contrário do que imaginou essa visão não lhe trouxe alívio, muito pelo contrário. Molly deitou-se na cama, cansada e confusa, e antes que percebesse o que a levava a isso, ela começou a chorar copiosamente.

— Acha mesmo que jogar coisas no lixo resolve os problemas?

Molly nem se deu ao trabalho de levantar o rosto. Sabia exatamente a quem pertencia a voz que estava ao seu lado.

— Não! Não acho! – respondeu com a voz embargada, enquanto enxugava as lágrimas.

— Não quer saber o porquê de eu estar aqui?

Molly levantou o rosto, extremamente vermelho por conta da choradeira, e encarou Sherlock, sentado em sua cama. O garoto se aproximou dela e acariciou lhe a face, depositando um beijo na bochecha da garota logo em seguida.

— Você mesma disse, na sala de aula! – falou com a voz gentil – Porque Sherlock Holmes vai até as pessoas?

Molly hesitou. Seu coração, repentinamente, começou a palpitar mais rápido.

— Para...ajudá-las?!

Sherlock confirmou.

— Você não está louca, Molly! Não está esquizofrênica ou qualquer coisa dessas! Só vim para que saiba que não está sozinha, nem nunca estará!

Sem aviso prévio, Sherlock a abraçou. Molly sentia-se estranha, ouvindo todas aquelas coisas. Ele não era real, era apenas um fruto de sua imaginação, não?! Então, porque aquele calor era tão real? Porque ela conseguia sentir o corpo dele apertando- a? Ele não existia, certo?! Enquanto primaveras passavam durante aquele abraço, Molly pode ser inundada pela verdade. Aquele lampejo de iluminação que ela teve assim que despertou de seu sonho. A visão de quem ela realmente era, a realidade em que vivia, tudo isso voltou a sua mente. Sherlock era real! Ele existia sim! Lembrou-se de tudo durante aquele abraço, e com novas lágrimas brotando em seus olhos, Molly o apertou, desejando que ele nunca fosse embora. Finalmente ela descobriu de quem sentia saudades.

— Seja feliz, Molly Hooper! Você merece!

E junto com aquelas palavras, a voz e o calor de quem as emitiam se foi. Molly estava agarrada ao nada. Seu coração estava tão acelerado que era difícil respirar, mas a garota tentava bravamente controla-lo. Ela sabia que ele não tinha ido embora, ele nunca iria. Ela tinha certeza agora, de que ela e Sherlock Holmes pertenciam um ao outro, não importando a distância, época ou mundo em que eles viviam. Ela sabia agora quem ela era, e sabia que o destino deles estaria sempre entrelaçado.

 

—------

 

 

— Molly? Já levantou?

Ela deu três batidas na porta, como sempre fazia, mas não veio qualquer resposta do outro lado.

— Molly?!

Chamou mais uma vez, sem sucesso.

— Molly, vai se atrasar para a escola!

Era sua obrigação como mãe, embora não fosse de seu feitio. O silêncio de sua filha indicava que ainda estava dormindo, por isso, ela não tinha opção há não ser abrir a porta. Mas não encontrou sua filha, tampouco encontrou o quarto que uma vez conhecia. Os livros e pôsteres que a filha guardava com tanto carinho não estavam lá. O quarto estava estranhamente arrumado. Talvez a filha tivesse levantado mais cedo, concluiu, mas não pode deixar de pensar que isso não era do feitio da garota.

 

—---------

 

— Tem uma aluna lá fora querendo falar com você! – anunciou o secretário ao professor, adentrando a sala de descanso.

O professor dirigiu-se a porta e reconheceu imediatamente a garota de cabelos castanhos, presos em um alto rabo-de-cavalo, encostada no batente. Ele já imaginava do que ela viera tratar com ele, o diretor alertara-o da conversa que ele e a aluna tiveram no dia anterior.

— Srta. Hooper, bom dia! – falou polidamente.

— Bom dia, professor! – respondeu com a mesma educação.

— Veio falar sobre a prova, não é? Bom, eu conversei com o direto...

— Professor, espere! – interrompeu a garota – Vim falar sobre a prova sim, mas não da forma como você pensa!

O professor olhou-a confuso.

— Vim pedir desculpas pela forma como te tratei na sala! O senhor estava certo a respeito do personagem, era apenas eu que interpretei errado e não soube lidar com isso!

Ele pigarreou, desconcertado. Ele nunca tinha visto Molly falar tão diretamente antes.

— Bem, nas suas condições...

— Professor, pare! – interrompeu novamente a garota- Eu só usei aquilo como desculpa pelo que fiz! Ficarei esperando a punição correta, assim que se decidir qual deve aplicar! Com licença!

E antes que o notasse o olhar do professor sobre ela, um olhar espantado, como se a estivesse vendo pela primeira vez, Molly se afastou.

 

 

—-------

Assim que a garota entrou na sala, a conversa animada transformou-se imediatamente em silêncio. Todos a acompanharam de esguelha enquanto ela se diria até sua carteira. Se fosse ontem, Molly teria se importado, mas naquela manhã, Molly era uma pessoa totalmente diferente.

Depositou seu material com cuidado e dirigiu-se até o grupo que a havia importunado no dia anterior. Assim que notaram a aproximação de Molly, o grupo recuou.

— Calma! – pediu a garota ao notar o nervosismo dos mesmos – Não pretendo falar nada que os magoe ou os exponha!

O grupo trocou olhares nervosos.

— Desculpem-me pelo que eu disse a vocês ontem! Embora estivessem zombando de mim, não deveria ter exposto vocês daquela forma! Todo mundo tem um segredo que merece ser protegido, e eu agi errado contando e ridicularizando o segredo de vocês!

Ninguém teve coragem de dizer nada em resposta. Molly sabia que isso iria acontecer, por isso ela apenas sorriu. Era a primeira vez que ela sorria. Voltou a sua cadeira sem dizer nenhuma outra palavra a mais, e foi bem a tempo do professor entrar em sala.

— Classe, tenho algumas notícias para vocês! – anunciou enquanto colocava sua pasta na mesa – Sei que esperavam que eu tirasse minhas férias em novembro, mas infelizmente vou ser obrigado a tirara-las mais cedo!

A sala protestou.

— Calma! – pediu o professor – Tenho certeza de que gostarão muito das aulas do Sr. Fowles! Pode entrar, por favor!

Molly não pode deixar de rir. A ironia do destino era mesmo cruel, afinal, ela reconheceria aqueles olhos em qualquer lugar.

 

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— Molly!

A garota levantou a cabeça bruscamente. O coração disparado pelo susto fez com que ela demorasse um pouco para reconhecer o local em que estava.

— Deveria remover os papéis na sua testa! Está ridícula!

Molly passou a mão na sua testa e concluiu que realmente havia papéis ali. “Deve estar uma marca bem grande”, pensou.

— Não imaginei que se sentisse tão confortável assim, num lugar como esse, a ponto de dormir!

A garota sorriu.

— Como se você não se sentisse!

— Por favor, Molly! – falou naquele tom convencido usual – Eu raramente durmo!

— Está bem, Sherlock! – falou concordando, apenas para encerrar aquela discussão – Acho que vou pegar um café! Quer?

— Preto, duas colheres de açúcar!

A garota levantou-se da cadeira, esticando-se. Havia realmente dormido de mau jeito.

— Não perguntei como você gosta, Sherlock, apenas perguntei se queria!

Sherlock sorriu em resposta.

Enquanto a garota se dirigia a porta, uma lembrança a deteve por um minuto. Sherlock a olhou, esperando que ela lhe dissesse alguma coisa, mas Molly continuou a analisar o laboratório, como se fosse a primeira vez que pisasse nele.

— Qual o problema? – perguntou o detetive.

— Não sei direito... Acho que tive um sonho estranho! Eu estava no colegial... Acho... – Molly soltou uma leve risada – Deixa pra lá! É bobeira!

E saindo pela porta, Molly se dirigiu para a cafeteria.


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