A Fênix Alemã escrita por rafaelcool10


Capítulo 1
Um Porre Do Jeito Certo


Notas iniciais do capítulo

Em primeiro lugar, sou inteiramente contra o Nazismo e tudo o que aconteceu na 2ª Guerra Mundial, e tentar relembrar de seus horrores não é a minha intenção. A minha intenção aqui é mostrar como a história pode ser maleável e como as decisões consideradas as "certas" muitas vezes não levam para o melhor destino.

Em segundo lugar, embora a fanfic ser titulada como original, eu peguei vários elementos reais, inclusive os personagens e a trama em si (em alguns aspectos).

Então, sem mais delongas, desejo a todos uma ótima leitura!



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Lá estava ele, aproveitando suas noites da única forma que sabia: no bar. Ele estava sentado e encostado no balcão, em frente ao barman, no seu lugar favorito. Desde que perdera sua mulher e filhas por causa de um bombardeio, ele se tornara conhecido ali, com um copo na mão, e já se passaram mais de seis meses desde que perdera o seu até então braço de beber favorito. Ele sempre se culpara pelo que aconteceu com elas porque quase nunca estava em casa, graças ao seu trabalho quando servia a Afrika Korps. E, como se não bastasse perder a família, o mesmo trabalho o faria perder seus homens e sua mão direita, os dedos anular e médio da esquerda e seu olho esquerdo, além de graves ferimentos no joelho. Então, além da bebida, ele agora tinha recorrido aos analgésicos, em uma tentativa desesperada de se livrar de sua dor. Preferia a aspirina. Ela era barata, disponível em qualquer farmácia, além de seu efeito ser mais forte e mais rápido do que os outros. Ele já pensou na morfina, mas ela é muito difícil, perigosa e viciante. Além do mais, ele tinha uma desculpa para usar aspirinas. Bastava somente dizer que a dor fantasma das suas mãos estava insuportável.

Estava lá, com o seu copo de uísque na mão, quando ouviu estalos. Rapidamente, deixou o copo no balcão, se virou para trás e começou a procurar por sua arma na cintura, mas ela não estava lá. Com isso, ele finalmente aceitou que ia morrer.

Mas então, percebendo que todos estavam olhando, ele se lembrou de que era véspera, quer dizer, ano novo na Alemanha, e que aquilo não se passava apenas do que inofensivos fogos de artifício. Percebeu também o motivo de sempre deixar sua Walther PPK em casa ou no escritório. Enquanto ele terminou o seu copo e foi pedir outro, um homem sentou-se ao seu lado.

— Senhor Stauffenberg? - Disse, fazendo a saudação com o braço direito.

Por causa da falta de seu olho, ele teve que se virar para a direita para ver o rosto do homem. Ele era tão jovem quanto ele. Ele era um clássico ariano: loiro dos olhos azuis. Após examiná-lo um pouco, ele retribuiu:

— Sim, sou eu. O que quer?

— Coronel, sou o Primeiro Tente Werner Karl von Haeften. Me designaram como o seu ajudante pessoal, até segunda ordem, claro.

— Por que não me procurou no meu escritório?

— Eu o procurei. Cheguei agora em Berlim para a transferência de função. Fiquei com receio, mas o procurei lá mesmo assim, mas não tinha sinal de quase ninguém. Então eu decidi vir aqui pra tomar um trago.

— Entendi - Disse Stauffenberg, virando o copo. - Então, junte-se a mim.

— Já está aqui a muito tempo, senhor?

— Depende. Passei os últimos oito meses da minha vida aqui, mas essa é só a minha terceira dose hoje.

— Tudo bem. Acho que vou juntar-me a você.

— Mais uma...

— Não não, por favor - Disse Haeften. - Kellner! Uma garrafa do melhor uísque escocês que tiver.

O garçom deu um sorriso, e olhou preocupado para Stauffenberg, enquanto este arregalou os olhos para Haeften.

— Você está querendo torrar o seu salário em uma noite?

— Não. Eu só quero beber.

— Você é louco! - Disse Stauffenberg rindo.

— Se vamos tomar um porre, vamos fazer do jeito certo, não é?

— Certamente.

Uma garrafa de Johnnie Walker Extra Special Old Highland— que futuramente teria o nome mudado para Black Label— surgiu no balcão entre eles, junto com uma "boa bebedeira" vinda da boca do garçom. Haeften prontamente se dispôs a servir o coronel e então a si mesmo. Eles suspenderam o copo no ar, e Haeften continuou:

Proost!

— Mas espera. Se nós vamos tomar um porre do jeito certo, temos que brindar a algo.

— Tem razão. Já sei. Zum heiligen Deutschland!

— Zum heiligen Deutschland! - Disse alegremente.

Após simultaneamente virar os copos, ambos se serviram novamente, e Haeften disse:

— Por que você bebe?

— Dias bem ruins. E você?

— Acho que vou cometer uma blasfêmia - Sussurrou. - mas acho que a Alemanha não está nas mãos certas.

Stauffenberg estava muito surpreso. Se ele falasse isso para qualquer outra pessoa, com certeza estaria morto. A sorte era que ele pensava o mesmo.

— Eu também. Acho que o Führer  devia cessar fogo contra a Inglaterra e concentrar suas forças na Rússia.

— Sem falar nesse programa de extermínio. Ele vai chamar muita atenção pro nosso lado. Ele poderia ser bem mais discreto.

Stauffenberg ali vira uma nova esperança. Ele sabia que a única forma de salvar a Alemanha era tirando Hilter do poder. Ele pensava que era o único que queria isso, mas agora viu que estava enganado. Enfim, ganhara confiança para fazer a diferença. Eles continuaram conversando até a garrafa ficar na metade. Haeften pegou um cigarro e perguntou se ele se importava. Após receber a resposta, ele o acendeu, e depoiss uma longa baforada, ele começou a falar:

— Não vai acreditar em mim, Claus, mas eu vim do futuro.

Stauffenberg ficou parado com o copo no ar. Ele olhou bem no fundo dos olhos dele e disse:

— Noto que você não aguenta a bebida.

— Mas é verdade - Retrucou. - Você já tentou matar Hilter duas vezes. Haverá ainda mais duas tentativas, e elas falharão. Você tem que me escutar. Eu sei de um plano que vai fazer a Alemanha se reerguer das cinzas.

— Por que então você voltou?

— A Alemanha perdeu a guerra por causa da Rússia. A partir daí, ela subjugou o mundo. Primeiro foi o Sul da Ásia e toda a Europa. Daí partiram para a África e para as Américas. Quando tudo acabou, todo mundo sob o comando de Stálin queria uma fatia do imenso bolo, e várias guerras civis aconteceram. Até os primeiros dois anos, estava tudo certo, até que um dia os Estados Unidos bombardearam a Rússia por completo. Dois meses se passaram, e o resto da Ásia virou pó. A partir daí, tentamos entrar em um acordo, o que acabou funcionando durante uns 20 anos, mas surpreendentemente, os países bombardeados se reergueram, e passaram a montar uma série de atos de retaliação. O problema é que nós estamos no meio da linha de fogo. Por isso, nossa organização começou a pensar na melhor solução para isso. Graças a investimentos pesados em armas, nós conseguimos produzir uma espécie de máquina do tempo.

— Entendi. Então a Alemanha tem que ganhar a guerra para o mundo não cair em ruína.

— Exatamente.

— Isso é bobagem. Você está completamente bêbado.

— Você vai ir ao banheiro em dez minutos, e vai tropeçar na volta.

—  Veremos.

A conversa foi adiante. Eles mudaram o assunto para como conseguir tirar Hitler do poder, mas não chegaram a lugar algum. Quando eles terminaram de tomar toda a garrafa, Stauffenberg foi ao banheiro, e quase caiu na volta quando tropeçou no rodapé da porta.

— Se passaram dez minutos, a propósito - Disse Haeften, fumando o seu quinto cigarro.

Na hora de sair, Haeften pagou pela cara garrafa e disse para Stauffenberg antes de sair:

— Ainda é muito cedo para fazer alguma coisa. Deixe-me falar com os meus outros agentes, e então formulamos um plano. Só mais uma coisa: não tome mais do que sete aspirinas essa noite, senão você vai vomitar. Pensando bem, chega de aspirinas.

Stauffenberg deveria ter acreditado nele, porque ele acabou vomitando e dormiu em cima da pia da cozinha.


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Notas finais do capítulo

Afrika Korps: Conjuntos de forças da Alemanha na Líbia na campanha no Norte da África. Embora o clima desértico castigasse os seus soldados, a Alemanha invadiu o solo africano não porque ele não era importante para ela, mas sim, para a Inglaterra. Seu símbolo era uma palmeira com uma suástica inclinada cobrindo quase todo o tronco.

Dor fantasma: Também conhecida como "dor do membro fantasma", essa dor é uma das piores consideradas pelos especialistas. Ela ocorre quando uma pessoa acaba perdendo um membro ou órgão. Isso acontece porque o cérebro não entende que o membro sumiu, ou seja, ainda acha que ele está ali, e manda impulsos nervosos para a área onde a presença de tal membro estaria, e ela acaba respondendo na forma de dor. Cerca de 60 a 85% das vítimas de amputação sofrem dessa dor, junto com o "fenômeno fantasma", que é a sensação de que o membro ainda está ali, mas sem a dor. Ela pode ocorrer assim que a cirurgia acaba ou até anos depois, e a duração e intensidade da dor variam com o tamanho da perda.

Kellner: "Garçom" em Alemão.

Proost: É o "saúde" que precede os brindes em Alemão.

Zum heiligen Deutschland: "À sagrada Alemanha" em Alemão.



Obrigado por terem lido! :)



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