Broken Wings escrita por Galiat


Capítulo 4
Flores de cerejeira




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Depois de toda a pressão da mídia, os peritos criminais voltavam à cena de cada um dos assassinatos e analisavam cada centímetro delas. Nada havia sido achado em um mês de investigação e Masaki já estava enlouquecendo depois de tanto tempo procurando por algum DNA, fio de cabelo, pele, qualquer coisa que indicasse a alguém. O toque do celular tira o chefe de seus pensamentos, trazendo novas esperanças ao ler na tela: Laboratório.

— Ukihara. Sim. Sério? Tem certeza? Ótimo, estamos voltando. Tudo bem, obrigado.

Com a notícia, o chefe sentia uma estranha sensação de alívio e de preocupação. Uma das amostras de sangue na casa de Amy Hagasaki havia obtido o resultado positivo no banco de dados da polícia, dentro dos casos antigos, mais especificamente. Netsuke Koshiro, o menino que perdeu os dois pais numa noite, a sete anos, era o principal suspeito e Masaki havia trabalhado nesse caso.

"Tudo se encaixa. Ele sofria violência dentro de casa e durante a investigação até foi cogitada a chance de ele ter matado seu próprio pai. Quando ficou mais velho, começou a fazer justiça com as próprias mãos."

Após recolherem seus materiais, todos os investigadores voltaram aos carros de polícia e observavam seu chefe ligar para a central para começarem a buscar por Netsuke. O único problema era que ele havia desaparecido desde sua saída do orfanato.

—Qual é o último registro dele? Posse de quais bens?

+ + + 

O sol na janela incidia diretamente sobre os meus olhos, me incitando a acordar de meu lindo sonho. O braço de Neko me envolve, dando um sentimento de segurança e conforto, principalmente por sentir sua respiração constante em minha nuca. 

Noite passada foi a melhor noite de toda a minha vida. Quando me declarei e mudei meu nome com a promessa de sempre ficar ao lado dele, eu me senti completo e cheio de vida. "O amor físico é algo incondicional, como a materialização de um único sentimento. Parece tão errado mas ao mesmo tempo tão certo. Isso com ele... Foi realmente incrível!" 

Eu calmamente me levanto e sento no chão, colocando o queixo sobre a cama apenas para observar o lindo rosto de Neko e seu peito nu, devaneando sobre mim e minha nova vida. Em meio a esse pensamento apaixonado, Neko começa a me encarar com seus olhos e um sorriso lindo, levando seu braço até meu rosto e o acariciando.

—Tudo bem? - Eu aceno positivamente com a cabeça. - Hoje eu quero te mostrar uma coisa. Vista sua roupa e vamos. É uma surpresa!

Mesmo perguntando dezenas de vezes onde íamos desde a hora em que acordamos até entrarmos no carro, Neko apenas olhava para mim e dizia que era uma surpresa. Quando saímos, eu me dei conta da quantidade de tempo que eu não via o céu azul, algum verde ou até mesmo de ar fresco. Sempre através de janelas ou alguma tela. "Onde estamos indo? Porque  tanto mistério?"

Depois de dez minutos de viagem, avisto um grande portal de madeira vermelha abrindo passagem para o parque de Shibuya. 

"Foi aqui neste lugar... Ela me trouxe assim que saímos do orfanato..." 

—Não se preocupe. Nada vai acontecer, porque você é uma nova pessoa e eu estou aqui. - Neko então sai do carro e dá a volta indo até onde estou, abrindo a porta suavemente e estendendo sua mão à mim. - Vamos, Hachi? - Mesmo com lembranças dolorosas em minha cabeça, eu aceito seu convite.

Uma das épocas mais lindas no Japão é na primavera, quando as árvores de cerejeira se enchem de lindas flores com tons rosas e brancos. No parque, um corredor dessas plantas se estendia até onde a vista alcançava, formando lindos caminhos e um teto colorido. O vento fazia algumas pétalas caírem, formando uma chuva de flores constante. "Depois de tanto tempo trancado e maltratado, eu estou livre. Livre!" Um grande sorriso se abre em meu rosto e eu corro pelo tapete rosa, adentrando o parque. Neko me segue vagarosamente com suas mãos nos bolsos da calça e seu cabelo ao vento, mostrando seu rosto sorridente. Eu paro e ele continua se aproximando. Tanta cor, tanta beleza e leveza numa única paisagem me deixam atordoado.

—Toda vez que o inverno acabava, eu e minha mãe vínhamos aqui para ver as Sakuras floridas. Eu continuo vindo, mas sozinho não é a mesma coisa. - Ele chega mais perto e para a poucos metros de mim, olhando para as árvores e voltando-se para mim. - Quero que você faça parte disso agora, Hachi. Eu te amo!

As lágrimas rolam pelo meu rosto à medida que corro em sua direção. Neko me pega em seus braços e digo baixinho em seu ouvido: "Sempre ao seu lado...", silenciando com um beijo em meio as flores.

+ + +

Sirenes e luzes de polícia rodeavam a oficina, com inúmeros policiais por todos os lados. Neko não parece nervoso e tenta pensar em algo, mas eu mal me aguento. "Eles vieram tomá-lo de mim! Não, não podem!" O desespero sobe da base da espinha até meus olhos, me fazendo soluçar fortemente e me encolher no chão.

—Vamos para o telhado! - Ele pega uma pistola embaixo da cama e corre comigo escada acima enquanto mal consigo respirar.

O vento forte nos atinge com força ao terminarmos o caminho de degraus e do topo é possível ver quantos oficiais vestidos com coletes. Um deles pega um megafone e começa a falar.

— Desista, Netsuke! Não há para onde fugir! O galpão está cercado!

"NÃO!"

—Deixem a gente em paz! - Eu grito e me levanto fazendo todos os policiais ficarem ainda mais agitados. Neko me abraça e nos senta lentamente perto da borda.

—Calma, calma... - Ele me diz passando a mão na minha cabeça para me tranquilizar e deixa a sua arma no chão. Ouvimos passos subindo as escadas e forçando a porta. Neko me pega nos braços e corre comigo até o outro lado do telhado. - Hachi, quero que saiba que tudo aquilo que passamos juntos foi a melhor parte da minha vida. - Ele para na borda ofegante e olha para mim. - Nos veremos de novo.

—Neko! Por favor! - Ele beija minha testa e uma lágrima rola sobre sua cicatriz. A porta do terraço se escancara e passos correm até nós.

—Adeus, Hachi! - Neko me joga do telhado alto e se vira esperando os policiais.

Tudo parece mais lento a medida que caio e, olhando para cima, ouço o som de vários tiros secos cortando o ar até meus ouvidos. Sinto o impacto do chão vindo em forma de dor e minha boca se enche com o gosto de ferro. Tudo está ficando turvo e meus olhos se enchem de água.

"Neko..."

O som dos chicotes volta a minha cabeça e novamente vejo as correntes que já me prenderam. A dor antigas das minhas feridas abertas é demais, demais para mim. "Por quê... Por quê?!"

O som de bips começa a me despertar, juntamente com uma luz branca forte. "Onde estou? O que aconteceu?"

Um mundo turvo se forma a minha volta, mas consigo distinguir um quarto pequeno de hospital. Vários aparelhos estão ligados ao meu corpo e monitoram meus sinais vitais. Um vaso vermelho com ramos de cerejeira floridos com vários tons de rosa. "Neko..."

Os soluços e o choro chamam a atenção de uma enfermeira que estava na sala preparando remédios. Ela vem até mim e me diz que eu cai de mais de 15 metros em uma caçamba de lixo, mas que ficaria bem. Eu só conseguia pensar em uma coisa.

— M-meu pingente... O-onde... - Ela corre até o criado e abre a primeira gaveta, pegando a peça de prata e colocando-a em minha mão, deixando a sala com um enorme sorriso.

Eu olho o pequeno medalhão e me lembro da minha jura de amor:

"Sempre ao seu lado... Para todo o sempre..."

+ + +

Uma sirene começa a tocar no pronto socorro, assustando vários pacientes de rotina. Ukihara se preocupa e corre para dentro, encontrando uma enfermeira em prantos no ombro de um dos médicos. O quarto 413 é o responsável.

Dentro do recinto, um jovem imóvel manchado de sangue segurava um grande caco afiado de um vaso que se encontra espatifado no chão, juntamente com flores manchadas de vermelho. Seu rosto tampado pelo cabelo apresentava o caminho percorrido por uma única lágrima que acabava em seu pescoço. Em sua mão esquerda, um pequeno pedaço de prata era segurada com muita força e em seus pulsos, enormes e gritantes fendas escarlate.

Escrito no lençol branco, a seguinte frase se destacava:

"Minhas asas me foram negadas por muito tempo. Agora irei buscá-las, como meu anjo foi."


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Notas finais do capítulo

Queria agradecer muito a todas as pessoas que leram, comentaram e que gostaram dessa história. É a minha primeira e eu fico muito feliz de ver que alguém realmente gostou dela.
Dedico essa histórias às fujoshis, principalmente às minhas amigas Alice e Desordem, principalmente pela correção dos erros de gramática. Fiz pra vcs!!!
Obrigado mesmo galera, vcs são fodas!



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