Broken Wings escrita por Galiat


Capítulo 1
3 lágrimas de uma vida cinza.




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Ela olha pra mim do mesmo jeito toda manhã: um sorriso falso enquanto coloca gentilmente um ovo e uma salsicha sobre o prato. Há uma semana ninguém poderia dizer que ela era a mesma pessoa, seria como comparar um anjo a um demônio.
     Quando eu vim pra essa casa era muito pequeno e me lembro do abraço caloroso que essa mesma mulher me deu e logo depois pediu para chama-la de mãe. Nesse mesmo dia ela se mostrou a bruxa da casa de doces.
     À noite, depois de um dia divertido no parque ela me deu um pouco de água e me levou para o quarto, mas não o que seria meu porto seguro, mas sim, meu pesadelo. Uma gaiola no meio da sala pequena refletia a luz prateada da lua, vinda de uma janela pequena e apertada no alto da parede, emoldurada por correntes e chicotes. Eu nunca tinha ficado com mais ninguém e achei que pelo dia maravilhoso que tínhamos passado, pela companhia dela, isso era razoável.       Quão tolo eu era...
     Toda semana, sempre no mesmo dia, no mesmo horário, ela me arrastava até o quarto e me fazia sofrer até desmaiar, acordando horas depois com ela passando remédio das feridas mais fundas em minhas costas. Fazia isso sempre com o mesmo sorriso do primeiro dia.
     Pare... Não sorria... Não desse jeito... Por favor...
   Depois de algum tempo, o mundo se tornou turvo. Cinza como o chão daquela sala, como as grades da minha "cama", vivendo apenas para sofrer e temer. Os sonhos de ter uma escola, família, alguém que me amasse, foram consumidos em meio ao desespero, a dor e ao sangue.
Agora eu não sinto mais.
     Acho que meus gritos deixavam ela melhor porque quando pararam, os golpes se tornavam mais e mais violentos. Um pássaro explorado pelo seu pio...
     A TV ligada ao fundo trazia mais notícias do serial killer que aterrorizava a minha cidade. Aterrorizava... Palavra errada para quem apenas acabava com a vida de alguém. Infelizmente, esse alguém teve mais sorte do que eu.
                                                            +++
     Ela já havia começado a seção dessa noite e, me acorrentando à parede tenta escolher um chicote para começar. Talvez eu devesse tentar algo para me defender, mas depois de 12 anos com a mesma rotina, as queimaduras do couro em minhas costas me ensinaram que quanto mais rápido for, melhor. Ela se aproxima e começa a erguer o braço, fazendo seu corpo cambalear a medida que começa a rir desesperadamente e, levantando levemente o rosto vejo sua face distorcida pela loucura. Enrijeço o corpo para aguentar o golpe, e uma lágrima corre pelo meu rosto...
     DING DONG!
     A campainha... Isso nunca aconteceu antes! A mulher se frustra e vai em direção a porta, colocando o chicote atrás da porta com carinho, ajeitando o cabelo e fazendo aquele sorriso cínico enquanto põe o dedo indicador sobre a boca, fechando vagarosamente a porta com um rangido alto.
     Tudo que pude ouvir foi meu coração batendo, minha respiração ofegante e o barulho das correntes. Quem será? Quem teria adiado esse pesadelo?! Uma segunda lágrima desce até a minha boca com um gosto amargo. Por que eu teria que sofrer assim? Por que...?
     Ouço um grito abafado do corredor, seguido de várias batidas pelas paredes que se aproximam da porta. Que é isso?
     A porta se escancara, batendo com força na parede e soltando lascas de madeira e pedaços do chicote de couro. Um homem forte está sobre a mulher apertando seu pescoço com duas mãos grandes, logo em seguida levando uma delas ao cinto. A mulher então começa a gritar desesperadamente e, com um sorriso no rosto e um movimento rápido ele puxa uma faca de caça e a silencia, espalhando sua tinta por toda a sala e fazendo um pingo cair sobre o meu rosto.
     Ele se levanta e posso vê-lo melhor. Um corpo forte, mas não muito musculoso se mostra por uma camisa branca manchada, seu rosto é coberto por uma cabeleira que quase lhe cobre os ombros e seus olhos azuis como o céu admiram sua obra prima de cima.
     Eu levanto minha cabeça levemente, passando pelo corpo inerte da mulher e não consigo conter o riso. Uma terceira lágrima corre pelo meu rosto, passando pelo pingo de tinta deixado por ele e minha boca se enche com um delicioso gosto metálico. Agora ele me observava perplexo
— Obrigado...
     E com um sorriso terno daqueles olhos azuis, o mundo enegrece ao meu redor.


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Notas finais do capítulo

Eu espero que gostem! Desculpe pelos erros de ortografia!



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