Atendimento #091: Croissant

Quem é que não gosta de um lanche fora de hora? Sabe aquele pão gostoso quentinho recheado de qualquer coisa que você tenha sobrando na geladeira? Pois é, esse é o melhor lanche possível.

Nossos queridos atendentes têm uma rotina triste, aqueles que trabalham apenas seis horas por dia ainda podem segurar a fome até chegar em casa, já os demais estão lascados. Na central de Ezequiel não existe nenhum tipo de geladeira ou refrigerador, isso obriga os funcionários a comprar seus almoços no restaurante da empresa.

— A minha mãe com parkinson faz uma comida melhor que essa. — Reclamou Igor voltando ao seu lugar. Amanda era sua backup enquanto ele almoçava e com sua chegada a mesma pode voltar a sua mesa.

— A minha sorte é que minha mocinha faz uma comida bem descente. — A garota sentiu naquele momento o estômago revirar de fome. — Eu queria comprar alguma coisa pra comer, mas não dá.

— Pô mas têm croissant de chocolate lá.

A garota que já caminhara por dois metros parou o movimento como se fosse uma fugitiva ao se deparar com a policia. Sem mover o tronco ela virou a cabeça para o encarregado com olhar psicótico.

— Quantos eles fizeram? — Ela não piscou, os lábios se moveram pouco.

— Eu contei só três… — O supervisor falou limpando alguma coisa do dente.

Os croissant de chocolate são doces raríssimos de surgirem na cantina da empresa, quando a dona do comercio autorizava a “feitura” da guloseima era sempre em baixas quantidades. Por ser raro todos queriam experimentar aquilo, alguns até mesmo brigavam por um deles.

Percebendo que estava perdendo tempo, Amanda saiu em disparada para a cantina. Setor por setor ela passou que nem uma maluca desembestada, alguns até acharam que fosse alguém que tinha invadido a central, mas logo que viram um rapaz com o doce nas mãos compreenderam a pressa.

— Medáááá. — Falou a garota como um zumbi, enquanto apontava para o ultimo croissant. Jogou o cartão no balcão.

— Crédito ou débito? — A caixa selecionava as funções na maquina enquanto uma colega colocava o pedido em um saquinho de papel.

— Passa no nome do diabo fia, só me dá! — Com a baba escorrendo pelo pescoço ela pagou o doce, voltou a sua mesa e começou a devorar a iguaria.

Na mesa ao lado seu amado atendia um cliente com total calma, junto dele um homem  de terno e gravata olhava cada palavra falada e escrita com interesse. O sujeito se apoiava divisória das mesas sem se importar com o peso.

Uma chamada caiu no telefone de Amanda.

— Amanda bom dia. — As mãos já estavam completamente cagadas de chocolate, mas ela pouco se importava.

— Rubão. — Respondeu o cliente aparentando impaciência. — Eu tenho um....

— Só um momento senhor. — Amanda colocou no mute. Seu telefone também ja estava sujo da mancha marrom que, se alguém observasse de relance, imaginaria que era outra coisa mais escatológica.

— Essas praga fica enrolando a gente no telefone. — Rubão realmente estava impaciente.

— Praga não! Respeito é bom mano, se ficar enchendo eu seguro a ligação e demoro mais ainda!

— Então segura que eu quero ver, a ligação tá sendo gravada sua infeliz.

— Sua mãe te pariu ou te cagou? Por que cagada fazemos em cinco minutos, filho é em nove meses!

Mesmo sem olhar alguns colegas prestaram atenção no que ela dissera.

— Vou esperar, mas não enrola

Irritada por não conseguir comer seu doce com calma a garota deu uma mordida poderosa no lanche, entretanto ela não pensou nas consequências. Se você nunca visualizou um croissant de chocolate eu vou explicar; imagine uma bomba de um doce marrom comprimida em uma casca folheada e crocante, isso é um croissant de chocolate.

Ao apertar com os dentes a casca se rompeu fazendo o chocolate voar para frente sujando todo o monitor e a mesa.

— Você vai demorar mais fia?  — O cliente chamou a atenção da garota que olhava para toda a caca.

— Não acredito no que esse filho da

Antes que ela pudesse concluir o homem de terno encostou-se mais na divisória fazendo com que a mesma cedesse. O estrondo da queda da placa reverberou pelo andar, o corpo do engravatado corpo caiu por baixo da placa de madeira pesada. A imagem da mesa toda suja ficou visível para Ezequiel.

Tendo a sua frente o olhar curioso de todos os colegas, ela anunciou:

— Isso é chocolate! Não pensei em nada que não seja chocolate! — Provou um pouco da pasta marrom. — CHO-CO-LA-TE VIRAM?