Atendimento #056: Fila

Para que não entende absolutamente nada de como funciona uma central eu vou explicar agora o conceito da fila. Quando os atendentes fazem log in seus nomes vãos sendo empilhados por ordem de chegada, sendo que o primeiro a chegar sempre é o primeiro a atender. Quando o primeiro a atender termina sua chamada seu nome desce e vai para o fim da fila e assim por diante até ele atender novamente.

Entretanto, quem trabalha nessa área sabe que existem maneira de se trapacear, de escapar pela tangente do trabalho. A questão é, você vai se sacana com seus colegas ou vai ser justo e trabalhar?

Bem… o cara sentado na mesa de supervisão também teve sua época de atendimentos, entretanto, Igor sempre atendia menos que os seus colegas. Por estar treinado nas picaretagens não foi difícil sacar que um de seus atendentes estava de graça.

— Kauã bom dia com quem eu falo? — O operador falou assim que apertou o botão mute de seu telefone.

— Cristina, bom dia.

— Alô? — Sim ! O atendente escutava a cliente perfeitamente, porém ele fingia não ouvi-la. Sua intenção era justamente que a mesma desligasse para assim ele ser lançado para o fim da fila de atendimentos. — Kauã bom dia com quem eu falo? — Repetiu.

— CRISTINA, BOM DIA. — A cliente elevara o tom acreditando que sua voz estava tão baixa que ele não a ouvia.

— Por falta de comunicação estou encerrando o contato. — O atendente anunciou a fraseologia de quando a ligação fica completamente muda.

Outra coisa curiosa dos operadores é que eles JAMAIS, podem encerrar uma ligação. Sim, eu sei que já vimos nossos heróis fazendo isso, acho até que o próprio Igor já o fez, porém sempre que o botão drop é pressionado um registro é criado identificando quem o fez. Depois disso o supervisor pode ou não tomar alguma medida. No caso da chamada de Kauã ele deveria transferir a ligação supostamente “muda” para o superior imediato para que este a finalizasse. Mas era óbvio que ele não faria.

Drop pressionado, chamada encerrada.

Uma chamada no telefone de Kauã ecoou, mas,para sua infelicidade, quem o chamava era o supervisor.

— Opa, que é que foi chefe.

— Coloca uma pausa feedback por favor molecote. — Anunciou Igor encerrando o contato logo em seguida.  

A chamada pausa feedback era um comando no telefone que impedia o operador de receber chamada para que este pudesse receber instruções de seu superior.

Kauã foi até mesa de Igor todo feliz e serelepe, saltitava entre uma passada e outra comemorando internamente que não atenderia por algum tempo e quando voltasse a mesa estaria novamente ao fim da fila.

— Oi, que que foi ? — Indagou ele com um sorriso na cara.

O supervisor virou-se com uma face amorosa, feliz, sorridente, com uma ternura de uma mocinha apaixonada.

— Cadê o meu sushi? — as palavras saíram doces e carregada de um suspiro. — Eu estou esperando por ele.

— An? — Kauã franziu o cenho. — Mas eu não disse que te daria sushi, tá locou por acaso?

— A não tem sushi? — Os olhos do encarregado arregalaram-se de maneira inocente. — E minhas flores? Você não trouxe também?

— Não! Você ficou maluco por acaso é Alastor? — O atendente se afastou um pouco do carioca que se apoiava com as costas da mão. — Por que você tá falando isso?

— A... até onde eu me lembro é isso que geralmente se dá para alguém quando se quer FODER! — Gritou Igor desfazendo de um momento para o outro a expressão de amor. — Mermão tu tá querendo me lascar por acaso?  Não, não — gesticulou de maneira abrupta. — se tu quer me foder me beija e me avisa que eu compro a vasilína antes!

Os operadores ouviam a bronca atentos, sabiam que o recado não era só para o operador, mas também para eles que estavam em suas respectivas mesas.

— Parceiro apertar o drop eu até tolero, tá ligado? Vira e meche vem um corno que não queremos atender. Mas assim, fingir que não escuta pra poder ficar descendo na fila é uma pilantragem tão grande que chega a dar aflição! Se eu vir você fazendo isso mais uma vez eu vou autorizar seus colegas a transferir as chamadas deles para sua mesa!

Kauã fora pego em flagrante, não possuía argumentos para contra-atacar.

O telefone de Igor chamou.

— Tô em feedBack agora espera ai...— Anunciou o encarregado.

— Eu sei que você tá, é que eu tô com a cliente de nosso amiguinho “dropador”.  — A voz era a de Ezequiel. O mesmo atendera a cliente e, ao ouvir que Kauã era punido, teve uma ideia.

— Passa ela pra minha mesa. — Igor recebeu a chamada e a colocou no mudo. — Volta pra tua mesa e atende essa saboneteira antes que eu te dê um tapão vai! — Transferiu a ligação para mesa do operador.

Do outro lado da operação Ezequiel ria baixinho por saber que, ao transferir a ligação para a mesa do supervisor ele próprio ficara em ultimo da fila.