Atendimento #054: Duas bananas

A nossas esposas...São anjos em nossas vidas, mulheres que aceitam descer ao inferno apenas para serem felizes ao lado de um demônio peludo e peidorreiro. O que seria dos soldados sem suas amadas mulheres a esperar pelo seu retorno? Já vimos que nosso herói e sua esposa se dão muito bem, inclusive, de alguma maneira estranha os dois conseguem trabalhar lado a lado.

Porém, como você mesmo deve saber, nem todo o casal é como eles, amoroso, sem brigas e que apreciam inversões de papeis.

— Você quem sabe, eu estou dizendo que eu posso resolver o seus problemas, mas se você não quer mesmo eu farei o que manda senhora Talice.

Ezequiel tinha uma cliente em linha com um problema bem chato em seu pacote de televisão. De acordo com o que ele entendera pelo protocolo, a cliente informava que depois de um tempo assistindo seu sinava falhava e não voltava a té o dia seguinte.

— Então faz isso logo rapaz, faz que eu to quase jogando esse sintonizador pela janela. — A moça de voz esganiçada bufava irritada. — Eu tô por aqui com isso já.

— Têm certeza que não quer que eu verifique uma forma de resolver isso ? É melhor do que fazer o que eu estou prestes a fazer… — O atendente tentava aconselhar a cliente, mas a mesma respondia apenas com seu bufar de ira e os estalos na linga transparecendo seu desdém.— Está certo, você quem sabe.

Com um fone de ouvido e com as mãos nas têmporas o supervisor fazia a monitoria de Ancelmo. O atendente nada fazia de errado, porém, a expressão do avaliador era de um completo desagrado. Olhos apertados, lábios cerrados, o atendente o chamou. Tirou o fone e parou o áudio da gravação.

— Que que foi, papagaio depenado. — o apelido era referente ao boato de que o subordinado se depilara completamente a pedido de Amanda.

— Engraçadinho...— Respondeu balançando a cabeça. — Eu to com uma cliente que não quer que eu resolva. Eu sei como resolver e ela não ta afim de escutar.

— Maldita sem marido. — Respondeu o supervisor se levantando da cadeira levando consigo uma vasilha dentro de uma sacola. — Eu vou acabar com ela por atrasar meu almoço.

A medida que avançaram pelo corredor até a mesa de Ezequiel os atendentes se levantaram. Sabiam que algo aconteceria, pois a expressão de seu superior era a de um assassino pronto para arrancar a traqueia da vitima.

— Trinta segundos — Anunciou Igor sem expressão. — Esse é todo o tempo que eu te dou para falar.

— Você é o supervisor?

— Não… eu sou o jô soares. — O supervisor rebateu irônico. — Vinte e cinco segundos.

O supervisor abriu a sacola e em seguida retirou a tampa da tapware revelando seu conteúdo. Ezequiel segurou a risada. Amanda ao ver o conteúdo colocou a mão na frente da boca para não gargalhar. Enquanto isso o encarregado observava incrédulo o que o esperava para o almoço e o cliente informava tudo o que acontecia.

— Duas bananas...— murmurou Igor engolindo seco.

— Oi? — O cliente questionou-se ao ser interrompido.— Que foi que você disse? — Como não houve resposta ele continuou. — Então eu quero que vocês devolvam o valor do meu contrato, já passaram vários dias e eu não consigo ver nenhum canal de televisão por mais de dez minutos.

Possesso o supervisor conferiu os saldos do cliente, ele, por estar em um cargo acima de  Ezequiel, tinha acesso a dados mais complexos.

— Duas bananas...— Ruborizou Igor desolado. — Senhora Talice eu estou impressionado com sua inteligência. Na minha frente eu tenho todos os seus débitos pendentes, faz exatos dez meses que a senhora não paga a mensalidade do pacote. Vendo seu caso de calote, acho que  ver a televisão por dez minutos é um luxo.

— Mas vocês não podem cortar o serviço, temos um contrato assinado.

— E eu tenho duas bananas! — Exclamou ele. — Ação e reação senhora, o contrato é válido a senhora recebe seus canais, mas se não paga as contas não assiste mais que isso. Quer ver um exemplo diferente mais que vale da mesma maneira? Se eu deixo de levar minha mulher na churrascaria a consequência é eu ter duas bananas na minha marmita para almoçar! — Amanda deixou um pouco da risada escapar enquanto via as duas frutas que eram o almoço de Igor. — Então senhora vamos pagar essa conta? Ou quer ficar só com as duas bananas!?