Atendimento #029: Créditos

As centrais de atendimentos geralmente disponibilizam dois telefones, um deles é voltado para os clientes residentes de capitais e grandes cidades, e o outro, gratuito, são para os mais distantes e longe das capitais.

O que poucos clientes se tocam é que as ligações para centrais de atendimento seja suporte, televendas, cobrança são pagas. Isso faz com que algumas acabem por ver no fim do mês que aquela reclamação voltou em sua direção com tudo em forma de contas.

— Acalme-se dona, vai tirar o pai da forca por acaso? — Ezequiel repondeu na mesma velocidade que a cliente.  — Eu quero ajudar mas não vou entender nada se a asenhora falar correndo.

— Eu quero cancelar meu produto o cpf é

— Calma caraca! por que você tá tão apressada assim ? Tá foragida por acaso é o Richthofen?

A cliente tentou se acalmar e respirar um pouco, a ligação não tinha nem mesmo trinta segundos de duração e ela já tinha cuspido todos os dados dela e do resto da família inteira.

— Moço eu não sei quantas vezes eu já liguei aí, a ligação sempre cai quando eu vou anotar o telefone e endereço de um autorizada. Me ajuda. —  Sua súplica saiu rápida e ofegante.

— Olha eu posso ajudar, mas vamos com calma. Primeiro me diz qual é o produto da senhora. — Eficiente ele já tinha o registro da cliente aberto a sua frente. Conferiu a lista de dados. — Uma câmera, um projetor ou o vibra

— Não importa qual produto é! — Esbravejou a mulher ao telefone quando a chamada atingiu o tempo de um minuto e vinte segundos. — Eu só quero os dado do lugar mais nada!

O atendente revirou os olhos, o tipo de cliente exigente e mandona o irritava, não pelo fato de agirem de forma petulante mas sim pela pressa que eles colocavam na ligação. Se dissessem apenas “responde rápido eu estou na linha do trem!” seria mais fácil fazer as coisas com agilidade.

— Olha eu vou ser direto quem manda na linha sou eu senhora. Se não estiver satisfeita com a forma que eu estou tratando... — Ezequiel diminuiu a velocidade da voz. — apenas desligue a porcaria do telefone está bem?

A cliente se roía de raiva por dentro a ligação atingiu a altura de dois minutos e nada de sua solicitação ser feita.

— Tá certo então senhor ditador, o negocio é o seguinte meus dez conto de créditos estão acabando e eu não sei quanto tempo tenho aqui em linha. A ligação pode cair a qualquer momento.

— Mas eu to verificando seu endereço aqui e a senhora pode ligar do nosso telefone gratuito.

Realmente, em algumas cidades as duas opções estão habilitadas, ou seja, poderia tanto se entrar em contato com o telefone pago quanto o gratuito, no entanto a cliente não sabia dessa informação e já entrar em contato várias vezes apenas com o pago.

— Anote o telefone gratuito por gentileza. — A cliente anotou o telefone mais rápido que um raio cortando o céu de São Paulo em tarde chuvosa. — Agora a senhora quer que eu verifique a porcaria do endereço?

— Já estou aqui mesmo, olha isso ai para mim. —  a ligação atingiu os três minutos. A cliente não se conformava com sua burrice.

Ezequiel colocou a ligação no mudo e fez um calculo mental do tempo que se passou da ligação e dos créditos que a cliente ainda tinha. Abriu um sorriso

—  Então beleza, você gosta de ser a acelerada né? — A ligação tinha a duração de  quatro minutos e meio. voltou a ligação. — Perfeito senhora, com base nos dados que verifiquei no sistema a autorizada mais próxima está a cinco quilômetros.

— Então me passa logo o endereço!

Quatro e cinquenta e cinco.

— O endereço fica na rua…

A chamada caiu, os créditos da cliente se esgotaram.

Ezequiel abriu um largo sorriso na cara. colocou o telefone no mudo.

— Ouuuu que pena, acho que a senhora apressadinha vai ter que retornar outra vez. — Sua voz carregava o venenoso e tipico sarcasmo de atendentes.