Do outro lado da linha escrita por LcsMestre


Capítulo 249
Atendimento #249: Uma corrida para o nascimento


Notas iniciais do capítulo

Esse atendimento possuí uma música que recomendo que se escute em dado momento (para maior imersão :D) dê play quando ela aparecer  e continue lendo com ela no fundo ^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/679050/chapter/249



Atendimento #249: Uma corrida para o nascimento

Batidas coronárias fortes e aceleradas proporcionavam uma circulação de sangue mais eficiente para seu corpo, a temperatura se elevou principiando-se da nuca para os braços e depois do pescoço para o restante do tronco. A reação de quem começa a correr em uma prova de atletismo acontecia com aquele homem de mais ou menos vinte e sete anos. Sua pele era clara, os cabelos loiros e a estatura média para alta. A medida que seu sangue era pulsado mais suas orelhas, mãos e nariz ficavam avermelhados.

— Oi? — O Rapaz levou a mão ao jaleco na altura do peito.

Emoção, respiração eufórica.

— Aciona o plano porque seus filhos vão nascer, Ezequiel.— respondeu sua comadre mafiosa ajeitando os cabelos e organizando alguns pertences que jaziam espalhados sobre a mesa de jantar do apartamento.

— Eu já vou...— a chamada foi encerrada com um toque sobre o touchscreen de seu celular.

Em menos de um minuto seus olhos se avermelharam, a emoção transbordava de seu avatar de carne e osso em forma de lágrimas e tremor. Mentira, ele também soluçava como uma criança ao receber seu primeiro vídeo game, mas esse detalhe era imperceptível dada a algazarra em que ele estava envolto.

Uma central larga com pouquíssimas colunas, cada uma com cerca de um metro e trinta de grossura, chão de carpete nas cores cinzenta de poeira e azul sujo. Ali naquele andar vários setores existiam, alguns deles dispunham de lousas brancas para que os supervisores deixassem recados silenciosos para seus subordinados; mas em um daqueles setores, no caso o mesmo onde você e eu ficamos a observar a rotina dos atendentes, a lousa não estava preenchida com indicadores, número ou metas. Nela, algumas caricaturas haviam sido feitas pelo supervisor de forma a representar cada um de seus atendentes. Em um deles podia-se ver um pequeno power ranger vermelho fazendo pose frente a uma explosão, abaixo dele via-se o nome de Ancelmo; outro era uma mulher sorridente segurando um tubo em uma das mãos e algumas pílulas na outra, ao seu lado uma outra figura feminina pegava os remédios da caricatura com uma flor no cabelo, abaixo destas estavam os respectivos nomes de Catherine e Alana. Além deles existiam as imagens de Ezequiel, deitado no chão enquanto Amanda pisoteava suas costas com um salto agulha no pé e os demais atendentes que foram menos mencionados. Desenhos sutís, simples, mas que revelavam a felicidade daqueles que eram comandados por Ezequiel, felicidade essa que só iria aumentar.

— MEUS FILHOS VÃO NASCER!

As palavras de Ezequiel soaram forte, com vigor e felicidade quase que indescritível. As lágrimas foram percebidas pelos colegas que tentavam abraçá-lo forte, o reconhecimento de ter vencido um desafio se converteu em felicidade pura e genuína de alguém que realiza um sonho; o supervisor, em meio a multidão de colegas, digitava o telefone de um colega.

— Descobri que te amo demais...— a voz saiu arrastada do dispositivo móvel. Igor acordou ao terceiro toque de seu celular, mas isso não queria dizer que ele não atenderia, além de grogue de sono, feliz.— Iae meu chefe, como é que tá?

— Deu!— nosso herói ajeitava a jaleco enquanto fechava a mochila com seus pertences.

— O que é que deu, Ezequiel?— Igor já havia sido aviso que ele seria o responsável por levar ele e Amanda para o hospital, o código "Deu!" seria o suficiente para ele entender do que se tratava, mas seu sono era tanto que ele precisava despertar primeiro.

— Sua mãe.

— Que? — Pronto agora ele estava desperto.

— Tá na hora, a bolsa da Amanda estourou! — Elevou o tom deixando transparecer um pouco de nervosismo.

— Ah atá, espera aí que eu já vou.

Igor não tinha tanta urgência para se apressar, na realidade o mesmo estava tão na boa que resolveu fazer um café da manhã em plena tarde. Ligou a televisão e viu a assessora de imprensa da empresa onde nosso herói trabalhava dando uma entrevista, a chamada da matéria era "Do outro lado da linha: Vazamento proposital ou criminoso?" e nela se discutia quem vazara os atendimentos de Ezequiel.

— Aê chefe eu tô vendo aqui que a coisa azedou para alguém aí dentro da central...— Falou ele ainda com o colega no telefone. Sim Alastor permanecia com nosso supervisor em linha, afinal ele tinha acabado de conseguir um plano de voz ilimitado e queria usar ele bem.

— Sim, fui eu. Mas eu já resolvi.— os passos de Ezequiel soaram mais ecoados.— To saindo pelos fundos do prédio vêm me pegar para irmos lá para casa.

— Espera aí...

Com o vibrar de seu celular o mesmo conferiu a mensagem que acabara de chegar

"Alastor, a Amanda está sentindo muitas contrações, corre para cá."

— Aí pivete eu tô mandando o meu piloto mais rápido te buscar, eu vou direto pra tua casa buscar tua mulher lá que tá morrendo de dor. Acho que ela tá em trabalho de parto.— beijou a esposa que ainda dormia, saiu porta afora.

O táxi preto com adesivos laranjas de Igor era icônico na cidade de São Paulo, sempre que este era visto era sinal que alguma celebridade estava dentro. A Alastor company foi criada quando a mãe de Igor faleceu, no atendimento #125, e deixou uma quantia considerável para seus filhos. Eu queria abrir um parêntese para dizer que a velha era profissional em dar o golpe do baú! Só um exemplo simples... Alastor era o sobrenome de um senador que possuía descendência de condes e duques da época do império brasileiro e ele foi só o PRIMEIRO marido da progenitora do ex-supervisor.

— E quem é que vem me pegar aqui Igor?

— Ele já está aí pivete, relaxa esse periquito que eu o contratei justamente pelas habilidades dele.

A porta dos fundos do prédio foi aberta dando vista para um jardim de plantas rasteiras, ao lado destas o asfalto conservado tinha sobre sí um veículo digno dos carros de tuning, ou carros tunados; azul brilhante, rodas imensas e cromadas, vidros escuros. O veículo nem sequer possuía identificação da alastor company, isso porque aquele era de propriedade de seu motorista.

A buzina foi acionada.

— Tá de sacanagem que ele contratou você. — deixou escapar ao surpreender-se com a figura.

— Entra logo, eu conto no caminho.

O motorista tinha uma roupa formal, terno gravata e até mesmo um quepe na cabeça. O que diferia de um motorista fino era apenas o cigarro barato que ele carregava entre os lábios.

— Que coincidência ein Cássio! — saltou para dentro do carro no banco do carona.— Preciso que você corra o mais rápido possível para a minha casa, minha esposa tá em trabalho de parto e eu..

— Eu já sei.— interferiu ele sutilmente.

— Eu nem acredito que isso tá acontecendo, nunca pensei que eu seria pai e...

— Você quer que eu corra? — Interferiu ele novamente.

— Quero sim, assim eu posso encontrar com ela...

— Coloca o cinto.— Sua expressão era séria como a de um leão prestes a caçar.

— Não precisa eu já andei de carro mil vezes.

— Coloca o cinto, é sério. — Estalou o pescoço.— Você já andou de carro mil vezes, mas vai ser a primeira que vai andar comigo.

— Tá bom...— Mesmo sem entender muito bem a razão pela qual o mesmo estava fazendo aquilo, colocou o cinto.

— Beleza.

A chave foi girada fazendo o carro ligar totalmente. Freio de mão liberado.

No rádio de Cássio uma música animada passou a se elevar embalando o mesmo em um frenesi absurdo.

 

— Vamos lá.

O pé no acelerador fez com que as rodas cantassem como um pássaro que é colocado vivo na panela, o carro começou a mover-se para frente saindo do zero indo até o cem em apenas dez segundos.

Let all the heat pour down

I'm good as long as he's around

He lets me wear the crown

I do my best to make him proud

O prédio onde nosso herói trabalhava localizava-se na região sul da capital paulista em um bairro bem complicado e perigoso de se morar, entretanto, os edifícios eram bem guardados geograficamente falando. As dez edificações foram construídas sobre um morro alto cujo acesso foi limitado a uma estrada privada do próprio lugar; catracas, seguranças, até mesmo uma estação transformadora de energia existia naquele outeiro.

Naquele dia em específico as entradas dos dez edifícios estavam abarrotadas de repórteres, todos eles queriam encontrar com o autor dos atendimentos mas não sabiam onde, alguns queriam uma entrevista alegre, outros para atacá-lo devido ao que foi revelado.

— No porta luvas têm um cartão de acesso me dá ele.— Cássio falava do cartão que era usado para destravar a estrada privada do lugar.

— A portaria vai estar cheia de repórteres falando com o guarda, assim que pararmos eles vão saber quem eu sou.

— Verdade mas...— Cássio manobrava o carro com uma velocidade absurda pelas curvas que desciam pelo morro, o carro parecia uma extensão de seu próprio corpo deslizando pelo asfalto. Virou uma curva fechada fazendo o cartão cair da mão de Ezequiel no carpete. À sua frente, cerca de cem metros depois, se aproximava a entrada com sua cancela a bloquear o caminho.— quem falou em parar?

Now all my super ladies

I got my baby, if you got your baby, baby

— O que?

Cássio acelerou.

— Dá o cartão.— o motorista esticou a mão.

Cássio acelerou mais de forma a fazer o velocímetro atingir os cento cinquenta.

— MERD@— Ezequiel desesperadamente procurou o cartão e o entregou ao ex subordinado.

Com o olho mirado na leitora automática de cartões ele dirigia em linha reta de encontro ao bloqueio;os repórteres e cinegrafistas que viram a aproximação acelerada se afastaram rapidamente das duas estradas, tanto sentido entrada quanto a saída.

— Você não vai fazer isso! É loucura.

— Nem é!

Com um dos olhos fechados ele mirava na entrada da leitora, esta deveria ter no máximo dez centímetros e era em formato quadrado.

— Cássio! — O desespero de Ezequiel era ver que, se eles colidissem com aquela cancela, nenhum dos dois iria ser outra coisa senão massa de pastel.

Concentrou-se, respirou, e com a força de um mágico de las vegas, Cássio lançou o objeto em direção a entrada.

Rodopiando o mesmo cortou o ar com a velocidade proporcionada pelo carro somada a do lançamento.

Um segundo de silêncio.

A música explode no auto falante do carro mostrando seu refrão envolvente.

Move your body, Move your body

Dance for your papi

Rock your body, Rock your body,

Dance for your papi

— HAHAHAHAH Dance para tu papy!— Esbravejou o motorista orgulhoso de sua máquina.

O grito de Cássio deixou o guarda da entrada e os demais próximos a ele assustados, apenas um vulto passando por uma cancela que se ergueu no último instante. Foi tudo o que ele viu.

Put your hands up in the air, dance for your man if you care

Put your hands up in the air, air, air, ohohohohoh

O veículo avançou por uma avenida movimentada da cidade que culminou na marginal pinheiros, uma via cujo limite de velocidade era constantemente alterado para baixo e para cima. Mas Cássio não estava nem aí para isso, ele seguia com sua velocidade constante de cento e cinquenta por hora.

Move your body, Move your body

Dance for your papi

Rock your body, Rock your body,

Dance for your papi

— Você é um filho da put@! — Ezequiel estava tão agarrado com as mãos no carro que não conseguia mais se soltar, era como se tivesse super cola nos dedos...e no traseiro.

***

No pequeno apartamento onde nosso heróis moravam, dona Catherine terminava de organizar os itens da futura mãe na bolsa quando percebeu uma gota de sangue em sua roupa.

— Você não matou ele né?— Amanda respirava ofegante, a dor tornara-se suportável para ela; claro que por ser uma ex militar, ter combatido em guerras e ter um treinamento mental e físico seu corpo seria mais forte, mas ainda assim ela era biológica e humana, ou seja, as dores de contrações também a afetavam como qualquer outra gestante.

— Isso é relevante a essa altura?

— Não sei. Se eu tivesse em serviço teria de te prender.— Ela a encarou séria com um olhar assassino enquanto os fios platinados escorriam na face.

— Acha que conseguiria? — Brincou a mafiosa colocando a bolsa com os enxovais da crianças próxima a porta.

Naquele momento a garota de pele clara como a neve ergueu a blusinha que vestia deixando as costas nuas à mostra. Ali ela revelou as marcas que a mesma adquirira durante seus combates, uma delas era impressionante pois era claramente uma perfuração a lâmina na altura do coração.

— Sim, mas eu preciso de você pra me ajudar a proteger minhas crias. — virou-se sorridente. Amanda vestiu uma roupa leve por cima das roupas íntimas cobrindo também seu barrigão.

— Ele vai te servir bem, acredite. Ezequiel é um louco mas...

— Sim. — ruborizou orgulhosa do marido. — Ele atravessaria um campo de batalha e passaria por um exército inteiro para me encontrar.

— Mas até onde eu me lembro quem fez isso foi você.— ironizou a mafiosa recordando-se do passado que os dois possuíam.

— Pois é, mas ele faria tudo em dobro por mim.

— Ele deve estar vindo para cá agora, vamos para a portaria.— Catherine mostrou a chave da casa.— Achei, estava no meu bolso o tempo todo.

— Nossa poderia ter pensando antes de procurar né?

Ao redor das duas o apartamento pequeno estava completamente revirado, um estranho pensaria que o mesmo fora assaltado e que os bandidos fugiram deixando suas armas, isso porque, alguns de seus equipamentos usados em tempos militares estavam jogadas pelos cantos da casa, pistolas, facas táticas, etc, mas não parava por aí; chicotes, ball gags, mordaças, algemas, coleiras, roupas de látex, entre outros adereços, encontravam-se espalhados também.

Uma buzina soou no térreo e Amanda sentiu seu coração entrar em festa. Ela sentia que era ele, que ele conseguira chegar até sua residência e eles poderiam ir juntos para o hospital. Algum tempo depois alguém bateu na porta.

A mafiosa abriu.

— Cadê ele? — perguntou Amanda com os punhos cerrados.

— Ele teve de se atrasar devido a aquele problema da televisão.— Alastor respondeu pegando as malas. — Sim, eu sei que ele deveria ir conosco, mas ele vai estar no hospital, acredite. — ele beijou a garota na testa. Amanda, quando colocada ao lado de Igor mais parecia uma menina de quinze anos, baixinha e franzina.

— Tá, ele vai estar lá para vê-los nas— A garota foi interrompida por uma dor absurda no útero, um aperto que a fez desabar de joelhos no piso.— Esperem seus dois pivetes safados! Eu já cuspo vocês seus dois filhotes de gente! Parem de dançar dentro de mim.

Sem forças para se erguer e novamente ofegante, a garota foi tomada no colo por Igor, dona Catherine apanhou as malas, em seguida o coro dirigiu-se para o táxi de Alastor e logo partiram para a maternidade.

***

Estação morumbi

Cortando os carros e atravessando as faixas loucamente, Cássio seguia seu caminho fazendo o carro mover-se como em uma dança louca que colocava a vida de todos os motoristas em risco. Mas ele sabia o que fazia, não à toa Alastor o mandar buscar Ezequiel no trabalho.

— Você não para em sinal nenhum seu maluco!

Marcha trocada, pisca alerta acionado, faixa mudada abruptamente. O movimento fez Ezequiel bater o ombro na porta do veículo. Concentrado como um jogador profissional de video-game o motorista fechou os vidros fumê do carro.

— Não paro porque a marginal não é feita para parar.

O motor roncou alto enquanto o dedo indicador do motorista batia de maneira compassada no volante. Uma gota de água atingiu o pára-brisa do carro fazendo com que o trajeto fosse desviado para uma rua que se abria à esquerda na altura da avenida Morumbi.

— A marginal não é mais uma opção viável.

— Porque? — Indagou Ezequiel ainda agarrado como uma aranha caçadora.

— Começou a chover.— Respondeu o motorista realizando uma manobra proibida ao cruzar a divisória da avenida com a entrada da ponte do morumbi.

My rock is shinin' bright

Even if he ain't by my side

He makes sure that I glow

I make sure everybody knows

— Seu maluco! Você quer me fazer não chegar é?

— Xiu, eu sei o que faço.

A via tomada estava tão vazia que nem sequer parecia uma rua da cidade de são paulo, para ser totalmente deserta só faltava o rolo de feno passando e urubus pousados nas placas. A chuva começou a cair com mais intensidade o que forçou os carros a diminuirem sua velocidade. Se Cássio tivesse permanecido na marginal, naquele momento estariam o dois parados em meio a um trânsito interminável caracteristico de um dia chuvoso em São paulo.

— Sim aquela doida virou minha mulher, — O mpotorista mudou de assunto para tenatr acalmar o em supervisor.— Eu saí porque eu tinha de resolver as coisas com ela, só que no dia que eu estava indo acertar meus papeis com a empresa eu peguei um taxi. E advinha quem era o motorista?

— Alastor...

— Exato, conversando nós chegamos a um acordo, eu seria o motorista de emergências dele. Ou seja, só seria convocado quando fosse preciso.

— E o que você faz quando não está pilotando?

— Ajudo a minha esposa. — Virou uma curva bruscamente. — Ela trabalha com imóveis, corretora. — Ele se recordou do nome. — Ai hora eu tô vendendo imóveis com ela, hora tô pilotando para o Alastor.

"Um veículo perigoso estava em alta velocidade na marginal pinheiros a poucos minutos."

O som saiu pelo rádio do carro juntamente com a música que o motorista ouvia.

— Agora vai ficar tenso.— estalou a língua.

— Você têm o sinal do rádio da polícia?— indagou nosso herói embasbacado.— Porque isso cara?

— Eu fazia rachas, então é natural saber quando os gambé vêm né...

Não demorou nem um minutos e o som de sirenes policiais chegaram aos ouvidos de Ezequiel. O supervisor ao olhar para trás viu não uma, mas duas viaturas com seus giroflex ligados indicando que parassem.

— Para, — Falou ele levando a mão ao rosto. — eu já to cheio de problemas.

— Parar? — Cassio mudou de marcha. — Tá me tratando como amador porque? — acelerou.

— Você vai lascar nois dois! Eu quero ver meus filhos nascerem cara!

Naquele mesmo momento o telefone de Ezequiel tocou.

— Alo? — Ele atendeu rapidamente pois quem o ligava era sua esposa.

— Ezequiel, não vai para sua casa! Estamos com Amanda no carro em direção a maternidade! — A voz de Catherine escondia a respiração ofegante de Amanda que sentia as dores se elevando a cada minuto passado.

— Tá eu vou falar para o Cássio mudar a rota, é só que... — Uma viatura emparelhou com o veículo, um policial na janela tinha uma pistola na mão e esbravejava para que parassem imediatamente. — estamos meio que apertados aqui.

— Amor...— A voz de Amanda soou baixa mas audível para nosso herói.— eu preciso de você.

— Amanda...

Por um momento ele apertou os lábios, as mãos tremeram. Seu medo era não conseguir estar ao lado de sua esposa em um momento tão delicado e importante como o nascimento de seus filhos.

— Vai para a maternidade que o tempo tá se esgotando, vai! — esbravejou Catherine. A chamada se encerrou deixando nosso herói com o coração apertado.

— Cássio...

— Já sei, deixa comigo.

Cássio levou a mão até a parte de baixo do banco e retirou uma proteção de carpete que ocultava quatro cilindros azuis, ao vê-los nosso herói entendeu para que serviam.

— Isso vai funcionar?

— Se vai funcionar? — Ele riu de maneira modesta.

Now all my super ladies

I got my baby, if you got your baby, baby

— Porque você acha que eu mandei você colocar o cinto ein? — ergueu uma pequena tampa localizada no câmbio de marcha,— Você vai ver seu filhos nascerem chefe, esse é meu agradecimento por tudo o que fez por mim na central.— Fez uma pausa e observou o botão vermelho que estava escondido abaixo da tampa, nele existia o recado "é necessário mesmo?" Leu o que o botão tinha escrito.— SIM!— Esbravejou o motorista com um sorriso psicopata na face ao apertar o botão.

Move your body, Move your body

Dance for your papi

Rock your body, Rock your body,

Dance for your papi

Os veículos da polícia nada puderam fazer perante aquela explosão de velocidade que o carro perseguido apresentou. O nitro que fora colocado ali era tão potente que os policiais desistiram de tentar acompanhá-lo assim que viram as chamas azuladas saindo do escapamento.

Olhos focados no caminho, sem medo.

Ele sabia que ele poderia resolver qualquer problema, bastaria ele se focar. Essa foi a coisa mais importante que ele aprendeu durante os anos na central. Foco, preparação era o que ele precisava para alcançar o que queria, ele sabia que conseguiria mais uma vez se sobrepujar as dificuldades e alcançar o que queria.

Pontes, cruzamentos, trânsito aparentemente fechado...

Nada foi capaz de pará-los.

Eles estavam focados.

Put your hands up in the air, dance for your man if you care

Put your hands up in the air, air, air, ohohohohoh

Um drift perfeito que fez os pneus cantarem foi o suficiente para colocar o carro na posição perfeita do estacionamento da maternidade.

— Vai chefe! — Gritou Cássio assim que o caro encontrou-se inerte.

Nada foi capaz de pará-lo, clientes, rivais, espiões, inimigos, puxa sacos...Nada disso foi capaz de parar seu caminho até ali.

— Corre pivete! — falou igor dando-lhe um leve tapinha nas costas.

— Ela já foi para a sala de parto! — Gritou Catherine

Move your body, Move your body

Dance for your papi

Rock your body, Rock your body,

Dance for your papi

Ele não parou, seus pés moviam-se sem ele pensar, seu corpo avançava pelos corredores agitados o hospital, ele não sabia onde ela estava, mas ele sentia, algo o ligava a sua esposa.

Sala 7-H

Ele tentou adentrar, mas foi impedido por um enfermeiro.

— Você não pode entrar com essas roupas. Se você for o marido dela assista daqui de fora.

Ele a via através do vidro, mas não foi para isso que ele correu como um louco. Ele deveria ESTAR com ela e não apenas observá-la combatendo como ele sempre fizera.

— Ótimo.— falou nosso herói desferindo um soco certeiro no queixo do enfermeiro fazendo o cair desacordado.— A sua roupa serve.

Em menos de dez segundos ele estava vestido, touca no cabelo, máscara e luvas.

Adentrou a sala e encarou Amanda, seus olhos se encontraram e ela o reconheceu.

— Tá atrasado filho da put@ — murmurou em meio a um gemido de dor. Suas mãos se entrelaçaram.— Por um minuto eu pensei que você não viria.

— Foi mal, sabe como é né...— encostou a testa com a dela carinhosamente. — clientes chatos.

Juntos eles compartilharam a dor do parto; claro que Ezequiel sofreu mais pois a garota transferia toda a sua dor apertando a mão do companheiro, mão essa que teve dois ossos trincados ao término do procedimento do nascimento. Curiosamente na sala não se sabia quem era que gemia de dor, ela ou Ezequiel devido aos apertos absurdos na mão. Os médicos até acreditaram que era um parto de ambos fazendo um deboche de que o procedimento foi um parto feminino e masculino.

Choro

As duas crianças nasceram uma após a outra e nenhum dos pais saberia dizer quem era a mais velha. Mas eles sabiam que ambos estavam saudáveis e bem.

Com os dois pequenos de pele enrugada e cabelos loiros nos braços Ezequiel chorava. Ele os colocou junto da mãe que esgotada também chorava.

— Se vocês ficarem chorando enquanto eu durmo eu coloco os dois em um colégio interno ein... — Brincou Ezequiel enquanto encarava os filhos e seus olhos claros e apertados. Curiosamente assim que o mesmo falou os dois pararam de chorar.

— Olha só...parece que alguém a aprendeu a ser dominador, que surpresa.

Em uma risada chorosa os mais novos pais aproveitaram aquele momento sublime, o nascimento, a renovação da vida, um novo propósito para levantar e trabalhar. Tudo o que eles passariam dali em diante seria apenas por aquele pequeno casalzinho de seres humanos chorões...

Mas também vale lembrar que, depois de alguns minutos, o enfermeiro retomou a consciência e retirou Ezequiel da sala com a ajuda dos seguranças. Até porque um soco na cara não passa impune, né?  


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Nosso herói sem duvida nenhuma passa por poucas e boas não é??



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Do outro lado da linha" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.