Atendimento #241: Caloteiro

Algumas coisas são constantes na vida, uma delas é aquele show de natal daquele cantor específico, outro é aquele show de fim de ano da meia noite, como se ele fosse fazer o próximo ano melhor que o que se passou, e por fim, a pilantragem, essa aí é certeza acontecer…

— Senhor eu não sei como o senhor tá dizendo que um atestado pode fazer com que sua conta não seja paga. — Lully é uma pessoa que não se abala com sentimento, afinal de contas a mesma namorava tanto que já tinha até enjoado, por isso as palavras chorosas do cliente não fazia nem cócegas. — Contas são contas e você tem de pagar independente do que aconteça.

— Mas eu estava em coma! Em estado vegetativo nesses últimos vinte e poucos meses.— O cliente carioca falava sério e completamente indignado com a situação.

— Filho eu tô pouco me lixando se você estava enterrado para ficar brincando de planta. — Ela sabia o que era estado vegetativo, mas estava afim de zoar com o cliente que tentava dar uma de malandro para cima dele.— Eu não sei porque, nem muito menos como o senhor conseguiu ficar tanto tempo com o nosso serviço sem pagar…

— Mas não faz sentido? Porque eu estava em coma querida. — E acrescentou com toda a convicção.— Você é nova minha querida?

— Eu sou nova no setor sim. O que não significa que eu seja burra ou ingênua.

— Você é nova no setor. — O cliente ignorou completamente o que a garota dos nudes falou depois. — Faz assim chama o supervisor, ele vai entender o que eu preciso fazer.

— Claro senhor, vou adorar fazer isso…
O aviso no sistema de Lully estava bem explícito “se esse filho e uma traficante de kibe industrializados ligar saiba que ele vai tentar te enrolar. Se possível, claro você pode sacanear ele até ele não se levantar, chame o supervisor, certamente ele vai esculachar o cliente até ele não se levantar.”

— Ezequiel! — A garota nem sequer saíra do lugar.— Ele está de volta…

Nosso herói, que praticamente chorava ao perceber que seu livro de auxilio nada tinha a oferecer, ergueu-se sério.

— Eu não quero nem brincar, transfere ele para minha mesa.— E assim a garota fez. — Se não é o grandessíssimo cliente dos atestados.— Ele estralou os dedos. — Entrou no coma de novo senhor?

— Você é o supervisor?

— Lógico meu chapa. Mais que isso, eu fui, ou melhor, sou, o trouxa de número quinze que você enganou. — nosso herói guardou mágoa desde o atendimento #096 onde o cliente o manipulou na cara dura, o fazendo chorar inclusive, só para  conseguir ficar sem pagar sua conta por mais um mês.— Ainda bem que eu deixei bem claro que quando você voltasse a ligar era para chamar o supervisor.

— Mas eu tava…

— Em coma você vai ficar agora em saber que, no nosso contrato de serviço, a multa prevista para não pagamento de contas acima de dezesseis meses é o triplo do valor.

O cliente encerrou a chamada acreditando que isso o salvaria de qualquer medida de cobrança, mas não adiantava, uma vez no sistema nem o diabo em forma de um felino peludo poderia tirá-lo facilmente.

— Deixa eu colocar aqui o caderno de cobrança...— Ezequiel autorizava naquele momento o envio das contas para o cliente, este as receberia alguns dias depois com surpresa. — Aqui é tipo cavaleiro de bronze, seu golpe não funciona duas vezes comigo.

— Ele voltou! — Ancelmo chamou o supervisor.

— Transfere para minha mesa. — nosso herói atendeu a chamada tapando o nariz. — Olá senhor, vejo que o atendente foi insensível.

— Ah sim ele foi, você é a outra supervisora?

— Sim...— Nosso herói não sabia como, mas o cliente caíra naquela. — Eu vejo aqui pelo meu sistema. — ELe tinha o protocolo de Ancelmo nas mãos. — Que o senhor ficou desacordado por tanto tempo…

— É...— O cliente atuava tão bem com seu estilo choroso que merecia duas estatuetas de ouro.

— Bom eu sinto muito pois o senhor perdeu vários eventos marcantes a nossa história, inclusive a vinda de um viajante no tempo. Ah, quase me esqueci durante seu estado de coma ocorreu uma queda de meteoros que devastou metade do continente...Então se o senhor tiver parentes no norte… — A história maluca tinha um propósito e aparentemente ele foi alcançado quando o cliente respondeu involuntária mente.

— Nossa quanta mentira…

— É mentira senhor? — Ele falou desobstruindo a s vias aéreas e retomando a voz normal. — Como é que você vem então querer dizer que tava em coma ein? Seu lixo. To mandando uma encomenda especial para você na sua casa, têm até índice! Só esperar suas cobranças devem chegar até a amanhã, se não pagar, bom...a cadeia o espera, seu caloteiro.