Atendimento #239: Metrô

Quando se é um transeunte não se nota o que está ao redor, por exemplo se você estiver passando por uma estação do metrô certamente vai ver painéis com várias propagandas. São grandes painéis iluminados que mais parecem monitores super-nutridos né? Pois é, eles são realmente monitores super-nutridos. E quem você acha que têm de resolver esse pepino quando ele dá problema? Ein, ein?

— Kauã bom dia com quem eu falo?

— Atendeu rápido, muito bom. — Ezequiel, com um notebook no colo, avaliava o colega em uma monitoria lado a lado, seu objetivo era verificar se o subordinado estava afiado em seus conhecimentos.

— Kauã aqui é da central de metrôs e aero-trens, estamos aqui com um problema nos nossos painéis de propaganda, aparentemente eles estão mudando a recepção deles.

— Como assim senhor? Não compreendi o problema, a imagem deles está sendo apresentada de maneira estranha é isso?

— Não, pensa assim, o monitor era para pegar a imagem de nosso computador de merchandising* e replicar para as telas, mas aparentemente ele está pegando imagens de televisão à cabo.

Os atendentes não entendiam como isso era possivel, até porque aqueles equipamentos em específico eram muito mais chatos de se configurar do que qualquer outro monitor comum. Mas o que era mais incomum, era pensar na cena de milhares de pessoas passando pela estação e vendo um canal de desenhos animados ao invés daquela maravilhosa peça de picanha no espeto do comercial da churrascaria do texas.

— Eu particularmente prefiro assim. — Comentou Ezequiel quando certificou-se que o colega estava no mute.

— Mas se tá passando a programação de um canal de televisão à cabo isso pode significar que ele pode reproduzir outros canais…

— O que é que você quer dizer com isso?

Nosso herói se recordou, que ao contrário da televisão aberta, a televisão à cabo possuía alguns canais, bem, como eu posso dizer, “pesados” para o público geral.

— Senhor têm alguma televisão à cabo na área dos funcionários da estação? — Kauã sabia que, como a maiorias das empresas grandes, as estações do metrô possuem salas especiais para descanso de seus funcionários e que geralmente estas possuem televisões com canais especiais.

— Acho que sim, mas como é que elas estão ligadas.

Enquanto o atendente explicava para o responsável da infra como aquela macumba louca acontecia os painéis mudavam de canal; primeiro o canal de receitas, depois aqueles de teorias loucas e por fim, mas não menos importante, ou deveria dizer o mais importante (?), o canal que mostrava algo bem gostoso de se fazer.

No momento que a imagem daquela forma sendo batida surgiu, um efeito em cadeia foi se instalando na estação. As escadas rolantes tiveram seus passageiros apanhados pelo movimento hipnotizante que os fazia se perder em devaneios. Os pensamentos eram tão fortes, porque quase todo mundo ali amava aquilo, que quando chegavam ao final das escadas rolantes esqueciam-se de continuar caminhando e acabavam tropeçando uns nos outros.

— Ai meu Deus. —  O responsável pelos painéis chamou seus subordinados para começar a sinalizar o final das escadas. —  As pessoas estão praticamente hipnotizadas por essa droga.

—  Aí chefe, já era. —  falou Kauã sinalizando com a mão e corte de garganta.—  Tá todo mundo se embolando no final da escada rolante.

—  Nossa quanta gente safada em um lugar só viu…

— Senhor tente ignorar essa pornografia e vai na sala de estar desligar a televisão que
tá causando a interferência.

Kauã tentava fazer o cliente não se distrair com as imagens que ele acreditava ser de um canal para maiores.

— Nossa que gostosa…

— Senhor tenha vergonha na sua cara, existêm crianças na estação!— Na verdade ele não poderia afirmar aqui, mas como têm tanta gente passando para lá e para cá foi meio que óbvio ele mandar uma dessas.

— Que maciez…

— Senhor!

— Que recheio gostoso…

— Recheio? — O supervisor e o subordinado se questionaram.

— Como eu queria comer uma dessas agora.— O cliente falava salivando como um coiote ao capturar um faizão.

— Senhor o senhor está falando de uma pessoa?

— Pessoa?— O cliente voltou a consciência.— Não! Eu estou falando de croissant de chocolate.— voltou a derramar um mar de baba. O canal que os telões estavam sintonizados mostravam a feitura de um croissant de chocolate gigante.— Não precisa mais resolver não, melhor assim mesmo.— Falou o cliente encerrando o contato bruscamente.

— Então tá né...— Falou Ezequiel fechando a monitoria do subordinado.