Atendimento #206: Suja

Pinguem é nerfeito…

Você não é perfeito, eu não sou perfeito, os atendentes não são perfeitos...Mas os clientes, ah eles são. Julgam-se detentores da verdade absoluta, deuses dos próprios telefones fabricados na china. Mas quando o negócio aperta eles logo ficam pianinhos.

— Claro senhora, porque eu quero saber da sua vida mesmo...— Amanda mascava o chiclete furiosamente, o atrito que seus dentes faziam na goma era tanto que essa ja perdera a consistência emborrachada e ficara mole. Cuspiu no canto da mesa.

— Mas eu vou falar, assim você vai entender o meu sofrimento.

— Senhora, eu não… — Amanda não conseguiu impedir que a mulher começasse o relato de sua vida sofrida.

— Licença. — Soou uma voz a esquerda de Amanda que em seguida puxou uma cadeira e sentou-se ao seu lado.

— Toda. — A garota nem se quer olhara para o recruta ao seu lado.

A mulher falara da filha que foi para tóquio e trouxe diversos aparelhos surreais para sua casa, do marido que trabalha e mal tinha tempo de fazer uma salada de azeite com ela e do filho que queria fazer de tudo na vida, menos trabalhar.

— Tá complicado as coisas hoje? — Perguntou o novato ao ver a garota abrir um novo chiclete e anotar furiosamente os dados no sistema. — As coisas estão melhores depois que ele virou supervisor não é?

— Claro o Ezequiel sempre estudou para ser um líder, não me admira que ele consiga a confiança de todos assim. — Amanda colocou no mute e virou-se para o recruta. — Mas como você sab-

Com as sobrancelhas arqueadas e um sorriso amarelo Kauã a encarava sem dizer palavra. Nitidamente surpresa amanda chamou pelo supervisor erguendo a mão, sem demora e a passos dançantes ele se aproximou.

— Diga querida, tá sentindo alguma coisa? As crianças estão bem?

Desde que a ex major ameaçou as crianças elas nunca mais perturbaram em nenhum momento, na realidade a ordem fora tão clara que ninguém duvidaria se os bebes pedissem permissão para nascer.

— Não estou sentindo nada de errado por dentro, o problema está do lado de fora. — Apontou para Kauã. — Como assim ele voltou para o setor?

E a cliente a falar.

— Ué ele fez a prova, estudou, passou e agora está aqui. O que têm de mais ele ser promovido novamente ao cargo dele? Eu confio na competência dele.

— Você esqueceu o que ele fez com você?

— Não, nem me importa mais, eu não cheguei onde eu queria chegar? — A garota silênciou-se.— Então já era fera. Aliás...— Estalou os dedos algumas vezes. — vai atender que você não precisa de treinamento, to ligado que você ja sabe das coisas.

— Eu não preciso de passar pela entrevista de novo?— Perguntou o ex supervisor deposto.

— Seu teste do sofá já rolou com o gestor. — Ezequiel entregou-lhe um headset. — Mas eu quero ver sua primeira ligação só para ver se você está alinhado com as novas praticas do setor.

E a cliente a falar para ninguém.

Amanda e nosso heroi se entreolharam por um instante em uma espécie de troca de mensagem semi telepática.

— Então tá...— Amanda respondeu terminando de registrar as informações. — Vamos ver se ele está manjando mesmo.

— Pega a P.A do lado e se prepara. — Ezequiel transferiu para Kauã a cliente ainda falando com os ventos. — Seu teste começa agora, acabe com essa ligação em trinta segundos!

Kauã assustou-se com a norma imposta pelo superior, mas essa surpresa durou poucos instantes pois ele passou a ler rapidamente o que Amanda registrara.

— Tá de brincadeira que era isso o caso dela né? — Virou-se para a garota.— Senhora, senhora.

— Oi agora é um homem que está me atendendo? Eu vou te falar o que aconteceu…

“Dez segundos” Ezequiel sussurou.

— Não, xiu quieta. Eu já li o que aconteceu, só queri dizer que seu celular é aprova d’agua então pode pegá-lo de dentro da privada que ele vai funciona.

— Mas a privada é suja eu não vou querer tocar no celular depois disso.

— A senhora é suja e o celular não reclama de tocar em você!

Ezequiel deu dois tapinhas no ombro do subordinado em aprovação e em seguida apertou o ombro direito de Amanda.

— Viu? Eu disse que ele é competente. — Anunciou sorridente em direção a esposa.