Atendimento #197: Café de Sábado

Você já ouviu falar de boicote? Isso aquela história de um monte de candango se juntando para causar algum dano financeiro a uma determinada empresa. Recusa de pagamentos, reclamações em massa e devoluções em grupo são apenas uma das inúmeras maneiras de boicotar uma empresa de maneira não física.

Existem inúmeras razões para se realizar um boicote, serviço e o atendimento de qualidade péssima são umas das mais recorrentes no Brasil. No caso da empresa de nosso heróis o problema nem era o atendimento, mas sim um funcionário que resolveu usar o nome dos clientes em cadastros de sites de pornografia e traição.

— Têm certeza que é hoje mesmo?  — Amanda perguntava preocupada enquanto o elevador subia. Sua barriga roncou e as crianças em seu ventre se reviraram. — Eu já tô ligada o duplinha do barulho, calma que já estamos chegando.

— Eles estão adivinhando que vai ter coisa boa para comer.  — A porta do elevador abriu.  — Claro que eu tenho, você acha que eu seria burro o suficiente para esquecer o dia que o Igor me disse?

O corredor escuro culminava na entrada da empresa, esta, protegida por uma porta de vidro, que estava suja pra caramba porque a faxineira estava de TPM, tinha uma figura bem impaciente a esperar pelo casal.

— Como as duas mocinhas conseguem se atrasar em pleno sábado.  — Igor Alastor batia o pé enquanto dava as costas para os dois. — Vamos logo que eu tô cheio de fome.

O trio parada dura foi logo para a área da cantina onde todos almoçavam e tomavam café. Ali dentro todos os operadores do setor de nossos heróis estavam aguardando para atacar uma série de alimentos saborosos.

— Quando o negócio é comida você sempre está por perto né não? — Ezequiel colocou os lanches que trouxera consigo sobre a mesa.

— Filhote eu que comecei a tradição do café de sábado.— Igor já abria o saco de pão e passava requeijão.— Agora que você é o supervisor pode muito bem fazer isso no meu lugar.

Ancelmo preparava um misto frio recheado de salgadinho de pimenta mexicana, aliá eu tenho de abrir um parêntese para isso...E UMA PARADA MUITO BOA EXPERIMENTEM. Voltando. O adestrador observou a indumentária que Igor trajava e percebeu que o ex chefe jamais usaria aquela roupa social fresca.

— Hey! — A boca soltava farelo sobre a cabeça de Luly que tinha descoberto que o café aconteceria e apareceu sem convite e sem comida alguma pra compartilhar. — Por que você está usando isso Igor? Tem haver como o serviço novo? — Segurou a risada e quando emendou a fala novos farelos voaram.— Fala a verdade, você é obrigado né?

— A meu querido o emprego que eu tou agora não têm ninguém acima de mim não. Eu agora tô trabalhando de-

— Que inferno Ancelmo, seu infeliz — Luly interferiu Igor ao retirar os farelos do cabelo. — Sabe comer sem deixar farelo em cima das gurias não?

Ezequiel conferiu o celular enquanto Amanda comia como se fosse uma doida varrida. Nosso herói logo verificou que realmente acontecia um burburinho nas rede sociais envolvendo a empresa.

— Como você sabia que isso iria acontecer hoje?

— Ah, eu tenho meu jeito de descobrir as coisas ne pivete.— Igor colocou um copo de café e ofereceu ao pupilo consagrado.— que horas são aí no relógio de vocês?

Todos conferiram e o consenso era que faltavam dois minutos para as nove da manhã, para quem trabalha no dia de sábado as nove da manhã significava o inicio do expediente.

— Bom eu não estou nem ai pra eles e vocês? — Falou Ezequiel levantando o copo de café e um pão com mortadela na outra. Todos responderam afirmativamente em uníssona. — Então beleza bora encher a pança até explodir, depois vemos o que fazer.

Faltava dez segundos para as nove da manhã.

— Aê macacada, Fica todo mundo quieto que eu quero ouvir os otários.

Os “otários” a quem Igor se referia eram os clientes que ele próprio tinha cadastrado em sua vingança suprema, sim aquela relatada no atendimento #160. Esses haviam se organizado e haviam decidido, por meio de redes sociais, que ligariam todos ao mesmo tempo as nove da manhã daquele sábado para reclamar do ocorrido.

Alguns segundos depois do pronunciamento de Igor, todos os telefones do setor de Ezequiel tocaram ao mesmo tempo, entretanto, não havia nenhum atendente lá para receber os cliente furiosos.

Os atendentes continuaram comendo enquanto caiam na risada a cada novo toque desenfreado que ressoava de seus telefones.

— Vão ficar aí seus bando de trouxas, quem mandou avisar que vão fazer boicote, agora quem boicota o boicote é a gente! — Falou Amanda com a boca cheia de pão entre uma gargalhada maligna e outra.