Escutei um som conhecido, uma respiração.

Além da respiração, eu podia escutar um som de choro, aquele mesmo som que eu escutava quando Sophy queria chorar. Um som seco, sem lágrimas.

Meu corpo doía, mas não tanto como da outra vez. Sentia as mãos de Sophy me acariciando, tentando me ajudar. O chão era irregular, doía minhas costas.

- Acorda meu amor... – A voz dela saia com dor. – Preciso de você para viver...

Tive um pouco de dificuldade para abri os olhos, mas logo os abri. Olhei para o rosto de Sophy, ela estava com a expressão de dor.

- Você acordou, você acordou... Tive tanto medo...

Abracei-a forte, sentindo meus músculos se contraírem. Eu estava me curando, seja lá do que tinham feito comigo.

- O que aconteceu? – Sussurrei em seus ouvidos.

Ela voltou a chorar sem lágrimas. Era algo ruim.

- Você atendeu a porta... você viu quem era?

- Não vi, não tive tempo, a dor...

Ela suspirou.

- Era Jane Volturi, junto com Alec Volturi. Eles queriam machucar nosso filho... Eles te atacaram, ou melhor, ela te atacou... Eu não pude fazer nada, o escudo... Ele falhou... – Balançou a cabeça, como se entregasse. – E logo Alec estava me machucando, eu não via mais nada! Eles queriam nosso filho...

- O que aconteceu com Ian? – Perguntei desesperado.

Não tinha visto meu filho junto conosco, será que ele... Não, eles não fariam mal para Ian, ele era especial demais, eles não iam matá-lo... Se eu conhecia bem os Volturis, eles queriam usar nosso filho...

- Eu não sei. Eles não o acharam, ele sumiu...

Fiquei um pouco aliviado, mas a preocupação voltou. Se ele tinha sumido, pelo menos os Volturis não tinham o pegado, mas onde ele estaria?

- Estou preocupada. – Ela afirmou. – Mas acho que ele está escondido, ele é esperto, deve ter fugido...

- Temos que achá-lo antes dele! – Murmurei nervoso.

- Não podemos, estamos presos!

Olhei para os lados e notei que estávamos num quarto, sem nenhuma janela ou móvel, apenas uma porta. Era um ambiente cinza, dando a impressão de frieza.

- Podemos escapar daqui... – Murmurei sem entender.

- Não, tem guardas lá fora, eles querem nos pegar...

- Mas você pode com eles, você não tem o poder de Jane e de Alec?

Ela me olhou de expressão cansada, continuei sem entender.

- Não consigo copiar os poderes deles, não consigo, eu tentei, mas quando eu tento, fico cega... não consigo copiar poderes quando estou cega... esse é meu ponto fraco.

Ela voltou a chorar, frustrada. Estávamos presos, estávamos perdidos... nosso filho, não sabíamos onde ele estava... seria o nosso fim...

Escutamos vozes vindo do lado de fora.

- ... Está na hora de falar com nossos visitantes... – Reconhecia aquela voz...

- Mestre, já posso cegá-la? – Também reconheci está voz, era de Alec.

- Claro. – Lembrei-me de quem era a voz respeitosa e prepotente, Aro.

Sophy segurou minhas mãos, forte. Olhei para ela e vi que estava completamente cega, passei meus braços em torno de seu tronco para ajudá-la.

Eles abriram a porta, escutei o rangido dela se movendo, mas não olhei para os dois. Escutei os passos chegando mais e mais perto.

- Estou vendo que a vampira que ama animais já está cega... – Murmurou irônico. – Se você falasse onde está seu filhinho, eu poderia soltar vocês dois...

- Não sei onde ele está! – Sophy murmurou brava.

- Então deixe-me ler sua mente!

Aro veio perto dela e tocou em suas mãos. Fiquei rígido, queria tirá-la de lá, salvá-la do toque imundo.

- Não há nada aqui. – Ele murmurou. – Parece que quando fica cega, nem isso é capaz de fazer, pensar.

Aro deu passos para lá e para cá, nos olhando.

- Não quer se juntar a nós? Você larga esse lobo imundo, venha com seu filho...

- Ele não é... – Sophy começou a dizer, mas notei que sentia dor.

- Venha querida, vamos conversar!

Aro fez um sinal com as mãos e percebi que deveria segui-lo. Segurei o corpo dela para que ela não se machucasse, e fomos andando lentamente para fora do quarto.

Andamos por um longo corredor, sombrio. Ele falava coisas para Alec, mas eu não conseguia entender, usava outro idioma, Italiano.

Chegamos num longo salão cheio de vampiros. Todos nos olhavam, mas eu sabia que os olhos eram voltados para Sophy.

No meio do salão tinha mais dois vampiros, sentados em cadeiras reais. Eles deveriam ser Caius e Marcus, dois escravos de Aro.

- Já descobriu onde o garoto está? – Marcus disse, sua voz sem emoção.

- Não. – Aro riu, um riso maléfico. – Parece que ela quer defendê-lo... – Ele olhou para ela. – Já disse que não faremos mal a ela e ao menino...

Senti os pelos de minha nuca se eriçarem. Eles iam fazer mal a mim se ela aceitasse... será que não seria melhor se ela virasse da realeza?

Pelo menos assim, eu morria, mas ela poderia viver e ser feliz com nosso filho. Não teria problema nenhum, morreria para meu amor.

Ela apertou minha mão, eu sabia que ela não podia ler meus pensamentos, mas com certeza, ela imaginava meu comportamento suicida.

- Venha Alec. – Aro o chamou.

Ele foi seguindo Aro, que se juntou a Jane, Marcus e Caius. Alec ficou de costas para mim, e uma ideia surgiu.

Se eu o matasse, se conseguisse pelo menos deixá-lo incapacitado por alguns segundos... Sophy voltaria a enxergar e poderia escapar... ela poderia sair daqui viva, matar todos e sair...

Mas eu teria que ser rápido, aproveitar desse momento de distração e pegá-lo pelas costas. Sabia que minha sentença de morte estava declarada, ia morrer.

Iria morrer por amor, morrer por meu imprinting... ia salvar meu filho, e o resto do mundo vampiro... eu precisava salvar minha família...

Olhei para Sophy, sua situação me fez ter mais coragem. Ela chorava, sem lágrimas, olhando o vazio.

Abracei seu corpo mais forte, essa seria a ultima vez que eu a veria, o nosso ultimo abraço... queria ter a oportunidade de dar um beijo, mas não daria tempo.

- Eu te amo. – Sussurrei no seu ouvido.

Ela virou seu rosto para me olhar, mas sabia que ela não via nada. Sua expressão era de quem não entende nada, mas ela respondeu.

- Eu também te amo.

E essas foram as ultimas palavras que ouvi de seus lábios. Soltei seu ombro, tudo numa velocidade enorme. Ela tentou me pegar, mas fui mais rápido.

Transformei-me, nunca tinha virado lobo em tão poucos segundos. E corri, corri fitando a cabeça de Alec, eu iria tirá-la, antes que algo pudesse me atingir.

Vampiros da guarda real tentaram me pegar, mas eu fui mias rápido e me esquivei de cada. Nada podia me parar, eu ia salvar meu amor.

Cheguei em Alec e finquei meus dentes em seu pescoço, arrancando-o. Senti muita dor me atingindo, física e mentalmente...

Meus ossos estavam se despedaçando, e eu sabia que minha missão tinha se cumprido... minha história tinha se acabado no amor...