PDV— Freddie

Quando penso que já tenho problemas suficientes, a "vida" vem e me dá a oportunidade de adotar mais um... E outro... E mais outro!

Não tenho dúvidas de que minha relação com a Carly foi por água abaixo. Penso que aquilo que era paixão acabou virando um grande e profundo... Nada!? 

Por alguma razão eu não estava me sentindo extremamente triste por não ter mais amizade da Carly - há alguns anos atrás eu estaria me matando por ousar pensar essas coisas -, mas, agora, sinto que o que for para acontecer... Irá acontecer. 

(***)

Preparo-me para ir ao colégio e justamente no momento em que ia saindo, percebo a presença da Shay, que também ia saindo do apartamento dela. 

Talvez, para evitar a minha companhia, ela seguiu por um corredor diferente do prédio. A princípio não liguei muito para a decisão dela, pois, mesmo quando éramos amigos me sentia um pouco desconfortável ao seu lado e, além do mais, não tínhamos muitos assuntos interessantes. 

Assim que cheguei no Ridgeway fui para os "Achados e Perdidos", para procurar a minha mochila. Com a confusão, no dia anterior, acabei fugindo do colégio sem levar nenhum dos meus materiais.

— Meu nome é Freddie Benson - falo para a recepcionista do colégio, que tomava conta dos Achados e Perdidos. - Vim procurar minha mochila... Ela é meio vermelha... Ops... Azul! - corrigi-me a tempo. - Azul!

"Onde estou com a cabeça!? Acabei de confundir a minha velha mochila com a da Sam!"

— Aqui está - disse a moça me entregando a mochila, que estava dentro de uma caixa com vários pertences. - Assine aqui para comprovar que realmente recebeu e se responsabiliza pelo pertence.

Assinei uma papelada e me retirei do Achados e Perdidos com a minha mochila nas costas. 

Olhei para o relógio do meu Pear Phone e reparei que restava-me apenas cinco minutos (antes que o sinal tocasse). A minha primeira aula era de Matemática Avançada com o Sr. Howard.

Decidi gastar meus últimos minutos zanzando pelos corredores. 

— Freddie! - ouço alguém, atrás de mim, gritar o meu nome.

Rapidamente viro-me e tomo o maior susto, pois a pessoa que chamara o meu nome era ninguém mais e ninguém menos que a Wendy.

Ela aparentava estar bem, porém, com um dos braços engessados. 

— Ah, oi, Wendy! - fingi um sorriso falso. Afinal, o que ela quer de mim!? Me chantagear para não ter que espalhar para a escola toda que Sam e eu estávamos escondidos na quadra, possivelmente traindo o meu melhor amigo, Brad. - Como você está? 

— Estou bem, sabe? - Ela suspirou, meio entediada. - Ontem foi muito sufocante, intenso, doloroso... Mas é estranho, sabe? - ela me perguntou, mas eu não dei a mínima. - Não me lembro de nada que aconteceu ontem...

Ergui as minhas sobrancelhas para ela, surpreso. 

— Você... Não se lembra de nada? - perguntei e ela negou com a cabeça. 

Talvez fosse errado dizer isso, mas, fiquei muitíssimo feliz ao saber que a Wendy perdeu a memória, embora não tivesse demonstrado a animação na frente da garota. 

— Olha, Wendy - segurei seus ombros, rapidamente. - Eu vou ter que ir para a sala mais cedo hoje. Então...

— Tudo bem... - Wendy entendeu e se despediu de mim, sem mais delongas. 

(***)

Depois da minha estranha conversar com a Wendy, corri para a minha sala de Matemática Avançada. 

A sala não estava tão cheia quanto na semana anterior, porém, não fiquei tão preocupado com a quantidade de pessoas naquela sala - Eu mal falava com elas.

No entanto, uma coisa me deixou intrigado: a Sam já se apresentava na sala. Normalmente ela era a última a chegar.

— Você não sabe o que acabou de acontecer! - falei para a loira, animado, largando minha mochila na cadeira de qualquer jeito. 

Sam não parecia tão interessada no meu assunto, ficava olhando para o Pear Phone vermelho a cada dois minutos. 

— A Wendy não se lembra de absolutamente nada! - falei num tom em que somente eu e ela pudéssemos escutar, mesmo que ela não quisesse me ouvir.

Sam largou o celular na banca e me encarou seriamente, como se estivesse analisando as minhas palavras. 

— Quer dizer que ela perdeu a memória? - perguntou. - Como você tem tanta certeza disso? 

— Eu falei com ela...

— Ah, Benson, como você é idiota! - Ela quase levantou da cadeira de tanta ignição. - Para que você foi falar com ela!? Aposto que foi perguntar se ela estava bem ou... Se doeu quando eu dei o meu golpe nela...

— Calma! - falei, dando um basta. - Não foi nada disso que você estava imaginando... Bem... Foi a Wendy que veio até mim e eu não entrei nesse assunto, embora ela viesse me justificar esses fatos.

Sam não parecia muito convincente. 

— De qualquer forma é estranho. Você tinha algum contato com ela antes dessa confusão toda? - Ela me perguntou, rangendo os dentes, e eu respondi que não com a cabeça. - Viu só! Essa garota deve estar mentindo.

— Mas e se for verdade...?

Sam bufou para si e tornou a olhar para o Pear Phone, ignorando a minha presença. Também passei a ignorá-la quando o Sr. Howard chegou na sala.

Assim que a aula terminou, Sam pegou os matérias, jogou na mochila - sem muita importância - e saiu da sala, sem falar comigo ou com qualquer outro.

Pela expressão que saiu, algo de errado deve ter acontecido e eu estava disposto a saber o que aconteceu para ela estar agindo dessa maneira. Então, guardei os meus objetos na mochila e a segui, sem que ela notasse.

(***)

A loira passou por um corredor, por outro e... Outro, até chegar no corredor principal, onde jogou a mochila vermelha dentro de um armário minúsculo. 

P.S.: Notei que ela checou o Pear Phone pela última vez antes de sair do colégio. 

Do lado de fora, a Puckett pegou sua bicicleta - sempre jogada no gramado do colégio - e foi embora. Logo deduzi que ela foi na direção de sua vizinhança perigosa e só tive certeza disso quando cheguei lá. E, claro, demorei meia hora, pois fui a pé. 

Enfim, quando cheguei na casa da Puckett, achei a bicicleta dela jogada de qualquer forma no jardim e da janela da sala de estar encontrei uma loira pensativa, deitada num tapete de onça e com as pernas para o ar.

Ela tomou um grande susto quando me viu na sua janela e, num pulo, se levantou para abri-la.

— O que quer pateta!? - Ela me questionou, bastante chateada. 

Faltou-me palavras para responder essa pergunta. Àquela altura eu já me esquecera do motivo de estar ali, de ter seguido a Sam e de ter andando metros para encontrá-la.

— Eu... Eu... Eh...

— Pretende completar alguma frase hoje? - Ela zombou, encarando-me com um sorriso de lado. - Olha, Benson, você não pode aparecer assim do nada! Odeio levar sustos.

— Desculpa... - falei, sem jeito. 

Ela suspirou, coçando os cabelos de uma maneira divertida e ainda lançou um argumento irônico para cima de mim:

 - Tudo bem, não é difícil olhar para a sua cara e se assustar...

— Ha ha! - Fiz, para que ela não perdesse a graça e, então, fiz uma pergunta indecente: - Eu posso entrar? 

Ela me encarou de um jeito estranho e tive certeza de que ela iria dizer não, mas, no fim, ela aceitou.