By The Sea escrita por Breatty, Ballus


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Penúltimo capítulo, pessoal.



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Vanessa

7 meses depois

Eu e Roland já temos 11 anos juntos e já tentamos duas vezes engravidar, mas minha gravidez não foi adiante. Sofri dois abortos, duas perdas irreparáveis, estou tentando, mas acho que jamais vou conseguir superar. O último aborto que sofri a alguns meses atrás me levou a ficar pior do que jamais imaginei ficar, não tenho vontade de fazer nada e Roland mudou bastante também, não somos mais os mesmos, estamos sofrendo até hoje. O médico não ofereceu nenhuma explicação concreta do motivo de eu ter sofrido os abortos, só disse que isso pode acontecer com algumas mulheres e que eu devia tentar mais uma vez.

Roland me convenceu a tentar engravidar novamente, foi difícil, mas resolvi ceder, dá mais uma chance para ter o nosso bebê. O médico já havia recomendado no mínimo seis meses para tentar novamente, então esperamos os seis meses passar e faz exatamente um mês que estamos tentando sem sucesso. Não sei mais o que fazer. Estou com medo, me sinto perdida, sem saída, desmotivada. Eu e Roland não conversamos muito mais, eu vejo que ele sofre bastante também, principalmente porque eu não deixo ele se aproximar muito para conversar. Acho que tenho medo de conversar e ouvir coisas que não quero ouvir, na verdade ando tão confusa que nem consigo pensar e me expressar como sempre fiz.

Estou sentada na varanda do nosso quarto, é uma varanda simples que dá para a frente do prédio. Quero fumar ou beber alguma coisa, mas estou tentando me segurar.

Roland entra sorrateiro e senta ao meu lado no mini sofá que temos na varanda.

— Vanessa, acho que deveríamos ir à um médico...

Interrompo ele.

— Para que?

— Para saber o porquê de não conseguirmos engravidar... o que está acontecendo, se tem alguma coisa para ajudar.

— Eu já sei porque Roland, e você também, é por minha culpa.

Digo meio irritada e meio cabisbaixa. Ele segura meu rosto delicadamente e nossos olhos se encaram.

— Já disse para você parar de dizer isso Vanessa. Não é sua culpa, essas coisas acontecem por um determinado motivo, e você não tem culpa alguma. Por favor, odeio ouvir você dizendo isso.

Ele suspira e continua me encarando, eu desvio meu olhar do dele. Ele continua.

— Você fica se martirizando com isso... esse seu pensamento só faz você se sentir pior, e eu me sinto pior junto, porque vejo você desse jeito pelos cantos, me evitando.

— Você também me evita.

— De certa forma sim, mas evito porque você me evita primeiro e me afasta sempre que penso ou tento uma aproximação... e eu só não quero forçar nada. Desculpe. Estou tentando respeitar seu espaço.

Roland ultimamente vive no bar mais do que tudo. Não consegue mais escrever e está sofrendo com um grande bloqueio criativo. Nós dois fomos afetados.

— Então você acha bom irmos no médico?

— Sim, estamos tentando a um mês e nada... isso só está piorando nossa ansiedade. Acho que o ideal é irmos ao médico investigar, ter uma posição concreta em relação ao que podemos fazer.

— Tenho medo do que o médico vai dizer.

Confesso e ele me olha com pena.

— Medo? Porque amor?

— E se ele disser algo ruim?

— Baby ele pode dizer várias coisas. A única coisa que podemos fazer é ir à consulta e ouvir, temos que suportar o que ele disser, e isso vai ajudar a gente a solucionar o problema para termos o nosso bebê. Ok?

Aperto a mão dele e encaro o horizonte perdida em pensamentos e medos.

— Concordo com você. Temos que resolver isso de uma vez. Obrigada.

— Estamos juntos Vanessa, independente do que aconteça.

— Não quero que a gente continue assim distante e triste.

— Eu também não quero.

Nos abraçamos e a brisa do por do sol envolve nosso abraço. Sinto falta do meu marido, sinto falta do seu calor e de sua presença.

— Vamos ao médico então. Vou marcar a consulta.

Digo e me levanto indo até o telefone para marcar a consulta.

Consigo uma vaga para o dia seguinte logo pela manhã.

[...]

Na manhã seguinte acordamos cedo ansiosos para a consulta. Pegamos o carro e seguimos para o consultório. Chegamos ao consultório e logo fomos chamados.

Explico ao médico sobre os dois abortos que sofri, e digo que esperamos os seis meses de intervalo até começar a tentar de novo, mas sem sucesso até agora.

Ele diz que não tem como oferecer nenhum diagnóstico ainda, só após os exames e dá investigação que ele tem que fazer para chegar a raiz do problema.

Isso só me faz ficar mais ansiosa, faltou pouco para eu brigar com ele, quero saber logo o porque de tudo isso.

Ele passa alguns exames e nós saímos da consulta mais nervosos do que entramos.

[...]

2 semanas depois

Voltamos ao médico com os resultados dos exames. Hoje vamos saber o que fazer para conseguirmos engravidar.

Eu e Roland estamos sentados em frente ao doutor enquanto ele examina o resultado dos exames com extrema atenção. Eu acompanho seus movimentos, praticamente suplicando por uma resposta, quero acabar com nossa angústia. Roland segura minha perna e minha mão está apoiada em cima da sua.

O médico tira os óculos e encara a nós dois com uma expressão de pena, mas ao mesmo tempo com uma postura extremamente profissional.

— Roland e Vanessa... Preciso ser direto com vocês. É difícil para mim oferecer esse tipo de diagnóstico, mas infelizmente é algo que está fora do meu controle. – ele nos olha e eu sinto que vou desmaiar ali mesmo, o que ele quer dizer com isso? — Vanessa, você é estéril.

Sufoco um grito. Sufoco o choro. Levo minhas mãos a minha boca e é a única reação que tenho no momento. Estéril? Como assim? Porquê? Então realmente é tudo minha culpa?

Roland me olha e vejo lágrimas eu seus olhos. Minha dor aumenta. Então não vou poder dá um filho a Roland por minha causa? Isso é demais para aguentar. Não sei o que fazer.

O médico percebe o nosso desespero, estamos sem reação.

— Sinto muito.

Ele diz solidário.

Meu choro antes sufocado agora desaba em mim, e eu soluço de tanto chorar. Roland me abraça e chora também.

Meu corpo me traiu.

 

Roland

Eu e Vanessa choramos abraçados. Estou praticamente sem reação. Estéril? Porquê? O que fizemos de errado?

Olho Vanessa nos olhos, e eles estão perdidos e refletem os meus. Ainda não conseguimos entender nada, a ficha não caiu.

Decido tentar algumas palavras.

— Estéril doutor?

O doutor tenta manter uma postura profissional respirando fundo, mas dá para perceber que ele está afetado pela nossa situação. Ele começa a explicar.

— Pedi exames muito específicos para encontrar a explicação do problema logo... e depois de analisar os resultados ficou muito claro que Vanessa é estéril. Por isso suas duas últimas gravidezes foram interrompidas, por isso dos abortos espontâneos. Você engravidou, mas seu útero e endométrio não conseguem segurar e levar a diante uma gravidez, então ocorrem os abortos espontâneos. Se você engravidar de novo, vai sofrer outro aborto espontâneo. Sinto muito. Eu sei que é um momento difícil, sempre fico de coração partido quando tenho que explicar a meus pacientes sobre isso, mas o nosso corpo é assim imprevisível. E por favor, não se culpe Vanessa, é comum as mulheres pensarem isso, mas você não pode pensar assim, não é culpa sua e nem de ninguém.

Vanessa chora tanto que seu peito parece que vai explodir. Eu beijo seu cabelo, é mais doloroso ter que vê ela sofrendo assim, eu sofro, mas tenho que ser forte por ela. Estou devastado, tento parecer sóbrio por fora, mas a verdade é que quero me debulhar em lágrimas.

Vanessa me encara, sua expressão é de doer.

— Desculpa Roly. Desculpa por isso... não vamos ter um filho por minha causa... a culpa é minha sim, meu corpo me traiu e eu sou infértil.

Ela diz entre soluços.

— Vanessa, por favor não diga isso... você sabe que isso não é verdade! Pare de se culpar, isso não é justo.

— Não vamos ter um filho... não podemos fazer nada porque sou estéril!

Ela aumenta o tom de voz desesperada.

Eu passo a mão pelo rosto limpando minhas lágrimas. Abraço Vanessa, mas ela está agitada e não fala mais nada.

— Vamos indo então doutor. Obrigada pelo seu tempo.

Digo. Precisamos sair desse ambiente angustiante. Precisamos da nossa casa, precisamos ficar sozinhos, eu e ela.

— Não tem o que agradecer, Roland. Novamente, sinto muito. Desejo boa sorte a vocês, e sei que vão superar esse momento. Tchau Vanessa, fique bem por favor.

Vanessa seca as lágrimas do rosto e se levanta com dificuldade, eu seguro sua cintura para ajudá-la.

Ela não diz nada, apenas acena para o médico sem emoção alguma e nós saímos do consultório abraçados e calados.

O caminho para casa nunca pareceu tão longo como dessa vez. Vanessa estava calada com o rosto virado para a rua e eu perdido em pensamentos.

Após o que pareceu uma eternidade chegamos em casa.

Assim que entramos em casa Vanessa larga a bolsa no sofá e saí andando em direção a cozinha, com algum objetivo em mente. Eu sigo ela preocupado e vejo ela pegar uma garrafa de vodka e virar na boca sem cerimônia alguma. Seu rosto está vermelho e as lágrimas brotam novamente.

— Ei ei. Vanessa, pare com isso. Não é assim que vai resolver as coisas.

Eu me aproximo e puxo a garrafa da mão dela. Ela escorrega para o chão e dobra os joelhos chorando.

— Ness... por favor.

— Roland, por favor, me deixa quieta aqui.

Ela pede com a voz chorosa.

— Quer dizer que não podemos superar isso juntos? Temos que ficar cada um em um canto? Eu não quero isso e você também não.

— Eu estou com vergonha e me sentindo um lixo... meu corpo fez isso comigo e com você também. Você deve estar me odiando, não quero forçar você a ter que ficar tentando me consolar... você tem o direito de ficar triste e zangado comigo, eu entendo.

— Odiando você? Vanessa... de onde você tirou isso?

Faço uma pausa respirando fundo.

— Jamais eu odiaria você por nada nesse mundo. Isso não é culpa sua, não foi você que quis isso. Se você ficar pensando assim vai acabar se destruindo. Eu amo você. Foi uma notícia que não esperávamos claro, também estou triste e devastado, mas não por sua culpa.

— Desculpe...

— Estamos juntos Ness, vamos superar juntos.

— Superar? Como vamos superar isso? Roland... não sei se consigo... não sei... está doendo tanto...

Ela começa a chorar novamente e eu choro junto com ela.

Passamos alguns minutos ali no chão da cozinha abraçados, até nosso choro cessar.

— Vamos deitar um pouco?

Ela pergunta e eu levanto com ela apoiada em mim.

— Vamos.

Seguimos para nosso quarto e deitamos na cama para tentar dormir um pouco.

Ela me abraça e parece que está mais calma.

 

Vanessa

1 ano depois

Acho que estou em depressão. Tudo só piorou desde aquele dia da consulta, onde recebi o diagnóstico de que sou estéril. Roland e eu estamos totalmente e completamente distantes. Praticamente não conversamos mais, eu evito ele a todo custo e ele fica com raiva e me evita também, não posso negar que ele tenta se aproximar as vezes, mas eu nunca consigo corresponder e acabamos brigando.

Definitivamente não me sinto a mesma pessoa de anos atrás. Aquela Vanessa alegre, elétrica e que amava a vida já não existe mais. Roland também não é o mesmo, ele já não consegue escrever e está sofrendo com um bloqueio criativo, bebe direto e a maior parte dos dias permanece no bar da esquina e quase sempre volta para casa bêbado com seu caderno em branco nas mãos.

Quase não saio mais e evito a todo custo eventos sociais e coisa parecida. Não tenho mais ânimo e nem disposição para fazer nada. Sinto muita raiva de mim mesma e acho que não vejo nenhuma luz no fim do túnel para minha situação. Quando olho para meu futuro, só vejo amargura e tristeza. Amo Roland e com certeza ele não merece passar pelo o que está passando, mas o fato é que eu não estou ajudando em nada para tentar sair desse momento obscuro que estamos vivendo, não tenho forças e nem estímulo para isso.

Ter um filho era tudo o que queríamos e meu corpo acabou me traindo dessa forma tão perversa e amarga.


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Notas finais do capítulo

Beijos.



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