Essa semana tem sido uma loucura.

 De verdade.

 As coisas tem ficado mais difíceis, e é difícil se concentrar e enxergar um lado bom em tudo isso.

 Mas eu tenho tentado.

 E tentado.

 E tentado.

 Acredite.

Tenho tentado demais.

Tenho feito minhas caminhadas pelas manhãs.

 Duas vezes na semana.

Cumprimento meus vizinhos e eles me cumprimentam de volta e isso me deixa feliz. Gosto de correr perto do parque e principalmente quando está nublado. E eu aproveito para me sentar por lá para ler um dos milhares de livros do qual Nikki gosta.

 Eu tenho o nome de todos eles...

 Leio um por mês.

Eu fiz esse esquema onde eu tenho que terminar um todo o mês. Nem dois, ou mais. Apenas um. Até o final do mês... A maioria deles me deixa chateado. Ela é péssima para escolher seus livros favoritos. Mas eu gosto do jeito de como ela os enxerga...

Tiffany não vê problema nisso.

E eu tenho tentado o meu melhor, todo os dias.

 Tomos meus remédios diariamente, não brigo tanto com meus pais e tenho frequentado o meu psicólogo diariamente.

 Estou sempre escolhendo a poltrona marrom.

 Eu me sinto positivo quando escolho a marrom.

Excelsior!

E ele disse para escolher a que me deixasse confortável.

 Ele é um ótimo cara. E um ótimo profissional.

 Temos frequentado o estágio para os jogos do nosso time frequentemente. Meu irmão o presenteou com uma camiseta. Ele a adorou.

 Eu gostei de vê-los juntos. Somos todos amigos agora.

Domingo passado Tiffany veio até em casa. Me trouxe um presente. Disse que era para abrir no próximo sábado 31.

 No próximo sábado é o Halloween. Acho que o presente está relacionado ao Halloween. Ela adora essa data.

Minha mãe a convidou para almoçar. Ela sorriu e aceitou. Pegou uma cerveja e sentou-se ao lado do meu pai no sofá.

 Ele me encarou por alguns segundos e logo me ofereceu uma cerveja também.

As coisas tem melhorado muito.

Meu pai não me detesta quanto antes. Isso é bom.

Significa que eu tenho me esforçado muito.

E estou conseguindo... Porque eu tenho tentado bastante.

Tiffany diz que domingo vamos todos ao Bar assistir ao jogo de basquete. Meu pai ficou super animado. Meu irmão irá trazer sua esposa e minha mãe irá fazer o frango para quando voltarmos.

Sim, domingo é o meu dia favorito de novo. E eu estou tendo a chance para o lado bom da vida.

De novo.

Mas essa semana... Essa semana algumas coisas saíram do meu controle.

Encontrei Nikki no parque.

Ás 10h da manhã.

O que diabos ela estaria fazendo lá?

Ela provavelmente deveria saber que todos os dias nesse exato horário passo por lá para ler um dos seus livros favoritos.

Ela se sentou em um banco de frente ao meu.

Ela não havia me visto até então.

Estava lendo um novo livro.

Vestia um vestido branco, as pernas de fora. Ainda achava as pernas dela muito bonitas. Ela possuía um novo corte de cabelo.

Preciso anotar o nome do livro.

Precisarei ler esse livro. Provavelmente.

Eu fiquei inseguro.

Fiquei muito, muito inseguro.

Droga.

Eu me levantei rapidamente. Precisava ir pra casa. Precisava dizer a Tiffany.

Não, não poderia contar a ela. Ela iria surtar.

Então, ao me levantar eu me esbarrei com uma senhora. Pedi desculpas enquanto olhava para Nikki.

Ela não poderia me ver ali. Eu não saberia com reagir.

Mas a senhora não aceitou muito fácil minhas desculpas. Começou a dizer que eu deveria ter cuidado, que deveria prestar atenção. Então deixei o meu livro cair.

Eu ainda olhava para Nikki.

Peguei o meu livro. E então deixei de olhar para Nikki.

 E agora ela estava olhando para mim e... E ela estava sorrindo.

Eu a olhei assustado.

Porque ela estaria sorrindo?

Porque aquele sorriso?

Deveria estar indo embora... Porque eu ainda estava parado olhando aquele sorriso?

Ela começou a caminhar em minha direção.

E eu estava sem reação.

Eu comecei a pensar em Tiffany. Quando disse a Tiffany sobre Nikki.

Quando ela riu sobre os livros estúpidos que Nikki gostava.

E como eu defendi os livros da Nikki. Quando nem eu gostava deles.

E como ela ficou surpresa com a minha reação.

E quando nós começamos a brigar por causa dos livros estúpidos da Nikki.

E Tiffany iria se chatear se soubesse desse sorriso.

Eu precisava ir pra casa.

Então eu comecei a correr.

Eu não olhei para atrás.

Mas eu quis.

Quis muito.

Mas não olhei.

Eu amava Tiffany.

Mas eu não poderia negar que eu gostava do sorriso de Nikki.

Cheguei em casa.

Estava ofegante.

É claro que eu estaria ofegante.

Eu corri do parque até aqui.

Minhas pupilas estão dilatadas... Eu estou realmente muito ofegante.

Meus pais acharam que eu estava com problemas. Eles começaram a me encher de perguntas. E eu fiz algo que não deveria.

Mandei-os ficarem quietos. Mas eu gritei.

Minha mãe subiu as escadas atrás de mim. Fazendo perguntas e mais perguntas.

Meu pai estava ligando para Tiffany.

Não... Não... Não Tiffany.

Mandei minha mãe sair com educação. Mas ela nem ouviu.

Disse para ela sair cinco vezes.

Então eu gritei.

Então eu comecei a ouvir aquela maldita música novamente.

Kenny G.

Eu odeio Kenny G.

Não acredito que isso estava acontecendo.

Não de novo.

E eu comecei a gritar.

Simplesmente a gritar e tapar meus ouvidos mas a música ficava mais forte.

E ela não parava.

E eu via Nikki.

Via nossa antiga casa e via roupas no chão.

Me via subindo as escadas e escutava a música vindo do banheiro.

Escutava risadas...

Então a música parou.

Eu cessei meus gritos e olhei para a porta do meu quarto.

Lá estava Tiffany.

Ela fazia um pose.

Seus braços estavam cruzados. Estava com as sobrancelhas arqueadas.

Ela já presumia o que havia acontecido.

Ela tinha esse dom.

Eu olhei para ela. Ela olhava para mim.

— Eu sinto muito.

— Ei idiota, não pode deixar isso acontecer com você sempre que encontrá-la. Tem que aprender a conviver com isso.

— Tudo bem. Eu sinto muito. Amo você.

Ela ainda possuía a mesma pose.

— Eu sinto muito... Sinto mesmo... Amo você.

— Já disse isso. –ela descruzou os braços e caminhou até a mim.

Ela sentou-se na cama e eu depositei minha cabeça sob seu colo.

— Eu estou tentando Tiffany. Você sabe, não é? Da pra ver que eu estou tentando... Todos os dias. Não é?

— Sim, eu sei.

E essa loucura, de alguma forma atingiu a todos nós. De alguma forma. Como se fosse uma recaída.

Mas, amanhã é sábado. Depois, é domingo.

Eu amo domingos novamente.

Sei que vai ser um ótimo dia. Estou pensando positivo.

Estou vendo o lado bom da vida.

Todos os dias. É tudo uma questão de tempo.

Tiffany é o meu lado bom.