10 anos depois

Percy

O reencontro da turma de 2014 começaria em menos de uma hora e Percy ainda não estava pronto. Voltar a Santa Mônica era algo que fazia pelo menos duas vezes por anos para ver os pais, mas voltar sabendo que reencontraria os amigos – muitos que não via há uma década – era estranho, um conjunto de empolgação e nervosismo.

Na última vez que estivera ali tinha levado Alec para visitar a faculdade que frequentaria no próximo semestre, isso fez Percy perceber quanto tempo se passou desde o ensino médio.

Percy passara a tarde na praia com Jason, que só viera porque o primo insistira muito. E teve uma ajudinha de Piper. Quando Jason terminou com Lou para voltar com Piper, os amigos quase o mataram, afinal ela tinha traído ele…. Mas Piper estava diferente, tinha mudado pra valer. Levou um tempo, mas Percy conseguiu deixar de odiá-la. Agora eles moravam em Nova York, ele gerenciava a empresa do pai e ela tinha uma loja de roupas, ia passar o dia com a irmã e encontrá-los na escola.

De volta ao quarto de hotel que Jason alugara, Percy tomou um banho e trocou de roupa, arrumou o cabelo e avisou Jason que esperaria no bar do hotel.

—Achei que estava me zoando quando disse que ia vir, Persereia – Nico abraçou o primo pelo pescoço.

Percy se virou, sorrindo e retribuiu o abraço. Nico segurava a mão de sua sobrinha e Thalia, que vinha logo atrás, trazia o sobrinho dele no colo. Eles se sentaram na mesa com Percy e mandaram as crianças irem para o parquinho.

—Estou é surpreso de ver a Thals aqui – Percy abraçou a prima.

—E eu perderia a chance de zombar dos nossos coleguinhas? Nunca.

—Então…. Vocês? - ele apontou de um para o outro.

Thalia e Nico gritaram a palavra “não” em uníssono e se afastaram um pouco.

—Isso foi há muito tempo. Apenas bons e velhos amigos – Nico esclareceu.

—Somos iguais demais, não funciona. Já dissemos isso.

—Okay, okay, entendi. E o Frank? Ele e a Hazel vão chegar algum dia ou mandaram os gêmeos como representantes? - Percy mudou de assunto.

—Não acho que você possa fazer isso com crianças de cinco anos – Thalia chamou o garçom e pediu uma bebida.

—Eles vão encontrar a gente na escola. Bianca estava tendo um surto e a Hazel foi tentar ajudar. Trouxemos as crianças porque o Jason disse que podiam ficar com a babá do hotel.

—Ela brigou com o namorado de novo? - Percy riu. Bianca e o namorado viviam brigando mas nunca era sério. Ela que gostava de fazer um drama.

—Provavelmente.

As bebidas que Thalia pediu chegaram. Só quando terminaram os três perceberam que nem deviam mais estar ali.

—Cadê meu irmão? - Thalia perguntou. - Não me diz que ele tá dormindo.

—Quando desci ele tava se arrumando…

—Já estou aqui, seus perdedores – Jason apareceu e foi abraçar Thalia.

Os quatro foram até a recepção do hotel para ter certeza que alguém cuidaria das crianças e saíram, todos no carro de Nico para relembrar os velhos tempos.

A escola era a mesma, nem parecia que dez anos tinham se passado. As pessoas que estudavam ali hoje não estavam nem no jardim de infância quando eles estudavam ali. O caminho até o ginásio pareceu mais longo do que Percy se lembrava, provavelmente porque aos dezoito anos mais corria do que andava.

Lá dentro estava o maior clichê que se poderia imaginar, uma mesa perto da porta com etiquetas com nomes e canetas. No centro da quadra havia mesinhas, onde cerca de trinta pessoas conversavam alto e sem parar e uma faixa com boas vindas na parede oposta.

Depois de encontrar seus crachás, os quatro se aproximaram dos outros e reviram os antigos amigos, alguns com quem mantinham contato, outros que não viam desde a formatura.

Connor e Travis Stoll eram nomes que todos ouviam pelo menos uma vez por mês, os dois eram criadores da rede social mais usada do país e viviam aparecendo em revistas de fofocas porque tinham sido presos de novo por pequenas infrações.

Reyna era professora de inglês na escola, ela tinha ajudado a organizar a reunião e devia estar ali ajudando todo mundo a se enturmar, mas fontes – os Stoll – diziam que ela e Leo Valdez tinham sumido meia hora atrás. Pelo visto estavam botando em dia as “conversas” que evitaram no ensino médio.

Até onde Percy sabia, Leo e Louise tinham inventado um dispositivo para o FBI, ou algo do tipo, e ainda estavam ganhando com isso. Oficialmente, ninguém sabia o que era ou quem comprara. Louise não pudera comparecer porque estava em turnê na Europa com sua banda, mas mandou as bebidas da festa. Segundo Bianca, ela estava namorando o guitarrista, mas não tinham assumido.

—Se acertou com o seu namorado, falando nisso? - Jason perguntou.

—Mais que isso, meu bem… - Bianca sorriu e estendeu a mão. - Estou noiva.

Depois dessa frase, algumas garotas gritaram e se aproximaram de Bianca.

Ouvindo aquelas histórias sobre seus amigos e vendo como estavam diferentes do que ele lembrava, Percy só pensava em uma coisa, na pessoa que viera até aqui para ver. Tinha repetido para si mesmo várias vezes que ela não era o motivo de encurtar sua viagem à Europa, mas agora que estava aqui era mais que óbvio que estava mentindo.

Ele estava ciente de que a história deles não era como as de filmes, em que o mocinho esperava anos pela mocinha. Não, ele tinha tido vários relacionamentos e fora feliz com a maioria deles, mas, por algum motivo, a possibilidade de encontrá-la hoje lhe dava a mesma sensação que se tem em uma montanha-russa. Empolgação, euforia, agitação e um pouco de medo.

—Desculpa, eu devia ter deixado as chaves do carro na mesa… - Percy ouviu uma voz alta perto da porta e se virou.

Era Rachel Dare, ela estava rindo, de braços dados com um homem alto e loiro, que também sorria. O que chamou a atenção dele foi a mulher segurando o outro braço dele, ela tinha os mesmos cabelos loiros e uma expressão neutra, mas Percy não pensaria duas vezes antes de dizer que era de longe a mulher mais bonita daquele ginásio.

Annabeth Chase usava uma blusinha azul e uma saia branca, tinha muito da Annabeth que Percy vira poucas vezes ao longo dos anos, mas tinha algo diferente, algo que Percy não sabia definir.

—Vai ser uma noite longa. Vocês querem alguma coisa pra beber? - ela perguntou para os outros dois.

—Sem álcool, por favor – Rachel pediu.

Annabeth assentiu, soltou o braço do irmão e caminhou em direção à mesa de bebidas.

Quando Rachel e Jake pararam na frente de Percy, ele precisou parar de encarar a loira.

—Uau – ele disse ao ver a barriga de Rachel, devia estar grávida de seis meses, pelo menos. - Oi, pessoal.

—Levante e me dê um abraço, Jackson, não espera que eu vá abaixar, né? - ela sorriu.

Percy se levantou e fez o que ela pediu, depois cumprimentou Jake também. Thalia perguntou onde estava Annabeth, eles responderam e ela se esticou na cadeira para sussurrar no ouvido de Percy.

—Você tem cinco minutos antes de eu ir atrás da minha amiga.

Percy encarou Thalia por alguns segundos antes de se levantar e sair com o copo na mão.

—Oi – ele disse.

Annabeth se virou lentamente e sorriu ao vê-lo.

—Oi. Quanto tempo.

Ela estendeu a mão e Percy abriu os braços para abracá-la, em seguida inverteram. Eles se encararam, envergonhados, e riram.

Annabeth revirou os olhos e entrelaçou os braços ao redor do pescoço de Percy.

—Senti sua falta, seu babaca – ela disse.

—Também senti a sua. E então, como se sente estando de volta aqui depois de todo esse tempo?

—Com medo de aparecerem várias espinhas na minha cara – ela riu. - Mas é legal, poder ver que todo mundo cresceu… Mas e você, o que tem feito?

—Bom… Graças a você, essa é primeira vez uso um terno em meses, uma das vantagens de ser um fotógrafo. A Thals me disse que você tinha aberto seu escritório um tempo atrás?

Na verdade ele descobrira isso nas redes sociais dela, mas decidiu guardar essa informação para si.

—Isso mesmo! - ela colocou suco em dois copos e encheu o dele e mais um com uma mistura de suco de laranja e uma das bebidas que Lou mandara. Entregou os últimos para ele e acenou para que ele a seguisse até as mesas. - Vai fazer o que? Quatro anos, eu acho. Estamos abrindo uma filial em Nova Jersey no mês que vem.

Annabeth começou a falar de alguns trabalhos que fizera recentemente, cumprimentou as pessoas da mesa e continuaram conversando. Percy e Annabeth conversaram sobre tudo em que podiam pensar, algumas vezes deixando um assunto pela metade para falar de outro. Nem perceberam quando as pessoas começaram a ir embora.

—Não acredito que você nem me deu oi, Chase – alguém gritou de longe.

Leo e Reyna estavam vindo na direção deles, tinham entrado pela porta que vinha de dentro da escola.

Annabeth se levantou e abriu os braços para esperá-lo.

—A gente se viu semana passada, Valdez, fica quieto. Como você tá, Reyna?

Enquanto as meninas conversavam, Leo se aproximou de Percy.

—Se vocês forem se pegar, a sala do treinador de natação continua ótima pra isso – Leo disse alto o suficiente para que os outros três ouvissem e todos riram.

—Pessoal, eu tenho que ir, mas posso deixar a chave do ginásio com vocês, é só deixar lá em casa amanhã – Reyna falou.

—Anh… - Percy finalmente percebeu que eram os únicos que ainda estavam ali.

—Não precisa – Annabeth falou. - Já estamos indo.

Percy se ofereceu para andar com Annabeth até o carro dela. Quando abriu a bolsa para pegar a chave ela ficou olhando lá dentro, como se tentasse decidir alguma coisa. Por fim, tirou a carteira de lá e abriu. Percy pensou que talvez ela quisesse pagá-lo pela companhia e riu sozinho.

—Quero te mostrar uma coisa – ela disse. - Tenho quase certeza que não deveria, mas, como diria minha mãe, tentar não custa nada.

Ela tirou um quadradinho de papel de dentro da carteira e entregou para ele. Era uma foto amarelada que reconheceu assim que viu. Ele mesmo tinha tirado e escrito a palavra “love” do outro lado como uma brincadeira, em uma noite que estava ouvindo uma música que dizia “love is a polaroid” e se lembrou dela. “O amor é uma polaroid”.

Lembrou-se também do que tinha dito quando entregou aquela foto para ela.

—Então quer dizer que finalmente chegamos em “daqui a alguns anos”? - ele riu, ainda encarando a foto.

—Olha, você não precisa dizer nada agora – ela disse rápido – pode pensar o quanto quiser. Não se sinta pressionado ou algo assim. Só acho que nós…

Percy a interrompeu com um beijo. Depois de tanto tempo ele mal podia acreditar que a tinha tão perto de si novamente. Aquele beijo foi suficiente para que ele soubesse que a espera valera a pena.

—Talvez uma foto não possa capturar amor, mas essa chegou perto, né?

Annabeth olhou pra ele fixamente antes de cair na gargalhada.

—Você não mudou nem um pouquinho, né?