Gota a gota [HIATUS] escrita por Tamires Vargas


Capítulo 12
O tolo calado


Notas iniciais do capítulo

Yo!
Metade do capítulo estava pronto, a outra eu escrevi hoje no impulso. O resultado é esse aí.
Agradeço a quem colocou nos acompanhamentos!
Bjs!



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Mikoto não se lembrava da última vez que havia pisado em sua própria casa. Seu tempo era usado para cuidar de sua avó e qualquer coisa que não se relacionava a isso ganhava o mínimo de atenção possível. Vez ou outra sentia falta do marido, mas essa falta logo desaparecia, soterrada por preocupações urgentes. Por isso, ela precisou de alguns bons minutos para acreditar que Fugaku viera lhe visitar.

— Pensei que estivesse precisando de algo... — Ele disse como se engatinhasse com as palavras. — Você e Emi estão bem?

— Eu... — A voz de Mikoto foi interrompida por um guincho infantil.

Ela percebeu Fugaku erguer uma das sobrancelhas quando viu o bebê tentando se equilibrar nas mãos e joelhos para se mover alguns centímetros. A criança ia e voltava sem sair do lugar como se testasse a capacidade de seu corpo obedecer a seus comandos.  

Mikoto foi ao encontro do bebê e o colocou nos braços sob o olhar do marido que piscou juntando os pensamentos e comprimindo os lábios para que a pergunta não escapasse dele.

— Este é Shisui, filho do Kagami. — Mikoto o apresentou, sorrindo para o menino ao dizer seu nome e retomou a seriedade ao fitar Fugaku. — Algo errado?

A negativa seca não satisfez Mikoto, que se pôs a analisar a forma que Fugaku observava o bebê, fitando desde as mãozinhas que seguravam sua yukata com força até a cabeça que repousava na curva de seu pescoço como se já tivesse declarado posse do lugar.

— Tenho que ir. — Fugaku disse, apagando a centelha de pensamento que o incomodou.

— Você veio só para saber se estamos bem? — Mikoto indagou e um discreto sorriso tomou seus lábios ao ouvir a afirmativa. — Quer um chá?

— Não. — Ele respondeu rapidamente, depois fitou Shisui por um instante. — Não posso demorar.
  

Mikoto se perguntava se havia feito mal em deixar Fugaku com Shisui enquanto preparava o chá. Provavelmente seu marido não sabia patavinas sobre cuidar de uma criança, porém ela imaginava que cinco minutos não seria um problema para ele.

— Não precisa se apressar, Fugaku vai esperar. — Emi disse aparecendo na cozinha.

— Tudo bem na sala?

— Tirando o fato que Fugaku encara o menino a cada meio segundo, sim.

— Deve ser estranho para ele dividir espaço com um bebê — concluiu, adoçando a bebida.

Mikoto percebeu o sorriso irônico da avó e se apressou para voltar à companhia do marido. Não queria acreditar na ideia que lhe surgiu, no entanto a expressão de Emi praticamente a confirmava. Ao pisar no cômodo encontrou Fugaku de braços cruzados observando Shisui brincar com os bichinhos de pelúcia espalhados no chão.

— Eu me ofereci para cuidar dele. Kagami precisava voltar a realizar missões e Shisui não aceita qualquer pessoa.

— Não é necessário explicar.

— Sua postura diz o contrário — rebateu pondo a xícara diante dele e dissolveu o gelo na voz ao se dirigir a Emi: — Ele também veio para vê-la.

A idosa que caminhava em silêncio para o seu quarto, acenou de costas soltando alguns cumprimentos. Não estava disposta a presenciar qualquer cena. Vendo isto, Mikoto voltou o pensamento à desconfiança que lhe surgira, mas logo decidiu ignorá-la. Não começaria o assunto antes que Fugaku o fizesse.

— Eu não sabia que vocês eram próximos. — O incômodo falou mais alto e o líder Uchiha deixou as palavras darem seus curtos passos.

— Não somos, mas na situação em que Kagami se encontra, não oferecer ajuda seria uma negligência cruel.

Fugaku concordava, contudo o fato de sua esposa ser a benfeitora de um pai solteiro não lhe soava bem aos ouvidos. Aliado a isto, a falta de visitas dela reforçava o desagrado que nascera na despedida abrupta que os separou na noite do jantar mal sucedido.

Talvez ele tivesse atingido o limite do suportar de Mikoto e tentar manter o casamento não fosse mais da vontade dela.

"Nada mais justo", pensou. Pessoas cansavam, era o direito delas ir embora quando o cansaço fosse maior que o agrado. E de agrado, Fugaku entendia menos que o bebê sentado em sua frente. Este sim, apesar de incapaz de raciocinar suas próprias atitudes, conseguia de Mikoto belas feições de alegria.

Quem sabe o pai dele também?...

Quando deu por si, seus dedos agarravam o tecido da calça como num esforço para impedir que algo os deixasse. Focou os olhos do garoto, os de sua esposa, o reflexo turvo de seu rosto no líquido frio. Viu a vergonha e o egoísmo. Decidiu se livrar de ambos.  

Mikoto segurou o coração no peito enquanto captava a variação no humor de Fugaku. Ele chegara feito um homem-menino e se fora feito um moribundo. Seu semblante carregado de traços amuados, disfarçados sob a máscara do capitão de polícia. Ouviu um comentário ácido de Emi, no entanto não passou de ilusão. A idosa já havia deixado-a com suas próprias dúvidas desde o início e estas só fizeram abrir espaço para abraçar as angústias.

— Ele não é idiota desse jeito,... né, Shisui?

O menino sorriu radiante para o rosto pensativo da mulher.  

A maior distância entre duas pessoas era um mal-entendido. E Fugaku serviu de exemplo perfeito para explicar a frase. Depois de tirar suas conclusões na última visita, não voltou à casa de Emi. Chegou a tomar as ruas que levavam até lá, mas faltando duas ou uma desviou o caminho para longe. Não se perguntou o que sentia, era uma poeira que não merecia atenção, importava que Mikoto seguisse sua vida. A dele seguiria de qualquer forma, se bem ou mal, que relevância havia? Era capitão e líder. Tinha suas ordens para dar, uma postura para manter, uma imagem para criar. Assim quando a quarentena da velha Uchiha se encerrou, o homem fingiu que não ansiava pela decisão de sua esposa.

Não estava escrito em lugar algum que Mikoto estava diante de escolhas, porém na mente de Fugaku isto ocorria. Voltar ou permanecer eram elas. A primeira com uma chance tão pequena que carecia de uma lupa para vê-la, a segunda tão grande que se impunha feito uma montanha.

Em alguma curva de uma veia de seu coração, ele esperava que a mulher preterisse a montanha e voltasse seus olhos à formiga.

A madrugada se iniciava quando Fugaku deixou de esperar para ver apenas o tempo correr. Em sua casa tudo dormia, exceto ele e um solitário vaga-lume. O vento frio lambia seus dedos dos pés, no entanto a temperatura se perdia na morte lenta da esperança. Não tinha o direito de se queixar e sabia disso, mas como todo humano ressentia a derrota da qual fora culpado.

O óbito foi anunciado pela partida do vaga-lume que se afastou com velocidade feito um golpe de misericórdia. Duas da madrugada fora seu horário. Faltava Fugaku se dar conta disto e enterrar o corpo, contudo ele o fez sem pensar, dentro de si, numa teimosia tóxica típica de quem não aceita perder.

Riu de si mesmo. Onde a solidão o levara? Em que espécie de homem o luto lhe transformara? Num medíocre que esperava pelo improvável, largado no assoalho com vista para um lago de peixes adormecidos. Nem em pesadelos se imaginava coberto de tamanha lástima.

Viu sozinho nascer o dia. O sol lhe ardeu os olhos sem pena, enxotando-o da madeira que estalou conforme os passos pesados a batiam. Meteu-se na água fria, saiu sem comer. Tinha a cabeça cheia da madrugada vazia.


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Notas finais do capítulo

Erros, gritos e lamentos. Só chamar!
Se vocês não têm o hábito de ver meu perfil, vejam. Eu atualizo meus passos lá.
Quem tem ou já viu: continuo em hiato.
Bjs!



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