Wound escrita por David Leonardo


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Coliver é perfeito e depois de está completamente viciado em HTGAWM resolvi postar uma.



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Dezembro, 24.2015.

Hoje faz um ano, e meu terapeuta resolveu que seria legal começar a nova etapa do tratamento com algo diferente. Dr. Robert achou que ter um diário seria bom. Mas mudou o nome para “Caderno de Anotações” quando eu disse que “diário” era um termo muito feminino. Tive vontade de mandá-lo para o inferno, mas eu me contentei em apenas dizer: “eu ainda sou homem, doutor”. Ele sorriu meio sarcástico e eu resolvi que tinha vontade de socar aquele cara.

Como se começa um diário?

Talvez se você estivesse aqui, eu não tivesse essa dúvida.

Começo do meu jeito então? Acho sim.

Eu começo dizendo que há um ano perdi o pouco da sanidade que me restava. E que depois que eu tentei me matar, afogado em uma banheira, Michaela achou que seria bom que eu tivesse qualquer tipo de acompanhamento médico. Ao todo eu visitei cerca de cinco psiquiatras antes de encontrar o tal Robert. E eu devo dizer que ele sempre tinha métodos infalíveis para as minhas crises. O homem é consegue ser mais louco que eu.

Não. Talvez seja bom começar dizendo o quanto eu odeio esses seus olhos castanhos que nunca saem da minha cabeça. E esse seu sorriso que ainda me faz suspirar. E o seu cheiro que ainda está impregnado nas minhas roupas. O que foi isso, Ollie?

Morrer jovem nunca sai de moda, certo? Morrer nunca sai de moda.

Dias “24” é sempre os piores, Ollie. Sempre os piores. E quer saber? Dias “24 de dezembro” sempre marcam vésperas de ceia de Natal. Michaela e meus pais estão me esperando. Hoje faz um ano.

Eu não vou. Você não está aqui.

Você com certeza deve saber que eu tentei estar perto outra vez. Eu tentei, Ollie. Mas Michaela chegou antes que tudo se afundasse na escuridão. Eu tive hipotermia, faltou muito pouco pra que eu deixasse esse mundo injusto. Muito pouco.

Você diria: “Connor, você é um idiota!”, e depois riria escandalosamente da minha cara e eu te beijaria. E você sorriria e eu te faria meu outra vez.

E sabe o que é pior, Ollie? O pior é que você poderia ter evitado tudo isso. PODERIA! EU TAMBÉM PODERIA!

Quando você sentiu dor até desmaiar pela primeira vez, você disse que era apenas um mal estar, quando acordou. Eu te levei para o hospital e você fugiu do maldito check-up. Você disse: “me leve ao hospital do centro. Eu vou me sentir melhor lá.”.

Tudo se encaixou no funeral. Eu vi aquele tal doutor Hampton perto da sua mãe e aquela enfermeira loira que sempre sorria pra você, sussurrando que tudo iria ficar bem.

Uma semana antes de você desmaiar outra vez, você me disse que era alguma coisa no coração. Algo genético que também tinha levado a vida do seu pai. E depois, você sorriu, dizendo que me amava com todo o seu coração defeituoso. Eu chorei pela primeira vez na sua frente quando naquela noite, precisei te levar ao hospital. E você sussurrou “você não vai me perder, Connor.” quando eu disse que tinha medo.

Eu contei que sua mãe me abraçou no seu funeral? Ela até agradeceu, Ollie. Você sentiria orgulho daquela mulher. Ela sorriu no meio das lágrimas e disse que eu deveria ter tido mais tempo com você.

Ontem ela ligou, perguntando se eu iria fazer alguma coisa hoje e eu disse que sim. Disse que iria à casa dos meus pais e ela acreditou. Mesmo sabendo que talvez fosse mentira. Eu não aguentaria uma casa inteira onde tudo e todos me lembrariam de você. Eu não aguento isso, Ollie.

Hoje, quando faz um ano que você não está mais aqui, eu encaixotei as suas coisas. Elas estão dentro do armário e eu sinto que não deveria estar fazendo isso. Mas sabe, Michaela me disse que você vai ficar orgulhoso se eu fizer tudo direito. Eu estou tentando. Na próxima semana, em Janeiro, vou voltar à faculdade.

Eu fiz um mural na parede atrás da nossa cama, Ollie. Você iria gostar, não é? Tem as fotos do seu aniversário surpresa e todas as outras que você mais gostava.

Ollie se escreve com castanho. Assim como os seus olhos, não é?

Eu deveria odiar castanho agora, mas, eu simplesmente não consigo! Assim como não consigo seguir em frente por que parece que você está em toda a parte. Você está em toda a parte...

Meu terapeuta disse semana passada, que eu estava indo bem. Você odiaria o cara, Ollie. Ele é um babaca e acha que eu já deveria ter superado tudo. Acho que só ainda vou às consultas porque Michaela sabe os dias, e também porque minha mãe acha que vê algum resultado. E por incrível que pareça, eu sinto que houve resultados, só não consigo dizer se foram bons ou ruins.

Você deveria estar aqui, Ollie. Eu sinto sua falta.

Falta dos seus beijos e de cada mínima coisa. Eu nunca achei que fosse tão dependente de você. Mas a gente só percebe quando perdemos, hm? Eu precisei te perder para sentir uma vontade enorme de correr até a primeira loja de doces que encontrasse aberta, para sentir vontade de sempre deixar que você fizesse nossos pequenos filmes caseiros. Pra sentir vontade de deixar você pintar todo o apartamento de azul porque era a sua cor preferida.

De todas as coisas que eu quero, eu acho que a mais constante é que você esteja aqui outra vez.

Eu preciso terminar de encaixotar suas coisas, tá bom?

Eu te amo. Não esqueça.


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Notas finais do capítulo