A lua quase cheia clareava as montanhas rochosas, um leve vento impedia o ar de ficar parado. Os únicos barulhos que se podia ouvir era a água cristalina que vinha de dentro das montanhas correndo por entre as rochas pontiagudas e descendo até a floresta lá embaixo, um mar de árvores sem fim. 

Uma gata alaranjada escalava as pedras com pressa, a cauda levantada para que ela pudesse se equilibrar facilmente. Era notável a aflição em seus olhos cor de âmbar. Ela parou e olhou para onde o território do Clã das Rochas ficava. Ela sentiria falta dele.

Em um descuido, ela escorregou e suas garras dianteiras rasparam no chão duro de pedra. Ela tentou subir novamente, mas ela só escorregava mais. Firmou com as patas traseiras na parede e pegou impulso para subir. Firmou as garras e subiu novamente, o coração batendo forte a respiração tensa. Olhou por um tempo para onde ela quase caiu e em seguida continuou a subir as montanhas.

A gata sabia esse caminho como a palma da sua pata, pois já seguiu ele dezenas de vezes, mas estava cansada, cada passo fazia seu corpo doer um pouco mais. Ele ainda não havia recuperado o suficiente para que ela fizesse uma viagem tão longa, mas ela não podia mais ficar no seu clã nem sequer uma noite. Ela sabia dos planos de seu irmão e o máximo que ela podia esperar era que tudo ficasse bem com seus filhotes. Eles estavam nas patas do Clã das Estrelas agora. 

O pelo cor de fogo da gata refletiu a lua quando ela chegou ao topo da montanha. Os seus olhos brilharam quando ela viu o amontoado de ninhos onde os Duas-Pernas viviam. Mas ela não estava lá pelos Duas-Pernas. Que gato de floresta por acaso iria querer ficar com os Duas-Pernas por vontade própria? 

A gata correu até um dos ninhos. Subiu na cerca com custo e hesitou por alguns segundos, parada em cima da cerca, observando a entrada do ninho. Então ela criou coragem, desceu até o jardim e gritou por um nome:

— Buttercup! 

Não demorou muito para que um gato branco tigrado de amarelo em suas costas e patas saísse de dentro do ninho correndo. Seus olhos azuis brilharam ao ver a gata, refletindo o luar.

— Manto de chamas! - Buttercup olhou a gata de cima a baixo - Os filhotes já nasceram? 

— Sim. Um é branco e laranja enquanto outro é laranja e branco. São lindos. Os olhos eu não vou poder ver. 

— Como assim não vai poder ver? - O gatinho de gente se aproximou sutilmente, tocando seu focinho no dela.

— Eu não vou poder voltar para lá. Garra de Areia quer me matar. Eu sei disso. - Ela olhou para Buttercup, lágrimas desciam do seu rosto, e pingavam no chão, sua cabeça abaixada.

— Tudo vai ficar bem. Eu vou cuidar de você. - Ele se aproximou e lambeu sua bochecha. A gata deitou sua cabeça  em seus ombros, soluçando. 

Lá eles ficaram assim por um tempo. Lágrimas descendo pelo rosto de Manto de Chamas enquanto Buttercup tentava a acalmar lambendo seu pescoço gentilmente. 

A gata alaranjada se afastou um pouco e sentou-se fitando-o nos olhos com tristeza.

— É só que... É difícil largar o clã que eu nasci e cresci assim... 

— Imagino. Você sempre foi leal ao seu clã, eu sei disso. Nossos filhotes também serão, os dois. - Buttercup disse, dando um sorriso para ela.

"Isso se eles sobreviverem ate lá" Manto de Chamas pensou. 

 - Eu deixei uma outra rainha cuidando deles. Ela tinha leite suficiente para mais dois, já que sua ninhada havia sido só de um filhote. - Ela falou, enquanto ia em direção à um arbusto próximo a cerca e deitou-se lá. 

— Eles vão ser cuidados, se acalme. Eles vão ter uma boa infância. Eles vão crescer e serão ótimos e leais guerreiros. Agora descanse. Você merece uma boa noite de sono. - Buttercup disse, enquanto se deitava próximo a ela. O gato branco lambeu sua orelha em um gesto de tanto afeição quanto de proteção até que a gata caísse no sono, o que não demorou muito. 

Ele observou a guerreira. A lua brilhava no seu pelo alaranjado, dando a impressão de que alguém jogara gelo em seu pelo em chamas. Seu rosto ainda estava molhado das lágrimas. Era notável que ela realmente estava muito cansada, tanto física quanto mentalmente. O que fez ela escolhê-lo como companheiro, se ambos sabiam que o fim seria esse?