Love Kitsune escrita por BlackCat69


Capítulo 9
Capítulo: Pais e filhos


Notas iniciais do capítulo

Capítulo alterado no dia 30 de maio de 2021



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As mãos de Hana cuidavam carinhosamente dos cabelos curtinhos de Hinata.

Mãe e filha encimadas em almofadas quadradas e planas.

O piso do quarto se revestia de tatami.

A Hyuuga menor esticava as perninhas, os braços também, segurando os joelhos e balançando os pezinhos.

A mãe se assentava nas canelas.

O pente tinha forma de meia lua, e se esculpia em pequenas camélias, o objeto possuía destacado brilho resultante de ser embebido a óleo da flor representada na sua decoração. 

Hinata achava gostosinha a sensação dos dentes finíssimos do pente percorrerem o seu couro cabeludo.

Não via a hora de seus cabelos serem tão crescidos quanto os de sua matriarca.

Hana em um momento parava de pentear e passava as pontinhas dos dentes amadeirados, levemente, na nuca da menina.

A criança se arrepiava todinha causando risos agradáveis na mãe.

Elas usavam quimonos de algodão, vestes de dormir.

Natsu quisera preparar Hinata para se deitar, mas naquela noite, Hana fizera questão de cuidar da filha por que queria escutar da pequena, como foi no lar dos Namikazes.

Após ser provocada por mais um arrepio, Hinata pediu:

— Deixa eu contar, okaa-san.

— Perdão meu amorzinho. Continue, por favor. 

— Na casa deles não tem tatami, é madeira, só madeira. Eles dormem em camas de palha, e eu fiquei pertinho do kamado.

— Hinata... 

— O otou-san do meio raposo deixou. — A menina garantiu. — Ele falou que eu estava segura.

Hana repreendeu seus pensamentos, confiaria em Minato.

A pequena Hyuuga, animada e sacudindo os pezinhos, encostava um dedão no outro, repetidamente.

Sem soltar os joelhos, e observando o teto, sorriu, seguindo com seu relato:

— Ele me ofereceu kompeito, aí o meio raposo ficou bravinho por que queria me oferecer primeiro hihihi — Riu de boca fechada, sacudindo os ombros.

— Não comeu muito, comeu?

Ficando séria, Hinata respondeu:

— Lie, okaa-san.

— Tudo bem, estou acreditando em ti. — Hana apertou a bochecha direita da menina.

A criança riu um pouco e acrescentou mais das coisas que aconteceram.

Falou como o meio raposo gostava de correr ao redor da casa, e que adorou fazer carinho nas orelhas peludas.

— E no final brincamos de monta-monta okaa-san! Foi demais, o otou-san do meio raposo brincou com a gente.

— Monta-monta?

— É um brinquedo de montar figura, okaa-san! É lindo, se fosse colorido seria mais lindo. Quando eu puder, vou levar meus potes de tinta, aí vou deixar o monta-monta bonitão.

O sorriso se encurtou na face de Hana, não perdeu o timbre doce, ao dizer:

— Que bom que se divertiu tanto, meu amor. 

— Hihi — Hinata fechou os olhos, dando uma baixa risadinha, de dentes cerrados. Confessou: — Eu fiquei triste na hora de ir embora, mas estou feliz por que okaa-san permitiu que eu visitasse o meio raposo, agora tenho boas lembranças com ele.  

Hana paralisou sua mão, seus dedos tremularam um pouco, o pente se detinha nos cabelos da região da nuca. 

Relutava contra uma emoção despertada antecipadamente, pelo que pretendia dizer a sua filha.

Hinata interpretou que sua mãe terminara de lhe pentear. 

Volveu-se frontalmente à mulher, ajoelhou-se e se curvou, abraçando o volume que abrigava o seu irmão ou irmã.

Alegrada e carinhosa, colocou sua boca contra o tecido de algodão, distribuiu três beijinhos na barriga de grávida, em seguida, falou:

— Olá bebê, hoje vou contar uma história que eu inventei.

Hana sorriu, serena. Lá estava sua filha novamente conversando com o bebê como se ele já entendesse.

Pousou uma mão no lado da barriga, e colocou outra em um ombro de Hinata.

— Meu amor, antes preciso lhe avisar...

A menina ergueu a cabeça, afastou seu tronco da barriga da mãe.

Manteve suas mãozinhas, sentindo o bebê mexer.

Analisando as feições maternais, Hinata tentou confortar Hana:

— Eu sei o que preocupa a okaa-san. Eu vou convencer o otou-san, ele não vai brigar com a okaa-san por ela me deixar ir ver o meio raposo.

A mãe acarinhou o rostinho da menina, sorrindo-a dócil. Disse:

— Não estou preocupada com o seu pai, querida. — Seria sim um problema conversar com ele, contudo, algo maior abrangia dolorosamente seu coração. Esclareceu: — Vai chegar um dia que deixará de sair muitas vezes para passear, mesmo sob vigia de seu primo, será proibido. 

Hinata balançou a cabeça, em sinal afirmativo. Conformou-se:

— Eu sei okaa-san, tenho que voltar pro castigo. — Abaixou a cabeça indo distribuir mais beijinhos na barriga volumosa da mãe.

Hana corrigiu:

— Não minha lua, não é por causa do castigo, mas por que precisará aprender a se comportar como uma dama.

Estranhando, a criança retornou a fitar a adulta, erguendo uma das sobrancelhas, questionou:

— Quantas vezes?

— Talvez...uma...ou duas vezes, por mês.

— Por mês? — Hinata desgostou. 

— Sim, e não mais na floresta, não é um lugar apropriado para uma dama.

— Mas...mas... — Na floresta era o lugar que a menina Hyuuga mais gostava de passear. — Por que é preciso isso para se tornar uma dama?

— Por que sua rotina será preenchida por lições a serem aprendidas e treinadas. Não pode ocupar seu tempo com inúmeros passeios.  

— Eu aprendo rápido, okaa-san. Tão rápido que sobrará muitos dias para eu passear.

— Acredito, minha lua. Mas continuará sendo algo indevido para uma dama.  — Lamentava Hana. 

Hinata ficou com os lábios meio abertos, desentendida.

— Eu fiz algo errado, okaa-san? Ainda é por causa do castigo...Por eu sair sozinha sem o nii-san? É por isso que tenho que seguir tantas regras agora? 

— Não, de modo algum, meu amor. Ainda faltam alguns anos para você se despedir de seus hábitos atuais. Eu...só preciso que tenha em mente que esse dia chegará, então aproveite bastante, suas brincadeiras, seus passeios... — Deu um fraco sorriso. — E até do quanto você gosta de comer, por que é indelicado uma dama comer tanto.

— Okaa-san, posso não ser uma dama?

— Não pode, minha lua. Faz parte da educação, se não seguir as regras, será feio. Especialmente, sendo de um clã respeitado como os Hyuugas. Todos verão como uma vergonha.

— Mas a okaa-san me conhece, e o otou-san também. Sabem que não sou uma vergonha!

— Claro que sabemos, mas as pessoas de fora não. Todo mundo tem que se comportar conforme as regras, é assim que nossa sociedade se organiza...se você foge da ordem, está sendo indelicada com os outros.  — Hana elevou a face, seu olhar foi ao alto, mas o que viu foram imagens antigas. — Eu fui uma criança com muitos amigos, mas tive que me afastar deles depois que me tornei mulher.

— Por que okaa-san? Okaa-san e os amigos brigaram?

— Não minha lua, por que fui ensinada pela minha mãe a como me comportar como uma dama, e levei vários meses sob um intenso aprendizado. Uma mulher não pode andar com amigos homens, e nem recebê-los com frequência em casa….a não ser que sejam candidatos para casamento. — Suspirou. — Eu era amiga de Minato, sabia? 

Os orbes lunares da pequena cintilaram.

— Okaa-san e o otou-san do meio raposo!

— Quando ele morava na aldeia, e nos víamos a distância, ele sorria para mim. E quando cruzava meu caminho, curvava-se me cumprimentando. Ele estava feliz por mim. Ele não se chateou por meu afastamento, por que ele conhece as regras.  

Hinata franziu o cenho, e no decorrer de alguns instantes, assimilou o que indiretamente sua mãe avisava. 

Ainda que pudesse rever o meio raposo, teria que lidar com o dia no qual teriam que manter a amizade apenas a distância.

Jogou-se de peito sobre a almofada, de braços esticados pra frente. 

— Okaa-san...e se eu não for feliz?

Hana se identificou com aquele temor, compartilhou: 

— Uma vez, achei que um dia nunca recuperaria a mesma alegria de viver. Mas conheci um novo caminho para ser feliz, dentro de minha função no clã Hyuuga.

Hinata choramingava, não tão esperançosa. Recebendo a mão carinhosa em suas costas, escutou a voz maternal:

— Meu amor, acha que estou mentindo para você?

A menina se ergueu rapidamente, virou-se à mãe, sentou de pernas abertas, abraçando o travesseiro entre elas.

— De modo algum, okaa-san.

Hana capturou as mãos da menina, massageando os dedinhos.

— Isso é muito bom, confie em sua okaa-san. Sabia que eu não amava o seu pai?

O olhar curioso nasceu na criança, acompanhado da surpresa.

— Como é possível okaa-san?

Hana riu um pouquinho, e respondeu:

— Ele me dava medo, vivia de cara trancada, mas ele sempre me respeitou e me tratou bem. Nosso tempo de convivência me fez conhecer o outro lado dele. O lado pelo qual me apaixonei. — Colocou as mãos na barriga. — A certeza de que eu o amava, foi quando eu o vi carregando você no colo, quando era apenas um bebezinho. Descobri que ganhei os melhores presentes de minha vida, uma família.

A pequena Hyuuga ficou vermelhinha.

Hana fez Hinata deitar o rostinho de lado em sua barriga. 

A menina sorriu um pouco, sendo acalmada por sentir os movimentos do bebê contra sua orelha.

— Hinata, eu te ajudarei a ser feliz mesmo dentro de suas obrigações.

— Arigatôu, okaa-san. — A menina agradeceu sincera, fechando os olhinhos.

Ainda não gostava de saber que futuramente se privaria de fazer várias coisas que gostava, porém mesmo que doesse no momento, confiaria em sua mãe.

— “Okaa-san nunca mente, nunca...”.

Hana se concentrou para não derramar uma lágrima. Embora tenha encontrado a felicidade em seu casamento, não deixava de ser triste se despedir da boa fase que era a infância, recordava o quão doloroso lhe foi.

Faria sua filha aproveitar o quanto pudesse.



~NH~

Três dias depois

Chegava ao fim, o quarto mês do ano

~Nh~

 

Na era quase sem conflitos, maiormente clima de paz que era o período Edo, os samurais assumiram a responsabilidade em desenvolver a cultura do país, a qual se voltava às artes: arte do chá, da pintura, da escrita e do teatro.

Os samurais se situavam abaixo da nobreza, dos grandiosos líderes militares e dos damyos, ainda sim, pertenciam a uma classe privilegiada, uma vez que jaziam mais próximos das classes altas, do que das classes baixas. 

Konoha era uma rara existência do período Edo, haja vista que o damyo, o Senhor feudal para quem os aldeões pagavam impostos, não chegava a dominá-los totalmente.

Muitas decisões do damyo, primeiro precisavam ser escutadas pelos anciões da aldeia. 

Konoha abrigava doze clãs, cada clã possuía um exército, mesmo somando todos, continuavam sendo numericamente inferior ao exército do damyo, em contrapartida, os clãs ameaçavam destruir todos os arrozais, uma das maiores fontes de lucro do Senhor feudal, caso percebessem alguma intenção do damyo em dominar a aldeia.

Desde então, o damyo nunca arriscou avançar mais que o necessário, pois acreditava que os membros dos clãs eram capazes de concretizar a ameaça, por questão de honra. 

Eram descendentes dos primeiros habitantes de Konoha que antigamente era bem maior e acolhia muito mais clãs. 

Hiashi Hyuuga, samurai, líder do clã Hyuuga, o mais numeroso e forte da aldeia, regressava de uma visita ao Senhor feudal, e era acompanhado dos membros do exército de sua linhagem.

Por onde cavalgavam, as pessoas nas ruas paravam para prestá-lo reverência, alguns comerciantes e artesões, aproximavam-se e ofereciam presentes, como forma de agradecê-lo pelo seu papel.

Também, como demonstração de estarem contentes, por ele chegar são e salvo.

Àquela altura, todos souberam que ocorreu um problema de viagem e se aliviaram ao comprovarem que não foi nada grave. 

Entre as citadas razões, Hiashi não esquecia que existia bajulação, por conta de ele ser uma grande ponte para o sucesso dos componentes das classes menores: artistas, mercadores e artesões. 

O Hyuuga apresentava a cor característica de sua linhagem, pele clara, um pouco mais escura que o normal, por permanecer mais tempo sob a luminosidade solar.

Seus orbes na cor clara, quase brancos, mas ainda sendo possível perceber as íris.

Os cabelos compridos e negros caíam-lhe nas costas, ultrapassando a cintura. 

Algumas rugas lhe eram distinguíveis.

Usava hakama negra, tipo de calça larga, ela se punha sobre o quimono branco.

Sustentava daimons, cordões a carregarem o símbolo do fogo, adotado pelo Senhor feudal.

Na cabeça, um kazaorieboshi, um tipo de chapéu, típico de samurais, preso por faixas a passarem pelo queixo. Na região frontal do kazaorie, o símbolo do clã, a espiral vermelha com uma cauda. 

Por trás de sua severidade na face, ocultava-se o anseio de rever sua família e descansar em seu lar.

Não teria mais nenhum compromisso importante no quinto mês do ano, conseguiria presenciar sua esposa dar à luz.

Um filho homem seria perfeito. 

Repentinamente, um mensageiro de um dos anciões se deteve a poucos metros na frente da montaria do líder Hyuuga. 

Hiashi interrompeu o cavalgue, e nos instantes futuros, o resto dos cavaleiros, também. 

Hiashi notou os olhares das pessoas distantes.

— Os anciões estarão no aguardo de sua presença, líder Hyuuga. — O guarda se curvou.  — Seja bem vindo de volta.

Formalmente, Hiashi agradeceu e assistiu o guarda partir. 

Seria falta de modos questionar do que se tratava.

Se os anciões almejavam conversar, deveria atender o pedido.

Pelas expressividades que alguns aldeões tentavam disfarçar, Hiashi suspeitava que aconteceu algo sério.

Se o guarda não definiu um horário, significava que os anciões pretendiam ficar o dia inteiro na casa onde ocorrem as reuniões. 

Ou seja, Hiashi podia comparecer a hora que desejasse, contanto que fosse naquele dia.

Por mais que seu anseio em regressar ao lar, fosse maior, quis sanar logo sua dúvida e dispensou os soldados, dirigiu-se sozinho até os anciões da aldeia.

 

O momento com os anciões durou duras horas, na metade da tarde, Hiashi galopava de volta ao lar. 

 

~Nh~

 

Na casa dos Namikazes, Naruto se encontrava sozinho aguardando seu pai retornar de viagem.

Sua rotina retornou à quase solidão de antes, com a diferença de que seu pai arranjava mais tempo para brincar com ele durante a noite. 

Eram os momentos nos quais o hanyou esquecia as saudades de Hinata. 

O quanto amava seu pai, o quanto eram amigos! 

Nunca esquecia o motivo de não ser infeliz totalmente, seu pai era seu companheiro para toda a vida.

Minato o lembrava o motivo de ainda sorrir, eram uma família, tinham um ao outro.

Mesmo que não revesse mais Hinata, sobreviveria, seu pai estaria ali. 

Após dispensar energia correndo inúmeras vezes em torno da casa, Naruto se jogou no piso da sala, cochilaria ali mesmo. 

Seus sonhos estavam mais dóceis depois da ida de Hinata, por que ela os habitava, e neles nada separava os dois. 

 

 


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