Capítulo 10: Missão cumprida.

22 de Novembro de 2007.

A primeira coisa que pensou quando retomou a consciência foi: “Droga!” Sua cabeça doía, tinha um gosto horrível na boca, seu corpo estava mole, sentia náuseas e não conseguia abrir os olhos devido à claridade no ambiente, que na realidade era pouca. Então resolveu ficar deitado tentando se lembrar o que fez para ficar deste modo.

Após conversar com Naruto resolveu passar na empresa para tentar diminuir um pouco do trabalho para quando voltasse ao seu posto, mas preferiria não ter ido, pois ao chegar suas suspeitas sobre o noivado de Hinata foram confirmadas.

Seu pai disse ter recebido uma ligação de Hiashi de manhã cedo, este havia dito que Hinata talvez não voltasse a trabalhar porque eles iriam acertar os últimos detalhes para o noivado e não tinha mais necessidade de ela continuar como secretária.

Sentiu a dor de cabeça e o enjôo aumentarem ao lembrar-se disso...

Ainda na empresa tentou acabar com as papeladas que haviam se acumulado durante seus dias de folga, mas isso se mostrou impossível, afinal não conseguia se concentrar. Mas o seu dia na empresa também revelou surpresas agradáveis, Karin tratou-o formalmente, ou quase, pois ao perceber sua distração sugeriu (praticamente decretou) que ele fosse para casa, pois Sasuke ainda não estava em condições de trabalhar normalmente. Agiu como uma amiga, o Uchiha percebeu que apesar de tudo, Karin era uma boa pessoa.

Voltou para casa na esperança de encontrar seu guardião para poder conversar, mas encontrou apenas Manda – o animal pareceu perceber sua tristeza, porque enquanto estava em casa ele não saiu de seu lado – porém a presença do cachorro não foi suficiente para acalmá-lo.

Quando a solidão pareceu sufocá-lo, arrumou-se e saiu rumo a uma boate/bar com música ao vivo no andar térreo e pista de dança no andar acima, não muito popular entre os de seu nível social, mas o melhor em sua opinião.

Lá encontrou os três irmãos Sabaku e Shikamaru, no entanto dispensou as companhias, queria estar rodeado de pessoas, mas ao mesmo tempo desejava ficar sozinho para remoer as próprias magoas que na hora pareceram cada vez maiores.

Lembrava de pedir algumas bebidas ao bartender, mas a partir daí tudo se tornou confuso...

- “Que merda eu fiz?” – Colocou um dos braços sobre os olhos.

Segundos depois se sentou de supetão, ignorando a pontada na cabeça, e suspirou aliviado ao constatar que estava em seu quarto, olhou para si mesmo e estranhou os pijamas.

Não se lembrava de ter colocado essas roupas, mas também não se lembrava de como chegou a casa.

Suspirou.

Tinha consciência de que bêbado ficava alegre, desinibido e temperamental, havia tido uma única experiência deste tipo na faculdade e graças a ela evitava beber muito. Mas estava sobre pressão e não conseguiu se controlar.

Levantou-se lentamente, o que não impediu sua cabeça de doer mais, seus movimentos ficaram ainda mais vagarosos devido a isso.

Em “câmera lenta” fez sua higiene matinal e trocou-se, depois foi em direção a cozinha com passos arrastados, quando estava próximo parou ao ouvir vozes sussurrantes vindas da cozinha, junto a um cheiro agradável.

- Não sei por que você ficou tão surpresa, até um recém-nascido poderia perceber. – A voz de seu guardião soou zombeteira.

- Naruto-kun coloque menos macarrão na boca. – Sasuke arregalou ligeiramente os olhos.

- Hinata... – Murmurou alarmado e voltou ao quarto o mais rápido possível. - “O que ela ta fazendo aqui?” – Pensou sentando na cama e colocando o rosto entre as mãos.

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Hinata estava preparando o café da manhã e Naruto estava comendo ramen, que a Hyuuga havia preparado, enquanto conversavam sobre a descoberta da morena, Manda estava deitado em baixo da mesa dormindo.

- Naruto-kun coloque menos macarrão na boca. – Colocou as mãos na cintura em uma tentativa de pose autoritária, mas falhou miseravelmente, afinal um sorriso teimava em aparecer em seu rosto.

- Não consigo... Esse negócio é excelente! – Os olhos brilharam. – Como eu nunca experimentei isso antes? Talvez seja melhor que sorvete! – Continuou comendo.

Hinata apenas riu, voltando a preparar o café que deveria ser reforçado, mas ao mesmo tempo leve, pois Sasuke deveria se alimentar bem. Em segundos o loiro terminou de comer e suspirou satisfeito.

- E agora o que você vai fazer? – O loiro indagou voltando a postura séria.

A mulher ficou séria.

- Eu realmente não sei. – Começou a colocar os alimentos em uma bandeja. - Sasuke estava delirando quando me falou aquilo, ele nem irá se lembrar disso hoje.

- Isso não significa que ele mentiu. – Rebateu calmamente. – Ele tomou uma atitude Hinata, errada, mas a única que ele achou possível para não sofrer. Está na hora de você tomar uma também e espero que seja mais responsável e inteligente que ele.

A morena o encarou, o loiro estava com uma postura autoritária e mesmo aparentando ser apenas um adolescente, Hinata se sentiu diminuta diante dele.

- Eu não te decepcionarei... – murmurou.

- A única que pode acabar se decepcionando, se tomar a decisão errada, é você. – Respondeu calmo. – Minha missão já foi cumprida, em breve serei convocado e irei para minha nova missão. E por mais que vocês estejam aqui... – Apontou o próprio peito, bem em cima do coração. – Eu não poderei ficar me preocupando muito, pois assim acabaria negligenciando outras pessoas.

Hinata travou. E se ele partisse antes dela falar com Sasuke? E se ela tomasse a decisão errada? Por que as coisas não eram mais fáceis?

 - Porque você complica tanto? – Passou a mão nos cabelos em um gesto de impaciência. – Não há motivos para dúvidas... Vocês se amam e a única coisa que os separa é um mal entendido que pode ser resolvido com uma conversa franca.

- E se ele não me ouvir? – Nada a fazia crer que seria tão fácil quanto o anjo dizia.

- Force-o. – Balançou os ombros em descaso. – Hoje ele não está em condições de ir contra nada e nem ninguém.

- Mas...

- Chega! – Bateu as mãos na mesa. – Se você não quer falar, não fale! Isso já não é problema meu. Cansei de facilitar as coisas, o problema de vocês nem é grave. – Hinata encolheu-se ligeiramente. – Ou vocês se resolvem ou ficam na mesma, tanto faz! – E desapareceu.   

 Os olhos encherem-se de lágrimas, mas Hinata respirou fundo e não se permitiu chorar, não seria fraca desta fez. Usaria da mesma determinação que teve ao sair da casa de seus pais, para resolver esse assunto e se não desse certo seguiria em frente. Pegou a bandeja com o café da manhã e seguiu em direção ao quarto.

- Que Deus me ajude. – murmurou.

- “Ele ajudará.” – Naruto pensou vendo a morena sair, ficar invisível a olhos humanos era o truque mais utilizado pelos anjos. Ele amava isso e também amava fazer um drama.

********////*******

Escutou a porta se abrir, mas não se mexeu, havia deitado na cama para tentar voltar a dormir, para assim não ter que encarar a Hyuuga, mas estava inquieto demais para dormir e sua dor de cabeça parecia aumentar.

Ouviu passos suaves, em seguida algo foi colocado sobre o criado mudo.

Não se mexeu um milímetro. Uma mão delicada afastou sua franja e depois pousou sobre sua testa.

- Finalmente a febre cedeu – Escutou o sussurro aliviado. - Você me deixou preocupada, Sasuke-kun. – A mão se afastou e um beijo terno foi depositado em sua testa, depois sentiu a mulher se afastar de si.

- “... Você julgou seu irmão por não lutar por Mei e vai fazer o mesmo por Hinata?” – A lembrança surgiu e o fez tomar uma atitude.

Abriu os olhos e viu Hinata afastando-se da cama. Sem pensar, sentou-se, segurou-a pelo pulso e a puxou em direção a cama, a jovem assustou-se e caiu sentada em frente ao moreno.

Ficaram um tempo se encarando, os olhos claros da jovem estavam ligeiramente arregalados e o rosto corado, Sasuke parecia estar tentando ler o que se passava em sua alma e ela não se sentia incomodada por isso.

- Sasuke... – O nome saiu em um sussurro.

O moreno não disse nada, apenas aproximou-se mais ainda da jovem, sem deixar de encará-la nos olhos, levou uma das mãos até a face da Hyuuga e acariciou delicadamente, fazendo-a fechar os olhos e inclinar o rosto em direção ao afago. Sasuke pensou nunca ter visto imagem mais bela e sem ponderar sobre suas ações, selou os lábios da morena com um beijo carinhoso.

Nenhum dos dois sabia o que estava acontecendo, mas tinham a certeza de que finalmente tudo estava bem.

Afastaram-se lentamente, sem querer realmente quebrar o contato. Os olhares se encontraram, Hinata sentiu seu rosto esquentar, Sasuke sorriu diante disso, mas algo o fez ficar sério e se afastar mais da jovem.

- Eu não vou deixar você se casar com seu primo! – Soltou à queima roupa, a expressão antes suave agora estava fria, como sempre e sua mão segurou possessivamente a mão da mulher ao seu lado.

A Hyuuga arregalou os olhos e sua boca abriu alguns milímetros, mas depois soltou um riso tímido.

Os olhos de Sasuke estreitaram-se perigosamente diante dessa ação.

- Eu não vou me casar com Neji. – A morena sorriu meiga.

- Não? – Desconfiou.

- Não. – Balançou a cabeça negando. – O acordo foi anulado.

Um pequeno sorriso brotou na face pálida do homem, ele a abraçou fortemente e escondeu o rosto na curva de seu pescoço.

- Desculpe-me por ter te tratado daquele jeito ontem. – A voz saiu abafada. – Eu pensei que você iria se casar e fiquei com raiva... Não pude me controlar. – Afastou-se para olhá-la nos olhos. – Eu sempre soube controlar meus sentimentos e impulsos, nunca fui de agir sem pensar, mas de uns tempos pra cá tudo que eu escondia veio à tona. Coisas que eu nem sabia que existiam! E eu não sei mais camuflar minhas emoções. – Abraçou-a novamente. – Nem sei por que estou falando isso... Sinto-me patético. – Soltou uma risada.

- Você não é patético. – Hinata tentava controlar a voz para não sair chorosa, acariciou os cabelos negros. – E eu te perdôo por ontem. – Achava as desculpas desnecessárias depois de saber o motivo, mas não queria deixar o moreno sentindo culpa.

- Obrigado. – Murmurou e depois a beijou novamente.

Carinho, afeto, alegria, ansiedade, paz, liberdade... Em apenas um beijo todos os sentimentos compartilhados pareceram crescer dentro deles de maneira extraordinária e mesmo assim ambos sentiam-se leves.

A Hyuuga empurrou-o suavemente, encerrando o beijo e o Uchiha a encarou confuso. Será que não era correspondido? Impossível. Não depois daquele beijo.

- Você precisa se alimentar Sasuke-kun. – Seu rosto estava queimando de vergonha, mas o sorriso não saia de sua face. Sem esperar qualquer resposta levantou-se, pegou a bandeja e colocou-a em frente ao moreno.

Só então o Uchiha reparou que sua insuportável dor de cabeça havia sido resumida a um ligeiro incômodo. Não se sentia mais nauseado e as dores em seu corpo também haviam diminuído.

- Estranho. – Murmurou perdido em pensamentos, tentava recordar se havia ingerido algum medicamento para abrandar os sintomas da ressaca, mas nada veio a sua cabeça.

- Sasuke-kun?

O moreno piscou saindo dos devaneios e encarou o rosto preocupado da mulher... Ela tinha um copo com água na mão esquerda e um comprimido na direita.

- O que você disse? – Questionou um pouco aéreo.

- Eu disse para você comer pelo menos um pouco, pois tomar o remédio com estomago vazio pode fazer mal. – Respondeu pacientemente.

- Certo.  – Olhou para a bandeja a sua frente, nela havia tigelas com Missoshiru¹, Gohan² e Tamagoyaki³. Tinha também um copo com chá verde ao lado de uma chaleira. Resumindo era um típico café da manhã japonês. 

– Itadakimasu. – Murmurou e levou uma quantidade do arroz a boca. Deu um pequeno sorriso em apreciação, há tempos que não fazia uma refeição “washoku¹¹”.

Devido ao trabalho preferia café-da-manhã em estilo ocidental ou então apenas frutas, além disso, nos últimos dias quem fazia o café era Naruto e este não parecia ter grandes conhecimentos sobre a culinária japonesa¹².

- Está bom? – Indagou Hinata um pouco ansiosa. Havia colocado o comprimido e o copo sobre o criado mudo.

Sasuke a encarou sério, a morena ficou um pouco receosa diante do olhar, mas em seguida o moreno deu um sorriso pequeno, pegou um pedaço de Tamagoyaki e levou em direção a boca da Hyuuga.

- Experimente. – O rosto da mulher corou-se ainda mais, se é que isso é possível, e seus olhos arregalaram-se. O Uchiha sorriu e aproximou mais os hashis dos lábios delicados e mesmo envergonhada a Hyuuga aceitou o alimento.

- O que você achou? – Indagou voltando a comer.

- Bom. – Respondeu baixo, ela que havia feito e por isso ficava constrangida ao comentar.

- Pois eu não concordo. – Hinata abaixou a cabeça e estava prestes a murmurar um pedido de desculpas... – Eu achei delicioso demais para ser considerado apenas “bom”. – Os olhos quase albinos fixaram-se nos negros, contentes e aliviados. – Quer mais? – Ofereceu gohan desta vez... A jovem assentiu entreabrindo os lábios.

********////********

Naruto estava parado ao lado da porta – ainda invisível a olhos humanos -, havia presenciado todos os momentos desde a chegada de Hinata ao quarto, sabia que Sasuke estava acordado, pois sentiu quando seu protegido ficou parado próximo a cozinha, por esse motivo pressionou Hinata.

Também tinha diminuído um pouco dos sintomas da ressaca para permitir que o Uchiha pensasse com mais clareza.

Porém achou estranho tudo ter se desenrolado tão facilmente, desta vez não tinha harmonizado a energia do local para evitar “atritos”, não podia interferir tão diretamente, mas mesmo assim o casal havia conseguido se entender sem maiores problemas.

- “Estranho.” – Pensou franzindo o cenho.

- Eles realmente formam um belo casal. – A voz soou apreciativa, mas com o característico toque zombeteiro.

- Kyuubi? – O loiro se espantou por não ter percebido aquela presença ao seu lado antes. – Foi você! – Entendeu rapidamente.

- Sim... – O ruivo sorriu de lado. – Você já terminou sua missão, mas eu sabia que não iria sossegar até juntar esses dois. Então eu vim ajudar.

- Por quê?

- Você está enrolado demais com os supervisores, não poderia agir tão diretamente após a conclusão da missão sem que seu “corretivo” fosse modificado para algo mais radical. – Kyuubi voltou a fitar o casal que agora conversava naturalmente como se sempre fizessem isso. – Eu não podia deixar isso acontecer. – Voltou a fitar o louro, desta vez seriamente.

Naruto encarou os olhos avermelhados do outro anjo. Passaram décadas lado a lado, “trabalhando” juntos, ajudando-se. E agora o Uzumaki podia compreender que o companheirismo por comodidade, havia se tornado uma amizade verdadeira e duradoura. Com um sempre tentado proteger ao máximo o outro. 

- Obrigado. - Agradeceu emocionado.

- Não me diga que você é do tipo emotivo! – O ruivo fez uma careta. - Credo, preferia você frio, racional e sarcástico. – Deu um curto sorriso e recebeu um fraco soco no ombro.

- Palhaço... – O loiro murmurou, mas ainda sorriu com o comentário.

Kyuubi retribuiu o sorriso, mas rapidamente voltou a ficar sério e olhou novamente em direção ao casal.

- Você sabe que agora terá que partir, não é? – A voz saiu mansa.

- Sei. – O loiro suspirou. – Quando iniciei está missão não sabia que me sentiria mal só de pensar em partir. – Sorriu tristemente. – Sinto-me péssimo.

O ruivo jogou um braço sobre os ombros do amigo e deu um meio sorriso.

- Não se sinta. Nós, melhor que qualquer um, sabemos que os caminhos da existência nunca se cruzam apenas uma vez.

O loiro assentiu concordando e deu um pequeno sorriso.

- Bom, meu trabalho por aqui acabou. – Bagunçou os cabelos loiros do outro anjo e se afastou rindo da careta que recebeu. – Boa sorte na despedida e até mais.

- Obrigado e até.

Kyuubi acenou ao amigo e alçou voo... Humanos pensariam que ele havia desaparecido em meio a uma luz prateada, afinal os vôos dos anjos eram tão rápidos que olhos comuns jamais captariam tal ação. ¹³

O loiro lançou um último olhar ao casal e depois saiu, tinha que falar com outras pessoas antes de se despedir de Sasuke...

Continuaaa...