Autorização escrita por Mayumi Sato


Capítulo 1
Autorização


Notas iniciais do capítulo

Aos quinze anos, eu me apaixonei.
Pela doce e meiga, Asahina-san.



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Aos quinze anos me apaixonei. Perdidamente. Talvez essa não seja uma boa idade para se apaixonar, considerando a paranóia dos pais, o interesse dos colegas e a agitação de todos- inclusive, dos seus hormônios-, mas foi inevitavel e não consegui deter esse sentimento.

Apaixonei-me por Asahina-san.

Ela era a única causa que me mantia preso àquela brigada. Para protegê-la e ver seu sorriso adorável, eu aceitaria qualquer coisa. Até mesmo os abusos de Haruhi. Até mesmo os abusos de Haruhi em Asahina-san. Tudo por ela. Asahina-san, uma linda garota, que poderia virar a miss universo, apenas distribuindo chá na sala da competição.

Asahina-san. A linda Asahina-san. Era ela que eu amava.

Se nós dois não estávamos juntos, só havia um motivo. Nossa chefe de brigada era alguém extremamente ciumenta e não suportava ver o amor que crescia entre nós. Para ela, ver-nos juntos era o fim do mundo- literalmente. Essa era a única razão pela qual eu não namorava com Asahina-san.

Teoricamente.

Porém, um dia, Asahina-san ausentou-se e Haruhi veio falar comigo. Achei que - para variar - ela me pediria para realizar trabalhos braçais desnecessários ao mundo, ao colégio ou até mesmo a mim, mas com grande surpresa, a ouvi dizer:

- Kyon, nós temos que conversar.

Ou-ou.

Tive dúvida se deveria gritar, correr ou me atirar pela janela, mas de algum modo, acabei paralisado na cadeira. Quer falar, Haruhi? Então, fale. Entretanto, saiba que qualquer coisa que você diga será usada contra você no tribunal.

- Você gosta da Asahina-san, não é?

" Sim, eu gosto"

- Não.

- Por que você está tão assustado!?! Seja sincero! Vamos! Você gosta dela, não é???

Achei que ela devia ter uma arma escondida em algum canto estratégico, mas já que ela me pedia sinceridade, decidi declarar:

- Eu a amo.

Esperei pelas consequências. Ela iria gritar? Iria correr? Me atirar pela janela?

- Pois bem- disse ela, sorrindo- eu acho que vocês formam um belo casal. Até pouco, não entendia porque vocês ainda não estavam juntos, mas Koizumi me explicou que isso provavelmente se devia ao temor por minha reação. É louvável ver o respeito que vocês alimentam por sua chefe de brigada, mas isso é completamente desnecessário. Eu acho que vocês formam um belo casal! Fiquem juntos!

-...Sério?

Ela continuou a sorrir, dessa vez em silêncio. Ainda assim, eu já sabia a resposta. Haruhi era sempre séria. E aquela não era uma exceção.

Então era isso? Ela realmente não ligava? Desde quando ela havia parado de se importar?

- Então, eu posso sair com ela?

- Fique à vontade.

Por algum motivo, isso me preocupava muito.

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- Kyon-kun! O seu chá!

- Ah. Muito obrigado, Asahina-san.

- Está bom???

- Está ótimo.

- Verdade??? Fico feliz por isso!

Os dias na brigada, continuaram basicamente a mesma coisa. Koizumi e eu jogávamos Othelo, Nagato lia tranquilamente em um canto da sala e Haruhi representava a vitória da internet sobre os direitos humanos. Nada de surpreendente. Entretanto, uma coisa havia mudado. Eu não conseguia tirar os olhos de Haruhi.

Desde o dia em que Haruhi havia permitido meu relacionamento com Asahina-san, uma terrível desconfiança aglomerara-se em meu peito. Achei que a qualquer instante, ela explodiria e me mandaria sair da sala, enquanto agarrava Asahina-san- provavelmente- pelos peitos.

Contudo, ela não reagia. Não importando quantas vezes Asahina-san era gentil comigo ou sorria para mim, Haruhi nunca dizia nada.

Ela não se incomodava mais.

E isso me incomodava bastante.

- Haruhi....

- Sim?

- Eu estou pensando em sair com Asahina-san.

- Cumpra seu turno e ficará tudo bem.

E o pior, eu não compreendia nenhuma das duas situações.

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Não saí com Asahina-san. Não correspondi os sorrisos ou o sentimento de Asahina-san.

Estava tão preocupado com Haruhi que nem sequer tinha tempo para pensar em Asahina-san.

O que era aquilo? Uma estratégia? Ela estava usando meios alternativos para chamar minha atenção?

Eu não queria aquilo. A situação tinha que ser esclarescida. Eu não podia ficar com Asahina-san com aqueles pensamentos sufocando-me diariamente a cada vez que eu via as costas de Haruhi.

Talvez fosse realmente melhor sair com Asahina. Eu tinha que esquecer a preocupação com Haruhi antes que ela se tornasse algo mais arriscado.

Marcamos em uma cafeteria e - como o previsto - ela me lembrou de uma coisa: tínhamos que pedir autorização a nossa chefe de brigada.

Como Asahina-san estava quase chorando, fui um cavalheiro e me propus a resolver o problema. Contudo, não nego que não estava em um bom estado e que assim que percebi Haruhi, solitária na sala da brigada, com o olhar voltado à janela, senti meu coração falhar uma batida.

- Haruhi, eu pretendo sair com a Asahina-san essa tarde. Tudo bem?

- Tudo. Eu peço para a Nagato me ajudar com o site da brigada e aplico uma punição apropriada depois.

- Na Nagato?

- Em você!

Ela ficou zangada. Eu fiquei feliz. Consequência daquele estranho encontro entre uma sádica e um masoquista.

- Então, você está brava!

- Claro que estou! Todos os membros da brigada faltaram a reunião e você vem me falar de encontro??? Tenho motivos para estar brava! Imagine se um dia, todos os seus funcionários faltassem a jornada de trabalho para irem namorar??? O que você faria!!?!

- Me manteria bem longe do lugar. A massa poderia me envolver.

- Idiota!

Sorri para ela, aproximando-me de seu rosto contrariado. Haruhi nunca mudava. Ainda bem.

- Sabe, por instantes pensei que você realmente havia aprovado meu relacionamento com Asahina-san...

- E eu aprovei! Do que você está falando???

- Você não acabou de dizer que está brava por que temos um encontro?

- Ah. Eu não estou brava por isso. Estou brava com a ausência dos membros da brigada. Pode ir para o seu encontro. Como eu já disse antes, pensarei cuidadosamente em uma punição coletiva.

- Então você não está com ciúmes?

- Eu não me incomodo mais.

Eu não me incomodo mais.

Eu não me incomodo mais.

Aquela frase vagou por áreas do meu cerébro que eu nem sabia existir. Então, era isso??? Para Haruhi tanto fazia com quem eu saía ou não???? Como eu passei de "escolhido" que faz trabalhos braçais para insignificante que faz trabalhos braçais???

Eu não entendia como ela não se incomodava. Se algum dia, Haruhi me dissesse que iria sair com qualquer garoto, eu me sentiria bastante estranho. Chateado, na verdade. Como qualquer amigo. Era natural que eu me sentisse bravo também.

Era natural desejar monopolizá-la. Era natural querer a atenção dela. Era natural me importar com ela.

Afinal, éramos amigos, não éramos?

Claro, era estranho o desejo que eu tinha de beijá-la. Ou o modo como aquela situação havia me transtornado totalmente. Entretanto, não era nada que alguns bons anos de terapia não pudessem resolver.

Então, por que ela não sentia o mesmo por mim?

E afinal, o que Haruhi sentia por mim?

- Haruhi, eu amo a Asahina-san...

Ela sorriu e disse a pior frase já proferida por uma mulher desde o manifesto feminista:

- Eu sei.

Não aguentei. Sigh. Haruhi, você está brincando comigo?

- Kyon, por que você está trancando a porta?

Se você está querendo me torturar lentamente, tudo bem. Se você quer apenas me ignorar, tudo bem...

- Kyon...O que você...!?!

...mas não espere que meu corpo, não reaja a isso.

Ela tentou impedir, mas já era tarde. No momento em que meus olhos encontraram os de Haruhi a tão fatal distância, tornou-se impossível evitar aquilo. Antes que pudesse entender o que fazia, enlacei sua cintura e beijei Haruhi.

Senti resistência, ela tentava me afastar, mas toda vez que suas mãos encostavam em meu corpo, sensações elétricas corriam por meu corpo. Senti todo o meu fôlego e razão, esvaírem-se na boca de Suzumiya. E não estava disposto a parar por nenhum momento.

Ela podia me bater. Podia me desprezar. Me ignorar. Me mandar sair com Asahina.

Podia tentar me afastar com mil artifícios.

Mas no fim, eu sempre acabava por beijá-la.

- Kyon...- ela disse, quando finalmente permiti que nossas bocas se separassem. O seu fôlego ainda estava alterado, tal qual seu olhar, e tive a impressão que ela pegaria o primeiro objeto pontiagudo que visse e avançaria nos meus olhos.-...por que você age de uma maneira tão estúpida!?! Você não é uma criança! Agir impusivamente assim...que vergonha para a brigada!

- Me desculpe...

- Você acha que um simples pedido de desculpas consertará tudo!?! Por que teria ocorrido a revolução francesa se desculpas resolvessem tudo!?! Eu irei lhe punir com métodos tão cruéis que mesmo a inquisição hesitava em usá-los, na "Idade Média"!

- Haruhi...

- Seu idiota! Fazendo algo estúpido assim...mesmo quando deu tanto trabalho para a sua chefe de brigada agir de um jeito maduro...

Han?

- Como assim?

Poderia ser impressão minha, tenho quase certeza que era, mas tive a impressão de ter visto uma expressão vagamente constrangida no rosto de Haruhi. Não posso afirmar que ela estava constrangida, mas tenho certeza que ela estava alterada.

- Calado! Seu idiota! Amanhã, apareça aqui cedo, faça seu trabalho e pare de ficar saindo com a Mikuru-chan quando há tantos serviços que não exigem intelecto a serem feitos, nessa brigada! É uma ordem, entendeu!?! Uma ordem! Agora...saia.

- Haruhi, você...

- SAIA!!!

E assim, fui expulso da sala da brigada, como no dia em que Haruhi disse que iria se trocar e eu permaneci sentado. Talvez as duas situações fossem parecidas. Entretanto, ambas eram visivelmente distintas, já que, nessa segunda ocasião, meu coração estava tão acelerado, que meu peito parecia pequeno para comportá-lo.

Afinal, eu me apaixonei aos meus quinze anos.

E aos poucos descobri que não era por Asahina-san.

Não sabia como minha chefe de brigada reagiria, mas um dia teria que contar isso a ela. Era fundamental contar a Haruhi que havia uma pessoa com quem eu queria sair. Era essencial dizer a ela quem era essa pessoa. E acima de tudo, era imprescendível que somente ela soubesse.

Sigh. Nunca seria tão difícil pedir uma autorização.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

FIM


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem esta one-shoot! Ela é bastante simples, mas espero que vocês tenham a apreciado! Por favor, façam comentários!