Duty, Love or War?- Interativa escrita por Ice Queen


Capítulo 4
Selecionadas da Terra do Inverno- A Partida


Notas iniciais do capítulo

Oi minhas queridas ♥ Tudo bem com vocês? Como vai a escola? A minha anda a mesma coisa de sempre, se não fosse os professores novos dava pra pensar que o ano ainda nem acabou kkkk
Ah eu estou bem hoje, o capítulo está um pouquinho atrasado na verdade, mas sexta foi meu aniversário e eu saí pra comemorar e ontem eu estava morrendo de dor de cabeça, mas no fim foi bom porque esse capítulo está completo graças a ficha que eu recebi ontem!
Eu já vou adiantando que a Maryia é minha personagem, como faltava só uma para o Dimitri e eu resolvi mudar meus planos originais de por ela como criada e só tacar a menina como selecionada, mas não vai influenciar nada na Seleção em si, a Mary está ai para outra coisa (Spoilers dears, vou calar a boca antes que fale demais)
E eu já completei o capítulo anterior viu? Adicionei a menina que faltava (A gracinha da Berg) então vão lá conferi-la kay?
Só para lembrar que se eu fizer alguma coisa errada com sua personagem é preciso que vocês me avisem, viu? Se não eu vou continuar errando e ninguém quer isso!



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"Debaixo da maquiagem e por trás do meu sorriso, eu sou apenas uma menina que deseja o mundo."

 Marilyn Monroe

Sia-Unstoppable

Minsk, Bielorrúsia

Havia uma legião de pessoas para se despedir ou acompanhar Valentina até o Aeroporto Nacional de Minsk, tantos que ela nem mesmo podia se lembrar se havia falado com todos ou propriamente agradecido pelo carinho. Se fosse qualquer outra pessoa se sentiria sufocada estando tão cercada de pessoas querendo um pingo de sua atenção, mas ela não é qualquer pessoa, é uma diplomata desde sua tenra adolescência e se não soubesse lidar com situações como essa como espera ser capaz de ter alguma utilidade no caótico cenário mundial?

Foi apenas quando a presença intimidadora de seu pai fez seu caminho pelos inúmeros membros do governo bielorrusso que Tina foi deixada parcialmente sozinha, os passos rápidos de seu pai logo os levaram longe das pessoas que entendendo o recado deixaram pai e filha sozinhos para se despedirem e quem sabe mais o que o sério duque queira dizer a garota. Eles caminharam juntos em silêncio até chegarem ao avião em que Valentina deve embarcar em ordem de se dirigir a Londres, a presença do homem ali é teoricamente proibida, mas quem vai dizer isso a ele? Não demorou até que a figura mais delicada de sua mãe também se juntasse a eles. Sua demora provavelmente fruto de uma de suas “investigações”- Ainda é surpreendente para Valentina como sua mãe é capaz de conseguir tantos segredos e informações úteis em uma única conversa, um dia a garota espera se igualar a ela:

—Não acho que temos mais nada a te falar, Tina querida- A duquesa Svetlana se pronunciou primeiro, um sorriso estampando suas belas feições- Você já sabe tudo o que precisa para garantir sua coroa logo na primeira semana, duvido que qualquer outra garota vá ter uma posição tão boa como a sua ou tanta habilidade política, o príncipe do Reino Unido seria um tolo para considerar qualquer outra garota.

Seu pai acenou em concordância e lhe envolveu em um rápido abraço, eles já tinham conversado sobre isso antes e sinceramente não havia mesmo o que ser discutido, viajar não é nada novo para Tina então despedidas são um evento banal e comum, sabe que sempre vai ter a chance de manter contato com eles e dessa vez vai estar entre família não vai? Ela só queria ter tido a chance de se despedir mais uma vez de Alec e Judite seus melhores amigos e admite que seja estranho viajar sem ter Judi a seu lado, desde que iniciou essa carreira a outra sempre esteve ao seu lado mesmo não nutrindo interesse pessoal por política, Judite só entende que a amiga precisa ser capaz de conversar sem máscaras de vez em quando, de não ter que calcular suas palavras, por isso é um tanto desagradável à ideia de ir para Londres sozinha, mas nada que não seja capaz e superar. Tina tem uma missão a cumprir, sua mãe está certa afinal de contas, politicamente falando ela é a melhor escolha para o príncipe Anthony, além de já ter conhecimento político está ligada pelo sangue á família real russa.

Talvez seja por isso que não está nervosa, se tem duas coisas que definem Valentina são seu carisma marcante e seu controle sobre suas emoções e mesmo as dos outros até certo ponto, é boa em ler as pessoas e assim sabe exatamente como se portar para alcançar os melhores resultados, não vê porque a Seleção tem que ser algo diferente. É tudo um jogo político afinal de contas e Tina quer acima de tudo ganhar para manter a paz, ser uma rainha é talvez o jeito mais rápido e eficaz de garantir que os ânimos fiquem calmos e nenhuma decisão prejudicial seja tomada, além de proteger sua pátria mãe, não sabe se é realmente possível cortar toda sua lealdade para com a União e honestamente ela não quer nem tentar, só quer trazer a paz entre as nações. Tina não tem nenhum desejo de ver pessoas inocentes sofrendo, não se puder evitar.

Sempre foi uma jovem considerava angelical, envolvida em projetos sociais, caridosa e pacífica- Tem sim seu lado perverso, não mente para si mesma, mas o mundo não precisa saber disso a menos que seja necessário-, amada por todos aqueles que a conhecem, incluindo é claro sua tia Yelena, irmã mais velha de sua mãe, seu primo Dimitri e até mesmo seu tio Ivan. Valentina se lembra com carinho dos momentos passados em Moscou com eles no começo de sua adolescência, tudo parece tão distante agora que ela pensa nisso, não consegue mais se lembrar do som do riso de sua tia ou do sorriso de seu primo, dos elogios do Czar, está mesmo perdendo as memórias que tinha de Aleksei e Yeva e isso é algo que não deseja, amou o tempo que lá passou e ficou muito triste quando foi realocada para Minsk para ficar mais próximas das terras de sua família e viajar mais facilmente pela Europa quando necessário. Mas os anos tem lhe sido bons e Tina está muito feliz com tudo, principalmente agora com esse novo objetivo.

Para Valentina a Seleção não é só sua chance de se tornar rainha, de manter a paz, é sua chance de reatar os laços com sua família. Não vê a hora de encontra-los novamente.

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"Nem tudo pode ser perfeito. Porque o mundo, o mundo não é perfeito."

Fullmetal Alchemist

Zara Larsson- Lush Life

Moscou, Rússia

Darya espera, não tão pacientemente, o avião pousar em Moscou há quase meia hora e a cada momento se sente mais e mais sufocada no quente aeroporto. Está indescritivelmente ansiosa para poder, finalmente, deixar para trás o gélido ar da União Russa- E ela se refere a muito mais que apenas os ventos frios e grossa camada de neve que cobre as ruas, para quem está acostumada ao clima mais quente de países como Portugal e mais recentemente Escócia Darya está em um eterno estado de descrença que aquelas pessoas suportam aquilo todos os anos, mas se o clima fosse o único problema ela provavelmente não estaria esta pilha de nervos. Está começando a se sentir casada de esperar numa área relativamente afastada por quase 15 minutos após o horário marcado para seu embarque, a lógica seria que o avião partisse de Moscou afinal é a capital da União Russa só que como a sobrinha da Czarina foi uma das escolhidas o avião partira de Minsk onde ela reside para só então se dirigir a Moscou para buscá-la.

Não tem ninguém esperando ali com ela é claro, Darya passa muito tempo fora em embaixadas da União mundo afora para formar amizade com qualquer pessoa de seu país natal- Fora Motya que é provavelmente sua pessoa favorita no mundo e cuja presença Darya amaria ter ao seu lado, só que a amiga não pode estar ali com ela por ordens do, oh tão amável, senhor Alexey Konstantinov e sua natureza mais inflexível que ferro e completo desprezo pela própria filha e “gente como ela”, como se Alexey entendesse alguma coisa sobre como Darya se sente ou o que a atrai. O homem que ela não gosta de pensar como pai também não está ali, mas isso é uma benção nos olhos acinzentados da garota, do mesmo jeito que ele não a vê como parente ela se recusa a aceita-lo como tal, simples assim, Darya não é alguém que fica se lamentando pela opinião negativa dos outros sobre si- Não senhor, ela não está nesse mundo para agradar ninguém além de si mesma! Talvez por isso a espera pelo avião se arrasta por incontáveis e estressantes minutos, Darya gosta de ação, de estar sempre se ocupando e conversando com pessoas, bem flertando talvez seja a palavra mais exata mas o resultado é o mesmo, não de ficar presa em um lugar.

Deixou um longo suspiro lhe escapar dos lábios coloridos com um batom avermelhado forte, está quase convencida que se continuar andando de um lado pelo outro vai realmente abrir um buraco no chão acarpetado do aeroporto, encarou com leve inveja os ricos empresários que embarcam em seus jatinhos particulares e logo decolam para suas destinações. Riu para si mesma no instante seguinte, talvez um pouco alto demais, quando percebeu que sua inquietação pode ser confundida com algum tipo de excitação em estar participando da Seleção, ah se aquelas pessoas soubessem da missa a metade teriam descartado sua ficha assim que a receberam. Darya tem um total de -10% de interesse em ser uma rainha- E isso sendo otimista- e, mais importante ainda, a jovem tem pouco interesse no sexo oposto no geral, apesar de bissexual a russa de cabelos tingidos nunca fez questão de esconder que tem preferencia por mulheres, não é cega e sabe que o herdeiro norueguês é bonito com aqueles olhos azuis impressionantes, mas sinceramente? Darya não está nem aí.

Não faz questão de esconder que não se inscreveu por vontade própria também, o que ela está tentando fazer desde que aquela carta chegou a sua casa é simplesmente remediar a situação e ver o lado mais positivo dela, seu pai mandou a inscrição em seu nome em uma tola esperança que isso vá “consertar” a filha. Darya não particularmente se importa agora que pensa sobre isso mais calmamente, não tem que casar com o príncipe- Pelo que sabe aquele lá vai dar trabalho- ou mesmo tentar seduzi-lo, só precisa ir para a Inglaterra, usar vestidos bonitos e comer comida gostosa até a eliminatória quando o príncipe vai chutá-la e ela pode voltar a sua vida de antes- Se tiver alguma sorte pode até achar alguém interessante lá, se entende o que ela quer dizer-, sem stress ou neura, só um tipo muito diferente de férias!

Ela pode fazer isso. Não trabalha no setor de comunicações de qualquer embaixada russa que precise de ajuda por nada- E olha que isso é um trabalho mais difícil do que se pensa, seu país tem rixas ou problemas com praticamente metade da Europa, incluindo seus próprios parceiros comerciais, é preciso ter jogo de cintura para lidar com diplomatas irritados e vez ou outra um ricaço ofendido-, não é a mais elegante ou focada das empregadas, mas Darya sabe se virar e tem certeza que vai saber o que fazer em Londres, é só não ofender ninguém com o poder de manda-la para cadeia ou cortar seu pescoço certo? Darya pode fazer isso.

(Ela acha)

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“Você nunca sabe a força que tem. Até que sua única alternativa é ser forte.”

Johnny Deep

R5- Smile

São Petersburgo

Alyona e sua mãe andaram de mãos dadas até o aeroporto como é costume de ambas, Galina tem o costume de agir como se Aly ainda fosse uma garotinha que correria desenfreada assim que a mãe lhe largasse a mão, mas a garota não se importa com esse gesto, em fato se arrisca a dizer que gosta muito, dá-lhe a tão amada sensação de segurança e estabilidade- Se Galina está segurando sua mão e sorrindo suavemente então este é um dos bons dias, onde a bela mulher é capaz de fugir dos demônios de um filho morto e um casamento desmoronado. O pai ignorara o hesitante convite da filha para acompanha-las e se despedir e isso é na verdade uma boa coisa, Aly duvida que sua mãe fosse capaz de ostentar tal sorriso na presença do homem que um dia foi uma figura tão importante e querida para ambas.

A jovem russa está animada e esperançosa com a chance que lhe foi dada ao custo de uma simples ficha enviada pelo correio, tudo pareceu se encaixar no momento que a carta chegou em suas mãos- Sua carreira de modelo tomou um rumo para o melhor, não pudera manter segredo como fora aconselhado a animação e confiança nas pessoas do estúdio acabou por falar mais alto, a mãe parecia melhor ao saber que Aly tinha agora a chance de conhecer novos mundos e se afastar da tóxica casa, mesmo o pai parecia mais ocupado bebendo do que descontando sua raiva nelas, basicamente as coisas estavam voltando aos eixos mesmo que aos outros não pudesse parecer tão importante para ela significa o mundo. Mesmo que lhe doa o coração deixar sua amada mãe para trás e esteja extremamente preocupada com ela a garota não pode negar o quão ansiosa está para embarcar no avião e conhecer as selecionadas- Sabe que não vai ser a primeira a embarcar, mas também não é a última, aparentemente vão fazer escalas na Ucrânia primeiro.

Quando as duas pediram informações foram rapidamente guiadas a uma saleta onde deveriam esperar pela chegada do avião que, segundo a simpática moça, não deveria demorar muito apesar de estar ligeiramente atrasado. Deixadas sozinhas mãe e filha se encararam e Galina levou as mãos ao rosto da filha com carinho, os olhos lacrimejados fixos nas orbes verdes chamativas:

—Ah minha querida menina- Murmurou carinhosamente- Estou tão feliz por você e tão orgulhosa de onde chegou! Uma modelo de sucesso, uma menina linda e gentil e agora com a chance de se tornar uma rainha, realmente meu orgulho.

—Mama não chore!- A jovem em questão pediu rapidamente ao ver as lágrimas se formando- Você não quer que eu chore também e borre minha maquiagem quer? Esse é um dia feliz, então vamos as duas continuar só sorrindo okay?

—É claro minha princesa- Galina riu suavemente enxugando os olhos com uma mão, mas ainda não soltando a menina- Não quero ver minha menina com olhos inchados em um dia tão especial, seu sorriso é bonito demais para não ser visto pelas pessoas.

Ver a mãe feliz lhe aquece o coração. Aly faria qualquer coisa por ela, mesmo escolheu a carreira de modelo porque aquilo a faz feliz mesmo sendo apaixonada por artes, e se inscrever na Seleção foi talvez o ato mais “egoísta” que cometeu em anos, pensou somente em si mesma, por uma única vez se permitiu sonhar em viver em outro lugar onde não existem lembretes de tragédias e um querido irmão a qual nunca mais vai ver- E Alyona deseja que Gavril tivesse a chance de vê-la agora, com certeza ele teria estado ali com ela, prometendo que se o príncipe fizesse alguma gracinha ele iria pessoalmente socar o monarca, e se Gavri estivesse ali o pai também estaria, não o homem bêbado de agora, o carinhoso pai que lhe dava um beijo de boa noite na testa todos os dias e a levava para tomar sorvete nos fins de semana. Mas ela espantou esses desejos tão rápido quanto surgiram, se começar a pensar no passado ou em como a sua vida deveria ter sido então é certo que vai cair em um abismo de tristeza semelhante ao de sua mãe e se ela fizer isso, então quem vai garantir que Galina ainda tenha motivos para sorrir? Tem que ser feliz, se não por si mesma então pela progenitora e as pessoas da agencia que sempre estão prontos para ajuda-la e apoia-la.

A ansiedade a corrói por dentro agora que não tem nada a fazer se não esperar, Aly sempre foi do tipo apressada em tudo que faz, não tem o dom de esperar por coisas pacientemente ou fazer as coisas devagar o que se transforma em um problema nesse momento- Mais do que normalmente é-, a mãe percebe esse fato é claro, mas tem pouco que pode fazer a não ser tomar as mãos da filha nas suas e dar-lhes um aperto de conforto:

—Calma querida, não tem porque ficar tão ansiosa assim. Ainda hoje você será capaz de conhecer o príncipe Edmund e matar sua curiosidade, não tem porque querer apressar tudo, use esse momento para se preparar- A mais velha aconselhou em voz suave

—Eu sei mama, mas é mais fácil falar do que fazer- Retorquiu com um riso sem graça- Você sabe que não sou boa em esperar.

Galina apenas fez um som de concordância, mas não respondeu então logo as duas caíram em um confortável silêncio, suas mãos ainda entrelaçadas. Foi talvez nesse momento de paz sentadas em uma saleta em tons monocromáticos que Alyona decidiu que ganhando ou não ela iria voltar para sua mãe, que estaria sempre ao lado dela sendo rainha ou voltando como plebeia, entende os riscos que está correndo- Eles estavam bem claros na ficha de inscrição e foram muito discutidos na televisão- mas decidiu que não importa o que aconteça nunca vai desistir, nem se tiver seu coração quebrado, porque é uma garota forte e não sobrevive o dia a dia em sua casa para se permitir quebrar em um país desconhecido. Aly tem um coração puro e altruísmo perigoso, mas ela também tem uma razão importante para viver, por isso ela sabe que vai ficar bem, vai dar um jeito de ficar bem.

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“A mentira é muita vezes tão involuntária como a respiração.”

Machado de Assis

Halsey- Gasoline

Kiev, Ucrânia

Maryia nunca gostou de Kiev, estar naquela cidade a mais de um mês está acabando com qualquer traço de bom humor que existe em seu ser e a demora do avião não está melhorando em anda sua situação. Suspirou pesadamente e controlou os próprios nervos com certa irritação- Desde quando ela fica nervosa assim sobre qualquer coisa? Não é nada demais, nada que ela não tenha feito antes- Bem, isso talvez seja uma mentira deslavada, pode ter feito algo parecido antes, mas anda assim, não nessas proporções e com esse tipo de repercussão. Se fosse qualquer outra pessoa estaria desesperada ou pelo menos se sentindo culpada, mas não é outra pessoa e por isso seu semblante é de pura calma, sua mente focada naquilo que tem que fazer e em nada mais.

Tentou se convencer que não se importa de esperar sozinha pelo avião, mas para uma mentirosa como ela suas razões soam falhas demais, o fato é que se importa. Não gosta de Kiev e muito menos de estar ali há tanto tempo para poder se inscrever na Seleção, se dependesse de si tinha continuado vivendo em Minsk, ou melhor ainda nem tinha saído de Belgrado, mas não, claro que não, as notícias sobre a Seleção saíram e Maryia teve que arrumar as malas e abandonar tudo, desde o trabalho como jornalista até alguns de seus documentos- Sempre um ato tão irritante- para se inscrever pelo príncipe da União- E novamente se fosse qualquer outra pessoa estaria triste e culpada por usar o pobre rapaz daquele jeito. Mas está sozinha e vai aguentar isso sem problemas, só mais um tempo até estar em um avião e fora dessa cidade que só trás fantasmas de um passado que já virou fumaça, literalmente falando.

A jovem de olhos azulados fixou seu olhar nas unhas pintadas de azul como se elas fossem lhe dar todas as respostas do universo, tudo para evitar pensar em coisas desagradáveis ou começar a temer eventos que ainda vão demorar muito. Tão concentrava estava que quase pulou quando um toque de sinos insistente começou do nada, sua fisionomia mudou quando estendeu a mão e pegou do bolso do casaco um celular preto completamente ordinário- Maryia sabe que vai ter que descartar o aparelho assim que acabar a chamada, selecionadas não devem levar aparelhos eletrônicos com elas por questão de segurança. Quase riu de seus pensamentos enquanto atendia a chamada:

—Fiquei sabendo que seu voo está atrasado- Constatou uma voz masculina em tom desinteressado

—Sim senhor, mas o avião deve chegar em menos de dez minutos- Um lembrete simples para se apressar com a ligação, como ele pulou as formalidades também o fez ela

—Não tem problema, não tenho nada novo a lhe falar Anastasya simplesmente quero ter certeza que está tudo em ordem. Você entende o que deve fazer não Anastasya?

Ele nunca a chama de Maryia. Isso a incomoda mais do que deixa transparecer e provavelmente mais do que deveria, provavelmente porque não sabe o que ele tem contra seu nome, mas ele nunca fez nenhuma menção de se explicar então é claro que ela não vai simplesmente questionar o assunto- Se não questiona coisas mais sérias por que faria confusão sobre algo tão banal?:

—Sim senhor- Respondeu com um suspiro cansado- Eu sei o que devo fazer, por favor não se preocupe com nada.

—Muito bem menina- Pode imaginar o sorriso estampado nos lábios pálidos dele, o brilho nos olhos claros- Sempre soube que poderia contar com você, mal posso esperar para ver os frutos de seu trabalho.

Elogios vazios e um homem vazio, Maryia pensou com um sorriso leve, mas muito mais do que a maioria das pessoas pode dizer que conseguiu e desde quando ela é alguém que se importa com honestidade? Ah faz tanto tempo... Nem sabe mais o que é revelar suas opiniões de verdade, o que é fazer alguma coisa só porque teve vontade, de ajudar alguém sem esperar nada em troca, ou melhor ainda, nem sabe o que é ajudar alguém ao invés de só usá-los porque acha necessário. Que vida triste, pensou consigo mesma ainda sem responder o homem no telefone, em que eu nem me importa mais em trazer desgraça aos outros e chego até a achar diversão nisso. Maryia perguntou-se se isso a faz uma pessoa má. Decidiu que não importa desde que suas ordens sejam cumpridas e seus objetivos atingidos, aceitou a certo tempo que seu destino não está em suas mãos e lutar contra isso é trabalhoso demais, sem falar em inútil:

—Pensando bem tem uma coisa que eu desejo esclarecer com você menina- O homem continuo quando se tornou claro que ela não o responderia- Me diga Anastasya, o que você faria por nossa glória? Até onde está disposta a ir por nossa causa?

—Não existe nenhum limite que não pode ser cruzado. Nada é demais quando se trata de nossa causa, nada é sagrado, nada é irreparável. A causa é minha vida- Respondeu sem hesitar.

O homem do outro lado da linha riu e ela fechou os olhos como se cansada do teste que ele acabara de lhe dar. Gostaria de pensar que está mentindo, que uma parte dela se rebela contra suas ordens, contra o controle que é exercido sobre ela, que em algum lugar do seu ser ela está se recusando a aceitar aquilo e fazer o que lhe é dito, mas sabe que esse não é o caso, tudo que saiu de seus lábios é a verdade mais pura que saiu de seus lábios em muito tempo, ela sabe. Mas principalmente, aquele homem sabe também, ele melhor do que ninguém entende que ela está falando a verdade e por isso desligou o telefone sem mais nenhuma palavra.

Sozinha novamente Maryia deixou que os ombros caíssem e outro suspiro lhe escapasse dos lábios rosados. Largou o celular no banco vazio ao seu lado para nunca mais pegá-lo, descartável como muitas partes de sua própria vida, e voltou a focar-se em suas unhas e esquecer de suas próprias palavras e fugir das memórias que a maldita cidade lhe traz. Só uma missão, nada além de uma missão.

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“Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe.”

 Oscar Wilde

Evanescence- What you Want

Lutsk, Ucrânia

Nikolaevna mal pode acreditar que aquilo que seus olhos veem é totalmente real, ao seu lado seus irmãos se portam de modo similar mesmo que sejam melhores em esconder que a caçula e a pequena Sasha nem finge que não está abismada com o que seus jovens olhos veem pela primeira vez. A maioria das pessoas que andam apressadas pelo aeroporto nunca poderão entender o fascínio daquela família, por que eles estão tão emocionados, por que para aquela menina de cabelos ruivos uma carta em simples papel com dizeres em preto e bordas em vermelho escuro significa quase que o mundo, porque nenhuma daquelas pessoas com seus celulares de última geração vivendo em uma cidade de alto custo como Lutsk entendem o que é a pobreza em que eles vivem.

Nikky nunca viu arranha céus antes, nem mesmo aqueles prédios espelhados ou mansões de pedra, sua família vive em uma região mais isolada do ducado de Volyn, não é uma região pobre por assim dizer, mas definitivamente é mais rústica do que o centro administrativo do lugar- E isso a faz questionar exatamente porque seu patrão, o duque da região, escolhe viver tão isolado, pergunta-se se existe alguma razão secreta para isso. Isso tudo só a faz mais consciente de que por um tempo indeterminado vai estar cercada de muito mais luxo só que ao invés de tendo que cuidar da limpeza e arrumação desse luxo ela vai estar vivendo nele sem obrigações específicas, a ideia é quase surreal demais para acreditar, mas ao mesmo tempo excitante de um jeito novo que lhe dá um frio na barriga. A carta da Seleção veio como uma benção, uma luz no fim do túnel.

O que mais ela pode querer? Uma chance de conhecer o mundo fora das sufocantes fronteiras da mansão de seus odiosos chefes, de ver como são as grandes capitais, de conhecer gente de todos os cantos, talvez ela possa ajudar os outros, conscientizar aqueles que nunca experimentaram pobreza do que sofrem as classes inferiores- Do descaso com o qual são tratados, das condições de trabalho recheadas de perigos porque ninguém realmente se importa se um pé rapado endividado morre em um acidente no trabalho, eles só querem saber quem vai assumir as despesas, sua família entende muito bem isso, não houve nenhum apoio após a morte de seu tio na ferrovia-, trazer algum tipo de mudança aqueles que precisam mesmo que não aqueles de seu país e além disso, um fato que só se registrou em sua mente após a carta de aceitação já ter sido recebida por sua mãe, vai receber uma generosa quantia em troca de sua participação. Tudo isso apenas reafirma sua vontade de permanecer o máximo de tempo possível, tem muito em jogo para simplesmente deixar as coisas acontecerem em lutar por elas- E se tem uma coisa que Nikky aprendeu é a perseguir aquilo que deseja com todas suas forças.

Depois de muito caminharem pelo apinhado aeroporto a família Kuznetsov chegou a uma sala de espera, foram informados por uma jovem de nariz empinado que o avião se atrasara na Bielorrússia enquanto buscando a sobrinha da Czarina e como Lutsk é a última parada eles tem uns bons quarenta minutos de espera. Nikolaevna suspirou profundamente em leve desespero, mas se confortou com a ideia de que pelo menos sua família está ali com ela, não pode se imaginar esperando o avião sozinha- Com certeza seus nervos a levariam a loucura:

—Está muito ansiosa Nikky? Em algumas horas você vai estar em um lugar totalmente diferente sem a família por perto- Nikita questionou-a, seu eterno sorriso se transformando em algo mais carinhoso.

—Nossa quando você fala assim é aí que eu fico mesmo Nikita!- Reclamou ela sem qualquer malícia- É claro que estou, mas é o que eu quis e agora eu tenho que enfrentar certo? É minha chance.

—Claro que é querida- A mãe concordou colocando um braço sobre seus ombros- Você vai se sair maravilhosamente bem e eu tenho certeza que o príncipe irlandês vai amá-la, não tem como resistir a esse seu rostinho lindo e coração de ouro.

—Não seja tão otimista mama- Ayashane repreendeu a mais velha com um revirar de olhos- Nikolaevna não vai ser o único rostinho bonito na Seleção.

—E com certeza o príncipe vai olhar para as meninas mais ricas, a senhora sabe como essas coisas funcionam- Misha concordou com a loira um tom quase cansado em sua voz

Expressões similares de desagrado cruzaram o rosto de Nikky, sua mãe e Nikita. O primogênito e a segunda mais jovem sempre foram os pessimistas da família, sempre amargurados com a situação de pobreza da família e as humilhações e dificuldades que são forçados há eles dia após dia, mas será que eles não podem tentar se controlar só hoje? Nikky sabe que eles não são próximos como ela é com Nikita, mas sempre achou que o relacionamento deles era melhor do que isso se apenas pelo bem da dinâmica familiar:

—Pois eu acho que Nikky tem muitas chances- Nikita veio em seu apoio antes que ela pudesse replicar- Nós nem sabemos que tipo de pessoa o príncipe é de verdade, como vamos saber se ele não vai se encantar por nossa querida irmãzinha? Mama está certa.

—Se você quer pensar por esse lado- Misha cedeu para evitar conflitos ao invés de por concordar com o irmão.

—É claro que estou querido- Olenka replicou levianamente- Eu sei os filhos maravilhosos que criei. Tire esse tempo para se divertir Nikky, se o príncipe realmente não lhe der atenção então é ele quem vai estar perdendo uma coisa maravilhosa.

—Obrigada mama- Sorriu-lhe brilhantemente- Eu vou dar o meu melhor se o príncipe valer a pena, se não... Bem eu ainda vou ter a chance de comer coisas deliciosas não?

Nem mesmo seu sério pai evitou um sorriso diante da combinação do fim de sua frase e seu sorriso travesso. Nikolaevna sentiu seu coração se aquecer com a visão, aquelas pessoas são seus tesouros mais preciosos, não trocaria a nenhum deles- Nem mesmo Ayashane e Misha- por todo o ouro do mundo, tudo que ela quer é aliviar o fardo que eles carregam- Fardo este que sabe ser em grade parte devido a ela, por mais que ninguém pareça culpa-la. Sentiu braços envolvendo sua cintura e abaixou os olhos para ver o rosto sardento de Sasha a olhando com uma expressão pensativa:

—Nikky você vai morar em um palácio agora?

—Por um tempo eu vou sim- Concordou com um sorriso carinhoso

—Okay, você promete mandar um montão de desenhos para gente? Eu quero saber como é um palácio de verdade! Ah e não se esqueça de ligar e escrever bastante! Eu vou sentir sua falta enquanto você estiver fora, mas quero que se divirta bastante por todos nós.

O tom sério e mandão da menina de 10 anos serviu para fazer Nikky rir e abraçar a menina apertado contra si. Sasha é a joia da família, a filha querida de Misha que consegue derreter o coração dele como mais ninguém, Nikky adora o jeitinho inocente que Sasha tem apesar de já estar forçada a uma vida de trabalho, não hesitou antes de responder:

—É claro minha princesa, eu vou tentar fazer muitos desenhos para vocês conhecerem o palácio, e saibam que eu vou estar sempre pensando em vocês viu? Eu vou querer um abraço muito forte quando eu voltar como pagamento.

A menina franziu o nariz ao ser tratada de modo tão infantil, a seus olhos pelo menos, mas assentiu animadamente. Nikky ergue os olhos e sorriu para a família tirando sua força deles, está começando um novo caminho é verdade, mas nunca vai se desfazer do antigo.


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Notas finais do capítulo

Curiosidade: Na Ucrânia "mãe" se escreve Матір, mas num jeito mais carinhoso é dito como "mama" assim como na Rússia (Apesar de lá ser escrito de outra forma), é por isso que nos diálogos da parte da Nikky e da Aly está escrito dessa forma.
Então meninas quem é a favorita de vocês até agora? Eu claro não posso escolher nenhuma, mas adoraria saber qual é a de vocês!
Aliás, se eu esqueci de responder o comentário de alguém por favor me avisem também, sinto muito, mas pode ser que eu pense que respondi e no fim não foi ou então eu só li!
O tumblr também foi atualizado com todas as selecionadas inscritas até agora, lembrando que eu aceito duas fichas por pessoa desde que ambas estejam dentro dos critérios estabelecidos viu? Eu acho que alguém me perguntou isso e eu acabei não respondendo e.e
Eu tenho quase certeza que o próximo capítulo ou vai ser um "bônus" mostrando o que os príncipes estão fazendo enquanto esperam as selecionadas ou então a apresentação das meninas norueguesas, depende se eu receber alguma ficha ou não.

Beijos queridas