P.O.V SKY

Com toda essa confusão, acho que não seria possível eu voltar a estudar no dia seguinte. Meu tio parecia uma ferida ambulante, Isaac acreditou na conversa afiada dele, e eu nem tenho os documentos necessários pra ingressar na nova escola, e na atual situação não estava em cogitação voltar para pegá-los. Isaac saiu pra falar com alguém, que eu sinceramente não entendi quem, e ficamos só eu e meu tio.

— Sabia que isso arde? – Meu tio disse desviando do álcool que eu passava para limpar as feridas.

— Sabia que se eu não limpar isso, vai virar uma infecção gigantesca? – Respondi o puxando de volta.

— Humf. – Ele reclamou mas sabia que eu estava certa. – Escute querida, arrumou suas coisas para a escola amanhã?

— O que? – Só podia ser brincadeira. –Tio, não tem chance alguma de eu sair de casa e deixar você assim, sozinho e dolorido, sem contar que não fomos para meu antigo apartamento, então não tenho nenhum documento, nem nada..

— Ah, me perdoe querida, eu me esqueci completamente desse detalhe, nós precisamos ir logo. – Chris me respondeu colocando a mão sobre seus olhos.

— Tudo bem, a escola pode esperar mais alguns dias. – Respondi tentando amenizar a situação.

A campainha tocou, e sem imaginar quem era, atendi.

— Oi, como ele está? – Stiles surgiu assim que eu abri a porta, e logo atrás dele vinha Isaac e Scott.

— Oi pra você também Stiles, e sobre meu tio, ele parece ter sido esfolado inteiro. – Respondi ironicamente.

— Eu estou machucado querida, e não surdo. – Chris reclamou do sofá.

— Que bom tio. – Esbravejei.

— Querida, acho melhor, você ir dar uma volta com Isaac, respirar ar puro, vai te fazer bem. – Chris começou – Preciso ter uma conversa com Scott e Stiles, vá.

Realmente, ter uma conversa com dois adolescentes numa situação dessas iria resolver tudo, grande ideia. Meu tio esconde alguma coisa de mim e eu tenho que descobrir o que é.

— Tudo bem, vamos então, Isaac.

Saímos pela porta e entramos no elevador em silêncio.

— Sky, não fica assim, por favor. – Isaac se virou pra mim.

— Assim como? Brava por meu tio levar uma surra e dizer que foi um assalto, mentir que não levaram o carro, por ele conversar com todos os outros adolescentes menos comigo, ou por todos fingirem que acreditam nessa mentira toda? – Aumentei o tom de voz sem perceber.

— Olha, eu sei que tudo está muito confuso e estranho agora mas eu prometo que vai melhorar, vamos fazer sua vida voltar a normal. – A resposta dele tentava me acalmar.

— Voltar a normal? Voltar ao normal? Você acha que algum dia minha vida vai realmente voltar ao normal? Meus pais morreram, vou ter que morar com um cara que descobri a poucos dias que é meu tio em uma cidade que mal aparece no mapa, entrar numa escola nova em pleno ensino médio e ter que ser a novata, você acha isso normal? – Lágrimas escorriam e eu corri em disparada assim que a porta do elevador se abriu quando terminei a frase.

— SKY , ESPERA – Isaac gritou e correu atrás de mim até a calçada. – Eu entendo que parece que nada dará certo nunca mais, tudo desmoronou nas suas costas, mas você não vai ter aguentar esse peso sozinha.

— Me desculpe, me desculpe, me desculpe. – Eu falei entre soluços. – Eu não aguento mais chorar feito uma criança birrenta, eu juro que tento segurar, juro que não sou assim.

— Você não precisa tentar esconder, tudo ficará bem. – Isaac disse enquanto me envolvia num abraço apertado e quente em meio aquele vento frio e gelado.

Caminhamos um pouco de mãos dadas pelo quarteirão, era bom sentir ele ao meu lado.

— Isaac?

— O que foi?

— Você já namorou antes? – Perguntei.

— Bom, hum, acho que não, nunca tive algo sério.

— Mentira, tenho certeza que com essa carinha todas as meninas de Beacon devem cair babando por você. – Eu respondi rindo.

— Não, por incrível que pareça você é a sortuda de Beacon. – Ele também ria.

Enquanto caminhávamos na calçada, parou um carro que abriu a janela, achei ser alguém perdido que precisava de informação.

— Olha só, o lobinho solitário parece muito bem acompanhado, não é mesmo docinho? – Disse um cara totalmente estranho e desconhecido no banco de trás do carro.

— Sky, corre. – Isaac apertou minha mão tão forte que por um segundo achei que fosse quebrar.

— Isaac o que tá acontecendo? – Eu perguntei assustada.

— CORRE! – Isaac gritou e eu obedeci de imediato. Não consegui me virar para ver direito, mas o homem do carro pulou em cima de Isaac e os dois começaram uma briga. Eu cheguei na porta do prédio ofegante mas não hesitei em entrar, ainda ouvindo os ruídos da briga. Subi de elevador e abri a porta do apartamento quase que me jogando nela.

— Sky, o que aconteceu querida, onde está Isaac? – Meu tio exalava preocupação.

— Eu-eu não sei, chegou um cara e, e ele disse alguma coisa para Isaac e eles começaram a brigar, ele estava de óculos escuros, eu não sei quem ele é, e ele tava dentro de um carro, eu não sei eu acho que Isaac se machucou. – Eu estava tão nervosa que as palavras se embaralhavam ao sair da minha boca.

— Óculos escuros? Scott, vamos, sabe o que fazer.- Chris se levantou em direção à porta acompanhado de Scott.

— Onde o senhor vai? Não tem condições de bancar o herói agora. – Eu puxava meu tio.

— Eu preciso. Stiles, fique aqui com ela, não deixe que ninguém entre aqui, se entrarem, dê um jeito. – Chris fechou a porta assim que terminou a frase, e Stiles logo a trancou e colocou uma cadeira prendendo a maçaneta.

— Mas não é possível, não é. O QUE DIABOS TA ACONTECENDO AQUI? – Eu gritei enquanto andava de um lado para o outro na sala.

— Sky fica calma ok – Stiles respondeu entrando em posição de defesa, como se eu fosse bater nele.

— Será que tem alguma possibilidade de alguém me falar a VERDADE? Olha só eu mal te conheço, e mesmo assim tô literalmente trancada com você dentro de casa, sem ter a mínima ideia do porque parece que isso é uma guerra ou coisa do tipo? – Eu o fuzilava com o olhar.

— Bom, você não viu nada. – Stiles deu uma risada.

— VOCÊ TA BRINCANDO COMIGO GAROTO? – Falei indo pra cima dele.

— EI, TA LEGAL – Ele se afastou – Você realmente é sobrinha do Chris né esquentada? Pode se acalmar, fazer um yoga, um chá, porque isso pode demorar e a culpa não é minha entendeu? Só porque sou a única pessoa na sua frente não quer dizer que você possa me matar.

— Eu devia te matar. – Respondi fervendo de raiva.

— Bom, não é a primeira vez que as pessoas falam isso pra mim, e como eu sou mestre em ser irritante, se acostuma. Meu professor de química me odiava por isso sabia, é, o cara me perseguia. Pena que ele ,bom, pena que ele sumiu. – Stiles fez uma pausa na última frase.

— Uau, sorte dele ter sumido hein.

— E aí Sky, o que você gosta de fazer no seu tempo livre? Aqui a gente joga lacrosse, já ouviu falar? Tem vários jogos maneiros, campeonato e tal, o Scott é capitão do time. Eu sempre fico no banco de reservas, mas isso não quer dizer que eu não participo do time porque eu dou o maior apoio. Seu namorado também joga, ele é bom até, você pode ir assistir um jogo se quiser.

— Caramba, eu não sabia que alguém podia falar tanto em tão pouco tempo. E Isaac não é meu namorado. A gente ainda está se conhecendo. – Tive que começar a conversar com o branquelo tagarela. – E eu nunca vi esse tal de lacrosse, até isso essa cidade tem de diferente.

— Você tem muito amor por Beacon né, percebi. Qualquer dia a gente pode fazer um tour pela cidade, tem uma floresta bacana, mas não é muito recomendado ficar lá de noite viu, já vou avisando.

Ouvi batidas na porta e antes de pensar em me levantar para atender, Stiles se levantou correndo tão desengonçado quanto um alface, e me empurrou no sofá fazendo um sinal para que eu ficasse quieta. Ele se aproximou da porta para ouvir quem era e caiu no chão depois do susto, já que algum dos meninos socou a porta e disse para ele abrir logo.

— A gente precisa inventar um código gente é sério isso é uma pauta importante a ser tratada. – Stiles disse abrindo a porta. – Eles foram embora?

— Por enquanto sim, acho que temos mais um algum tempo. – Scott respondeu entrando, com algumas manchas de sangue na roupa.

Meu tio parecia a mesma pilha de machucados, mas Isaac havia se acidentado mais.

— Ai meu deus, olha só o que fizeram com você, eu fiquei com tanto medo por você. – Disse quando Isaac entrou e fui logo correndo abraça-lo. – E quem são eles? Vocês terão que me explicar tudo.

— Eles são os caras do assalto querida, vieram atrás de Isaac porque já o viram comigo, mas demos um troco neles. – Chris respondeu sentando no sofá, gemendo de dor como um idoso com dor nas juntas.

Não era possível que eles mentissem tanto na minha cara e esperassem que eu acreditasse.

— Preciso cuidar dessas feridas, vem Isaac. – Eu arrumava uma cadeira para ele. – Se você quiser eu também posso cuidar de você também Scott.

— Não precisa, eu vou ficar bem, de verdade. – Scott me respondeu.

Depois que peguei o álcool e os materiais para esterilizar os machucados, cuidei de Isaac, mas curiosamente, e , até de um jeito até espantoso, as feridas pareciam menores do que estavam quando bati o olho nelas quando eles chegaram. Tudo era muito estranho nessa situação, e nada se encaixava, eles iam se enrolar e acabar tropeçando na própria mentira. Só não conseguia entender o porque e qual era a mentira, porque precisavam tanto esconder a verdade de mim, já que aparentemente todos sabiam, menos eu.