No More Secrets escrita por CoelhoBoyShiper


Capítulo 12
Trust no one.


Notas iniciais do capítulo

Posso falar a verdade? Não vou mentir.

Eu nem cheguei a revisar esse capítulo direito, pois eu estava extremamente ansioso para mostra-lo a vocês. Tomara que eu não tenha deixado por aí nenhum erro grotesco.
Caso tenha, favor me alertar!

Sem mais delongas de deixar vocês na vontade,
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/676288/chapter/12

Com as roupas já ajustadas contra o corpo, que cortava o vento, Dipper estagna para analisar o delineamento das nuvens que pincelavam o céu de dourado, enquanto Cipher rodopiava entre as árvores.

Ele conseguia sentir a energia do demônio fluindo em torno dele, o chão oscilando abaixo dos seus pés como se o mundo estivesse a ponto de desmoronar. E de fato estava.

— Esse não era o nosso acordo, Charlie! – o berro de Dipper reverberou sua mente que ainda processava os acontecimentos anteriores.

Lumes purpúreos dilaceraram o cenário rúbeo do sol do verão se pondo, eram os olhos perversamente oblíquos de Bill lhe penetrando a alma.

— Pinheirinho... Ai, ai, pobre Pinheirinho... – seu tom de escárnio modulava-se ao vento entre variações agudas e graves, como a de uma verdadeira besta. – Você nunca chegou a cogitar o tamanho da majestosidade de um poder que você pôde me proporcionar?! Você nunca chegou a pensar do que eu seria capaz de fazer quando o adquirisse?! – lufadas de vento varriam a alma de Dipper na medida em que Bill se aproximava dele no nível do chão.

— Não era isso que eu esperava de você! Não era isso que eu esperava daquele garotinho. O amigo de infância que teve a bondade de me fazer ultrapassar todos os massacrantes obstáculos que eu tinha por minhas particularidades. Onde está o Charlie que me ensinou tudo aquilo?! – vociferou, com as lágrimas ameaçando escapar. Por mais que Dipper recusasse a acreditar na árdua realidade em que estava inserido, nunca se permitiria tomar medidas daquele jeito para escapar dos seus problemas. Nunca achou que fosse capaz de quer, mesmo que brevemente, de se aliar a Bill para que, com os poderes, ele pudesse assassinar sua família.

Um caminho estreito preencheu o semblante esquelético de Cipher, um traço branco reluziu. Um sorriso cheio de dentes pontiagudos, dilaceradores e sem compaixões. Angustiosamente assustador e sádico. Dipper estava tão cego de ódio que nem sequer percebeu que deveria, durante todo esse tempo, estar analisando o sorriso do demônio e não seu olho, pois era lá onde estava estampada mais do que claramente toda a crueldade dos objetivos sórdidos do ser que o encarava.

— Charlie está morto. – a malícia impregnada na voz do loiro era tão arrebatadora que parecia capaz de corroer a garganta dele a qualquer instante. – Ou melhor, Charlie nunca esteve vivo.

Dipper acreditava poder se ver refletido nas presas polidas como marfim do demônio, e tudo que ele enxergava naquele espelho era medo. Medo que refratava através das suas próprias íris.

— Eu me recuso a acreditar nisso! – frisou. – O Charlie que eu conheci existiu. O Charlie que eu conheci não era um mero devaneio, não era apenas um atalho para as ambições gananciosas que um demônio queria obter futuramente. Era algo, eu sei, eu diria que fosse... – sua voz fraquejou junto às suas pernas - que fosse até mesmo... esperança.

Um lapso emanou de Bill. Era uma risada breve e baixa, no entanto, massacrante com a acidez do seu desdém.

— Eu já mandei você me dirigir como seu... mestre!

Num gesto veloz, um gancho tomou conta do pescoço de Dipper. Eram como garras de um felino rasgando sua garganta e irrompendo na sua alma. Demorou um tempo para que ele percebesse que aquilo era a mão esguia de Cipher. A mão que lhe apertava, tirando-lhe a respiração. Restringindo seu pescoço e seus organismos sensoriais cada vez mais. Sentiu os braços fraquejarem na medida em que era erguido no ar pela força sobrenatural de Bill. Ele iria morrer ali, sufocado, e a última coisa que veria seria os olhos flamejantes do seu mestre Bill Cipher.

— V-você... me... enganou. – uma fala concentrada de esforço irrompeu da garganta sem ar de Dipper, que já estava a ficar pálido.

Outra risada carregada de desdém esvaiu do seu agressor. Charlie encheu o ego de orgulho para dizer as últimas palavras para seu brinquedo:

— Se tem uma lição na qual seu tiozinho patético te ensinou, que você está cansado de ouvir e não seguir, é: não confie em ninguém. Quem sabe na próxima vida você aprenda a lição, não é mesmo? Você agora é apenas um brinquedo quebrado, não serve mais para as minhas brincadeiras. Adeus, Mason Dipper Pines.

Dipper tentou responder, mas não conseguiu. Com seu olhar tombado para a última paisagem que iria ver. As colinas. O começo e o fim. Sua visão fica turva, inserindo ele numa escuridão de imagens. Dipper se vê com sua irmã gêmea, se vê nos bosques da sua casa, vê Charlie, sua viagem à Gravity Falls, Stan, as sombras dos pinheiros sendo projetadas sobre seu rosto, a luz das maratonas de Duck-tective nas madrugadas em claro com sua família, as aventuras inesquecíveis ao lado de Soos, Wendy, e todas as outras criaturas que aquele lugar costumava ter, Weirdmaggedon, Bill e a cidade em chamas, as lágrimas de Mabel ao descobrir sobre a sua decisão de ficar, sua confissão à Pacifica, o reencontro com a Mabel que ele não conhecia... e Ford. Ford. Ford... carinhos, beijos, promessas, noites, cores, cheiros, um amor. Um amor se dispersando na medida em que seu ar era expelido dos pulmões. Extraindo-o os últimos frangalhos de uma vida miseravelmente única.

Então, tudo sumiu.

Desaparecendo do jeito que surgiu.

Para sempre.

 

Você está comigo, Dipper?

 

Você está comigo até o fim do mundo?

 

Dois pares de braços o acolheram. Eram aconchegantes e o faziam se bem. Bem como não se sentia a muito tempo. Um calor percorreu seu corpo, enchendo-o de resoluções. Era um refúgio.

Ele imaginou se era isso que as pessoas chamavam de paraíso.

Pois era ótimo. Um arroubo de calmaria encobriu-lhe o coração e uma voz ecoa nos fundos de sua psique como um breve lembrete de como sua vida havia sido boa de certa forma.

— Dipper, fique comigo! Fique!

Foi quando ele percebeu que aquilo era real. Alguém estava realmente lhe chamando. Ele sentia uma respiração ofegante na sua nuca e outra contra o seu pescoço. Duas pessoas lhe abraçavam.

— ‘Tivô’ Ford? Mabel? – ele fez um esforço, sua voz saía facilmente agora.

— Isso! – um berro de alívio cobriu sua audição que estava se recobrando aos sentidos. – Isso! Acorde!

Seus olhos se abrem e ele se depara com o olhar lacrimejado de Stanford repleto de preocupação.

— Dippy? – a voz doce de sua irmã soa de trás dele.

Uma sensação de perdição lhe acomete brevemente, foi então que Dipper lançou o olhar no final do gramado para ver Bill estirado no solo. Ainda estava zonzo e se erguendo. Dipper olhou para cintura do tio e pôde ver a arma eletromagnética dele.

Foi aí que ele entendeu tudo.

“Eu não morri!”

Ford havia chegado a tempo nas colinas na companhia de Mabel, foi o tempo de ele usar a sua arma para parar Bill desesperadamente, Dipper ficou desacordado por um tempo enquanto os dois tentavam o reanimar.

— Graças aos céus, você está bem! - Mabel continuou, enluvada pelas lágrimas.

Dipper e Ford se entreolharam. Dipper sentiu nojo. Vergonha. Um torvelinho massacrante de martírios.

— D-desculpa... eu...

Ford silenciou o sobrinho com o dedo. - Está tudo bem, Dip.

— Não! Não está! E-eu... traí você.

— Dipper, por favor, não. Esqueça isso. Nós temos muito mais com o que nos preocuparmos agora.

De fato, Bill havia se erguido. Ele limpava as roupas de gala com as costas das mãos com pouca preocupação, um gesto tão simples e indiferente. Como se aquela situação não passasse apenas de uma inconveniência corriqueira. Sorriu para o grupo. As coisas para ele só pareciam ficar mais interessantes.

— Ora, ora, ora... Olha só quem está aqui. – aproximava-se do grupo rodopiando no ar, fingindo surpresa. – Se não são as pessoas que eu mais odeio na face dessa dimensão nojenta. Há quanto tempo eu não te vejo, Seis-dedos... Eu senti tanto a sua falta.

— Bill Cipher... não se aproxime!

— Olhem só, pela primeira vez Fordizinho Pines parece assumir se importar mais com alguém do que com seus experimentos estúpidos... Se importar até demais, eu diria – ele lançou um olhar de asco na direção da mão de Stanford na qual estava entrelaçada ao do seu sobrinho. – Você dois juntos me dão nojo.

— Dipper, não dê ouvidos a ele. Não agora. – ele puxou o rosto do sobrinho da direção dele, os dois olhos castanho se alinhando em meio ao pôr-do-sol. – Antes de qualquer coisa, eu preciso que você entenda mais do que eu quis te dizer lá na cabana. Sobre tudo o que está acontecendo.

— Que amor, - Cipher continuava com seu show de repulsas maquiadas enquanto fazia partículas de pó rodearem o seu corpo como um casulo – Ver dois peãozinhos meus num lugar só.

“Dois peãozinhos? O que ele quer dizer com isso?”

— Cale a boca! – Ford esbravejou para Cipher em seguida volveu ao menino. – Dip, eu preciso te dizer uma coisa.

— Porque não conta a verdade logo para o garoto, Stanford? Afinal das contas...

— Lembra quando eu disse que as crianças Índigo, que foram manipuladas pelas criaturas de outras dimensões para nascerem, tinham uma peculiaridade física que as diferenciavam das outras? – Ford, com a arma já em punho, ignorava o inimigo enquanto tentava organizar as ideias para Dipper.

— S-sim... – o menino respondeu. Lá no fundo ele temia o que estava por vir.

— Há muito tempo atrás, quando eu estava construindo o portal. Eu não imaginava que Bill iria me ludibriar. Isso porque, porque... – ele ergueu o braço, levando a sua mão na altura dos olhos de Dipper. Seis dedos. Dipper quase se bateu por não ter percebido antes. A sua diferenciação, assim como a marca de nascenda. – Eu também sou uma das crianças manipuladas ao nascer por Cipher. Eu sou tão Índigo como você. Bill surgiu com suas bajulações e promessas na minha vida, me manipulou tanto quanto foi com você quando chegou à Gravity Falls. Ele me fez apaixonar por ele, e...

— Que noite maravilhosa foi aquela, não é mesmo, Sixer? – Bill gargalhou ao fundo. Ford apertou os olhos com força, aquela colocação de Bill parecia lhe invocar lembranças nas quais ele tentava repelir da mente.

— Dipper,- o tio avô se esforçava para ignorar as provocações. – eu nunca teria você como um experimento. Nunca! Nem ouse pensar nisso! Eu estava tentando proteger você. Proteger a nós dois. Não era por maldade alguma que eu te privava de sair da cabana às vezes, ou que eu te pedi para ficar comigo... Era você, eu, e todos os outros. Porque, eu estraguei tudo em primeiro lugar. Pois, fui eu quem trouxe Bill para Gravity Falls há mais de 30 anos atrás. Se não fosse pela minha estupidez e desilusão, nada disso teria acontecido. A minha ludibriada decisão criou toda essa enxurrada de problemas para nós como uma bola de neve.

— Que história linda e com um final tão trágico. Ou deveria dizer, vitorioso. – um brilho maligno cintilou por de trás das íris de Cipher.

A arma tremia na mão transpirada de Ford.

— Não se aproxime! – ele ameaçava. – Nós não somos as peças do seu joguinho doentio!

— Tarde demais para tomar essa decisão, Seis-dedos. – Com apenas um estalar de dedos de Bill, a arma de Ford escapuliu dos seus dedos. Estilhando-se em mil pedaços sobre o ar, deixando desarmado. – Já mencionei que agora tenho todos os poderes de universo?

Dipper pôde sentir Mabel estremecer ao seu lado. Ford permanecia firme no lugar, colocou-se na frente dos dois sobrinhos.

— Deixe-nos em paz. É tudo que lhe peço... – preparou seu interior para dizer o que veria a seguir – Por favor...

Mabel segurou o braço do irmão, Dipper lhe lançou o olhar. Fragmentos do acontecimento de mais cedo lhe arrebataram a mente. O rosto de Mabel ao descobrir ele e seu tio juntos...

— Mabel, eu... é... nós...

— Não temos tempo para discutir isso agora, Dipper! Temos coisas mais importantes aqui! – determinou, ainda tentando passar um olhar compassivo ao irmão e suas emoções desordenadas.

— Não se preocupe, Sixer. – Cipher frisou o olhar no pequeno grupo. – Vocês não vão morrer... ainda. – um traço perverso refulgiu sobre seu semblante. Bill gesticulou a mão na direção do grupo, a terra rugiu abaixo de seus pés, eclodindo em pequenas fissuras no gramado. Uma nuvem de poeira emana em torno deles, raízes curtas e longas irromperam dos pequenos orifícios como correntes sendo puxadas por mãos invisíveis. As cordas germinadas serpentearam em torno dos gêmeos e o tio avô pelo comando mágico dos poderes de Bill, prendendo todos os três pelos tornozelos ao solo feito uma armadilha para ursos.

As raízes evolaram-se pela perna de Dipper como uma cobra. Esforçou para se mover, nenhum resultado. Os três estavam na teia de Bill, sem escolha a não ser esperarem pelo ataque final.

— Eu irei me certificar de matar cada um de vocês direitinho. Da maneira mais especial possível. Deixarei o melhor por último, como minhas cerejinhas no topo do bolo. – Bill disse com seu prazer sádico escorrendo por dentre os dentes. Ele se aproximou de Dipper com o rosto repleto de ambição. – A não ser que você deseje cooperar meu amorzinho... – bajulou, roçando os dedos no queixo dele.

— O quê?! – Dipper sobressaltou-se.

— Eu não menti em tudo que te disse durante sua infância. – um cintilar desconhecido emergiu dos olhos de Bill, algo que Dipper não via há muito tempo, algo que vinha de algo que ele julgaria ser uma segunda personalidade de Cipher. Alguém que não era sádico nem ganancioso e sim um amigo verdadeiro, alguém que nunca pensaria em matar ele. Charlie. – Eu realmente quero criar um novo mundo com você. Apenas eu e você, como costumávamos ser. Você só precisa colaborar.

Como ele ainda era capaz de perguntar aquilo? Ela tinha acabado te tentar matar Dipper! “O que se passa na cabeça dessa coisa?!”

— Ele não vai a lugar algum com você! – Mabel vociferou, com os lumes em chamas. – Tira as mãos dele! Agora!

Bill soltou mais um sorriso, o desespero da irmã do seu brinquedo era como um deleite para suas ambições. Soltou o queixo do garoto e lhe fitou através das órbitas.

— O que me diz, carneirinho?

Dipper ficou sem palavras.

— Eu já disse! – Mabel esbravejou, lutando inutilmente contra as raízes que pareciam algemas nas suas panturrilhas. – Saí de perto dele!

— Ok. – Bill se contentou. – Me esperem por aqui. Eu tenho um mundo para deixar em ruínas.

E com isso, Bill deixou o solo, sua capa amarela reverberando no vento na medida em que ele realizava sua ascensão ao céu. O grupo via ele subir e subir, vendo junto àquele ponto amarelo na imensidão de nuvens prestes a desaparecer junto à todas as esperanças que eles mantinham de terem um final feliz.

Era o fim.

Dipper manteve o olhar fixo em Bill.

Observava-o, ansiosamente, pelo momento que tanto esperava.

“Isso Bill, continue a subir...”

Foi quando aconteceu.

Um baque estridente ecoou em torno de Bill, correndo por todas as direções do cenário. Um clarão resplandeceu em atritos de energias elétricas dispersando por todos os lados. Bill foi arremessado por uma energia desconhecida a alguns metros de onde ele pretendia alçar voo. Toda a paisagem, as nuvens, as colinas, e as árvores ao longe gorgolejaram, ondulando-se como se uma gota de tinta houvesse pingado sobre uma poça plana de água, deformando todo o cenário e volta deles.

Assim como no primeiro Weirdmaggedon, uma barreira mágica havia impedido Bill de sair dali.

O demônio observou todo o contorno da imagem falsa em que havia trepidado. Seu semblante se virou lentamente na direção do grupo, fulminando Dipper com seus olhos repletos de fúria.

COMO ISSO PÔDE SER POSSÍVEL?!

O berro animalesco carregado de raiva cortou o ar em volta deles.

Ford olhou para os sobrinhos, ele parecia mais confuso do que o próprio Bill.

— E-eu não entendo... Era... Quando nós prendemos todas as criaturas de volta no portal de onde vieram... A barreira de estranhezas de Gravity Falls foi desativada automaticamente. Era para Bill ter conseguido sair daqui com toda a facilidade! A doma mágica não existe mais desde 2012!

Um traço de um sorriso maroto surgiu na face de Dipper:

— É porque essa não é a barreira mágica de Gravity Falls.

— Como?! – Ford e Mabel dispararam para ele. Pines estava de braços cruzados e fitava Cipher com o olhar mais desdenhador possível, Dipper estava completamente calmo diante de toda aquela situação toda. Quase como se ele tivesse todo o controle sobre aquela cena. Com todo o sarcasmo na voz, Dipper respondeu:

— Ora, Tio avô, fiquei surpreso em perceber que o senhor não tenha reconhecido o meu presente de aniversário que você mesmo fez para mim.

Os olhos de Stanford de ampliaram, evidenciando o espanto nas astúcias de Dipper. Um refulge de total admiração e afeto cintilou nos olhos de Ford que encarava o sobrinho.

— Que foi? – Dipper retorquiu carinhosamente. – Achou que eu nunca mais iria usar? Afinal, foi o melhor presente de aniversário que eu já tive.

— Como é...? – Mabel arqueou uma sobrancelha em confusão.

Dipper dirigiu o olhar a ela enquanto Cipher esbravejava miseravelmente, disseminando golpes e esgotando todas as suas energias mágicas contra a barreira.

— No meu aniversário de catorze anos, Ford criou uma bolha temporal para mim. Uma dimensão de bolso que reproduzia sempre a imagem exata das colinas de Gravity Falls no verão de dez anos atrás. É claro que eu não iria pré-julgar Ford pelo que ele havia dito na cabana mais cedo. Eu apenas precisava tirar algumas dúvidas em relação a Bill. Eu fiz aquela cena toda, fingi que estava magoado com ele, roubei o transmutador que exibe a bolha enquanto ele estava distraído, e montei minha armadilha para demônios de um olho só. – ele deu uma risada breve, um paralelo à que Charlie havia soltado mais cedo quando ele havia revelado ter enganado Pines. – Eu apenas precisava saber de uma vez por todas se Bill realmente me amava do jeito que dizia, ou se eu era apenas um fantoche nos planos dele. Caso fosse ele decidisse refazer uma destruição arrasadora quando recebesse seus poderes novamente, ele não teria como tirar os pés daqui, já que a bolha temporal é somente um holograma hiper-realista e só reproduz uma pequena parte. Nesse caso, Bill está praticamente preso aqui, ele está limitado às colinas. Não poderá sair, e também não poderá fazer mal a mais ninguém.

— Incrível... – Mabel murmurou incrédula.

Um brilho vitorioso resplandeceu sobre o semblante de Dipper, a besta de cabelos dourados volveu-se a ele. Uma áurea de puro ódio evaporava de Bill Cipher, ele se aproximou do garoto, com olhos tão fustigantes que não pareciam mais com os dos humanos. A boca espumando, as trevas escorrendo das suas presas.

— Você... Eu me aproximei de você... Te protegi... Te fiz de amigo...!

Dipper empinou o nariz, atrevendo-se a fitar Cipher mais de perto, e, rindo na cara do perigo, ele respondeu:

— Que pena, Cipher. Pois, se têm uma coisa que eu aprendi com o meu “tiozinho patético” é: não confie em ninguém. Lamento você não ter sido inteligente o suficiente para prever essa reviravolta chegando. Devo admitir que para um ser de um trilhão de anos eu estou bem desapontado... – gargalhou.

As árvores balançavam e o solo tremia, Bill gesticulava as mãos lançando seus poderes para todos os lados enquanto rugia incontrolavelmente.

— Não adianta, Bill. Seus poderes podem ser infinitos, no entanto, eles são infinitamente restringidos apenas nessa dimensão. Que, por sinal, é bem pequena não é? Boa sorte criando o armagedon aqui. – continuou Dip.

Bill suspirou, estava claramente esgotado, estendeu a mão na direção de Ford e Mabel. Dipper viu as raízes desprendendo-se do corpo dos dois e voltando para dentro da terra. Mas, o seu tio e sua irmã estavam longe de estarem livres. Bill ergueu os dois no ar com seu poder de levitação.

Dipper sentiu as entranhas revirarem. Ele estava tão preocupado em acabar com Bill que nem chegou a realizar no perigo que estaria colocando sua família.

— Ei! Não! Solta eles! – suplicou com um quê de ódio, sentindo o desespero tomar conta do seu corpo mais uma vez. Ele se debatia, tentando sair do lugar, mas era inútil. Seus pés continuavam atados ao solo.

— Não tão rápido, Dipper Pines! Isso não vai acabar do seu jeito!

Mabel e Ford oscilavam pelos ares, dando gritos de desespero.

— Eu não vou deixar você sair daqui com o seu feliz para sempre! – os olhos de Bill mesclavam-se na mais puro maleficência . – Você terá que escolher um dos dois.

— O quê...?! – a voz atônita de Dipper não chegava a não ser sequer um sussurro.

— Foi isso mesmo que você ouviu. Escolha! O tiozinho nerd no qual você alimenta um romance nojento, ou a sua irmãzinha ingrata que teve a vida mais infeliz que poderia por sua culpa. Escolha, Carneirinho!

Dipper mal podia acreditar no que ouvia e observava.

Pela primeira vez, ele percebeu.

Percebeu que, em meio as suas dúvidas, nunca havia sido a escolha entre Ford e Bill. E sim, entre Ford e Mabel. Suas ambições e suas próprias culpas do passado. Sua família contra a sua própria família. Nunca houve escolha entre dois lados. Apenas Dipper e ele mesmo.

Ele sempre esteve sozinho naquele jogo.

Agora mais do que nunca.

Pois, não havia mais saída.

Nos olhos da besta, ele via o final da sua história refletida como um folhear das últimas páginas amareladas de um romance, ele sabia. Sabia que naquele momento suas dúvidas seriam sanadas.

No final, Dipper iria apenas ficar com um dos lados.

Os dois lados que o dividiram durante todo esse tempo.

Ele finalmente iria escolher.

E a separação seria eterna.

Pois Bill iria matar um dos dois ali.

— O relógio está correndo Pines! Ou você escolhe um, ou eu matarei os dois!

Não!— o pânico de Dipper escorria sobre sua face concentrado em gotas de água. – Eu arrumo um jeito de tirar você dessa dimensão! Eu juro!

— Não, Dipper! – Ford se esforçou para vociferar com as pernas balançando no vazio. – Assim seriam milhares de vidas trocadas no lugar de uma! Você precisa fazer uma decisão! Você não pode deixar Bill sair daqui ou então um mal muito pior aconteceria!

Dipper encarava o chão, a luz solar esfrangalhada pelas nuvens projetava as sombras pelo gramado. Ele via, de forma distorcida, sua irmã e seu tio suspensos e sua sombra estirada entre os dois como uma grande lâmina que separava o antes, o agora... e o temível depois.

— Dipper, olhe para mim! – a voz de Mabel reverberou. Seu irmão levantou a cabeça para encontra-la no seu olhar de súplica. – Me mate.

O coração de Dipper reverberou dentro do seu peito, quase rasgando seu pulmão.

— Me mate. – ela insistiu. – Eu... eu nunca servi para nada. Eu sempre estraguei as coisas para você. Eu sempre fui um empecilho. Fui eu quem criou o weirdmaggedon em primeiro lugar, fui eu quem colocou a vida de milhares de pessoas em jogo, fui eu quem não tive motivos para interferir na sua vida. Eu sou uma verdadeira egoísta. Eu deveria... eu deveria partir. Eu quero que, pela primeira vez, eu sirva para algo importante. Eu quero me sacrificar para corrigir o que fiz nas outras vezes. Quero me sacrificar para salvar você, Tivô Ford, e todos os outros... Considere isso como um “me desculpe”.

— Não... – os soluços comiam a sua voz, Dipper se recusava a ouvir aquilo.

— Não, Mabel! – Ford esbravejou. – Fui eu o primeiro quem trouxe Bill para Gravity Falls! Sou eu o causador dessa catástrofe! Bill Cipher, - ele dirigiu o olhar à besta – me mate! Me mate agora! É uma ordem! Mantenha meus sobrinhos fora disso!

— Lamento, Sixer... Mas eu quero ouviu a resposta do lamby lamby aqui. – volveu os olhos lilás como a morte na direção do garoto. – Então, Dipper Pines, o que teremos para o jantar hoje?

As emoções descompassadas aguçavam feito pêndulos de um relógio, esgotando num tique-taque infernal dentro do peito de Dipper.

— Me mate no lugar deles!

Silêncio absoluto.

Havia deleite no semblante de Cipher.

— Me mata! – Dipper repetiu, importando a sua demanda. – Me mate e solte eles!

Bill gargalhou, uma arrulha inumana.

— Ai, ai... Pobre Dipperzinho. Eu não irei te matar. Não irei mesmo! O jogo mudou! Caso as coisas derem errado, lembre-se que você é um índigo, e, diferente desse seis-dedos aqui, ainda pode me servir como chave para os meus poderes e liberdade. Eu nunca desperdiçaria um tesouro tão especial como você!

Dipper estagnou. Sua mente era como uma folha num tornado, girando interminavelmente num torvelinho, sem conseguir ver onde iria pousar no final.

— Se me permitir à gentileza... Que tal eu escolher para você? – Bill levantou uma sobrancelha.

— Não! – Dipper gritou, implorando.

— Uni... – seus olhos esgueiraram-se para sua irmã. – Duni... – apontou o dedo para Ford. – Tê... – Mabel. – Sala... – Ford. – Mê... – Mabel. - Min... – Guê... – Ford.

Seus olhos intermediavam entre as duas vítimas enquanto Bill brincava de um doentio jogo de escolha para descobrir quem mataria. Os berros dilaceradores de Dipper eram ignorados de forma absurda.

— O... – Mabel. – Es... – Ford. – Co... – Mabel. – Lhi… - Ford. – Do… - Mabel. – Foi… - Ford. – Vo…- Mabel. – Cê!

 

Ford.

 

Um clarão emergiu das mãos de Bill como o disparo de um raio pelo gatilho dos seus dedos, o cérebro de Dipper se esforçando para reagir à cena, o grito estridente do seu tio parecendo romper no meio o mundo a sua frente.

STANFORD!

O corpo atingiu o chão.

A queda seca de Ford no gramado fez várias pétalas secas de margaridas mortas sob ele se erguerem, pairando pelo ar como flocos de neve fúnebres.

Dipper sentia seus pés rasgarem a grama abaixo de si, como se cada parte dele fosse destruída a cada passo. Sua vida se esvaindo a cada aproximação. Seus batimentos soando como meticulosas marteladas na sua alma.

Ele alcançou o local onde seu tio estava estirado.  A barra do seu jaleco oscilando no vento, o suéter vermelho por debaixo dele parecia com a tonalidade mais escura do que antes. Dipper passou a mão pelo peito dele, tentando verificar qualquer tipo de reflexo esperançoso.

Apenas quando seus dedos tocaram o tecido ele notou.

Ele notou o sangue.

Ford tinha um buraco enorme no peito.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Foi bem difícil achar um contexto que resuma esse capítulo numa simples palavra ou frase, afinal, olha o tanto de coisa que aconteceu XD

Só temos mais um capítulo (com o epílogo) e é o fim de "No More Secrets"

Foi bom conhecer vocês.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "No More Secrets" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.