Fire and Gasoline escrita por Baunilha0106


Capítulo 8
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

E aqui estou eu, um mês e alguns dias depois de postar o capítulo anterior. Mano, da próxima vez que eu me atrasar pra postar um capítulo, vou me proibir de comer pizza quando comprarem, sério.
Enfim, oi! Não sei se alguém vai ler isso mas tudo bem! Aproveite o capítulo :)



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 Abri os olhos e senti o ambiente se reconstruir ao meu redor. Eu estava sentada em um porão empoeirado e cheio de teias de aranha, sentindo que as mesmas me olhavam com aqueles olhos enormes, saciando por mim. O chão era de alguma madeira encardida assim como as paredes e, por algum motivo, me senti em um filme de terror dos anos 90. Com certeza, eu não iria gritar "Tem alguém aí?" se ouvisse algo.

Não tinha muita coisa no porão, apenas uma escada que levava ao andar de cima e a luz fraca que balançava no teto, ameaçando cair porque estava sendo aguentada por apenas fios vermelhos, brancos e azuis. Fora isso, era apenas eu no porão vazio e sem vida. Dava vontade de morrer só de olhar para as paredes.

Me senti mais ainda em um filme de terror assim que começou a ficar frio. Não me assustei muito porque era normal porões terem um ar gelado ou um pouco pesado, já que estes ficavam debaixo do solo, longe da luz do sol e do calor. Era um ótimo lugar para esconder alguém ou algo. Só de pensar em que eu pudesse estar presa aqui, estremecia-me por completo.

Pelo canto do olho, vi algo se mexer em um canto escuro e que eu não havia reparado antes. Era uma figura agachada e imóvel, com um moletom preto e olhos vermelhos. Fiquei com receio de me mexer e a criatura acabar pulando em cima de mim e continuei ali, parada, sem desviar os olhos daquilo. Podia ouvir sua respiração fraca e a mesma ecoava na minha mente como um eco no vazio. Não tem saída, não tem saída...

— Garota? Garota, acorde! — Escutei alguém me chamar ao longe. Se isso era mesmo um pesadelo, não queria acordar. Mas eu estava tão cansada...

* * *

Encarei o teto de madeira completamente distraída. Era como se minha mente estivesse ligada e meus olhos abertos mas, ao mesmo tempo, meu corpo imóvel e adormecido. Eu estava escutando, enxergando e pensando, mas era como se eu ainda estivesse em um sono profundo.

— Não se mexa, estou quase terminando. — Disse uma voz conhecida ao meu lado. Tentei ver quem era mas foi inútil, estava fora do meu alcance. — Pronto. — O rosto branco de Jeff apareceu à minha frente, me deixando desconfortável, envergonhada e receosa. Foi quando os acontecimentos da noite anterior voltaram à tona, junto com dúvidas e perguntas sem respostas. Queria perguntar tudo ao sequestrador da minha prima mas minha voz não saia. Não conseguia falar, me mexer e nem parar de pensar. O que diabos está acontecendo comigo?

— O-o-o-o-o q-qu... — Tentei articular corretamente as palavras mas era complicado. Espero que algum chiclete que eu tenha engolido há anos não tenha voltado para ficar preso nas minhas cordas vocais. Seria a pior coisa do mundo não xingar quem eu não gostava.

— Você ainda está em estado de choque. Tente não falar ou se mexer. — Jeff se sentou ao meu lado e ficou me encarando. Queria que ele pudesse ler os meus pensamentos e explicar o que estava acontecendo comigo, com o mundo e com a minha mente. Tudo era tão "normal" antes do desaparecimento de Amara. Sinto como se eu tivesse entrado em um livro de suspense, terror e mistério. — Acho que eu lhe devo algumas explicações... — Finalmente ele entendeu! — olha, pelo que parece, você deve gostar muito da sua prima Amanda...

— A-a-a-amar-ra. — Intervi com dificuldade.

— Sim, Amara. Na verdade, eu não sei onde ela está, mas sei com quem ela está. — Ele suspirou. — Tem um cara que, ao longo dos anos, começou a ficar estranho. Ele não queria ser visto por ninguém e, quem o visse, acabaria morto. Esse foi o caso da sua prima e dos pais dela. Eles viram esse cara e acabaram mortos, menos a sua prima. Ele gostou dela, muito mesmo. — Jeff parou, como se tivesse hesitando em contar o resto da história. — Ele era amigo do irmão dela, mas nunca a viu em nenhum lugar e aquela foi a primeira vez.

"Claro, Amara mudou ele mas não foi para melhor. Ela ficou louca e fez a cabeça dele, o deixando pior e, como ele era o meu parceiro, acabou tentando me matar e fui obrigado a fugir, mesmo querendo arrancar as tripas de cada um deles.

Amara se acostumou com nós dois muito rápido, tão rápido que achei estranho, mas tenho certeza que Jack a ensinou tudo o que sabia e ela aprimorou tudo para pior. Aquela é, com certeza, a pior vadia que eu já vi em toda a minha vida".

Senti meu sangue esquentar e meu corpo formigar por completo. Odiava que xingassem a minha prima, mesmo se fosse um adulto ou idoso. Qualquer pessoa que fizesse isso, não sabia nada sobre ela.

— Não chame-a de vadia. — Falei, me sentando e encarando Jeff. Era tão bom poder falar e me mexer.

— Pensei que demoraria mais para recuperar os movimentos e a fala. — Disse ele, deixando o seu sorriso esculpido ainda maior. Revirei os olhos e me levantei, sendo acompanhada por Jeff.

— E onde está esse tal de Jack agora?

— Não faço a mínima ideia, mas tenho certeza de que ele está com Amara. Eles não se desgrudam um do outro. — Seu tom de voz ficou meio mórbido e assustador. Estremeci.

— Você e Jack eram amigos? — Perguntei, encostando na parede de madeira. Jeff riu.

— Claro que não, só éramos colegas de trabalho. Matávamos juntos e fazíamos piada com isso. Só não andávamos juntos porque pensariam "Que gays". — Soltei uma risada forçada e ouvi meu estômago roncar. Eu não comia nada desde o dia anterior e para mim isso era um recorde. Comia que nem uma criança faminta na véspera de natal esperando a ceia impaciente.

Quando disse a Jeff que estava com fome, ele pareceu animado demais. Ficou rindo de cada coisa que dizia enquanto me levava até a cozinha e me deixava escolher o que eu queria comer. Não tinha muita variedade, apenas um pedaço enorme de frango, um saquinho com um liquido vermelho intenso — por que Jeff tem sangue em sua cozinha? — e uma caixa de cereais coloridos que continham 99,9% de açúcar em cada floquinho. Optei por comer o cereal porque o frango estava frio e eu odeio comida fria.

O assassino da boca cortada deixou-me descansar depois de comer, dizendo que ia sair para matar pessoas indesejadas em uma cidade próxima. Assim que ele saiu e bateu a porta, me deitei no chão frio e duro e me cobri com um casaco que Jeff havia jogado — sim, ele praticamente jogou o casaco em mim. Aquilo não era um hotel cinco estrelas e eu não estava nada confortável graças ao chão e ao frio, mas era melhor que ficar deitada na grama úmida ao relento.

Mesmo me sentindo incomodada de estar deitada no chão duro e morrendo de frio, não conseguia parar de pensar. Pensar em Amara, em Jeff, na confusão que tinha acontecido na minha casa e, principalmente, na história que Jeff contara. Será que Amara era mesmo capaz de se apaixonar por um assassino? Ela sempre agia de um jeito estranho quando assistíamos filmes violentos em que psicopatas matavam pessoas inocentes mas não era nada de mais. Era normal agir de uma maneira apreensiva assistindo a esse tipo de filme...

Pensando bem, não me lembro muito bem se era desse jeito que ela reagia.

Se ela é mesmo capaz de amar um assassino, então ela é capaz de matar. Será que todos têm razão a respeito de Amara ter matado os próprios pais? Não, isso é impossível...mas se apaixonar por um assassino também era impossível. Era...

Ah, eu só queria que isso fosse um pesadelo. Queria estar em coma em um hospital e, quando acordasse, veria que tudo isso não passou de um complexo pesadelo sem fim. Nada é real, nada pode ser real. Então por que eu sinto que é?

 * * *

— Hoje iremos nos deslocar. — Disse Jeff, limpando a sua faca com um pano úmido. Quase me engasguei com a água que ele havia buscado para mim em algum lugar desconhecido que eu preferia ignorar e apenas matar a minha sede. Na noite passada, não tive nenhum sonho e nenhum pesadelo com Amara ou coisas estranhas, o que eu achei meio incomum porque sempre tenho pesadelos. Acho que estava tão cansada que minha mente não foi capaz de imaginar algo enquanto eu dormia.

— Para onde? Por quê? — Perguntei, bebendo o resto da água e deixando o copo de lado. Eu não estava preparada para sair daquela cabana, menos ainda para andar pela Floresta Sem Fim em busca de algum lugar para ficar ou coisas para comer. Seria bom respirar ar puro, mas não o ar puro daquela floresta.

Admito que aquela invasão no meio da noite à minha casa tinha me traumatizado um pouco. Tinha medo de sair da cabana e olhar o tempo, medo de Jeff não voltar para me ver e o pior: medo de aquelas coisas me acharem novamente. Acho que esses eram os meus maiores medos, criados em apenas um dia.

Nunca tive muitos medos em minha vida. Quer dizer, claro que eu tive um ou outro, medo de barata, de besouro, escuro mas de pessoas e criaturas estranhas? Isso era novidade para mim pois sempre me considerei uma pessoa estranha o suficiente a ponto de beijar alguém tipo Jeff.

— Achei uma cabana vazia aqui perto enquanto arrastava uma garota por aí para...

— Tá bom, já entendi. — Ele deu de ombros e saiu da cabana, batendo a porta. Será que eu o deixei bravo?

Bem, já tinha percebido, nesse pouco tempo que estávamos juntos, que Jeff era meio bipolar. Uma hora estava sendo sarcástico, outra hora queria explodir tudo ao redor e eu apenas queria sair de perto dele quando isso acontecia. Claro, ele era um assassino sádico e adorava fazer o que fazia e eu sabia que ele só estava evitando ficar muito tempo perto de mim para não ficar zangado o suficiente para me matar — e eu sei que ele quer isso mais do que eu quero encontrar Amara.

Suspirei profundamente e encostei a cabeça na parede atrás de mim.

— O que eu fiz para merecer isso?


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