Guertena escrita por KyonLau


Capítulo 17
O Caderno de Desenhos II


Notas iniciais do capítulo

Olá, gente :3
Não vou mentir, eu ando bem desmotivada. Não com a fanfic, mas com a vida mesmo UHAUSHUHSAUH Mas sei que isso não é motivo para procrastinar. Como pedido de desculpas, esse capítulo tem um finalzinho bem... Especial... MWAHAHAHAHAHA *cara do diabo de TPM*
Aproveitem!

Soundtrack: "Uneasiness"
https://www.youtube.com/watch?v=1EYnuMz9OjE



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/675981/chapter/17

Pela primeira vez desde que entrou naquele lugar minimamente bizarro, Iza considerou seriamente ficar deitada exatamente onde caíra, deixando seu rosto e braços serem envolvidos pela superfície gelada do chão escuro. Sequer se preocupou em abrir os olhos, já não sabia se valeria de alguma coisa.

 Sua cabeça estava dormente e ela francamente não conseguia pensar em muita coisa. Mas afinal, seus esforços a levaram aonde, até aquele momento? Fora perseguida por manequins pirados, sofreu ataques psicológicos de quadros mentirosos, se separou da única pessoa em que se sentia confortável, foi presa e aterrorizada por um psicopata de cabelos roxos e desgrenhados, traída por uma pessoa que até então achara que estava do seu lado e agora, por cima de tudo isso, caíra dentro de um buraco tão escuro que luz alguma entrava.

Iza se lembrava vagamente de seu professor de ciências comentar sobre buracos negros e seus mistérios e concluiu que com certeza a sensação deveria ser bem parecida com a que acabara de experimentar e agora... Agora, se ela se levantasse e continuasse a andar, com certeza outra coisa aconteceria, e outra e então mais outra. Francamente? Isso já se tornara cansativo demais.

Apesar de sua mente estar dormente, Iza ainda podia sentir tudo à sua volta. Sentia a dor nas costas pulsando, tentando competir com seu coração, devido à queda e também sentia um leve afagar no topo da sua cabeça. Os dedos acariciavam seus cachos exatamente da forma que ela mais gostava e por um momento delirante imaginou que sua mãe estava acariciando sua cabeça, como sempre fazia nos momentos de paz entre as duas. Depois lembrou-se de que isso era impossível, uma vez que sua mãe não estava nem remotamente perto de Iza e os dedos que massageavam seus cabelos eram pequenos demais para um adulto.

Iza não abriu os olhos, estava bom demais, como estar em casa.

— Galli? —sua voz soou fraca.

A jovem ouviu o menino prender a respiração e seus dedos pararam o cafuné repentinamente.

— Não pare... Estava bom...

Ela estava começando a se sentir sonolenta pela primeira vez naquele inferno.

— Você está bem, Iza? — perguntou a voz do menino enquanto tornava a brincar com os cachos da amiga — Ficou tanto tempo quietinha que tive medo...

— Eu só... Estou cansada.

— Cansada...?

— Sim — replicou Iza — Cansada de andar em círculos e de me assustar. Dá até vontade de desistir e ficar aqui para sempre...

A pequena mão de Galli congelou novamente e Iza se deu conta do absurdo que tinha acabado de proferir. Arrependida, abriu os olhos e levantou-se para encarar o amigo.

— Não, eu não quis dizer isso — gaguejou — Eu lamento, Galli, por ser tão fracote.

O menino, contudo, mantinha a cabeça baixa. Enquanto isso, um barulho de algo se quebrando abafou o silêncio um pouco. Iza olhou para trás bem a tempo de ver que uma das bonecas de porcelana se arrastara para fora de sua pilha e agora ria para eles, um dos olhos quebrados e a parte inferior do corpo faltando. Ela se arrastava lentamente com seu único braço com na direção dos dois, mas estava longe.

— Primeiro, vamos tentar sair daqui — disse a menina tentando conter um arrepio involuntário.

A boneca riu ainda mais, como se Iza tivesse contado a piada do século, mas não parou de se arrastar, desajeitada, o barulho de porcelana arranhando o chão se parecendo uma espécie de assobio agudo.

Ela guiou Galli pelo ombro enquanto driblavam as fileiras do que Iza acreditava serem os descartes da Galeria. Não demoraram muito para acharem a saída e quando os dois cruzaram a porta e a fecharam, Iza se sentiu aliviada. O silêncio voltara ao normal. Os olhares dardejantes sobre sua nuca também.

— Acho que estamos seguros agora...

— Iza, eu...

Um grito agudo rompeu o silêncio, tão claro, tão pulsante que parecia ter vindo da garganta da própria Iza. A adolescente deu um pulo e olhou para a passagem que se estendia até uma escada. As paredes estavam novamente manchadas de tinta azul e dessa vez formavam palavras. Saia. Morra afogado. Não me machuque. Ib. E ao final, o desenho de uma flor, ou era isso com que se parecia. Era bem difícil dizer em vista da falta de habilidades artísticas de quem a desenhara.

A escada se erguia e de alguma forma, parecia mais escura e agourenta do que uma simples escada deveria ser. Era possível ouvir vozes conversando lá em cima e Iza pode reconhecer facilmente o tom de deboche de Garry.

Tomando impulso, Iza levantou um pé para galgar o primeiro degrau, apreensiva, todavia, foi impedida de continuar pela mão gelada de Galli.

— Espere, Iza — pediu com um quê de urgência na voz — Não vá lá em cima.

Lá em cima as vozes pararam de conversar. Estavam prestando atenção para ver se algum intruso se aproximava.

Com o coração batendo forte, Iza puxou Galli para mais longe da escada.

— Temos que ir — disse num sussurro apressado — Ib está lá em cima.

— Ib nos traiu.

Iza piscou. Era verdade, havia se esquecido, e por um momento tentador, começou a dar razão à Galli. No entanto, isso importava? A vida de alguém valia tão pouco para ser jogada fora por vingança? Iza se lembrou do grito e da expressão agonizada quando Garry puxou uma pétala da rosa vermelha e estremeceu. Ninguém merecia esse tipo de dor e ela com certeza não queria ter esse tipo de peso na consciência.

Engoliu em seco.

— Eu sei — respondeu — Mas temos que tirá-la de lá. Ela já esteve aqui e está recuperando a memória. Talvez tenha se lembrado de onde fica a saída.

Preparou-se então para dar meia volta, mas Galli ainda não soltara. Parecia muito amedrontado e Iza sentiu pena.

— Ele está doido — disse baixinho — Ele vai te machucar, Iza. Ele não pode te machucar...

— Ele não vai — Iza bateu no peito, aparentando mais confiança do que realmente sentia — Nós escapamos dele uma vez e podemos fazer isso novamente.

Galli ainda não estava convencido.

— Iza... Eu... — ele parecia envergonhado — Eu não me importaria. De ficar aqui com você... Para sempre...

Iza passou a mão nos cabelos do menino. Ele era realmente muito fofo.

— Não se preocupe com isso — disse com um sorriso — Nós vamos sair. Juntos.

Virou-se para subir as escadas finalmente e, dessa vez, Galli não a impediu.

Os dois subiram pé ante pé os degraus, Iza a frente, apavorada com a perspectiva de enfrentar o que estava à sua frente.

Os dois foram parar no que parecia uma antessala, onde uma porta desenhada com giz de cera rosa os aguardava, nem um pouco convidativa. Iza tomou cuidado enquanto se esgueirava até a porta, com medo de que os que estivessem lá dentro daquele lugar a avistassem ou ouvissem. Só a perspectiva de chegar perto de Garry era assustadora. Galli estava colado às costas dela, tão quieto que parecia um fantasma.

— Não se preocupe, Ib — ia dizendo a voz grave de Garry, tão recoberta de ternura que se Iza não o conhecesse, imaginaria que ele estava conversando com uma amante — Logo irá terminar. Veja, faltam bem poucas agora. Está curiosa para saber o que vem depois?

Ib soltou mais um grito agonizado e Iza adivinhou que Garry arrancara outra de suas pétalas. Inconscientemente, Levou a mão até a própria rosa, ainda milagrosamente intacta, na alça de sua mochila. Ela não estaria segura, visível daquele jeito. Olhou para Galli, que ainda tinha o bastão de brinquedo nas mãos e a rosa enfiada no bolso da bermuda.

— Aqui — ela murmurou e abaixou-se.

Galli ficou observando Iza enquanto ela retirava a mochila das costas, a abria e jogava a própria rosa lá dentro. Em seguida, estendeu sua mão para o amigo, que, entendendo a deixa, entregou a sua rosa branca para que ela a guardasse em segurança. Enquanto ajeitava o conteúdo da mochila de forma a não amassar as flores, Iza sentiu algo gelado e afiado com a ponta dos dedos. Ao averiguar, descobriu que se tratava da tesoura que ela apanhara da mesa de seu pai, meses atrás. Achara que a tivesse perdido!

Retirou-a da mochila e a fechou com cautela, com medo de que o barulho do zíper alertasse seu inimigo. Com a tesoura afiada nas mãos, estava ao menos um pouco mais segura.

Com o coração batendo na garganta, colada à parede, Iza arriscou uma espiada para dentro do lugar.

Não era maior que seu quarto, com certeza. Da porta até os cantos rachaduras percorriam o chão e lembravam à Iza uma figura em seu livro de geografia, seu professor chamava de bacia hidrográfica. Havia uma quantidade infindável de restos de papéis amassados, bonecas azuis, cabeças de manequins que mais se pareciam com globos de neve. Nas paredes, tinta sobre tinta.

De costas para a porta estava Garry. Iza podia ver o casaco rasgado e amassado cobrir suas costas e vez ou outra ele se movimentava de forma a mostrar rapidamente uma rosa vermelha e praticamente despetalada na mão esquerda. Várias das pétalas agora jaziam aos pés dele. Além dele, Ib estava deitada no chão, cercada pelas bonequinhas azuis que a cutucavam e riam dela. Ela estava extremamente pálida, como se tivesse perdido muito sangue, muito embora não possuísse nenhum arranhão. Seus olhos ainda conseguiam se manter abertos e estavam presos na figura de Garry, cheios de tristeza.

— É engraçado — continuava Garry que agora brincava com as poucas pétalas na rosa, acariciando-as — Depois que você fica muito tempo sozinho, começa a perceber muitas coisas que antes, com tanta gente tagarelando na sua cabeça, não dava para perceber. E, Ib, sabe qual vai ser a melhor parte de você ficar aqui?

Ele parecia empolgado, mas obviamente Ib não respondeu. Parecia fraca demais até mesmo para balançar a cabeça. Garry se agachou para poder vê-la mais de perto.

— É saber que, afinal, ninguém realmente se lembrará de você — ele bateu palmas — Não é como se, bem lá no fundo, todos nós fossemos desde o princípio criações de Guertena? — e jogou a cabeça para trás, rindo com gosto — Aquele maldito, sabe...

Mas então, foi tarde demais. Iza não conseguiu se esconder atrás da parede a tempo e ao abrir os olhos rodeados por olheiras, Garry a avistou.

Os dois se encararam pelo que parecia uma eternidade, num silêncio interminável.

O coração da menina foi parar na boca. Garry se levantou, virando-se para ela. Duas daquelas mãos sombrias surgiram nas paredes e a empurraram com tanta força que Iza perdeu o equilíbrio e caiu aos pés dele.

Uma vez, quando Iza tinha lá seus sete anos de idade, ela viu o velho gato de estimação da sua família cercar um passarinho que havia caído do ninho. O bichinho não tinha para onde ir senão diretamente para as garras do felino e, desesperado, totalmente ciente de seu destino, bicou furiosamente seu predador. O gato saíra com um olho machucado e o pássaro pagara por ter saído da segurança de seu ninho com a vida.

Naquela época a menina se sentira mal pelo pequeno e não quis olhar na cara do gato por uma semana inteira e agora... Agora parecia que ela estava revivendo toda aquela cena. Agora, Garry era o gato e Iza o passarinho idiota que fora apanhado em flagrante.

Ainda no chão, sua mão se fechou na tesoura com força. Seu coração estava disparado e seus olhos ardiam, tentando segurar as lágrimas de medo e desespero. Ela sabia o que iria acontecer. Iria pagar, da mesma forma que aquele passarinho pagou, no entanto, era inevitável...

Ela se levantou de um salto e, tão rápida quanto nunca achou que seria, cravou a tesoura no peito de Garry, onde ficava seu coração.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bom, é isso. Apesar de estar desanimada, como esse capítulo terminou de forma "meio" tensa, eu já comecei o próximo e se eu não postar até domingo, podem me crucificar. Eu tô assim agora. Se não me derem prazos eu não vou nem pra faculdade mais UAHSUAHSUAH
Contem o que acharam ♥