Guertena escrita por KyonLau


Capítulo 1
As Regras da Galeria


Notas iniciais do capítulo

Ya-hooo o/ Pessoas o/ Aqui está minha primeiríssima fanfic (ou seja, primeira história voltada para algum fandom) e, claro, tinha que ser de Ib! Eu amei tanto esse jogo, então achei que valia a tentativa. Espero de coração que curtam essa daqui ♥

>Soundtrack: "Memory"
https://www.youtube.com/watch?v=69Dix-v4h-I



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"Atenção:

Uma vez dentro da Galeria...

Não é permitido fumar;

Não é permitido tocar nas obras em exposição;

Não é permitido filmar ou fotografar;

Não é permitido correr ou fazer barulho;

Não é permitido sair.

Divirtam-se!"

Iza piscou os olhos com força ao terminar de ler os avisos da placa de metal espelhado pregada à porta da Galeria de Artes. No entanto, quando tornou a olhar, desconfiada, para os avisos, a última regra havia desaparecido, e a placa brilhava, zombeteira, para ela. A garota ergueu uma de suas sobrancelhas, intrigada. Teria imaginado aquilo?

Chovia muito forte agora e o cheiro de umidade impregnava o nariz da menina e fazia com que ele coçasse. Mesmo assim, Iza permaneceu encostada na parede próxima às escadas que levavam à entrada escura e silenciosa da Galeria, encolhendo-se dentro de seu casaco para tentar se aquecer um pouco melhor, a despeito das rajadas de vendo cortantes que insistiam em fazer a chuva respingar, mesmo debaixo da marquise. E claro, torcendo para que a escova que acabara de fazer no outro dia não se estragasse completamente devido aos respingos.

Por fim, ela lançou um olhar impaciente para o relógio digital em seu celular.  Ele marcava dezessete horas agora. Iza tornou a guardar o aparelho no bolso e soltou um muxoxo de impaciência e irritação. Aquele lugar iria se fechar dentro de uma hora e nada de sua dupla aparecer...

Nesse exato instante, seu telefone começou a vibrar.

— Leo, onde  diabos você se meteu? — berrou no momento em que colocou o fone ao ouvido — Tem noção de que já vão fechar isso aqui? Esse é o último dia para fazermos esse trabalho! Amanhã esse negócio não abre!

Descul... Iza. Es-ou preso no... —ia respondendo a voz carregada de estática de seu amigo, do outro lado da linha — Muita chuva... aci-ente. Acho que vo... vai ter... sozinha.

— O quê?!

A ligação caiu.

Iza encarou o aparelho eletrônico como se ele fosse o culpado de tudo aquilo. Aquele dia estava indo de mal a pior, e extremamente rápido, ela diria. Um vento soprou forte e ela olhou novamente para a entrada imponente da galeria, ligeiramente apreensiva. Uma família saía de lá e descia os degraus de pedra, o pai segurando firme a mão da menina mais velha, que estava envolta em uma capa amarela e galochas, e a mãe lutando contra o vento enquanto segurava em uma das mãos um bebê e em outra o guarda-chuva florido. Iza podia ver suas bocas se mexendo enquanto se comunicavam, mas o barulho era tal que o som jamais chegava à suas orelhas.

Ela bufou, sem saber o que fazer. Aquele trabalho valia metade da sua nota de literatura e ela já estava ali de qualquer jeito. Talvez não custasse nada entrar e dar uma olhadinha, talvez já adiantar alguma coisa para quando conseguisse finalmente se reunir com Leo.

Dessa forma, soltando um último suspiro, a menina deu as costas para a rua movimentada e adentrou o recinto.

Assim que passou pelas pesadas portas de madeira foi como se o estrondoso som de chuva lá fora tivesse desaparecido. Ou melhor, foi como se todo e qualquer som tivesse morrido. Tudo o que Iza podia ouvir era a própria respiração. A garota deu alguns passos para frente e quase tropeçou em uma pequena plaquinha amarela, que alertava os transeuntes sobre o piso molhado. Ligeiramente aborrecida, ela desviou-se do aviso e prosseguiu pelo largo corredor bem iluminado até a mesinha que se localizava próxima à entrada da exposição.

— Boa tarde, senhorita.

Um senhor de cabelos já bastante grisalhos, óculos de aro fino e uma espécie de fraque estava posicionado atrás da mesinha que deveria ser a recepção. Ele exibia um sorriso que parecia ter sido congelado em seu rosto, e causava em Iza uma certa aversão. Detestava aquele tipo de funcionário que deixava bem claro que estava sendo agradável com ela só por que não tinha outra opção.

— Boa tarde — respondeu por fim — Eu queria ver a exposição. Estou procurando um quadro para um trabalho escolar meu...

— A senhorita está com sorte. Estudantes pagam meia entrada — ele disse, apontando para a tabelinha de preços logo atrás de si.

Sem tentar dialogar com o homem, a garota apenas desembolsou a quantia de dinheiro necessária e entregou-a na palma da mão dele, que já estava de prontidão antes mesmo de ela começar a vasculhar a carteira dentro da mochila.

— Muito bem — disse ele após verificar o valor que estava sendo pago — Agora tudo o que a senhorita precisa é assinar seu nome neste caderno, colocando a data de sua visita e o motivo para fazê-la.

Iza apanhou a caneta de bico de pena que lhe era oferecida e, inclinando-se para o pesado livro com cheiro de mofo, rabiscou rapidamente aquilo que o recepcionista havia pedido.

— Senhorita Iza, então — o funcionário disse após examinar a última linha escrita, os óculos escorregando pelo nariz torto — Está ótimo — e, alargando um pouco aquele sorriso desagradável, fechou o enorme livro — Tenha uma boa visita, senhorita.

— Certo...

Iza apanhou o pequeno panfleto com algumas informações da exposição. Nele estava escrito, assim como no enorme banner logo atrás de si, as palavras "Guertena: o artista, o retrato". Assim, começou a caminhar, tomando o caminho da esquerda, que levava à uma escadaria para o segundo andar. Achou que seria melhor começar de cima para baixo, e enquanto caminhava pelos corredores, ia folheando distraidamente o pequeno livrete, parando ocasionalmente para olhar algum quadro que tivesse lhe chamado atenção.

Os corredores eram longos e, tirando as obras de arte em questão e a vista de uma ou outra janela, completamente desprovidos de cor. Apenas seus passos ecoavam pelas paredes e piso de mármore e parecia não haver mais ninguém naquele horário.

Logo Iza começou a sentir um enorme tédio recair sobre si.

Reprimindo um bocejo, a garota dobrou outro dos intermináveis corredores em que perambulava e finalmente viu algo que a agradou pela primeira vez desde que adentrou aquela Galeria.

Uma moça, com não mais do que 27 anos, estava sentada à um banco de granito, branco como todo o resto, e parecia absorta na análise de um dos quadros logo à sua frente. Animada por encontrar outro ser humano em meio àquele labirinto, Iza praticamente correu até a moça, para examiná-la mais de perto.

Ela tinha longos cabelos castanhos que desciam pelas costas e se espalhavam pelo acento do banco. Sua feição era um tanto quanto pálida e seus olhos, que tanto miravam a parede além de si, eram de um castanho avermelhado vibrantes.

Tão espantada estava Iza por aquele par de olhos incomuns, que a garota nem percebeu quando estes se viraram para ela, tendo a dona finalmente se alertado de sua presença.

— Posso ajudar? — perguntou numa voz baixa e com pouca emoção, como se também estivesse entediada.

— Ah! Me desculpe — Iza se sobressaltou, envergonhada por ter sido pega encarando alguém — É que eu estou andando por aqui faz um bom tempo e ainda não tinha visto ninguém... Então, como posso dizer...? Eu fiquei meio surpresa quando a vi! — e deu uma risadinha para tentar aliviar a tensão.

A moça fez um manejar de cabeças, como que dizendo que não se importava com aquilo.

— Está procurando por algo específico? — perguntou, sua voz num tom tão entediado quanto seu olhar.

Iza sentiu-se relaxar. Ela não parecia má pessoa. Apenas um pouco... estranha, ela diria. Achou que estaria tudo bem se chegasse mais perto para conversarem direito, e logo acabou sentando-se do outro lado do banco, largando a mochila aos pés e ansiando por ouvir algo mais do que o eco de seus tênis encharcados no piso a cada passo que dava.

— É um trabalho que eu preciso fazer — explicou — Tenho que estudar alguma dessas obras desse Guertena, mas ainda não escolhi qual. Não entendo muito dessas coisas — acrescentou, ligeiramente emburrada.

— Entendo... — respondeu a outra simplesmente, tornando a se perder no quadro como antes, a cabeça apoiada em uma das mãos.

Um pouco ofendida com a resposta desinteressada, Iza lançou um olhar para o tal quadro que tanto a hipnotizava, para tentar entender o que havia de tão interessante dele.

Tratava-se de um rapaz um tanto mais velho. Seus cabelos eram roxos e bagunçados, e as vestes estavam rasgadas. Ele estava caído contra uma parede e parecia adormecido, com a cabeça pendida para o lado. Abaixo dele havia uma plaquinha indicando seu nome. Lia-se "O Retrato Esquecido".

Iza ergueu uma das sobrancelhas, meio desapontada. Não parecia haver nada demais ali, mas obviamente havia algo para a moça sentada ao seu lado, ou ela não o encararia de forma tão obsessiva.

— Esse quadro é tão incrível assim? — perguntou por fim, indicando-o com o dedo, pensando que talvez ela poderia fazer o trabalho a respeito dele.

— Ah, não — respondeu a outra — Quero dizer, talvez. Bem, eu não tenho muita certeza — e deu de ombros — Seis anos trabalhando nessa galeria e eu ainda não sei dizer ao menos isso.

— Você trabalha aqui? — replicou a outra sem tentar esconder o espanto estampado no rosto. De alguma forma, ela tinha imaginado que aquele lugar era praticamente autossuficiente. 

— Sim... Eu organizo as exposições — então, como se tivesse acabado de lembrar de algo, virou-se para a menina, a cabeça inclinada — Eu me chamo Ib. E você?

— Ib? — repetiu Iza, espreguiçando-se — Que nome mais estranho — constatou por fim.

 


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Notas finais do capítulo

E aqui vai o primeiro capítulo! foi um pouco paradinho, mas espero que isso não desanime ninguém :3