Magia na Floresta escrita por Vlk Moura
— Certo, alguém já teve aula de Herbologia? - perguntei me virando para nossas cinco crianças que estavam conversando entre sim, menos uma que segurava um animal ameaçador nas mãos e essa foi a única a levantar a mão. - Certo, Mariana, e você gostou? - todos a olharam.
— Achei meio estranho, quero dizer, eu cresci com as plantas ficando paradas em vasos - Nyack me olhou e eu tentei não desviar o olhar, não sabiamos que ela tinha nascido trouxa - e de repente tem umas plantas fugitivas, é bem divertido - ela apertou o bicho nos braços.
Nyack falou que veria se o professor estava ali na sala, ele entrou e eu falei que aquela era uma das minhas aulas favoritas, o professor veio até nós se apresentou para as crianças e os levamos para dentro, eu me joguei em uma cadeira, estava cansada, já era a terceira aula que mostravamos para eles. Neville estava sendo bem simpatico com as crianças e isso era bom.
— Ah! Essa foi a da aula - Mariana ia tocar e o professor a impediu.
— Uma sangue ruim só faz besteiras - um dos meninos comentou eu o fuzilei, o professor também.
— Você sabia que uma das maiores bruxas que conheço é de pais trouxas? - Neville falou firma - Então, você se engana quando diz isso.
— Meus pais dizem isso.
— Seus pais estão enganados - Nyack se meteu - Vamos, precisamos continuar com a visita. Obrigado, professor.
- Ag - olhei a menina - o que sangue ruim quer dizer?
— Algo muito ruim - ela ficou espantada, eu abaixei até sua altura - Mas me prometa uma coisa? - ela confirmou - Sempre tenha orgulho de ser uma sangue ruim, ta?
— Eu prometo - sorri e pedi para ela se juntar aos outros.
— Não acredito que ainda existam bruxos que dizem essas coisas - o professor falou horrorizado.
— Nem me fale - eu sorri - Obrigada, por nos deixar apresentar a sala para eles.
— Sempre que precisar estarei ai.
Eu corri para acompanhar Nyack, observei que ele puxava de uma perna, também já estava cansado.
— Que tal uma pausa - ele me olhou pelo ombro - Podem ir beber água, comer alguma coisa, nos encontrem na árvore central em... meia hora.
Eles foram comprar coisas, fui com Nyack até a árvore, quando eu era mais nova costumava me sentar ali e ficar lendo livros e estudando e muitas vezes perdendo as aulas por dormir profundamente. Ele se jogou de forma ruidosa na grama e eu não fiz diferente. Alguns alunos passavam por ali indo para as aulas ou apenas matando o tempo, alguns casais pensavam estar escondidos o suficiente para que ninguém os visse se pegando.
— Não me lembro de você nos anos anteriores - ele falou, eu o observei e me ajeitei no tronco da árvore - Acho que eu teria reparado se a tivesse visto.
— São tantos alunos, não tem como vermos todos. - ele concordou - Leonardo me contou que você é filho de pais trouxas - ele me olhou parecendo preocupado - Não se preocupe - ele franziu o cenho - sou mestiça.
— Ele não sabe, sabe? - neguei, Nyack riu - A que diz para a garotinha ter orgulho do que é esconde a própria raiz.
— Sabe como é, faça o que falo, mas não faça o que eu faço, sou a perfeita representação disso. - ele riu - No começo eu sofri bastante, no meu primeiro ano. - ele me observou - Ninguém queria ser amigo da mestiça, 'vai que ela passa trouxismo' - eu ri - 'ela deve ser muito burra por ser trouxa', foi bem complicado, até que conheci a Carla, ela foi como dar um tiro no escuro e acertar o alvo, eu e ela, na verdade, saímos no tapa no ínicio do segundo ano e estamos ai, firmes e fortes até hoje. - eu abracei minhas pernas - Nem sei por que estou te contando isso - balanceia cabeça - Acho que eu precisava dar uma desabafada.
— Não se preocupe - ele olhou a árvore - Ela é bem velha - segui seu olhar - Dizem que ela está aqui há tanto tempo que nem mesmo a Diretora não a viu crescer e olha que ela é bem velha - eu ri.
Ficamos mergulhados em um silêncio que pareceu ser constrangedor, mas nós dois estavamos observando os desenhos dos galhos, ele se levantou e apoiou no troco e fechou os olhos, eu o observei sem entender o que fazia.
— Olha ele ali! - eu olhei para quem gritou. Um dos amigos do Leonardo, eles chegaram em Nyack e o empurraram, eu me levantei e tentei segurá-lo.
— Vocês são retardados? - eu gritei para eles.
— Agnes, está tudo bem, ele se colocou a minha frente.
— Não, Nyack, não está tudo bem, esses caras estão pensando o quê?
— Que vamos impedir que sangue ruins como ele contaminem nosso mundo.
— Acho que nosso mundo tinha mais que se preocupar com gente como vocês, não como ele - eles olharam assustados para o professor, eu o observei, Neville estava com os braços cruzados e um olhar frio, nunca ouvi falar que ele poderia parecer tão mau assim - Se vocês sumirem em dez segundos eu prometo não relatar a Diretora sobre isso.
Eles correram, o professor os observou sumir e então nos olhou.
— Está tudo bem com vocês? - ele perguntou preocupado.
— Está sim - Nyack falou frio, eu os observei.
— Agnes...
— Obrigada, professor - eu vi as crianças - Agora realmente precisamos ir.
Ele confirmou, Nyack estava puxando ainda mais da perna, falei para ele que se quisesse podia ir para o quarto, mas ele insistiu de ir com o grupo até que apresentassemos a última sala de aula.
— Como você vai levar os do sexto ano? - perguntei observando a condição dele depois que levamos as crianças para seus quartos.
— Boa pergunta - ele sentou em um degrau - Vou descansar um pouco aqui e depois vou. E você, vai vir? - confirmei - Mas não é obrigatório, é melhor ir descansar.
— Se vocês consegue, eu também consigo. - ele riu.
Depois de pegarmos folego ele levantou, me ajudou e fomos encontrar o grupo que ele levaria.
Passamos em algumas salas, os professores falaram com todos nós e os professores que já me conheciam acharam estranho eu estar por ali e eu explicava que Nyack tinha se oferecido para me apresentar as matérias do sétimo ano. Eles pareciam gostar muito de Nyack e sempre faziam alguma brincadeira com ele sobre isso ser anotado para ele conseguir pontinhos extras no final.
— Agnes - olhei Carla, ela estava exausta.
— Espera... Nyack! - ele me olhou - Eu vou da ruma pausa, não aguento mais - ele sorriu dolorido e percebi que ele também não estava na melhor condição. - Oi - falei me apoiando nela - Busquei por você o dia inteiro.
— Aquela patricinha não me deixa respirar.
— Você falando assim até parece que estão namorando - ela me fuzilou enquanto eu ria. - Mas e as crianças como são?
— São boas. E as suas?
— Boas, sabe a menina do guaxinim? - ela confirmou - É filha de trouxas - ela me olhou surpresa - essa foi minha reação também - estiquei a perna, dobrei a barra e observei os machucados eles latejavam. - Mas ela é tão bonitinha, tenho medo que passe pelo que passei.
— Diferente de você ela tem alguém para cuidar dela - Carla sorriu - Sei que vai cuidar dela. - confirmei.
Contei para ela sobre os amigos do Leonardo, ela ficou me ouvindo com os olhos enormes, comentei que estava com medo que ele descobrisse o que eu sou, que descobrisse que tenho sangue trouxa. Ele era um idiota, isso com certeza, mas mesmo odiando isso, foi ele quem me ajudou quando precisei, e se algo voltasse a acontecer eu gostaria de saber que alguém estaria disposto a me ajudar além da Carla.
— Sabe do que você precisa? - eu a olhei - Aqueles seus treinos de luta trouxa.
— Kick-boxing - ela deu de ombros - Você quer?
— Preciso relaxar e acho uma boa forme de liberar o estresse.
— Só não sei quanto tempo aguento. - falei, ela não ligou.
Pegamos as luvas na minha mala, afastamos a cama, abrimos a janela para refrigerar o quarto, Peru e Ogro estavam nas camas nos assistindo. Começamos os treinos, eu ensinava a ela como dar os socos e chutes e ela os fazia, Carla era boa, se precisasse usar aquilo eu teria pena de quem fosse atingido pelo seu soco, e ela era bem forte. Ela deu um último soco, eu estava distraída, desequilibrei e sem conseguir firmar minhas pernas bati contra a parede do quarto, Carla arregalou os olhos espantada, eu fechei os olhos, tudo doia. Ela me ajudou a levantar. Fomos para o banho, refiz meus curativos e torci para que nada de pior ocorresse.
Carla gostava das crianças dela e eu percebia pela forma como cuidava delas quando elas vinham lhe pedir ajuda, gostava de observá-la ajudando com os primeiros feitiços ou com as primeiras teorias.
— Aquela ali não é a sua? - Carla apontou para um grupo.
— Ah, cara! Eu vou chutar essas bundas magrelas- ela riu e me acompanhou - Ei! Qual o problema de vocês? - eu parei ao lado da Mariana que me olhou, ela tinha o Lobo nos braços bem firme, ela segurava o choro, eu sabia bem como era aquilo, fuzilei os meninos.
— Essa sangue ruim não deveria estar na nossa escola - um deles falou, me perguntei como crianças tão pequenas podiam ser tão cruéis - Ela apenas suja nossa imagem.
— Você está sujando sua própria imagem. - falei - Agora voltem para seus afazeres e se eu os vir fazendo algo com ela novamente juro que vou bater em todos vocês. - comecei a me afastar empurrando Mariana, ela ainda segurava o choro.
— Você não faria isso - eles falaram rindo.
— Não aposte para ver - falei por cima do ombro, pude ver os olhos deles arregalando.
Carla segurou o riso junto comigo, sentamos Mariana em uma das muretas da escola, ela ainda segurava Logo que lambeu seu rosto, não pude conter um riso.
— Se você quiser chorar pode fazer - ela me olhou. - Não tem problema.
— Vão pensar que sou uma fraca - neguei.
— Só os fortes conseguem chorar em publico - Carla falou rindo e a fazendo rir - Essa ai do seu lado - ela me olhou - era a maior chorona.
— Verdade? - Mariana me olhou esperando que negasse.
— Verdade - Peru se mexeu no meu cabelo - Eu chorava por qualquer coisa até que eu conheci a Carla e parei de chorar - minha amiga me observou - Quando encontramos bons amigos não precisamos mais chorar, pelo menos, não chorar por estarmos sozinhos - ela sorriu. - E se você quiser, podemos ser suas amigas.
— Podem?
— Claro que podemos- Carla falou a abraçando - E se eles mexerem com você novamente pode nos chamar que vamos dar uma surra naqueles moleques e... Que merda é aquela? - Carla apontou para um grupo que se aproximava da nossa mureta.
— Eles voltaram e com companhia. - falei irritada.
Descemos da mureta, ficamos na frente da Mariana. Ela colocou o Lobo no chão e o segurou pela guia da coleira, ele tinha o rabo bem levantado e parecia mostrar os dentes.
— Quem de vocês ameaçou meu irmão? - um deles falou.
— Eu! - Carla e eu falamos ao mesmo tempo e contivemos o riso - Por quê?
— Se uma de vocês tocar num fio de cabelo eu acabo com as duas.
— Ótimo - falei e cruzei os braços, ele me olhou - Se ele ou qualquer um daqueles catarrentos voltarem a mexer com a Mariana veremos se você cumpre com o que promete.
— Olha aqui, menina, não me desafie assim - ele veio para cima, continuei parada.
— Ei, ei, ei! - o menino olhou para quem gritava, mas pela voz eu já sabia - O que é isso?
— Nada, Leo - o menino recuou de cabeça baixa. Eu observei aquilo e olhei Carla que deu de ombros. - Eu só...
— Você só... o quê? - Leonardo parou ao meu lado, encheu o peito como um galo de briga, mas ele provavelmente nem sabe o que é isso. - Vai! - ele falou firme e o menino se afastou - Ele fez algo com vocês?
— Não está tudo bem - falei e olhei Mariana - Vamos? - ela me olhou e confirmou.
Seguimos as três e ele ficou lá observando o garoto que se afastava.
Levamos Mariana até o quarto dela e depois fomos para o nosso.
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