Lembre-se escrita por Amanda


Capítulo 21
Capítulo vinte




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Quando desceu para tomar o café da manhã Hermione já havia saído para o trabalho e a manta estava dobrada em cima da poltrona como se nunca tivesse saído dali. Pegou o jaleco e entrou na lareira, deixando o café para outro momento, não estava com tanta fome assim.

A presença de Hermione o deixava bastante distraído, mas a falta dela parecia triplicar seu problema de concentração. Teve de ler o prontuário de um paciente pelo o menos três vezes até entender o que estava se passando com o bruxo, desculpou-se e continuou o trabalho.

Foco. Foco. Foco.

Repetia a cada segundo que um pensamento sobre a morena passava por sua cabeça, não conseguiria daquele jeito e não havia sequer passado da hora do almoço, ainda tinha de trabalhar até o fim da tarde. Estava tão ferrado.

Foi somente no final do expediente, quando seus movimentos entraram no automático que conseguiu desligar-se dos problemas e concentrar um pouco da atenção que tinha nos pacientes, já estava cansado e sentia seus ombros pesados, como se alguém os empurrasse para baixo constantemente.

Já passava-se das seis, Draco terminava de retirar lascas do cabo de uma vassoura do braço de um garoto que não devia ter mais que dez anos, explicando com paciência e até divertimento como evitar uma queda e deixava-se ser absorvido pela nostalgia de voar.

— Se quer ser jogador de Quadribol vai ter que se acostumar com esse tipo de machucado. — Disse depois de uma careta feia do garoto. — Ouvi dizer que uma jogadora das Harpias de Holyhead atravessou a arquibancada durante um treino, não foi nada bonito.

O garoto exclamou um sonoro “caramba!”, e pareceu ainda mais animado com a possibilidade de jogar profissionalmente. Draco riu da empolgação infantil e continuou a puxar as lascas menores.

A porta do consultório se abriu e Ethan colocou a cabeça para dentro.

— Temos uma nova entrada e acho que vai querer cuidar disso. — Sinalizou com a cabeça o corredor e se prontificou a terminar os curativos.

Ethan não dissera mais nada sobre a nova entrada, somente entregou a ficha e indicou a direita no final do corredor. Draco se colocou em movimento e ao aproximar-se da porta do consultório ouviu vozes familiares.

— Odeio ter que te trazer correndo para o hospital.

— Eu podia ter vindo sozinha, já disse. — Respondeu com muita disposição.

— Você sabe que não é disso que estou falando!

Entrou com o olhar baixo, mas levantou-o, assumindo o ar profissional.

— O que aconteceu? — Se posicionou então onde os dois pudessem vê-lo e seguiu diretamente para Hermione que ostentava algumas escoriações no rosto.

Harry sacudiu a cabeça e cruzou os braços sobre o peito estufado, estava de pé ao lado da amiga sentada sobre a maca metálica.

— Os aurors em treinamento não sabem dar cobertura, trouxeram-na assim. — Explicou enquanto olhava feio para a amiga. — Não entendo o motivo de confiar tanto assim neles, pedi para acompanhar Nott ou qualquer outro auror experiente.

— Posso escolher minhas próprias missões, esqueceu? — Retrucou irritante e encolheu-se sob o algodão que Draco passava em sua têmpora. — Além do mais, os novatos precisam adquirir experiência. Gosto de ajuda-los nisso!

Harry riu.

— Da próxima vez faça isso com missões mais simples, ou começarei a intervir nas suas escolhas. — Ameaçou, mas não havia convicção no seu tom de voz. — Vou voltar para o Ministério. Cuide dela, Malfoy.

Draco assentiu e esperou que Harry saísse para só então buscar por informações e tentar começar uma conversa.

— Como exatamente você acabou desse jeito? — Não levantou o rosto, focou o olhar nos cortes e seguiu limpando-os como se Hermione fosse só mais uma paciente.

— Fui atacada pelas costas, rolei alguns metros por cima de raízes e galhos secos. — Não fora nada demais, podia curar os cortes ela mesma com sua varinha, o problema estava no... — Ai!

Draco havia batido em seu tornozelo, e voltou o olhar para o local depois da exclamação da esposa. Puxou uma cadeira até a frente da maca e sentou-se, lentamente desamarrou o cadarço do coturno pesado e retirou-o com todo o cuidado do mundo. Apontou a varinha para a calça de malha que abriu-se  com um corte perfeito, ajudando-o a levantar o tecido para realizar o exame. Mesmo com a meia de algodão no caminho o inchaço era visível, Draco retirou-a e desculpou-se depois de ouvir um palavrão.

— Vou usar um feitiço e receitar uma poção para a dor, mas não poderá apoiar o pé no chão até amanhã. — E pela primeira vez desde que entrara na sala levantou o olhar para vê-la. — Tudo bem?

Hermione sacudiu a cabeça em concordância sem desviar o olhar. A aparência selvagem de quem recém voltara de um combate tirava-lhe o fôlego, mas junto do olhar firme dela, via-se completamente apaixonado.

— Há mais alguma coisa machucada? — Posicionou o pé de Hermione em seu colo e segurou-o com firmeza, testando as reações de dor.

— Meu orgulho. — Disse baixinho, sentindo a leveza do feitiço começar a agir. Havia uma queimação que aos poucos se transformou em puro alívio. — Pensei que pudesse me dar bem numa missão nível quatro com dois novatos, mas parece que nem toda a experiência do mundo é o suficiente.

Draco sacudiu a cabeça.

— Não faça isso, Hermione.

— Só confirmei o que você já sabia, não sou boa no que eu faço. — Deu de ombros como se já não importasse mais, mas Draco sabia que no fundo estava frustrada e magoada. — Tentei provar a mim mesma que estava errado, mas o resultado foi um pouco diferente do esperado. Podia ter machucado um dos garotos, fui inconsequente.

— Pode parar por um minuto?! — Segurou o rosto de Hermione entre as mãos para que ela o olhasse. — Eu nunca quis subestimar o seu trabalho, jamais pensei que se ofenderia tanto com o que fiz. Tentei ajudar como pude e sinto muito se dei a entender que você não é boa, porque, na verdade, você é ótima em tudo o que faz!

Hermione o ouvia com atenção, já não estava mais tão ressentida, queria resolver toda aquela situação de uma vez, só precisa ouvi-lo. E foi o que fez.

— Estou me odiando por não ter conseguido imaginar a sua reação, sou seu marido, afinal de contas. — Continuou. — Se isso aconteceu com você hoje, foi por acreditar numa mentira. Sei que é capaz de qualquer coisa, vi você na guerra.

— Eu só queria provar que merecia acompanhar Theodore nas missões por mérito meu. — Baixou o rosto envergonhada pela falta de razão, precisava controlar aqueles atos impulsivos que sempre a colocavam em problema. Já devia ter aprendido.

— Theodore é que tem que provar que merece te acompanhar nas missões, e não o contrário! — Conseguiu fazê-la rir. — Estou desculpado pela estupidez que te fiz acreditar?

— Eu não aguentaria outra noite sozinha naquele quarto! — Resmungou com um sorriso brincalhão estampado no rosto. — No fundo, Draco Malfoy, eu sabia que não era a sua intenção, mas pensar que você me via daquela forma... Não faça mais isso!

Draco encaixou-se entre as pernas de Hermione.

— Prometo! — Selou seus lábios rapidamente e colou suas testas por um momento mais. — Senti sua falta.

Hermione mostrou um sorriso igualmente saudoso.

— Mas preciso cuidar do seu tornozelo, foi uma torção e tanto. — Disse afastando-se para buscar a poção que comentara anteriormente. — Tome duas gotas antes de dormir, agora vamos colocar isso no lugar.

Sentou-se na cadeira novamente e pegou o pé de Hermione, pressionou-o contra sua perna e apontou a varinha para o tornozelo inchado e arroxeado. Olhou para a esposa e anuiu.

— Merda! — Hermione gritou, as unhas cravadas no colchão fino da maca.

Deixou a varinha e massageou o local.

— Melhorou? — Continuou com os toques delicados, tentando diminuir a dormência. Hermione olhava para cima, provavelmente queria controlar alguma lágrima que tentara escapar, mas sacudiu a cabeça em concordância. — Adoro quando você solta algum palavrão.

— Prefiro evita-los. — Respondeu, voltando a olhá-lo. — Já me sinto melhor, obrigada.

Draco sorriu e levantou-se, passou o braço pela cintura de Hermione e desceu-a da maca. Testou então a firmeza do tornozelo recém-tratado e torceu os lábios.

— O que isso significa? — Perguntou olhando-o. Seus rostos próximos demais, a poucos centímetros, as pontas dos narizes quase tocavam-se.

— Que meu expediente terminou e vou leva-la para casa. — Explicou e encaminhou-se para fora da sala. — Consegue chamar o elevador enquanto assino umas coisas?

Hermione apoiou-se na parede em resposta.

 ***

— Imagino o que nossos vizinhos pensam toda a vez que você volta machucada. — Draco fechou a porta e despiu-se do casaco. Hermione o esperava ao lado dos ganchos, escorada na parede, tentando ao máximo não forçar o pé.

— Meu trabalho é perigoso, deixe que pensem o que quiserem. — A proximidade do marido a deixava ansiosa, e Draco, sabendo do efeito que causava, tirou-lhe do pescoço tortuosamente o cachecol e arrastou por seus braços o casaco. — O que acha de subirmos?

Draco riu e pressionou-a contra a parede até que seus corpos estivessem colados, passou os braços e envolveu-a pela cintura, enquanto Hermione transpassava os braços pela nuca até que pudesse tocar-lhe o cabelo loiro.

— Você não pode forçar o tornozelo! — Lembrou-a.

Com um sorriso malicioso nos lábios, Hermione apertou-o sob seus braços e enlaçou-o com suas pernas, encaixando seus quadris com mais precisão do que pensou que conseguiria. O olhar fixo nos olhos de Draco implorava para que ele tentasse contradizê-la, que duvidasse ou subestimasse-a uma vez mais, e a sobrancelha perfeitamente arqueada em desafio pedia que negasse o desejo crescente no seu peito.

— Se sentir dor...

— Ora, cale a boca! — Puxou-o para seus lábios e surpreendeu-o com a saudade que nem mesmo sabia que existia, foram apenas alguns dias, mas a necessidade de tocá-lo e sentir seus beijos apaixonados era maior do que tudo. A sensação das peles se tocando parecia queimar e a corrente elétrica que transpassava por seu corpo igualava-se ao êxtase.

Se perguntassem não saberia dizer em que momento ou como Draco subiu as escadas, já que não pararam os beijos calorosos nem por um segundo, mas quando deu por si já estava sendo deitada com extremo cuidado sobre a sua cama. A cama certa.

— Nunca... Mais... Ouse sair... — Draco salpicava beijos pelo ombro a mostra e descia pelo caminho entre os seios. — Dessa cama ou... Desse quarto. Ouviu, Granger?

A resposta veio com um arquejo.

Continuou trilhando os beijos pelo corpo voluptuoso, passando pelos seios, barriga e quando chegou às coxas, desabotoou a calça e puxou-a para baixo, tomando cuidado com o tornozelo que ainda mostrava-se arroxeado. Mas antes que pudesse voltar distribuindo beijos, Hermione sentou-se e puxou-lhe pela camisa, abrindo-a botão por botão até que pudesse jogar o tecido amassado para longe.

***

— Pode ficar com o troco. — Draco desistiu de procurar pelas notas certas e entregou a bola amassada para o entregador de pizza que sorriu mais do que satisfeito pela gorjeta generosa.

— Eu estou faminta. — Hermione descia as escadas com dificuldade, mancando de degrau em degrau, mas a primeira coisa que Draco olhara fora para as pernas nuas dela, que vestia somente a camisa amassada dele. — Calabresa?

Draco soltou a caixa da pizza no sofá e subiu até o meio da escada para pegá-la, mas foi impedido pelas mãos delicadas tocando-lhe os ombros rijos.

— Já não está doendo tanto. — Afirmou com veemência, mas não se incomodou com o braço que sustentou-a até a cozinha. — Busque a pizza!

O queijo derretido causava a explosão de sabores e sensações, enquanto Draco e Hermione voltavam às conversas triviais que adoravam ter durante as refeições até aquela manhã saboreadas em silêncio e solidão.

— Pensei em pedir ao Theodore que fosse meu parceiro. O que acha? — Soltou enquanto observava o marido por cima de uma fatia generosa de pizza. — Confio nele e acho que conseguiríamos trabalhar juntos.

Draco ponderou enquanto mastigava e teve que dar-se por vencido.

— Acho que poderia dar certo!

Hermione sorriu agradecida e brindou com a fatia que segurava.

No final das contas, Draco não precisava de muito para ser perdoado, apenas tempo e um tornozelo torcido. A compreensão, entretanto, viera junto como lembrete para nunca mais deixa-la escapar.


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Notas finais do capítulo

Olá "ser humaninhos", como estão vocês?? Contem-me o que acharam dessa reconciliação, e conto algo sobre a história! Haha
Até breve!



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