Já fazia dois dias que o trio estava num dos corredores do hospital, a luz forte e constante ressecava os olhos, tornando naturais as olheiras arroxeadas. Os rapazes mantinham a calma enquanto Hermione caminhava de um lado para o outro incansavelmente. Draco ainda não acordara e nem mostrara melhoras no quadro, o impacto contra a árvore fora extremamente forte e deixara sequelas.

Assim que avisado, Harry aparatou para o local, levando consigo dois médibruxos e aurors. Desde que Hermione começara suas missões preocupou-se, mas viu aos poucos a amiga evoluir e transformar-se numa pessoa ainda mais forte e capaz. Foi naquela noite, pela primeira vez em anos que viu falta de controle e notou o quão sensível Hermione era na realidade.

O medibruxo encarregado de tratar Draco apenas comentou que precisavam aguardar por respostas, e receitou uma poção calmante para Hermione.

— Ele tem razão, vamos subir e tomar um café. — Rony pegou a poção e guardou-a no bolso, aproveitando para passar o braço nos ombros de Hermione e guiá-la para o elevador. — Harry avisará se algo acontecer.

Para ter confirmação, Hermione voltou-se para Harry que ajeitou os óculos, sorriu gentilmente e anuiu.

O tempo passava, os ponteiros do relógio continuavam girando, mas Hermione não notava o tique taquear. Esperava por Draco, e não queria voltar em casa sem seu marido.

— É ano novo, vamos para a Toca. — Rony pedia pela terceira vez. — Todos sentem sua falta!

E pela terceira vez, Hermione negou.

— Não há outra pessoa com quem eu queira passar essa noite que não seja o Draco. — Disse com calma. — Vou ficar bem, prometo!

Com relutância os amigos despediram-se, deixando claro que estariam de volta na manhã seguinte. Hermione cruzou os braços de maneira imponente, e negou. Queria que os amigos se divertissem e aproveitasse a noite, não precisava que passassem todo o tempo livre que tinham presos num hospital.

Ficaria bem sozinha.

O médibruxo liberou a visita, ressaltando que Draco estava bem, seu corpo só precisava descansar um pouco mais. Assim que entrou no quarto, Hermione não conseguiu segurar as lágrimas.

Draco estava ainda mais pálido que o normal, não havia bolsas abaixo dos seus olhos, mas um tom avermelhado se instalara ali, tal como o tom arroxeado dos lábios. O ferimento na cabeça estava coberto, mas fez com que lembrasse-se de todo o sangue.

— Harry, ele está ferido... Não consigo fazê-lo a-acordar! — Dissera ao amigo, desesperada.

— Ele vai ficar bem. — Harry repetira aquilo tantas vezes naquela noite que não conseguia chegar a um número exato.

Aproximou-se com medo e ao mesmo tempo ansiosa por tocá-lo. Em dois dias completariam dois anos de casados, sabia no fundo que era algo fútil, e não podia culpa-lo por não estar presente, mas já começava a sentir-se magoada. Ainda precisava cancelar a viagem, não iriam de qualquer jeito.

Uma garota baixa entrou no quarto, vestia o jaleco verde claro do hospital. Convidou Hermione para ir até a cantina, estavam comemorando o novo ano e organizaram uma festinha com sucos e alguns petiscos. Agradecida, negou o convite. A garota assentiu e despediu-se.

— Feliz ano novo, Draco. — Limpou uma lágrima que escorreu por sua bochecha e deitou a cabeça no colchão.

Fechou os olhos com força, queria parar de chorar, não aguentava mais as lágrimas. Não ia para casa desde o ocorrido, sentia falta da cama macia e de dormir uma noite inteira, sem interrupções.

A porta se abriu, mas Hermione não ouviu, estava absorta demais em seus pensamentos para qualquer coisa. O medibruxo entrou e observou o casal, estava fazendo tudo o que podia para trazer Draco, seu colega de trabalho, de volta à consciência, mas não dependia mais dele.

Pigarreou alto.

— Vim para leva-la até a cantina, estamos comemorando o ano novo e Draco me mataria se soubesse que lhe deixei aqui. — Fora direto, não gostava de ficar enrolando. — Vai ser divertido, prometo!

Hermione levantou-se, passando as mãos na roupa para ajeitá-la.

— Doutor eu...

— Hoje sou apenas Ethan, e sem querer apressá-la, mas estamos perdendo a festa! — Ofereceu o braço para Hermione, que notou a ausência do jaleco.

Com relutância aceitou o convite, e durante a festa, permitiu-se sorrir com Theodore Nott que arrastava o pé engessado de um lado para o outro, explicando que não prestara atenção e acabara ali, logo na véspera de ano novo. Neville que estava lá por seus pais abraçou Hermione com força, fazendo-a soltar mais algumas lágrimas.

— Feliz ano novo, Hermione!

***

Draco estava tão nervoso no dia do casamento, o smoking lhe caíra como uma luva, assim como a arrogância que disfarçava a ansiedade. Só Harry conseguira acalmá-lo, e não por muito tempo. Exigia falar com Hermione, tinha medo de ser abandonado no altar e deixou isso claro várias vezes. Narcisa que ajudava a noiva precisou intervir, e conseguiu alguns minutos para que o casal conversasse — separados pela porta.

— Como está se sentindo? — Perguntara, temendo ouvir uma resposta negativa.

— Nervosa e você? — A voz de Hermione lhe aquecera instantaneamente por dentro, acalmando-o.

Aprumou-se.

— Muito calmo... Nervoso, Hermione! — Pode ouvi-la rir. — Você tem certeza disso? Se quiser desistir, não vou força-la a nada!

Houve um momento de silêncio.

— Do que está falando Draco? — Perguntara com a voz vacilante. — Se você não estiver naquele altar na hora que eu sair daqui, vou procura-lo por toda Londres e eu prometo que se arrependerá!

Draco gargalhou, não do jeito comedido como sempre fazia na frente de estranhos, mas de um modo natural que Hermione vira muitas vezes.

— Não teria coragem de abandoná-la, Hermione. — Sorria. — E estarei lá porque te amo, não pela sua ameaça!

— Queria vê-lo, mas Narcisa enfeitiçou a porta. — Murmurara enraivecida enquanto tentava girar a maçaneta. — Eu te amo, Draco!

Narcisa voltara naquele exato momento, mandando o filho voltar para seu quarto enquanto terminava de ajudar Hermione com o vestido e tudo mais.

Hermione sorriu com a lembrança enquanto trocava as flores do vaso, lembrava-se daquele dia como se fosse ontem, mas fora na realidade há dois anos.

— Parabéns para nós, Draco. — Sorriu, acariciando o cabelo do marido. — Eu te amo!