Lembre-se escrita por Amanda


Capítulo 16
Capítulo quinze




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Ao contrário do que imaginou quando ouviu as tão esperadas — ou temíveis — três palavras, não precisou repeti-las. Hermione não o pressionou quanto a ser correspondida, talvez porque já tivesse ouvido milhares e milhares de vezes, ou talvez por simplesmente compreender a situação. Sentiu-se amado e agradecido por tê-la deitada do seu lado naquele momento, com o sentimento de que a teria sempre que precisasse.

Quando o dia terminou eles haviam entrado num momento tão íntimo e somente deles que o relacionamento passou para um outro nível na concepção de Draco, e foi com o ressonar de Hermione contra seu peito que lhe deu a certeza que já esmagava seu peito há alguns minutos.

Abraçou-a um pouco mais e selou um beijo leve.

— Eu acho que te amo.

***

Harry, Rony e Hermione haviam formado quase que uma linha de produção. Passavam de um para o outro de forma organizada os documentos que ainda faltavam ser preenchidos e aos poucos as longas pilhas começaram a se desfazer. Almoçaram juntos, dentro da sala, escorados nas cadeiras e escrivaninhas.

— Como está Melody? — Hermione perguntou a Rony que sugava o macarrão para dentro da boca.

Harry levantou o olhar da caixinha de comida e pousou em Rony, que agora mostrava as orelhas extremamente vermelhas.

— Nós tivemos um desentendimento. — Deu de ombros, voltando-se para a caixinha de macarrão na sua frente, dessa vez apenas remexendo na comida. — Ela foi viajar para fazer pesquisas. Escócia!

Hermione olhou para Harry que encolheu os ombros e sinalizou para que falasse alguma coisa.

— Dê um tempo a...

— E o Malfoy? — Cortou-a, evidentemente desconfortável com o assunto.

— Está muito melhor. Voltou a trabalhar e acho que começamos a entrar na normalidade! — Sorriu após um suspiro empolgado.

— Normalidade? Ele lembrou que são casados? — Rony a atingiu em cheio com aquela mania de insensibilidade.

— Não, Rony, mas mesmo sem memória ele consegue ser mais sensível que você. — Girou a cadeira e continuou seu almoço em silêncio.

As pilhas de pergaminho que entraram no meio da tarde foram pouco menores que as da manhã, mas assim mesmo, tomaram o restante do expediente do trio. Rony evitou o olhar de Hermione ainda enfurecido pelo comentário desajeitado que fizera na hora do almoço.

Eram assim, afinal de contas, como rato e gato. Desde sempre brigavam e discutiam quase ao ponto de sacar as varinhas e entrar num duelo, mas no fim tudo se resolvia em pouco tempo.

— Esse é o último, Harry! — Hermione entregou ao amigo que arranhou a pena de faisão no pergaminho e o guardou numa pasta amarela com as pontas gastas.

— Graças à Mérlin! — Exclamou Rony quando a pasta foi flutuando para a prateleira, onde encaixou-se entre tantas outras. — Minha mão cairia se tivéssemos que continuar por mais uma hora.

Hermione sorriu e foi cutucada por Rony que a abraçou lateralmente. Estavam bem novamente.

— Que tal uma cerveja amanteigada? — Sugeriu com excitação.

Harry buscou o olhar de aprovação de Hermione para só depois concordar e levantar-se da cadeira, pronto para sair do trabalho. Rony e Hermione o imitaram, vestindo os casacos e ajeitando os cachecóis em volta do pescoço.

O departamento todo já estava saindo, apenas alguns bruxos permaneciam em suas mesas, trabalhando. Harry e Rony contavam trivialidades para a amiga que tentava controlar o riso enquanto seguiam para o elevador.

— Não acredito em você dois...

— Hermione? — A mulher virou-se e deu de cara com Draco.

— O que faz aqui? Combinamos de fazer alguma coisa? — Perguntou surpresa, não lembrava-se de ter marcado qualquer coisa com Draco, e pela expressão que o marido carregava, não podia ser um bom sinal. — Draco, o que houve?

— Ethan foi interrogado hoje sobre você, disseram que seu julgamento já estava marcado. — Respondeu aproximando-se, pois entendia perfeitamente o quanto aquilo afetava-a, mas Hermione não hesitou, apenas arqueou a sobrancelha.

— Não recebi nada. — Contou com um sorrisinho. — Estávamos indo beber alguma coisa, o que acha de ir conosco?

E então Draco compreendeu o motivo de toda aquela indiferença, Weasley e Potter observavam a cena com precisão, analisando cada segundo da conversa. Hermione estava sendo forte e imbatível. Mas toda a confiança desapareceu quando Theodore Nott apareceu e entregou um envelope pardo, desculpou-se pela demora e tomou seu lugar ao lado de Harry.

Hermione leu o conteúdo do envelope e sua expressão decidida aos poucos começou a tornar-se duvidosa, quando chegou ao fim da página apenas guardou o conteúdo de volta no envelope e desculpou-se com os amigos, deixaria a cerveja amanteigada para outro dia. Agradeceu ainda a Theodore por ter lhe entregue e não respondeu nenhuma pergunta, apenas lançou um olhar de súplica para Draco que rapidamente, levou-a em direção ao elevador.

No átrio acelerou tanto o passo que Draco teve de correr para alcança-la, fez com que parasse e virou-a para si.

— Hey, calminha aí. — Mas o rosto de Hermione estava vermelho e comprimido numa expressão de angústia. As lágrimas irromperam e um soluço escapou-lhe dos lábios. — Herms...

—Vamos para casa, Draco-co. Por favor. — Escondeu o rosto nas mãos, pois não queria ver se alguém havia notado aquela cena, preferia continuar segura.

Não precisou de mais nenhuma palavra, passou os braços pela cintura da esposa e mostrou-lhe o caminho até uma cabine telefônica que estava prestes a voltar para Londres trouxa. Da calçada de uma rua deserta, aparataram para casa.

Quando os pés tocaram o assoalho, Hermione afundou o rosto no peito de Draco. Soluçou por alguns minutos enquanto o marido apenas balançava seus corpos com leveza e sussurrava palavras de conforto. Quando se acalmou, desculpou-se e não deixou que Draco limpasse seu rosto, hesitou e subiu as escadas.

O envelope ficara em cima do sofá, jogado de qualquer forma para ser esquecido por algumas horas, até que seu conteúdo pudesse ser absorvido.

O julgamento fora marcado ainda para aquela semana e nos anexos fora repetido mais de uma vez que seriam apresentadas provas relacionadas a negligencia e abandono de cargo e também que seria da escolha de Hermione apresentar provas ou justificativas contrárias.

Mas que provas ou justificativas quando tudo o que fizera fora ficar ao lado de Draco o tempo todo? Ethan talvez pudesse ajudar.

— Hermione? — Draco subiu as escadas atrás da esposa, encontrou-a dentro da banheira, apenas com a cabeça fora da água. Sentou-se na borda e esboçou um breve sorriso. — Li os pergaminhos, como está?

Hermione piscou lentamente e deu de ombros.

— Acho que um pouco assustada. — Disse. — Não tenho controle do que vai acontecer e isso me deixa apavorada. É a minha carreira, trabalhei para isso a vida toda e agora posso perder a...

— A última parte normal da sua vida. — Completou pela esposa que jamais terminaria aquela frase.

— Não pretendia dizer isso. — Explicou-se constrangida, ajeitando-se dentro da banheira.

— Pretendia sim. — Tirou os sapatos e chutou-os para longe. — Você já focava na carreira antes de me conhecer, perde-la seria como eu me esquecer novamente de tudo o que já vivemos. Não quero que isso aconteça, e não vou deixar!

Hermione sacudiu a cabeça e fechou os olhos, deitando a cabeça na toalha que servia de almofada. Draco levantou-se e despiu-se em silêncio, afundou um pé na água e depois o outro.

— Draco, assim vai inundar o banheiro! — Hermione reclamou, tentando ignorar a nudez do marido que sentava-se no pequeno espaço livre que restara da banheira. O nível da água subiu rapidamente e transbordou aos montes, imitando o ruído de uma cachoeira. — Draco!

Mas ao contrário da severidade que tentava passar, Hermione ria de Draco encolhido no cantinho da banheira. Os joelhos dobrados tocando o peito musculoso que exibia uma fina camada de pelos fazia-o parecer quase infantil, mas a expressão convidativa mostrava o quão decidido ele estava a aproximar-se mais.

— Era esse sorriso que eu queria ver. — Apontou para os lábios de Hermione e esticou o braço para que pudesse entrelaçar seus dedos em baixo da água.

Hermione apreciou a caricia na palma da mão. Diminuiu o sorriso e pôs-se de pé, virou e sentou-se entre as pernas de Draco, colando suas costas ao peito dele, aproveitando um pouco mais do contato físico.

— Você não devia fazer isso. — Draco murmurou, colando os lábios no ombro direito de Hermione, deixando um beijo ali. — Por Mérlin, Hermione, estamos nus.

Hermione riu e apertou as costas ainda mais contra Draco.

— Gosto quando você me abraça assim. — Confessou com a voz baixa, deixando o olhar fixado em suas pernas submersas. — Sempre gostei.

Draco sorriu e então parou para notar em quantas vezes o fazia. Não lembrava-se muito, mas o suficiente para dizer que sorria mais quando Hermione estava do seu lado, e buscando um pouco na memória, desde que começara com os flertes.

— Sempre gostei do seu sorriso. — Declarou. Ainda em Hogwarts notara a forma que os lábios de Hermione subiam em igualdade com o canto de seus olhos, aquela expressão o fazia odiar ainda mais o trio, mas então eles cresceram e numa tarde durante o trabalho resolveu tentar uma aproximação.

— Você me disse isso uma vez. — Hermione suspirou. — Também me contou que queria ter me beijado durante a guerra, mas hesitou quando Rony entrou gritando sobre eu ser a namorada dele.

Draco arqueou as sobrancelhas e pensou, buscou na mente, no fundo das memórias o momento em que dissera aquilo. Tinha certeza de que queria beijá-la, mas contar isso a Hermione... Precisava lembrar. Dessa vez não deu com a cara num muro, sua cabeça pareceu leva-lo diretamente onde queria e aos poucos conseguiu ver nitidamente o que tanto desejava.

A imagem era clara, diferente de um flash, pois conseguia sentir todas as sensações como se estivesse vivendo o momento naquele instante. O doce perfume que Hermione usara, o aroma continuava vivo, era capaz de descrevê-lo com exatidão.

Fora na noite em que a pediu em casamento, aparataram direto para o quarto de Draco na mansão e tiveram uma longa noite de beijos e sexo como comemoração. Estavam deitados em meio a cobertas e lençóis enrolados de maneira desajeitada, Hermione estava nua apoiada nos cotovelos e ouvia Draco contando sobre  seu dia estressante que variava entre o Hospital e o Ministério. O que tinha na cabeça quando se inscreveu para trabalhar em conjunto com o Quartel General dos aurors?

O cabelo de Hermione estava bagunçado de uma forma que não lembrava-se de ter visto depois de Hogwarts, por isso, passou uma mão por todo o corpo da noiva e comentou com entusiasmo:

— Durante a guerra, quando a vi na Sala Precisa, quis me aproximar e beijá-la. — Sorriu diante da expressão surpresa de Hermione. — Não tinha certeza de nada, muito menos de que sairia vivo daquela loucura e então eu vi você ajudando o Potter a encontrar o diadema. Tinha algo nos seus olhos, caminhei alguns passos, queria saber como era beijá-la, mas o Weasley começou a gritar que era seu namorado e eu desisti.

Hermione continuava encarando-o, dessa vez com os lábios entreabertos em total descrença.

— Se eu soubesse, se conhecesse a sensação de beijá-la teria aceitado uma azaração do Weasley sem hesitar!

Com um sorriso nos lábios Hermione esticou-se e o beijou lenta e calorosamente.

— É uma boa história, mas está mentindo, Malfoy! — Voltou à posição de antes, apoiada nos cotovelos.

— Não estou mentindo. — Passou a mão no cabelo para tirar os fios bagunçados do alcance dos olhos. — Você estava lá toda despenteada, com alguns arranhões no rosto, pensei que seria minha última chance de beijar alguém de quem eu sentisse o mínimo de afeição.

— Sentia afeição por mim naquela época? — Enrugou a testa, evidentemente confusa com toda aquela confissão. Não havia conversado com Draco sobre aquela época, viviam apenas o presente.

Draco inclinou-se e tirou uma mecha perdida do rosto de Hermione.

— Eu não queria sentir, mas você foi se mostrando cada vez mais afável e corajosa. A porcaria de uma perfeita Grifinória! — Rolou os olhos diante da risada de Hermione.

— Afável. — Repetiu e deitou a cabeça no travesseiro para acalmar as risadas. — Queria poder comentar algo sobre você na época de Hogwarts, mas eu tinha outras coisas para ocupar a cabeça e duvido que vá gostar de todos os xingamentos que tenho para descrevê-lo.

Foi a vez de Draco rir.

— Mas... — Girou a cabeça para poder olhá-lo diretamente nos olhos. — Preciso admitir, no sexto ano percebi que você era bonito depois de Gina ter comentado algo sobre isso. Acho que passei uma aula inteira analisando o seu rosto, me agradava o jeito que se concentrava nos livros. Não éramos tão diferentes, afinal!

Draco sorriu e puxou-a para cima de seu corpo, abraçando-a pela cintura.

— Me achava bonito? Admita, Granger, você sonhava comigo. — Salpicou beijos leves pelo rosto da mulher em seus braços, jamais se acostumaria com aquela sensação de preenchimento no peito.

 

— Você se lembrou, não é? — Hermione virou o rosto para olhá-lo e recebeu um aceno de concordância. — É o silêncio e o jeito que começou a movimentar os dedos. É assim que eu sei!

— Vamos ficar enrugados como dois velhos aqui dentro, Granger. — Começou e movimentar-se e então saiu da banheira. Enrolou uma toalha na cintura, e quando Hermione saiu, foi ele quem a enrolou carinhosamente numa outra toalha felpuda. — Vamos nos secar e depois pedir uma pizza!


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Notas finais do capítulo

Olá, todo mundo. Me contem, por favor, o que estão achando desse momento de calmaria na vida amorosa deles? E o julgamento, o que estão esperando??
Me contem!
Até o próximo



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